sábado, 24 de fevereiro de 2024

INTRODUÇÃO AO HINDUISMO. PARTE II

 

Hinduísmo. www.jnanamandiram.org.br. INTRODUÇÃO AO HINDUÍSMO. Parte II. DIVINAS ENCARNAÇÕES. Este capítulo foi escrito no dia de Natal, 25 de dezembro de 1986, na pacífica ilha de Maui, no Havaí. Natal é o dia do nasci­mento de Jesus Cristo, tido pelos cristãos e outros como “O Filho de Deus”, ou seja, Ele é tido como uma Divina Encarnação ou Avatar. Portanto, hoje me pareceu o mais apropriado dia para escrever sobre Avatares ou Divinas Encarna­ções. Um Avatar ou Divina Encarnação é a mais alta manifestação de Deus através do homem. Ele é o mestre de todos os mestres. Um Avatar é como o sol, sua presença é suficiente para iluminar a humanidade. Um simples olhar Seu é suficiente para transfor­mar o vilão em santo. Onde um Avatar estiver presente, todo o ambiente se inundará de vibrações espirituais. Mesmo as monta­nhas e os rios parecerão cantar. As qualidades infinitas de Deus se condensam na forma humana de um Avatar. Somente os mais afortunados entre nós nascem e vivem durante o tempo de vida de um Avatar. Como foi dito no capítulo “A Adoração de Imagens”, é virtual­mente impossível para alguém que não tenha atingido a autorrealização adorar ou visualizar Deus em seu estado não-manifestado. Por isso, muitas pessoas adoram Avatares como Rama ou Krishna. É difícil para um ser humano pensar em Deus de outra maneira que não seja em termos humanos. Portanto, se visualizarmos Deus em termos humanos é melhor adorar a mais alta manifestação de Deus em forma humana, ou seja, um Avatar. A majestade, a bondade, o amor, o poder, a suavidade e inteli­gência de Deus estão todos presentes na forma humana do Avatar. Enquanto estivermos no corpo humano, seremos levados a pensar em Deus em termos humanos – como um rei sentado em celeste trono ou como um pai amoroso com fulgor ao redor da cabeça, tudo são formas humanas. Uma vez compreendido isso, não se criticará mais aqueles que adoram Deus nos Avata­res ou nas imagens. A não ser para uma pessoa autorrealizada, expressões tais como “o não-manifestado”, “o infinito”, “o onipotente” são palavras que não podem ser definidas por outras palavras, isto é, em termos humanos. Como e por que vem um Avatar? O Guita dá uma resposta pode­rosa e direta: “Sempre que a virtude decai e a maldade prevalece, eu manifesto a Mim mesmo. Para restabelecer a virtude, destruir o mal e proteger os bons, Eu venho de época em época”. Sempre que a humanidade se cansa da tirania e clama a uma só voz pela ajuda divina, o misericordioso Senhor se dá a Si mesmo. No campo de luta, um raio de esperança brilha no cora­ção humano, do mesmo modo que, depois de uma noite escura, o raiar do sol no horizonte causa regozijo no coração humano. Quantas vezes vem um Avatar? Há um número limitado de Avata­res? É simples a resposta. Deus é infinito em Si mesmo. Seria infantil sugerir que pode haver somente um ou um número limi­tado de Avatares. Vejamos em poucas palavras algo sobre os Avatares Rama e Krishna. É reconhecido que Rama foi a encarnação da virtude, uma combinação única de superforça e superdelicada. Seu comportamento é modelo próprio para o comportamento humano. Enquanto ser humano, mesmo hinduísta ou não, deve-se ler o Ramayana, no qual se encontra a história de Rama. A vida de Rama serve como exemplo do correto comportamento de cada um em todas as circunstâncias particulares da vida, mesmo sendo um cristão ou muçulmano, sikhi ou hinduísta, sendo um profissional, político ou um soldado, ou um pai, filho, marido ou irmão. A serenidade, a doçura, a força de Rama, e como cada aspecto é aplicado por Rama em sua vida, deve ser estudado com mente imparcial para atingir o auge do êxito como ser humano. Krishna é o amado Avatar de cada hindu. O amor a Krishna é encontrado em toda parte na Índia. A dedicação a Krishna não é restrita a certos movimentos ou sociedades. Krishna é o favorito das crianças e das pessoas de todas as idades, origens e níveis sociais. Céu e Terra, ambos serão seus se você estudar, ler ou ouvir sobre Krishna no Bhagavad