Islamismo. Por Muhammad Ata
Ur Rahim. Livro Jesus um Profeta do Islam. Capítulo IX. JESUS NO ALCORÃO. Parte
I. O Alcorão, o último dos Livros Divinos, revelado pelo Criador ao último dos
mensageiros, é uma fonte de conhecimento acerca de Jesus que os estudiosos do
Cristianismo geralmente desconhecem. Ora o Alcorão, não só nos leva a
compreender melhor quem foi Jesus, mas também, através dessa compreensão, faz
com que aumente o nosso respeito e amor por ele. Assim, a última Revelação,
aquela que nos chegou cerca de seis séculos após o nascimento de Jesus, refere
o que é importante que saibamos acerca de sua vida e de seus ensinamentos,
atribui-lhe o papel de Profeta na perspectiva alargada que vai além da própria
profecia, tal como foi entendida pelos Unitaristas. Com efeito, o Alcorão
fornece uma visão como nenhuma outra fonte pode fornecer. O Alcorão não
descreve a vida de Jesus com grande pormenor, nem da mesma maneira como fala de
acontecimentos mais específicos. Os milagres e os poderes que foram dados a Jesus
são referidos, mas na sua maioria em termos gerais. Da mesma forma, o Livro que
lhe foi dado por Deus, o "Ingil", (Evangelhos), é mencionado diversas
vezes, mas o seu conteúdo exato não é indicado. No entanto, o Alcorão é muito
específico no que diz respeito às intenções de Jesus, à maneira como apareceu
na terra, quem foi e quem não foi, e como acabou a sua missão. Aliás, antes de
olharmos a vida de Jesus, seria proveitoso examinar qual era a sua missão na
terra e como se encaixa na matriz do que veio antes dele e no que viria depois.
É dito uma e outra vez que Jesus pertencia à longa linhagem de Profetas que
tinham sido enviados aos povos dessa terra; que ele era um Mensageiro cuja
doutrina e ensinamentos constituíam uma reafirmação, um aprofundamento dos
mandamentos que os Profetas anteriores tinham trazido e uma preparação para a
mensagem que o Profeta a seguir traria. A primeira referência a Jesus aparece
logo no princípio do Alcorão: “Concedemos o Livro a Moisés, depois dele
enviamos muitos mensageiros e concedemos a Jesus, filho de Maria, as evidências
e o fortalecemos com o Espírito da Santidade”. (2:87) A passagem que se segue
nos remete à linha de mensageiros da qual Jesus fazia parte. Depois de
mencionar Abraão, continua: “Agraciamo-lo com Isaac e Jacó, que iluminamos,
como havíamos iluminado anteriormente Noé e sua descendência, Davi e Salomão,
Jó e José, Moisés e Aarão. Assim, recompensamos os benfeitores. E Zacarias,
Yáhia (João), Jesus e Elias, pois todos eles se contavam entre os virtuosos. E
Ismael, Eliseu, Jonas e Lot, cada um dos quais preferimos sobre os seus
contemporâneos.” (6:84-86) “E enviamos alguns mensageiros, que te mencionamos e
outros, que não te mencionamos”. (4:164) De fato, Mohammad, a paz de Deus
esteja com ele, disse que Jesus era um de cento e vinte e quatro mil Profetas,
entre os quais não existem razões para conflitos ou discórdias. Deus diz ao Seu
Mensageiro, numa passagem do Alcorão: "Dize: Cremos em Deus, no que nos
foi revelado, no que foi revelado a Abraão, a Ismael, a Isaac, a Jacó e às
tribos, e no que, do Senhor, foi concedido a Moisés, a Jesus e aos profetas;
não fazemos distinção alguma entre eles, porque somos, para Ele, muçulmanos”.
