Budismo.
www.studybuddhism.com. Texto de
Tenzin Gyatso, o 14º Dalai Lama (1935- ).
CONSELHOS BUDISTAS SOBRE A MORTE E O MORRER. Todos teremos que encarar a morte,
portanto não deveríamos ignorá-la. Encarar a mortalidade de forma realista nos
habilita a viver uma vida mais plena e significativa. Ao invés de morrermos com
medo, poderemos morrer felizes por termos aproveitado ao máximo nossa vida. Como Levar uma Vida Significativa. Ao
longo dos anos, os nossos corpos mudaram. Geralmente, nem a espiritualidade nem
a meditação podem parar este processo. Somos impermanentes, mudamos constantemente,
mudando de um momento para o outro, e isto é parte da natureza. O tempo está
sempre em movimento; nenhuma força pode parar isso. Então a real questão é se
estamos utilizando devidamente o nosso tempo. Será que estamos utilizando o
nosso tempo para criar mais problemas para os outros, o que no final das contas
acaba por nos tornar profundamente infelizes? Eu acho que esta é uma forma
incorreta de usar o tempo. Uma melhor maneira é tentar moldar as nossas mentes
todos os dias com uma motivação apropriada e continuar no restante do dia com
este tipo de motivação. Se possível, isso significa servir os outros; e se não
for o caso, pelo menos não prejudicar os outros. Neste sentido, não há
diferença entre as profissões. Qualquer que seja o seu trabalho, você pode ter
uma motivação positiva. Se o nosso tempo for usado desta forma durante dias,
semanas, meses, anos – décadas, não apenas por cinco anos – então as nossas
vidas passam a ser significativas. No mínimo, estamos fazendo alguma espécie de
contribuição dirigida para o nosso estado mental individual de felicidade. Mais
cedo ou mais tarde, o nosso fim chegará e neste dia não teremos
arrependimentos; saberemos que usamos o nosso tempo de forma construtiva. Eu
penso que muitos de vocês usam o tempo de uma forma apropriada, que faz
sentido. Isso é importante. Ter uma Atitude Realista em Relação à Morte. Contudo, as nossas vidas atuais não são eternas.
Mas pensar que “a morte é um inimigo” é completamente errôneo. A morte é parte
de nossas vidas. Claro, do ponto de vista budista, este corpo de certa maneira
é um inimigo. Para desenvolver um desejo genuíno de moksha – libertação
– precisamos este tipo de postura: que este nascimento, este corpo, que a
natureza destes é sofrimento e, portanto, queremos terminá-lo. Mas esta postura
pode criar muitos problemas. Se você considerar a morte como um inimigo, então
este corpo também será um inimigo, e a vida como um todo será um inimigo. Isso
é ir longe demais. É claro que a morte significa não mais existir, pelo menos não
neste corpo. Teremos que nos separar de todas as coisas com as quais
desenvolvemos alguma conexão íntima nesta vida. Os animais não gostam da morte.
Naturalmente, o mesmo ocorre com os seres humanos. Mas nós somos parte da
natureza e, assim sendo, a morte é parte de nossas vidas. É lógico que a vida
tem um início e um fim – há o nascimento e há a morte. Ou seja, não é algo
incomum. Mas eu penso que nossas ideias irrealistas em relação à morte nos
causam ainda mais preocupação e ansiedade. Como praticantes budistas, é muito útil nos
lembrarmos diariamente da morte e da impermanência. Existem dois níveis de
impermanência: um nível mais denso no qual todos os fenômenos produzidos têm um
fim e um nível mais sutil no qual todos os fenômenos afetados por causas e
condições mudam a cada momento. Na verdade, o nível sutil da impermanência é o
real ensinamento do budismo; mas geralmente o nível mais denso da impermanência
também é uma parte importante da prática porque ele reduz algumas de nossas
emoções destrutivas baseadas no sentimento de que somos eternos. Olhem para os
grandes reis e soberanos – também no ocidente – com seus grandes castelos e
fortalezas. Os imperadores se consideravam imortais. Mas hoje quando olhamos
para essas estruturas, elas nos parecem um tanto estúpidas. Olhem para a Grande
Muralha na China. Ela criou um imenso sofrimento para os súditos que a
construíram. Mas esses trabalhos foram realizados com sentimentos como: “O meu
poder e o meu império permanecerão para sempre” ou “O meu imperador permanecerá
para sempre”. Como o muro de Berlim – algum líder comunista da Alemanha
oriental disse que este duraria por mil anos. Todos esses sentimentos vêm do
apego a eles mesmos ou aos seus partidos ou suas crenças e do pensamento que
estes permanecerão para sempre. É verdade que precisamos de desejo positivo
como parte de nossa motivação – sem o desejo não há movimento. Mas o desejo
combinado com a ignorância é perigoso. Por exemplo, há o sentimento de
permanência que muitas vezes cria aquele tipo de visão “Eu vou durar para
sempre”. Isso é irrealista. Isso é ignorância. E quando você combina isso com
desejo – querendo mais e mais, e mais – isso cria ainda mais dificuldades e
problemas. Mas o desejo com sabedoria é muito positivo. Portanto, precisamos disso.