Guita – A Canção Divina. A resposta a todos os problemas do mundo é dada no pequeno grande livro de dezoito capítulos. Isto pode causar surpresa ao leitor que não esteja familiarizado com o Guita. Para conhecer por si mesmo o gosto de uma laranja, a melhor coisa a fazer é comê-la. O melhor caminho para descobrir o Guita é ler você mesmo o livro. O Guita de Krishna não é somente para hinduístas, mas para toda a humanidade. Se a pessoa tem fé, então nenhum problema ela tem no presente e, para tal pessoa, muito rara, o Guita pode não ser necessário; mas para todos os outros que se defrontam com a fome, doenças, temores, cólera, depressão e morte, o Guita é o máximo, é um dever conhecê-lo. Mesmo quando criança, Krishna foi um garoto encantador, extremamente brincalhão. Suas danças e brincadeiras com Radha e as Gopis eram cheias de graça. Para certas mentes, as brincadeiras de Krishna em companhia feminina é um mistério e uma preocupação. Para o iluminado, o puro, é simplesmente Deus, brincando Consigo mesmo, com Sua própria Natureza em manifestação. Na mente humana há uma tendência para dividir tudo em masculino e feminino e, de acordo com essa inclinação humana, Deus é o pai, o único macho, e tudo o mais é feminino. O jogo de Krishna com as Gopis na beira do rio significa parte do jogo universal de Deus. Deus brinca consigo mesmo o tempo todo. O universo emanado, saído de Deus, está dentro de Deus. O Senhor, do mesmo modo que sua encarnação – Krishna, está brincando todo o tempo, dançando com sua própria “criação” que, por sua vez, é Ele mesmo. Neste mundo, devemos aprender a ver tudo como “o jogo de Deus”. O estudo das vidas dos Avatares e de seus ensinamentos indicar-nos-ão a direção reta para a autorrealização. O que é autorrealização? Autorrealização é a íntima realização do indivíduo. Ou seja, ele realiza que o Deus eterno e o próprio indi­víduo são Um. Ou, segundo o Senhor Cristo, “Eu e meu Pai somos Um.” Eu e vocês somos um. E é com essa realização que se ganha a eterna bênção. No capítulo II, versículo 20, do Guita, afirma-se que “O Ser nunca nasce, nem morre. O Ser não É, pelo fato de “Vir a existir”. Ele É independente do passado e futuro, eterno, único; mesmo que o corpo esteja morto, a Alma não está!” JNANA YOGA. Não há nada de místico ou mágico na palavra Yoga. Yoga significa simplesmente “união”, e neste contexto quer dizer “unidade com Deus”. Muitos subtítulos podem ser dados ao Yoga, mas o discutiremos sob três nomes: Jnana Yoga – que é o yoga do Conhecimento, da sabedoria do Ser. Karma Yoga – que é o yoga da Ação. Bhakti Yoga – que é o yoga da Devoção. Deve-se entender que há muitas áreas em cada yoga que andam juntas, e é difícil praticar um só yoga exclusivamente. Também devemos nos prevenir sobre pessoas ou instituições que vendem “vários tipos de yoga a 500 dólares por cinco horas de instrução,” ou aqueles que encorajam estudantes a “deixar o apego” doando suas casas e todas suas posses para a institui­ção. Tais instituições não estão interessadas na união com Deus. Seu yoga é a união com o dinheiro! Ainda que seja prudente e sábio aprender meditação de um guru qualificado, até que esse guru venha não é má ideia aprender a meditação do próprio autor do yoga, o Senhor Krishna. Recapitu­lemos o que Ele diz sobre o assunto no capítulo VI do Guita. Primeiro Ele diz que, para meditar, temos que escolher um lugar tranquilo e ficar numa postura que seja ao mesmo tempo firme e confortável, na qual o peito, pescoço e cabeça permaneçam retos. A postura de “lótus” é a recomendada, sentando-se com as pernas cruzadas na dita postura sobre um cobertor e lençol estendidos no chão. Se as pessoas não estão acostumadas a isso, podem usar uma cadeira, de forma tal que as costas fiquem totalmente encostadas no respaldo. A posição deve estar de tal modo assentada, que seja possível esquecer do corpo. A atenção deve ser focalizada no ponto entre as sobrancelhas, e assim deve-se sentar-se em meditação. No início, a mente corre daqui para lá incessantemente e controlá-la parecerá impossível. Contudo, assim como as