(3:84) Os Profetas estão todos bem cientes de que foram enviados por Deus, obedecendo
ao mesmo objetivo e à mesma mensagem: “Recorda-te de quando instituímos o pacto
com os profetas: contigo, com Noé, com Abraão, com Moisés, com Jesus, filho de
Maria e obtivemos deles um solene compromisso”. (33:7) “Ó mensageiros,
desfrutai de todas as dádivas e praticai o bem, porque sou Sabedor de tudo
quanto fazeis! E sabei que esta vossa comunidade é única e que eu sou o vosso
Senhor. Temei-Me, pois!” (23:51-52) “Prescreveu-vos a mesma religião que havia
instituído para Noé, a qual te revelamos, a qual havíamos recomendado a Abraão,
a Moisés e a Jesus, (dizendo-lhes): Observai a religião e não discrepeis acerca
disso”. (42:13) Assim, a imagem que se dá não é a de algum homem notável que
apareceu na Terra como acontecimento isolado, num mundo que seria caótico sem
esse aparecimento. Mas a de um Mensageiro que, como todos os outros
mensageiros, foi enviado para aquele tempo e para aquela época, como elo de uma
cadeia de revelação no universo: “E depois deles (profetas), enviamos Jesus,
filho de Maria, corroborando a Torah que o precedeu; e lhe concedemos o
Evangelho, que encerra orientação e luz, corroborante do que foi revelado na
Torah e exortação para os tementes”. (5:46) E mais ainda, tal como Jesus estava
bem ciente, um tempo que possuía limites; um tempo que era limitado pelo tempo
anterior e posterior ao seu: “E de quando Jesus, filho de Maria, disse: Ó
israelitas, em verdade, sou o mensageiro de Deus, enviado a vós, corroborante
de tudo quanto a Tora antecipou no tocante às predições, e alvissareiro de um
Mensageiro que virá depois de mim, cujo nome será Ahmad!”. (61:6) A concepção e
o nascimento de Jesus estão registrados com grande pormenor no Alcorão. Será
esclarecedor começar com o nascimento e a educação da sua mãe, pois, ajuda-nos
a ver como ela foi preparada por Deus para ser a mãe de Jesus e como foi
escolhida por Ele: “Recorda-te de quando a mulher de Imran, disse: Ó Senhor
meu, é certo que consagrei a ti, integralmente, o fruto do meu ventre;
aceita-o, porque és o Oniouvinte, o Sapientíssimo. E quando concebeu, disse: Ó
Senhor meu, concebi uma menina – mas Deus bem sabia o que ela tinha concebido –
e um macho não é o mesmo que uma fêmea. Eis que a chamo Maria; ponho-a, bem
como à sua descendência, sob a Tua proteção, contra o maldito Satanás. Seu
Senhor a aceitou benevolentemente e a educou esmeradamente, confiando-a a
Zacarias. Cada vez que Zacarias a visitava, no oratório, encontrava-a provida
de alimentos, e lhe perguntava: Ó Maria, de onde te vem isso? Ela respondia: De
Deus!, porque Deus agracia imensuravelmente a quem Lhe apraz. Então, Zacarias
rogou ao seu Senhor, dizendo: Ó Senhor meu, concede-me uma ditosa descendência,
porque és Aquele Que atende os rogos! Os anjos o chamaram, enquanto rezava no
oratório, dizendo-lhe: Deus te anuncia o nascimento de João, que corroborará o
Verbo de Deus, será nobre, casto e um dos profetas virtuosos. Disse: Ó Senhor
meu, como poderei ter um filho, se a velhice me alcançou e minha mulher é
estéril? Disse-lhe (o anjo): Assim será. Deus faz o que Lhe apraz. Disse: Ó
Senhor meu, dá-me um sinal. Asseverou-lhe (o anjo): Teu sinal consistirá em que
não fales com ninguém durante três dias, a não ser por sinais. Recorda-te muito
do teu Senhor e glorifica-O à noite e durante as horas da manhã”. (3:35-41) João
foi o Profeta imediatamente anterior a Jesus; o seu nascimento miraculoso é
novamente mencionado na Surata Mariam: “Eis o relato da misericórdia de teu
Senhor para com o Seu servo, Zacarias. Ao invocar, intimamente, seu Senhor,
dizendo: Ó Senhor meu, os meus ossos estão debilitados, o meu cabelo
embranqueceu, mas nunca fui desventurado em minhas súplicas a Ti, ó Senhor meu!
Em verdade, temo pelo que farão os meus parentes, depois da minha morte, visto
que minha mulher é estéril. Agracia-me, de Tua parte, com um sucessor! Que
represente a mim e à família de Jacó; e faze dele, ó meu Senhor, uma pessoa que
Te satisfaça! Ó Zacarias, anunciamo-te o nascimento de uma criança, cujo nome
será Yahia (João). Nunca denominamos, assim, ninguém, antes dele. Disse (Zacarias):
Ó Senhor meu, como poderei ter um filho, uma vez que minha mulher é estéril e
eu cheguei à senilidade? Respondeu-lhe: Assim será! Disse teu Senhor: Isso Me é
fácil, visto que te criei antes mesmo de nada seres. Suplicou: Ó Senhor meu,
aponta-me um sinal! Disse-lhe: Teu sinal consistirá em que não poderás falar
com ninguém durante três noites. Saiu do templo e, dirigindo-se ao seu povo,
indicou-lhes, por sinais, que glorificassem Deus, de manhã e à tarde. (Foi
dito): Ó Yahia, observa fervorosamente o Livro! E o agraciamos, na infância,
com a sabedoria, assim como o agraciamos com a piedade (por todas as criaturas)
e com a pureza, e foi devoto, e gentil para com seus pais, e jamais foi
arrogante ou rebelde. A paz esteve com ele desde o dia em que nasceu, no dia em
que morreu, e estará com ele no dia em que for ressuscitado”. (19:2-15) A
história do nascimento de Jesus é contada em duas partes diferentes do Alcorão:
“Recorda-te de quando os anjos disseram: Ó Maria, Allah te elegeu e te
purificou, e te preferiu a todas as mulheres da humanidade! Ó Maria,
consagra-te ao Senhor. Prostra-te e ajoelha-te com os que se ajoelham! Estes
são alguns relatos do desconhecido, que te revelamos (ó Mensageiro). Tu não
estavas presente com eles (os judeus) quando, com setas, tiravam a sorte para
decidir quem se encarregaria de Maria; tampouco estavas presente quando estavam
a discutir entre si. E quando os anjos disseram: Ó Maria, Deus te anuncia o Seu
Verbo, cujo nome será o Messias, Jesus, filho de Maria, nobre neste mundo e no
outro, e que se contará entre os próximos de Deus. Falará aos homens, ainda no
berço, bem como na maturidade, e se contará entre os virtuosos. Perguntou: Ó
Senhor meu, como poderei ter um filho, se mortal algum jamais me tocou?
