segunda-feira, 16 de novembro de 2020

MARTA E MARIA

 

EDITOR DO MOSAICO. MARTA E MARIA. Compartilharei um pequeno trecho das escrituras encontrado em Lucas 10:38-42. “E aconteceu que, indo eles de caminho, entrou Jesus numa aldeia; e certa mulher por nome Marta, o recebeu em sua casa. E tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual assentando-se aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Marta, porém, andava distraída em muitos serviços; e, aproximando disse: Senhor, não se te dar de que minha irmã me deixa servir só? Dize-lhe que me ajude. E respondendo Jesus disse? Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária. E Maria escolheu a boa, melhor parte, a qual não lhe será tirada”.  Essa narrativa conta uma particularidade familiar entre Marta e Maria relatada no evangelho de Lucas, mas introduzirei o tema na perspectiva inconsciente da personalidade humana. As duas irmãs eram irmãs de Lázaro, amigo do Mestre Jesus. O qual, geralmente ia a Betânia, na casa dessa família querida e conversavam demoradamente assunto diversos. Essa ideia, do inconsciente humano, depreende-se da psicologia analítica de Carl Gustav Jung (1875-1961), onde é conceituado que o animus, é o aspecto inconsciente da personalidade masculina contido na mulher e o anima, o aspecto inconsciente da personalidade feminina, contida no homem. “Esses termos foram adotados por Jung para simbolizar característica contra sexual de cada indivíduo, parte do princípio da complementariedade, através do qual a psique se move. São imagens psíquicas, configurações originárias de uma estrutura arquetípica básica, provenientes do inconsciente coletivo. São subliminares a consciência e funcionam a partir de dentro da psique inconsciente. Influindo sobre o princípio psíquico dominante de um homem ou de uma mulher. Jung diz: A anima, sendo feminina, é a figura que compensa a consciência masculina. Na mulher, a figura compensadora é de caráter masculino, e pode ser designada pelo nome de animus. Mais tarde, Jung enriqueceu sua definição de anima e animus chamando-as de Não Eu, um conceito apreendido do budismo, tipificando está fora de si próprio, pertencente à sua alma ou espírito. Para o homem, tem a característica de reações, impulsos e posicionamentos baseados em conhecimento não suficientemente justificado; e para a mulher assume à forma de compromissos, crenças e inspirações. É algo que induz a tomar conhecimento do que é espontâneo e significativo na vida psíquica”. http://www.sandplay.jogodeareia.com.br. Esse conceito jungiano é importante para generalizarmos ambos os sexos dentro da perspectiva bíblia, e especificamente entre Marta e Maria. Também podemos supostamente explicar a luz dessa teoria, porque pessoas de sexo igual, os homo afetivos, tem atração recíproca. Um possível interesse entre ambos, imagino, além do aspecto genético discutido pela ciência, seria a proporção do inconsciente animus em paridade com o animus da outra pessoa. O contrário é recorrente, quando o anima equivalente no inconsciente da pessoa tem a mesma intensidade psíquica que na outra. Os heterossexuais hipoteticamente, nessa teoria, individualizam atrações diferenciadas de animus e anima em suas convivências. Não tenho intenção de provar o que estou falando; apenas são argumentos de uma possível discussão no campo da psicologia analítica relacionada a esse assunto. Assim, somos num certo sentido, homem e mulher ao mesmo tempo. Isso é justificado pela ciência oculta com a noção do Adan Cadmo, ou Adão primordial. O ser primitivo que deu origem evolucionária ao homo erectus a milhões de anos atrás. O Adan Cadmo era considerado um hermafrodita (pessoa que possui concomitantemente ambos os sexos masculino e feminino), mitologicamente criado pela divindade em série. Colocado em vários lugares da terra, com um problema, precisava perpetuar sua espécie. Assim a alegoria bíblia da criação de Adão e Eva, que eram um e não dois, e Deus os separou fazendo-os macho e fêmea. Gênesis 2:21,22 “Então o Senhor fez cair um pesado sono sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar. E da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe a Adão”. Platão (428-347) no diálogo Teeto fala sobre a separação entre Mytos e Logos; uma possível figura de linguagem que faz referência ao Adan Cadmo. Desse modo, O Logos Divino, O Sempiterno, nos ama como somos; seu amor e misericórdia