crianças que depois de correrem o dia todos vão para casa ao entar­decer, seus pensamentos depois de vaguear um tempo acalmar-se-ão também. Sinta-se como uma testemunha, como um observador somente. Não se preocupe se sua mente divagar. Arjuna perguntou ao Senhor Krishna como se pode obter o controle da mente, já que ela é turbulenta como o vento e, portanto, muito difícil de controlar. O Senhor Krishna respondeu simplesmente que é pela prática que a mente pode ser contro­lada. Embora se tenha que criar um hábito regular de sentar-se para meditar, em breve a mais difícil façanha do mundo será sua: o controle da mente! Com isso vem um imenso poder de concentração. O poder de concentração é útil também para os assuntos do mundo, como os negócios. Quando a concentração é dirigida para Deus, então é chamada meditação. Se você necessita repetir uma palavra, medite sobre “OM”, que inclui os sons “AAA”, “UUU” e “MMM”, e simboliza o som do Divino Motor da criação, sustentação e destruição. Se você medita, lembre-se de levar uma vida regulada. Yoga não é para a pessoa que come demais ou come de menos, nem para quem dorme demais ou não dorme. Agora, vejamos um resumo do Jnana Yoga ou yoga do conheci­mento. JNANA YOGA. Como já foi dito, não há mágica no yoga. O Yoga não contradiz a razão e o Jnana Yoga não é exceção a esta regra. O Jnana Yogue percorre uma série de perguntas e respostas a fim de achar a resposta à pergunta: “Quem sou eu?” Ele vai através de várias possibilidades dizendo a si mesmo: “Isto não, isto não”, e assim segue até chegar à conclusão de que ele não é o corpo, não é a mente. Finalmente ele realiza que “Tu és Aquilo” ou “Eu sou Ele”. Chegando a esse estado, ele está contente em sentar-se e contemplar seu Ser. Senta-se, submerge em si mesmo com bem-aventurança. Deus é seu próprio Ser. Nada mais permanece a não ser Deus. Ele olha com igual respeito e amor para um erudito, um próspero homem de negócios, um mendigo, a um animal, um inseto porque eles são seu próprio Ser. Um Jnana Yogue acredita que ele É, simplesmente. Ele não age em absoluto, “mesmo tocando, ouvindo, vendo, cheirando” e assim por diante. Acredita firmemente que ele nada faz e que são simplesmente os sentidos que atuam nos respectivos objetos dos sentidos. O Jnana Yoga não é de fácil prática porque requer uma pessoa de excepcional determinação e penetração. Sua alma deve querer ir além de todas as teorias para ver a Realidade tal como ela é, pela realização de sua identificação com o Ser universal. Um Jnana Yogue é mais que um filósofo. Uma pequena história contada por Swami Vivekananda, primeiro sanyase a visitar o Ocidente, há de verter mais luz nesse assunto: Dois pássaros pousam sobre uma árvore. Um deles está nos galhos mais altos e o outro, nos mais baixos. O pássaro que está no galho mais alto é calmo, silencioso e majestosamente absor­vido na glória de seu próprio Ser. O pássaro que está nos galhos mais baixos come frutas doces e amargas, pula de galho em galho e se torna feliz e infeliz a cada momento. De vez em quando, ele come uma fruta excepcionalmente amarga, ficando muito aborrecido com sua vida. Então, ele olha para cima e vê o sereno e maravilhoso pássaro que não come as frutas doces nem amargas, e assim não sente as flutuações entre felicidade e infe­licidade, que nada vê além de seu próprio Ser. O pássaro de baixo suspira por essa condição mas, como todos nós, nova­mente se envolve na sua rotina diária, comendo os frutos doces e amargos. Continuamente este pássaro tem problemas e olha para o pássaro lá em cima, mas sempre retorna à sua vida roti­neira de prazer e dor, até que um dia sofre com um temporal muito forte e então faz um redobrado esforço e sobe cada vez mais alto na direção do pássaro pousado na rama mais alta da árvore. Logo o brilho do corpo daquele pássaro envolve o outro, que sente uma mudança e começa a “fundir-se”, a unificar-se. Eleva-se ainda mais quando, afinal, entende – ao ter-se unificado totalmente – que ele sempre foi o pássaro de cima e que o pássaro que vivia em baixo era nada mais que a essência