Disse-lhe o anjo: Assim será. Deus cria o que deseja, posto que quando decreta
algo, basta dizer: Seja! e é. Ele lhe ensinará o Livro, a sabedoria, a Tora e o
Evangelho. E será um mensageiro para os israelitas, (e lhes dirá):
Apresento-vos um sinal do vosso Senhor: eis que plasmarei de barro a figura de
um pássaro, ao qual alentarei, e a figura se transformará em pássaro, com o
beneplácito de Deus; curarei o cego de nascença e o leproso; ressuscitarei os
mortos, pela vontade de Deus, e vos revelarei o que consumis e o que entesourais
em vossas casas. Nisso há um sinal para vós, se sois crentes. (Eu vim) para
confirmar-vos a Tora, que vos chegou antes de mim, e para liberar-vos algo que
vos estava vedado. Eu vim com um sinal do vosso Senhor. Temei a Deus, pois e
obedecei-me. Sabei que Deus é meu Senhor e o vosso. Adorai-O, pois. Essa é a
senda reta. E quando Jesus lhes sentiu a incredulidade, disse: Quem serão os
meus colaboradores na causa de Deus? Os discípulos disseram: Nós seremos os
colaboradores, porque cremos em Deus; e testemunhamos que somos muçulmanos.153
Ó Senhor nosso, cremos no que tens revelado e seguimos o Mensageiro;
inscreve-nos, pois, entre os testemunhadores. (3:42-53). A história é ainda
contada na Surata "Mariam" (Maria): “E menciona a Maria, no Livro, a
qual se separou de sua família, indo a um local ao leste. E colocou uma cortina
para ocultar-se dela (da família), e lhe enviamos o Nosso Espírito, que lhe
apareceu personificado, como um homem perfeito. Disse-lhe ela: Guardo-me de ti
no Clemente, se é que temes a Deus. Explicou-lhe: Sou tão-somente o mensageiro
do teu Senhor, para agraciar-te com um filho imaculado. Disse-lhe: Como poderei
ter um filho, se nenhum homem me tocou e jamais deixei de ser casta? Disse-lhe:
Assim será, porque teu Senhor disse: Isso Me é fácil! E faremos disso um sinal
para os homens, e será uma prova de Nossa misericórdia. E foi uma ordem
decretada. E quando concebeu, retirou-se, com o seu rebento, para um lugar
afastado. As dores do parto a constrangeram a refugiar-se junto a uma tamareira.
Disse: Oxalá eu tivesse morrido antes disto, ficando completamente esquecida!
Porém, chamou a uma voz, junto a ela: Não te atormentes, porque teu Senhor fez
correr um riacho a teus pés! E sacode o tronco da tamareira, de onde cairão
sobre ti tâmaras maduras e frescas. Come, pois, bebe e consola-te; e se vires
algum humano, faze-o saber que fizeste um voto de jejum ao Clemente, e que hoje
não poderás falar com pessoa alguma. Regressou ao seu povo levando-o (o filho)
nos braços. E lhe disseram: Ó Maria, eis que trouxeste algo extraordinário! Ó
irmã de Aarão, teu pai jamais foi um homem do mal, nem tua mãe uma (mulher) sem
castidade! Então ela lhes indicou que interrogassem o menino. Disseram: Como
falaremos a uma criança que ainda está no berço? Ele lhes disse: Sou o servo de
Deus, o Qual me concedeu o Livro e me designou como profeta. Fez-me abençoado,
onde quer que eu esteja, e me recomendou a oração e (a paga do) zakat enquanto
eu viver. E me fez gentil para com a minha mãe, não permitindo que eu seja
arrogante ou rebelde. A paz está comigo, desde o dia em que nasci; estará
comigo no dia em que eu morrer, bem como no dia em que eu for ressuscitado.
Este é Jesus, filho de Maria; é a pura verdade, da qual duvidam. É inadmissível
que Deus tenha tido um filho. Glorificado seja! Quando decide uma coisa,
basta-lhe dizer: Seja!, e é. E Deus é o meu Senhor e o vosso. Adorai-o, pois!
Esta é a senda reta”. (19:16-36) O local onde Jesus nasceu é mencionado noutra
passagem do Alcorão: “E fizemos do filho de Maria e de sua mãe sinais, e os
refugiamos em uma segura colina, provida de mananciais”. (23:50). Abraço. Davi
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