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Escrito por Osho (1931-1990). PORQUE A VIDA EXISTE ? “Osho. Eu nunca fui
capaz de encontrar resposta para uma pergunta. É uma pergunta estúpida, mas
mesmo assim eu queria muito saber a resposta. Você poderia nos dizer qual é o
propósito da criação? Por que a vida existe? Por que todas as coisas existem?
Eu não acredito em acidentes. Prem Patrick. A pergunta
é certamente estúpida (...). Você está absolutamente certo a respeito disso. E
a pergunta não é respondível. Qualquer pessoa que respondê-la irá somente criar
alguns questionamentos a mais em você. Você não foi capaz de encontrar qualquer
resposta porque não existe resposta. A vida é um mistério, por isso essa
pergunta não pode ser respondida. Você não pode perguntar o porquê. Se o porquê
for respondido, a vida deixa de ser um mistério. Esse é todo o esforço da
ciência: destruir o mistério da vida. E a maneira é encontrar respostas para
todos os porquês. E a ciência acredita, naturalmente com arrogância e
ignorância, que um dia ela será capaz de responder a todos os porquês. Isso não
é possível. Mesmo se nós respondermos a todos os porquês, o último dos porquês
permanecerá: por que a vida existe, afinal? Qual o significado da existência?
Qual é o propósito de tudo isso? Essa pergunta é a última e ela não pode ser
respondida. Se alguém lhe der uma resposta, ela simplesmente irá criar um novo
questionamento. E respostas já têm sido dadas (...). Algumas pessoas acreditam
que Deus criou o mundo porque queria ajudar a humanidade. Agora, que tipo de
resposta é essa? Ele criou a humanidade para ajudar a humanidade. Qual era a
necessidade de criar? Alguns outros dizem que Deus criou o mundo porque ele
estava se sentindo muito solitário. Se Deus estava se sentindo mal muito só,
então não existe qualquer possibilidade de alguém se tornar um Budha. E se Deus
de repente começou a se sentir solitário, então o que ele estava fazendo antes
de criar o mundo? Por toda a eternidade ele tem estado só (...) então de
repente, num dia, numa manhã, ele ficou enlouquecido, ou o que? De repente ele
começou a se sentir solitário depois do almoço. E qual era a necessidade de
criar todo o mundo? Apenas uma mulher já teria sido o suficiente! E agora, como
ele está se sentindo hoje? Muito cheio de gente? Gente em demasia pelas ruas?
Deve estar planejando destruir o mundo em breve. Sobre que tipo de Deus você
está falando? O seu Deus é uma pessoa que pode se sentir solitário? Todas essas
são respostas tolas para perguntas tolas. Então existem pessoas que dirão:
isso é um jogo de Deus, a sua brincadeira. Ele não poderia ter ficado sentado
em silêncio? Que espécie de jogo é esse? Adolf Hitler (1889-1954) e Benito
Mussolini (1883-1945) e Joseph Stalin (1778-1953) e Mao-Tse-Tung (1893-1976),
Gengis Khan (1162-1227), Tamurlaine, Nadir Shah (1688-1747) (...). Brincadeira
de Deus? Seis milhões de judeus assassinados por Adolf Hitler, e Deus está
brincando com um jogo? Por que ele não vai jogar golfe? ou xadrez? Por que
torturar pessoas? Tanta miséria no mundo e esses tolos seguem dizendo que isso
é brincadeira de Deus? Crianças que nascem paralíticas, cegas, surdas, mudas
(...). Brincadeira de Deus? Que espécie de Deus é esse? Ou ele não é Deus, ou
pelo menos ele não é divino. Ele deve ser muito mau. Essas perguntas não
ajudam. Elas criam mais perguntas. Patrick, o máximo que eu posso dizer é que a
vida não tem propósito algum, ela não pode ter qualquer
propósito. Todos os propósitos estão no meio da vida. Sim, um carro
tem um propósito: ele pode levá-lo de um lugar ao outro. O alimento tem um propósito:
ele pode nutri-lo, ele pode mantê-lo vivo. Uma casa tem um propósito: ela pode
lhe dar abrigo quando está chovendo e quando está quente. As roupas têm
propósito (...). Todos os propósitos estão dentro da vida, mas a vida em si
mesma não pode ter qualquer propósito porque ela não é um meio para algum fim.
Um carro é um meio, a casa é um meio. A vida não tem qualquer objetivo, a vida
não está indo para lugar algum. A vida está simplesmente aqui! Ela nunca foi
criada. Esqueça essa ideia de criação. Isso cria muitas perguntas estúpidas na
mente. Ela nunca foi criada, ela sempre esteve aqui e ela sempre estará aqui.