ou reflexo do pássaro que vivia no alto. O fato de comer frutos doces e amargos e chorar e ser feliz era tudo um sonho, já que durante todo o tempo o pássaro real estava lá em cima, glorioso e majestoso, acima de toda tristeza. O pássaro de cima é Deus, Senhor deste sonho-universo, e o pássaro de baixo é a alma humana. Cada tipo de yoga corresponde a um determinado temperamento e constituição da pessoa. Enquanto o yoga do Conhecimento é apropriado para alguns, o yoga da ação – Karma Yoga – é consi­derado mais fácil de praticar. No seguinte e penúltimo capítulo, tratar-se-á de Karma Yoga, unificação com Deus pela ação – sacrifício. KARMA YOGA. Todos nós estamos ocupados na ação (Karma).Pelo menos para manter o corpo, a ação é necessária. Muitos de nós não estão inclinados à filosofia, então Jnana Yoga está fora de nossos cui­dados. Muitos de nós não são emocionalmente inclinados ao Bhakti Yoga, assim este está fora de cogitação para nós. Toda­via, enquanto tivermos corpo deveremos agir, e a autorrealização pode ser obtida também pela ação (Karma Yoga). De fato, somente os métodos diferem. Quanto ao resultado último, a autorrealização, tanto Jnana Yoga como Karma Yoga e Bhakti Yoga, são todos um. Ação é uma palavra que encerra complexidade, ainda que não pareça. O Senhor Krishna, no capítulo IV, versículo 18 do Guita, diz: “Aquele que vê inação na ação é um sábio entre os homens, ele é um yogue que cumpriu toda ação.” Isto parece difícil de entender, mas à medida que avançarmos neste capítulo, o sentido irá se aclarando. Tomemos como exemplo uma pessoa que se compromete a jejuar, e faz voto de não comer um dia por semana. Jejuar um dia é muito bom para a saúde, pois desintoxica não só o corpo como também a mente. Mas, se no dia em que você jejua sua mente fica pensando constantemente em comida, seguramente seu jejum é hipócrita, porque nesse dia você pensa muito mais do que você o faria habitualmente, e isto inverte o processo. Antes de entrar na verdadeira essência do Karma Yoga, deve­mos lembrar que nós temos o dever de agir. Por quê? Nós recebemos constantemente benefícios da natureza, como a água, ar, frutos etc., e recebemos ajuda também de outras pessoas, como educação, dinheiro, cuidados, etc.. Se continu­amos a tomar sem retribuir, certamente não somos melhores que ladrões. A pessoa não deve evitar seu dever. Deve, pelo contrá­rio, cumpri-lo. A ação feita em benefício dos outros é considerada sacrifício. Os grilhões causados pela reação do karma não atingem as pessoas que cumprem seu dever sem apego aos resultados ou frutos da ação. De fato, mesmo sobre a comida, o versículo 13 do capítulo III do Guita diz que: “Os virtu­osos que compartem as sobras do sacrifício – depois de ter alimentado os outros – são absolvidos de todos os pecados. Os pecaminosos, que cozinham só para alimentar seu próprio corpo, comem somente pecado.” Que grande conceito este! Se mais pessoas realizassem a verdade deste conceito, a fome e a misé­ria seriam eliminadas deste mundo. Em poucas palavras discutiremos a essência de Karma Yoga, que é a ação sem apego, mas, antes, uma palavra final do porquê devemos nos ocupar com a correta ação. É da natureza humana imitar o que os outros fazem. Assim começou a moda e assim é como os hábitos bons e maus são adquiridos. Suponhamos que um pai beba, fume e use uma linguagem abusiva em casa. Naturalmente os filhos não terão hábitos diferentes daqueles pelos quais são influenciados em sua casa. Se a mãe e o pai praticam caridade, levam uma vida asseada e regularmente se sentam para orar, é perfeitamente possível que os filhos tenham também esses bons hábitos. Portanto, se uma pessoa quer fazer o bem a outras, pode conseguir isso, e não é por fazer grandes discursos, mas por cumprir devidamente suas ações e dar exemplo com sua atitude. Toda ação produz conhecimento. Vejamos agora que tipos de ação produzem o conhecimento de Deus. O fundamento do Karma Yoga consiste na habilidade de separar a ação de seu fruto ou resultado. Acontece frequentemente que, embora você faça o bem a outros, quase