alcança nosso ser completo, nada fugindo de sua graça e bondade. Deixemos esse assunto para posterior elaboração mais detalhada. Acrescento ao assunto para ampliar nossa discussão o tema do Yin e Yang. "Segundo a filosofia chinesa o yin e yang é a representação do positivo e do negativo, sendo o princípio da dualidade. O criador desse conceito foi Confúcio (551 AD 471) no famoso Livro das Mutações I Ching. Ele descobriu que as formas de energia existente possuem dois polos e identificou-os como Yin e Yang. O Yin representa a escuridão, o princípio passivo, feminino, frio e noturno. Já o Yang, representa a luz, o princípio ativo, masculino, quente e claro. Quanto mais Yin você possuir, menos Yang terá. Quanto mais Yang possuir, menos Yin terá. Para termos corpo e mente saudável é preciso está em equilíbrio entre o Yin e o Yang". Aqui podemos dizer que em Cristo Jesus devemos ter um relacionamento humano igualitário e não hierarquizado. Após o novo nascimento, tipificado pelo batismo nas águas, nossos laços de convivências são baseados no amor divino. Assim, não importando a identidade de gênero, todos, são acolhidos pelo Pai Celestial Divino como filhos amados de Deus. Gays, lésbicas, transsexuais, homo e heterossexuais, patrões e empregados, negros e branco, pobres e ricos. Todos têm pleno acesso ao Reino de Deus, podemos participar nas comunidades cristã, respeitando e sendo respeitados em suas formas de ser e viver. Evidente que cada um fazendo uso da ética, moral e compromisso social e espiritual adequados ao convívio social em sua expressão sexual. O Papa Francisco disse recentemente ao cumprimentar o democrata Joe Biden, vencedor das eleições americanas de 03 de novembro de 2020 contra o republicano Donald Trump: "O cristão não levanta muros, ele edifica pontes". Com todos de culturas e religiões diferentes da nossa, devemos assumir relações de harmonia, tolerância, respeito, dignidade e aprendizado. Pois somos irmãos, filhos do mesmo Pai Eterno. No texto citado Marta reclamava com Maria que enquanto ficava aos pés do Mestre, ouvindo seus preciosos ensinamentos, ela  desdobrava-se nos afazeres domésticos para deixar as coisas em ordem. Talvez com a intenção de proporcionar mais conforto ao Mestre nos momentos de descanso e comunhão com aquela família tão amada e querida. Ela até pede a intervenção do Mestre para que a irmã pudesse auxiliá-la, voltando depois a escutá-lo. Jesus amava muito estes três amigos; Lázaro aquele que ele ressuscitara dentre os mortos não estava presente neste encontro. Tinha geralmente com eles uma convivência mais humana que espiritual. Apesar do texto do evangelho de Lucas sugerir que ele discorria assuntos espirituais como Maria, prefiro acreditar no contrário; como eram momentos descontraídos e relacionais que vivia em Betânia na casa deste amados, conversavam sobre a vida, as dificuldades que ele tinha para desenvolver seu ministério. Como atravessar o rio Jordão, chegando a região da Galileia e Samaria com as boas novas; talvez refletisse sobre seus país; José segundo a tradição católica morreu antes dele começar seu apostolado, e sua mãe Maria morreu bem depois de sua morte. Tendemos a excessivamente espiritualizar Jesus, colocando sua humanidade sobreposta ao seu ser divino; como se ele não tivesse sentimentos e emoções. Esquecemos que em Hebreus 4:15 é falado “(...) mas temos o Sacerdote Supremo que, a nossa semelhança foi tentado de todas as formas, porém sem pecado algum”.  O Mestre responde que Maria escolheu a melhor parte e essa não lhe seria tirada. A melhor parte aqui não necessariamente seria uma porção de sabedoria mística advinda dos santos lábio do Mestre, mas também a companhia de uma amiga e um diálogo franco, onde possivelmente era confidenciado o temor e medo em continuar a luta espiritual. Principalmente porque nesse momento da história, o Império Romano começava a se incomodar com as pregações de Jesus, que se contrapunha a ordem estabelecida quando falada em Mateus 3:2 “Arrependei-vos porque está próximo o reino dos céus”. A Corte em Roma, não entendia está mensagem do Mestre, imaginando que ele estaria planejando a tomada do poder, tornando-se um novo César para estabelecer seu reino terreno; libertando os judeus do jugo romano. Talvez o Mestre compartilhasse com Maria, naquela agora, sua preocupação quanto a avidez dos judeus em relação aos milagres, já que esses produziam mais incredulidade que confiança e fé. A multidão ia atrás de Jesus apenas por causa do pão e dos milagres, mas ele disse em João 6:33 “O pão de Deus é aquele que desce do céu e da vida ao mundo”. Agora aprofundemos alguns conceitos provenientes dessa passagem. As duas irmãs Marta e Maria são a tipificação do humano em seu aspecto espiritual e terrenal. Isso demonstra que nossa existência individual precisa constantemente evoluir, à níveis mais altos, até chegarmos a união completa com o divino.  