Com formas diferentes, de maneiras diferentes, a dança continuará. Ela é
eterna. Ais dhammo sanantano – assim é a lei última. Não há qualquer propósito
e essa é a beleza da vida. Se houvesse alguns propósitos, então a vida não
seria tão bonita, então haveria uma motivação, então ela seria como um negócio,
então ela seria muito séria. Olhe para as rosas, para as flores de lótus, para
os lírios. Qual o propósito? O lótus de manhã cedo, o sol nascendo, o cuco
começando a cantar (...). Qual o propósito? Isso não é intrinsecamente lindo?
Todas as coisas precisam de propósitos fora de si mesmas? A vida é
intrinsecamente linda. Ela não tem qualquer propósito extrínseco. Ela não é
propositada. Ela é exatamente como uma canção de um pássaro na escuridão da
noite, ou o som da água, ou o som do vento passando através dos pinheiros
(...). O homem é voltado para objetivos. E porque a sua mente é voltada para
objetivos, ela cria perguntas como esta: "Qual o objetivo da vida? Deve
haver algum objetivo." Mas se alguém disser, "esse é o objetivo da
vida", então você irá perguntar: "Qual o objetivo desse objetivo? Por
que nós devemos alcançá-lo? A que propósito ele irá servir?" E se alguma
outra pessoa disser: "Esse é o objetivo desse objetivo", as mesmas
perguntas irão surgir novamente e você vai voltar ao mesmo ponto, ad
infinitum. Você me pergunta: "Você poderia nos dizer qual é o
propósito da criação?" O mundo nunca foi criado. A palavra
"criação" não é correta. O mundo sempre esteve aqui, ele é eterno.
Não existe criador. Deus não é o criador do mundo. Deus é a própria energia
criativa da existência. É mais criatividade do que um criador. Ele não é o
poeta, mas sim a poesia; não o dançarino, mas a dança; não a flor, mas a
fragrância. Você me pergunta: "Por que a vida existe?" Essas
perguntas parecem muito filosóficas, e podem torturá-lo muito, mas elas são
absurdas. É como perguntar "Qual o sabor da cor verde?" Isso é irrelevante.
A cor verde não tem qualquer sabor. Cor e sabor não estão relacionados
absolutamente. "Por que a vida existe?" Veja que as palavras
"vida" e "existência" significam a mesma coisa. Isso é
tautologia. Você está perguntando: "Por que a vida é vida?" Assim
fica mais claro para você. Mas quando você pergunta "Por que a vida
existe?", as palavras enganam você. Você está perguntando "Por que a
vida é vida?". Você está perguntando "Por que uma rosa é uma
rosa?" Você ficaria satisfeito se uma rosa fosse uma margarida? Então você
poderia perguntar "Por que uma margarida é uma margarida?" De que
maneira você fica mais satisfeito? Se a vida não existir, você ficará mais
satisfeito? Simplesmente imagine você mesmo sem o corpo, sem a mente, um fantasma
perguntando "Por que a vida não existe? O que aconteceu com a vida? Por
que ela desapareceu?". Essas perguntas sempre irão persistir e perseguir
você. A vida é um mistério. Não existe qualquer porquê, qualquer propósito,
qualquer razão. Ela está simplesmente aqui. Aproveite-a ou abandone-a, mas ela
está simplesmente aqui. E estando ela aqui, por que não aproveitá-la? Por que
desperdiçar seu tempo filosofando? Por que não dançar, cantar, amar e meditar?
Por que não se aprofundar mais e mais nessa coisa chamada "vida"? Talvez
no centro mais profundo você irá saber a resposta. Mas a resposta vem de uma
tal maneira que ela não pode ser expressada. É como um homem mudo que
experimenta açúcar. É doce, ele sabe que é doce, mas ele não consegue falar. Os
Budhas sabem, mas eles não conseguem dizer. E os idiotas não sabem e seguem
falando, seguem dando respostas a você. Os idiotas são muito espertos nesse
sentido de encontrar, de fabricar, de manufaturar respostas. Faça qualquer
pergunta e eles terão uma resposta para você. Quando Gautama Budha costumava
viajar por este país de um lugar a outro, alguns poucos discípulos iam à frente
e anunciavam na cidade: "Budha está chegando, mas por favor não façam
aquelas onze perguntas". E uma daquelas onze perguntas era "Por que a
vida existe?". Uma outra era "Quem criou o mundo?" Naquelas onze
perguntas, toda a filosofia estava contida. Na verdade, se você abandonar
aquelas onze perguntas, nada sobra para ser perguntado. Budha costumava
dizer que essas eram perguntas inúteis. Elas não eram respondíveis, não porque
ninguém soubesse a resposta. Elas eram irrespondíveis pela própria natureza das
coisas. Um grande filósofo, Maulingaputta, veio até Budha e começou a
fazer algumas perguntas... Perguntas após perguntas. Budha ouviu silenciosamente
por meia hora. Maulingaputta começou a se sentir um pouco embaraçado porque
Budha não estava respondendo, ele estava simplesmente sentado ali, sorrindo,
como se nada tivesse acontecido, e ele havia formulado perguntas tão
importantes, tão significativas. Finalmente Budha disse: "Você realmente
quer saber a resposta?" Maulingaputta disse: "Se eu não quisesse, por
que eu teria vindo até você? Eu viajei pelo menos mil milhas para vê-lo"
(...). "Por que eu teria vindo de tão longe? Foi um longo sofrimento. Parece
que eu estive viajando por toda a minha vida! E você está perguntando se eu
realmente quero saber a resposta?" Budha disse: "Eu estou perguntando
de novo: você realmente quer a resposta? Diga sim ou não, porque irá depender
muito disso". Maulingaputta disse "Sim! Então Budha disse: "Por
dois anos sente-se silenciosamente ao meu lado, não pergunte, não questione,
não converse, simplesmente sente-se silenciosamente por dois anos ao meu lado.