sempre, senão sempre, você em troca recebe ingratidão, abuso de confiança e críticas. Por isso, ao pensar em ajudar alguém, você teme o resultado. Muitas vezes você se abstém totalmente de fazê-lo. Desta maneira, a pessoa que necessita de ajuda não será ajudada, e você se priva do sentimento bom que inevitavelmente se tem quando se ajuda os outros. O Karma Yoga requer desapego na ação. O resultado ou fruto da ação deve ser deixado de lado e, assim, o próprio Karma mesmo toma conta dele. Isto não significa que o Karma Yogue aja irracionalmente ou sem motivo . Suponhamos que um pai tenha que trabalhar para sustentar sua família, e assim ele trabalha com esse propósito. Ele sabe que é dever do empregador pagar por seu trabalho. Uma vez que ele renuncie, em sua mente, ao fruto de suas ações, não ficará indevidamente alegre por receber seu pagamento, e não ficará triste se seu patrão estiver falido e impossibilitado de pagar-lhe por duas semanas de trabalho. Por outro lado, se seus filhos apreciam o que ele faz por eles, isto é bom. Do contrário, não se preocupa com isso, porque ele cumpre seu dever o melhor possível, sem esperar algo como retorno. Karma yogue é aquele que somente dá. Ele não toma, dá. Quando se desiste do resultado das ações, imediatamente se obtém total paz na mente. A mente pacificada leva à autorrealização. Só quando a água está serena é que se pode ver claramente o reflexo da lua. Assim, a mente pacificada tem a habilidade de refletir claramente a verdade de Deus. Concluímos este capítulo com o Capítulo V, versículo 17, e a primeira parte do versículo 12 do Guita que diz: “O karma yogue cumpre a ação somente com seus sentidos, mente, intelecto e corpo, retirando o sentimento de “meu” a respeito deles, e sacode fora o apego, simplesmente pela autopurificação da mente. Ao oferecer o fruto da ação a Deus, o karma yogue obtém paz e a suprema realização de Deus. BHAKTI YOGA. Deste Yoga se diz que é próprio para a pessoa de temperamento emocional. Nesse yoga a pessoa trata de obter a autorrealização pela exclusiva devoção a Deus e às vezes, sua devoção parece aos outros quase loucura. Mas a verdade é que o mundo estaria em melhor situação se mais pessoas tivessem essa loucura. Ademais, essa loucura jamais levou alguém a nenhum manicô­mio. Você já amou alguma vez? A pessoa que ama está absorvida pelo pensamento no seu bem-amado. Pode assistir a um jogo de futebol, mas tudo o que pode ver no campo é a forma de seu amado. Pode estar no cinema, mas o único que vê na tela é a imagem de seu amado. Isto é devoção, mas muito maior é a devoção do Bhakta – devoto de Deus. Um devoto vê uma bela flor e de imediato se reporta ao seu Autor e explode numa canção devocional. Ele se deleita adorando Deus nos Bhajans (cânticos devocionais) e nas cerimônias em que, cheio de amor oferece a Deus flores, doces, etc.. Ele é um homem enamorado, enamo­rado da mais alta Realidade! Alguns “filósofos” criticam tais pessoas devocionais. O único resultado de suas críticas, porém é o de expor a sua ignorância. Sri Ramakrishna, o guru de Swami Vivekananda, foi um devoto do aspecto da Mãe Deus. O proce­dimento deste Mestre também foi o de um “homem louco”. As pessoas que o conheceram, inclusive o grande Swami Vivekananda, sabiam que Sri Ramakrishna não era louco embora amasse loucamente a Deus – disso ninguém duvidava. Para um Bhakta, Deus é amor e amor é Deus. Ele vê o amor de Deus em toda parte – no aperto de mão de dois amigos, no abraço da mãe a seu filho, no despontar do sol, e assim por diante. Um amigo pode ficar aborrecido com o devoto, mas este lhe dirá: “Você pode esquecer-me, mas, meu amigo, estou amando. Eu só posso ver Deus em você, e é impossível para mim não amar você.” Um devoto Bhakta sabe de sua unidade com Deus. Contudo, pelo bem de sua adoração, pelo bem de seu amor, ele conserva a pretensa dualidade. Ele se distancia um pouco de Deus a fim de poder adorar e venerar a Deus. Você deve se lembrar que, mesmo sendo um Jnana Yogue, um Karma Yogue ou um devoto – ao mesmo tempo ou separada­mente de qualquer um deles – é