A meu ver está claro que os conflitos serão uma tônica nos relacionamentos; que digam os casais.  Mas devemos aprender a conviver com eles de forma pacífica, procurando caminhos à soluções que tragam benefício aos envolvidos. Sabendo que nesses casos, sempre uma parte deverá ceder, para que a harmonia se restabeleça na diferença e diversidade. No exemplo referido das duas irmãs, como todos temos nossas particularidades e individualidades, o desconforto estava no âmbito das emoções, sentimentos e prioridades que cada uma tinha, tanto no aspecto espiritual como no material. A resposta dada por Jesus à Marta, “Maria escolheu a melhor parte”,  geralmente é vista na teologia como reprovando a atitude ordinária, doméstica, de Marta. Inclinamo-nos a supra valorizar a espiritualidade em relação a humanidade, mas atentando com mais precisão, intuiremos que esse texto parece resumido, faltando, se é que posso me expressar assim,  elementos que justifiquem também a conduta positiva de Marta. A tradição cristã aqui aproveitou para evidenciar a importância das palavras do Mestre em seu aspecto contemplativo e meditativo,  entretanto, diminuiu o trabalho cotidiano de Marta. Isso inferimos da cultura legada pela comunidade judaica e os escritos do Torah, Tanake e Talmud, que tinha no trabalho secular uma forma de expressão com o divino, pois o Mestre no evangelho de João 5:17 diz: “Meu pai trabalha até agora e eu também trabalho”. Assim não se justifica a depreciação do trabalho de Marta que a ortodoxia propõe, pois esta, atenta ao lar, colocava as necessidades doméstica em ordem. Aqui podemos por em desconfiança, o porque dos clérigos não trabalharem no sustento de suas famílias? Apesar de I Coríntios 9:14 “Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho”, relacionar o evangelho como um trabalho, isso é usado hoje como sabemos em muitos casos como desculpa à ociosidade e preguiça. Nesse ponto, resguarda-se o interesse daqueles que vocacionados em monastérios, conventos ou seminários, desenvolvem a vida religiosa ao bem do próximo e da humanidade. Preservando a cultura e tradição mística dos povos relacionada as suas diversas divindades, e devido a precípua atuação fazem-na de forma integral. A sabedoria do Mestre é divina, pois  não se percebe ele entrando no mérito da questão entre Marta e Maria, imputando razão à nenhuma das partes. Esse juízo acabamos fazendo nos conflitos em que enfrentamos, tentando descobrir quem está certo ou errado. Isso cria obstáculos a harmonizarmos o relacionamento, não contribuindo ao diálogo construtivo, apenas acirrando os ânimos, aumentando o ressentimento e mágoa. A ideia aqui apresentada, penso, seja o equilíbrio entre o espiritual (Maria) e o terrenal (Marta). Todo extremismo enrijece os conceitos, nos fechando à ponto de vistas excludentes. Discriminando as opiniões divergentes da nossa; criando a falsa impressão de superioridade em relação a outros modelos de vida e espiritualidade. Imagino que o Mestre resolveu a pendência, mesmo não relatado nas páginas sagradas, mostrando a importância da estabilidade nas convivência, onde o mais sábio sede ao de menos conhecimento; e o espiritual não se mostra dominante ou superior ao terrenal. A atitude de Maria estando aos pés do Mestre, não é passada na narrativa como supremacia ou preeminência, mas respeito e consideração pelo Mestre, uma pessoa querida e amada por aquela família. Na verdade todos estamos no processo de desenvolvimento espiritual e chegaremos ao estágio da perfeição, como é dito em Efésios 4:13 “Até que todos cheguemos a unidade da fé, e ao conhecimento do filho de Deus, a homem perfeito, a medida da estatura completa de Cristo”. O homem perfeito é a expressão deificada do divino no humano, isso claramente visto nas atitudes e fala do Mestre Jesus nesse pequeno trecho bíblico. Abraço. Davi. 

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