E após dois anos você poderá perguntar o que você quiser e eu prometo que irei
respondê-lo." Um discípulo, um grande discípulo de Budha, Manjusri, que
estava sentado na sombra de uma outra árvore, começou a rir muito alto e
começou a rolar pelo chão. Maulingaputta disse: "O que aconteceu com esse
homem? Você está falando comigo, você não dirigiu uma simples palavra a ele,
ninguém disse nada para ele (...). Estará ele contando piadas para si
mesmo?" Budha disse: "Vá lá e pergunte a ele". Ele perguntou a
Manjusri. Manjusri disse "Senhor, se você quiser realmente fazer a pergunta,
faça-a agora. Essa é a maneira dele enganar as pessoas. Ele me enganou. Eu
costumava ser um filósofo tolo, exatamente como você. A resposta dele foi a
mesma quando eu cheguei. Você viajou mil milhas e eu havia viajado duas mil
milhas." Manjusri era certamente o maior filósofo, o mais conhecido do
país. Ele tinha milhares de discípulos. Quando ele chegou, com ele vieram mil
discípulos. Um grande filósofo chegando com seus seguidores. E Budha disse,
"Sente-se silenciosamente por dois anos." E eu me sentei
silenciosamente por dois anos, mas então eu não podia fazer uma pergunta
sequer. Aqueles dias de silêncio (...). Devagar, devagar, todas as perguntas
foram se desfazendo. E uma coisa eu vou dizer a você: ele manteve sua promessa,
ele é um homem de palavra. Após os exatos dois anos, eu tinha me esquecido
completamente, eu tinha perdido a noção do tempo, por que quem vai se preocupar
em lembrar? Na medida em que o silêncio ficou mais profundo, eu perdi toda a
noção de tempo." Quando os dois anos se passaram, eu nem estava me dando
conta disso. Eu estava curtindo o silêncio e a presença dele. Eu estava bebendo
a presença dele. E isso foi tão incrível. Na verdade, no fundo do meu coração
eu não queria nunca que aqueles dois anos fossem concluídos, porque uma vez que
eles se concluíssem, ele iria dizer: "Agora ceda o lugar para alguma outra
pessoa sentar ao meu lado, e você afaste-se um pouco. Agora você já é capaz de
estar só, você não precisa tanto de mim. Exatamente como uma mãe afasta a
criança quando ela pode comer e digerir por si mesma e não precisa mais se
alimentar do peito materno. Assim, Manjusri disse, eu estava esperando que ele
se esquecesse de toda essa história a respeito dos dois anos, mas ele se
lembrou. Exatamente após os dois anos, ele me disse: "Manjusri, agora você
pode formular as suas perguntas". Eu olhei para dentro de mim e não havia
nenhuma pergunta, nem ninguém para formular perguntas, era um silêncio total.
Eu ri, ele riu, ele deu um tapinha nas minhas costas e disse, "Agora,
afaste-se um pouco." "Assim, Maulingaputta, é por isso que eu comecei
a rir, porque agora ele está de novo aplicando o mesmo golpe. E esse pobre
Maulingaputta vai se sentar por dois anos silenciosamente e vai se perder para
sempre, nunca mais será capaz de formular uma pergunta sequer. Por isso,
Maulingaputta, eu insisto: se você quer realmente perguntar, pergunte
agora!" Mas, Budha disse: "Minhas condições têm que ser atendidas.
Então, Patrick, a minha resposta para você é a mesma: atenda às minhas condições,
medite, sente-se silenciosamente, simplesmente esteja aqui e todas as perguntas
irão desaparecer. Eu não estou interessado em respondê-lo. Eu estou interessado
em dissolver as suas perguntas. E quando todas as perguntas desaparecerem,
aquele que pergunta também desaparecerá, ele não pode existir sem as perguntas.
Quando nenhuma pergunta mais existir, nem aquele que pergunta (...) quantas
bênçãos, quanto êxtase! Neste exato momento, você nem pode imaginar, você nem
pode sonhar, você nem pode compreender. Então, todo o mistério da vida se
abrirá, mistérios e mais mistérios (...) e isso não tem fim. www.oshobrasil.com.br. Abraço. Davi.
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