preciso brotar em você essa exclusiva e ávida paixão por Deus. Em outras palavras, uma penetrante e absoluta devoção por Deus deve brotar em você. Autorrealização é, afinal, um presente de Deus. Mas, por outro lado, não se pode obter a autorrealização sem tal devoção, tal desejo ardente ou sem essa sede, não importando qual destes sentimentos o aproximam de Deus. O capítulo XII do Guita trata de Bhakti Yoga e aqui estão os poucos e finais versículos deste capítulo. Os versículos 13 a 20 descrevem a mansidão e doçura, a vida equilibrada, a auto submissão e o amor do devoto, e o quanto tal devoto é querido do Senhor: “Aquele que não tem malícia com ninguém, que é amigo e compassivo com todos, que não tem sentimento de “meu”, e está livre do egoísmo; aquele para quem o prazer e a dor são iguais, que por natureza perdoa, que está sempre contente e mentalmente unido a Mim, que controlou seu corpo, mente e sentidos e tem firme determinação, que submeteu sua mente e intelecto a Mim – este devoto Meu, Me é muito querido.” (Vers. 13/14) “Aquele que não é uma fonte de aborrecimento para o mundo, e que nunca se sente ofendido com o mundo, que está acima de prazeres e ira, de perturbação e medo, ele é querido para Mim.”(15) “Aquele que nada almeja, que interna e externamente é puro, hábil e imparcial, e tem superado todas as distrações, que renuncia ao sentimento de “fazedor” que tudo empreende, este devoto é meu querido.” (16) “Aquele que não se regozija nem odeia, não se lamenta nem deseja, que renuncia ao bem e ao mal e está cheio de devoção para Mim, é meu querido.”(17) “Aquele que é equânime com o amigo e o inimigo, na honra e na ignomínia, no calor e no frio, na alegria e na tristeza etc., e é desa­pegado; que toma de igual maneira o elogio e a reprovação, que é dado à contemplação e fica contente com o que vier sem ter pedido, sem apego ao lar, com mente estabelecida em mim e muito devoto meu, esse é meu querido.”(18 e 19)“Aqueles que participam inteiramente deste néctar de sabedoria piedosa, que estão dotados de fé e são devotados exclusivamente a Mim, esses devotos são extremamente queridos para Mim.” (20) Estou chegando ao fim deste texto “Introdução ao Hinduísmo” e só tenho admiração pelo leitor – se ele ou ela é hindu ou não – por ter-me acompanhado ao longo deste humilde trabalho. Para toda pessoa, sua religião é como sua própria mãe. Não importa o tanto de beleza que outra mulher possa ter, não se substitui nossa mãe por essa mulher. O hinduísmo não é uma religião missionária. Se o leitor for hindu, o hinduísmo pede ao leitor que seja um hindu melhor. Se for cristão ou muçulmano, então que seja melhor cristão ou muçulmano. Há diferenças religiosas, como é natural, mas só um Deus. Pela paz e compreensão entre todas as religiões e pelo propósito de ter Deus na vanguarda de nossas vidas, finalizarei este capítulo com uma história escrita pelo santo dos santos, Swami Tilak – discípulo de Sua Santidade Baba Bajarangadasji Maharaj, e meu amigo: “Altas horas da noite, enquanto o monge estava em meditação, algo insólito acontecia… os copos à sua frente começaram a falar. Cada um gabava-se de sua grandeza, até que a água que estava dentro disse: Tolos! Não sejam tão orgulhosos de vocês próprios, pois são apenas recipientes; o conteúdo sou eu. Nenhum recipiente é amado por ser recipiente, mas é amado pelo seu conteúdo. No monge surgiu reveladora e notável verdade: “As religiões são os receptáculos, e Deus o conteúdo. Pelo zelo de conservar bem esses receptáculos, não se deve jogar fora o conteúdo.”

OM PAZ, PAZ, PAZ. Naren Nagin, além de escritor e conferencista de temas ligados à espiritualidade é também advogado. N.Nagin vive em Vancouver – Canadá

Nota JM – As palavras Consciência, Verdade, Todo e Realidade quando grafadas com a inicial maiúscula são aqui utilizadas como sinônimos da palavra Deus.

monastério

Nota JM – Conhecimento com “C” maiúsculo transcende àquele que advém da mera informação, refere-se ao conhecimento do Ser, através da experiência direta.

 

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