Na prática tântrica também somos confrontados com caveiras e este tipo de
coisas lembretes da impermanência, e em algumas mandalas nós visualizamos
cemitérios. Todos estes são símbolos que nos lembram a impermanência. Um dia, o
meu carro atravessou um cemitério. Ele ainda estava fresco em minha mente
quando eu o mencionei durante uma palestra pública: “Eu acabei de passar por um
cemitério. Este é o nosso destino final. Temos que ir para lá”. Jesus Cristo
mostrou aos seus seguidores que finalmente a morte acaba por vir. E o Bhuda fez
a mesma coisa. Allah, eu não sei – Allah não tem forma – Mas é claro que
Mohammed (O Profeta Maomé) o demonstrou. Por conseguinte, precisamos ser
realistas: a morte virá mais cedo ou mais tarde. Se você desenvolver um tipo de
postura ciente de que a morte virá desde o início, então, quando a morte de
fato chegar, você se sentirá muito menos ansioso. Assim sendo, como praticantes
budistas, é muito importante nos lembrarmos disso diariamente. O Que Fazer no Momento da Morte. Quando
chegar o nosso último dia, teremos que aceitá-lo e não vê-lo como algo
estranho. Não há outro caminho. Neste momento, alguém que tem fé em uma
religião teísta deveria pensar: “esta vida foi criada por Deus, assim sendo, o
fim dela também faz parte do plano de Deus. Embora eu não goste da morte, Deus
a criou, e por isso ela deve ter algum sentido.” Essas pessoas que realmente
acreditam em um deus criador deveriam seguir esta linha de raciocínio. Aqueles
que seguem as tradições indianas e acreditam no renascimento deveriam pensar em
suas vidas futuras e fazer esforços no sentido de criar as causas apropriadas
para uma boa vida futura, ao invés de se preocupar, e se preocupar, e se
preocupar. Por exemplo, no momento da morte, você poderia dedicar todas as suas
virtudes para que a sua próxima vida seja uma boa vida. E então, quando a morte
chegar, o estado mental deve ser calmo. Raiva, medo demais – esses estados não
são bons. Se possível, os praticantes budistas deveriam usar este tempo agora
para pensar em suas próximas vidas. As práticas de bodhichitta e algumas
práticas tântricas são boas para isso. De acordo com as práticas tântricas, no
momento da morte há a dissolução dos elementos em oito etapas – os níveis mais
densos dos elementos do corpo se dissolvem, e depois os níveis mais sutis
também se dissolvem. Os praticantes tântricos precisam incluir isso em sua
meditação diária. Todos os dias eu medito sobre a morte – em diferentes
práticas de mandala – pelo menos cinco vezes, e ainda estou vivo! Hoje de manhã
eu já passei por três mortes. Ou seja, esses são os métodos para criar uma
garantia para uma boa próxima vida. E para os que não acreditam, como falei
antes, é bom ser realistas em relação ao fato da impermanência. Como Ajudar aos Que Estão Morrendo. Quanto
àqueles que de fato estão morrendo, é bom que em seu entorno haja pessoas com
algum conhecimento de como ajudar. Como mencionei antes, com os moribundos que
acreditam em um deus criador, você pode fazer com que se lembrem de Deus. Uma
fé focada em Deus tem pelo menos alguns benefícios, também do ponto de vista
budista. Com as pessoas que não têm crença nem religião alguma, como eu
mencionei antes, é importante que sejam realistas e mantenham a calma. Ter
parentes chorando ao redor da pessoa que está morrendo pode ser prejudicial
para que estas pessoas possam manter as suas mentes calmas – é apego demais. E
também por demasiado apego aos parentes há a possibilidade de desenvolver raiva
e ver a morte como uma inimiga. Assim sendo, é importante tentar manter o
estado mental deles calmo. Isso é importante. Em muitas ocasiões me pediram
para ir a hospitais budistas. Na Austrália, há um monastério de monjas
totalmente dedicado a tomar conta de pessoas que estão morrendo ou com doenças
graves. Esta é uma maneira muito boa de colocar a nossa prática diária de
compaixão em ação. Isso é muito importante. Conclusão. A morte não é algo estranho. É algo que ocorre
todos os dias, em todo o mundo. A compreensão de que vamos indiscutivelmente
morrer nos encoraja a viver uma vida mais significativa. Quando vemos que morte
pode chegar a qualquer hora, é muito mais difícil nos envolvermos em brigas e
discussões sobre coisas pequenas. Ao invés disso, nos motivamos a aproveitar ao
máximo a vida, beneficiando os outros o quanto for possível. www.studybuddhism.com. Abraço.
Davi.
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