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CAJADO DE MOISÉS. Vários anos haviam se passado desde o dia em que Bátia, a
filha do Faraó, salvara do rio Nilo o pequeno Moisés. A criança tornara-se um
belo rapaz, culto, um príncipe do Egito amado pelo próprio Faraó. Apesar do
luxo e conforto no qual vivia, o jovem (...). Um certo dia, Moisés passeava
pelas propriedades do Faraó e, de repente, ouviu um grito. Ao erguer a cabeça,
viu um soldado egípcio agredindo com violência alguns escravos judeus. Moisés
não pode suportar tal injustiça; jogou-se em cima do soldado para protegê-lo e,
na fúria do momento, matou-o. O que fazer naquela situação? Não podia voltar ao
palácio. Seria condenado à morte. Com certeza, não havia refúgio para ele em
todo o Egito. Moisés resolveu, então, fugir. Ultrapassou vales, escondeu-se nas
profundezas das montanhas até encontrar abrigo em Midian, na casa do sacerdote
Jethro, que havia sido um dos conselheiros pessoais do Faraó. Jethro era um
grande sábio: interpretava os astros, havia aprendido segredos da natureza e
conseguia penetrar nas mentes chegando aos mais secretos pensamentos. Dizia-se
que até o que não era revelado aos mortais vinha a ele com clareza. O Faraó,
sabendo de seus dons, havia pedido que se tornasse, mesmo que por pouco tempo,
seu conselheiro pessoal. Foi assim que Moisés o conheceu. Jethro deixou a corte
por não concordar com o decreto do Faraó de escravizar os judeus. Porém como o
servira durante bastante tempo, este deu-lhe o direito de escolher a sua
recompensa antes de voltar ao seu país. "Tenho um longo caminho pela
frente", disse Jethro. Dê-me, então, aquele velho cajado, aquele que se
encontra perdido e jogado dentro do palácio. Ele me permitirá caminhar com mais
facilidade". O pedido deixou o Faraó sem palavras, pois havia pensado que
Jethro escolheria algo mais valioso: inimagináveis quantidades de ouro ou
pedras preciosas, terras, palácios (...). Mas só pedira um cajado (...). Que
então partisse com o seu pedido realizado. O Faraó resolveu atendê-lo
imediatamente. Porém, o cajado ao qual se referia Jethro, não era um simples
pedaço de madeira. Jethro sabia muito bem disso e sabia mais: o tal cajado
provinha de um lugar muito especial: o Jardim de Éden; mais precisamente, da
Árvore do Conhecimento. D'us o criara no crepúsculo do primeiro Shabat do
mundo. Era feito em safira e tinha gravado nele o Nome Divino e as 10 letras hebraicas,
as iniciais das dez pragas que no futuro iriam infestar o Egito. Adão o havia
recebido do Criador no Jardim do Éden. Quando morreu deu-o para Enoch. O cajado
possuía uma virtude mágica: amenizava o cansaço e fazia o trabalho mais árduo
parecer brincadeira de criança. Pertenceu a Noé, que o utilizou para medir a
Arca na qual sobreviveu durante o dilúvio. Em seguida foi a vez do patriarca
Abraão, que o herdou. Serviu também a seu filho Isaac e logo a seu descendente,
Jacob. Este, ao ir para o Egito, levou o cajado consigo deixando-o como herança
a seu amado filho José. Quando este último morreu, todas suas propriedades
passaram a pertencer ao Faraó. O Faraó ordenou que lhe fosse trazido o cajado.
Desconfiava que não fosse um simples pedaço de madeira. Mas, por mais que o
Faraó tentasse dar-lhe ordens, nada acontecia. Decepcionado, mandou que o
deixassem dentre os tesouros do palácio; lá ficou encostado por vários anos,
até que Jethro o pediu como recompensa. De volta à sua casa em Midian, Jethro
decidiu plantar o cajado no seu jardim. No momento em que o encostou à terra
para cavar, o cajado encolheu-se estranhamente, como se tivesse voltado a seu
estado de raiz. Efeito raro e estranho, posto que nada crescera dessa raiz,
nenhuma folha, flor ou fruto. Jethro tentou plantá-lo de novo, mas não
conseguiu arrancá-lo do solo. Resolveu deixar o cajado onde estava. O sacerdote
era pai de sete filhas. Uma dela era chamada Tzipora, o que significa
"pequeno pássaro". Tudo em Tzipora era bonito, seu sorriso, sua energia,
sua afável essência. Não se passava um dia sequer sem que ela fosse pedida em
casamento. Jovens e velhos, ricos e pobres ofereciam-lhe de tudo para
consegui-la como esposa. Mas ela repetia: "Eu pertenço a quem conseguir
tirar este cajado da terra. Quem o conseguir será o meu futuro marido e ninguém
mais". Ela era também uma moça muito sábia. Seu pai já lhe havia ensinado
muitas coisas. Dentre estas a de que o cajado só responderia àquela pessoa que
D'us escolhera. Centenas de mãos já haviam tentado arrancar o cajado. Mas
ninguém havia conseguido sequer movê-lo para o lado. O cajado estava encravado
na terra, como se sua raiz estivesse grudada ao outro lado do solo. Estava
esperando (...). Ao chegar em Midian, Moisés conheceu Tzipora perto de uma fonte
onde ela e suas irmãs estavam tentando dar águas a seu rebanho. Moisés as
ajudou afastando os pastores que as estavam perturbando. A jovem se encantou
com aquele homem tão bonito e bondoso e sempre que podia, dava um jeito de
encontrar-se com ele. Entretanto, o avô de Tzipora, Reuel, soube que Moisés
estava fugindo do Faraó e decretou sua prisão. Moisés acabou preso e jogado na
prisão. Durante 10 anos, Tzipora secretamente levava-lhe comida. A vontade dela
era que Moisés fosse o escolhido de D'us. Assim ficariam juntos para sempre.
Moisés foi finalmente libertado, e foi até um dos jardins para agradecer a
Hashem por tê-lo poupado. Assim que entrou no jardim, viu o cajado. Logo,
observou que o nome de D'us estava gravado em sua ponta. Soube imediatamente que
pertencia a seu povo. Segurou-o e, ao usar o Nome Divino, a poderosa força que
o mantinha encravado no solo esvaneceu-se e Moisés retirou-o facilmente da
terra. Jethro imediatamente soube que Moisés ia ser o libertador dos judeus e o
convidou a ficar. Ao virar-se, Moisés viu que Tzipora estava do seu lado.
Aproximou-se e tomou-a em seus braços. Alguns dias depois, o casamento foi
celebrado. Moisés, feliz, disse: "D'us me mandou Tzipora e o poder do
cajado para que eu consiga salvar o meu povo". E foi o que aconteceu. Na
mão de Moisés o cajado cumpriu a tarefa que lhe fora destinada, conforme a
vontade de D'us: ajudou Moisés e Aarão a salvar o seu povo da escravidão do
Egito. Foi com este cajado nas mãos que Moisés, seguindo a ordem de D'us,
realizou os milagres no Egito perante o Faraó e os filhos de Israel. Baseado no
conto "Le bâton de Moïse", Legendes et Contes, Contes Juift, Gründ. www.morasha.com.br. Abraço. Davi
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