segunda-feira, 3 de agosto de 2020

OS ANALECTOS - LIVRO XV

Confucionismo. www.https//rt.br. OS ANALECTOS – LIVRO XV. 1. O duque Ling de Wei perguntou a Confúcio sobre táticas militares. Confúcio respondeu: “De fato, já ouvir falar sobre o uso de embarcações sacrificiais, mas nunca estudei a questão do comando de tropas”. No dia seguinte, foi embora do reino. 2. Em Ch’en, quando as provisões acabaram, os seguidores [162] tinham se tornado tão fracos que nenhum deles conseguia pôr-se em pé. Tzu-lu, com indignação pintada em todo o rosto, disse: “É possível que haja momentos em que até mesmo os cavalheiros são levados a circunstâncias tão extremas?”. O Mestre disse: “Não causa nenhuma surpresa ao cavalheiro encontrar-se em circunstâncias extremas. O homem vulgar, ao encontrar-se em circunstâncias extremas, jogaria para cima qualquer escrúpulo.” 3. O Mestre disse: “Ssu, você acha que eu sou o tipo de homem que aprende muitas coisas e que depois armazena na mente cada uma dessas coisas que aprendeu?”. “Sim, acho. Não é assim?” “Não. Tenho apenas um único fio que liga todas elas.” [163] 4. O Mestre disse: “Yu, raros são aqueles que compreendem a virtude”. 5. O Mestre disse: “Se houve um governante que conseguia impor a ordem sem ter de tomar nenhuma ação, foi, talvez, Shun. Tudo o que ele precisava fazer era mostrar-se em uma postura respeitosa e olhar na direção do sul”. [164] 6. Tzu-chang perguntou sobre o progresso. O Mestre disse: “Se você tem consciência das próprias palavras e é coerente com elas, e se é determinado e reverente ao agir, então até mesmo nas terras dos bárbaros você progredirá. Mas, se falhar em ser consciencioso e coerente em relação a suas palavras ou determinado e reverente ao agir, então, mesmo na sua aldeia, como conseguiria progredir? Onde você estiver, tenha esse ideal à frente, inscreva-o na canga da sua carruagem. Apenas então você com certeza progredirá”. Tzu-chang tomou nota disso no seu cinturão. 7. O Mestre disse: “Quão correto é Shih Yü! Quando o Caminho prevalece no reino, ele é reto como uma flecha e, no entanto, quando o Caminho cai em desuso no reino, ainda assim ele tem a retidão de uma flecha. “Quão cavalheiro Ch’ü Po-yü é! Quando o Caminho prevalece no reino, ele exercita seus talentos em um cargo oficial, mas quando o Caminho cai em desuso no reino, ele deixa que o enrolem e que o guardem em algum lugar seguro”. [165] 8. O Mestre disse: “Não falar com um homem que pode se beneficiar com isso é desperdiçar o homem. Falar com um homem que é incapaz de se beneficiar com isso é desperdiçar as palavras. Um homem sábio não desperdiça nem homens nem palavras”. 9. O Mestre disse: “Em se tratando de cavalheiros determinados e homens de benevolência, ao mesmo tempo em que é inconcebível que busquem permanecer vivos sacrificando a benevolência, pode acontecer que tenham de aceitar a morte para conseguir realizar a benevolência”. 10. Tzu-kung perguntou sobre a prática da benevolência. O Mestre disse: “Um artesão que deseja praticar bem sua habilidade deve primeiro afiar seus instrumentos. Você deveria, portanto, buscar a proteção do mais distinto ministro e fazer amizade com o mais benevolente cavalheiro, esteja no reino onde estiver”. 11. Yen Yüan perguntou sobre como governar um reino. O Mestre disse: “Siga o calendário Hsia, ande em uma carruagem dos Yin e use um barrete cerimonial dos Chou, mas, quanto à música, adote o shao e o wu. [166] Bane as melodias de Cheng e mantenha homens de fala persuasiva à distância. As melodias de Cheng são insolentes, e homens de fala persuasiva são perigosos”. 12. O Mestre disse: “Aquele que não pensa em dificuldades futuras com certeza será assaltado por preocupações muito mais próximas”. 13. O Mestre disse: “Acho que devo abrir mão da esperança. Ainda estou para conhecer o homem que tenha tanta afeição pela virtude quanto pela beleza feminina”. 14. O Mestre disse: “Tsang Wen-chung não ocupou um cargo a que não tem direito? Ele sabia que Liu Hsia Hui era mais qualificado, mas mesmo assim não cedeu a ele sua posição”. [167] 15. O Mestre disse: “Uma pessoa que exige muito de si mesma e pouco dos outros ficará a salvo de críticas”. 16. O Mestre disse: “Não há nada que se fazer com um homem que está constantemente perguntando ‘O que devo fazer? O que devo fazer?’”. 17. O Mestre disse: “Trata-se de um feito bastante memorável que um grupo de homens passe o dia inteiro juntos apenas divertindo-se com mostras vãs de esperteza sem jamais tocar, durante a conversa, no assunto da moralidade!”. 18. O Mestre disse: “O cavalheiro tem a moralidade como matéria-prima e, ao observar os ritos, coloca-a em prática, ao ser modesto dá-lhe expressão e, ao ser fiel às próprias palavras, a completa. Assim é um cavalheiro, de fato!”. 19. O Mestre disse: “O cavalheiro se ressente por sua própria falta de habilidade, não pela inabilidade dos outros de o admirarem”. [168] 20. O Mestre disse: “O cavalheiro detesta não deixar um nome atrás de si quando vai embora”. 21. O Mestre disse: “Aquilo que um cavalheiro procura, ele procura dentro de si próprio; aquilo que um homem vulgar procura, ele procura nos outros”. 22. O Mestre disse: “O cavalheiro tem consciência de sua própria superioridade sem ser agressivo e junta-se a outros cavalheiros sem ser sectário”. 23. O Mestre disse: “Um cavalheiro não recomenda um homem por causa daquilo que este diz, tampouco despreza o que é dito por conta da pessoa que o fala”. 24. O Mestre disse: “Tzu-kung perguntou: existe uma palavra que possa ser um guia de conduta durante toda a vida de alguém?”. O Mestre disse: “Talvez, a palavra shu. [169] Não imponha aos outros aquilo que você não deseja para si próprio”. 25. O Mestre disse: “Quem eu alguma vez elogiei ou condenei? Se elogiei alguém, podem ter certeza de que ele tinha sido testado. Essas pessoas comuns são a pedra de toque por meio da qual as Três Dinastias foram mantidas no caminho certo”. 26. O Mestre disse: “Sou velho o suficiente para ter visto escribas a quem faltava refinamento. Aqueles que possuíam cavalos permitiam que outros os conduzissem. [170] Hoje em dia não há mais, suponho, tais casos”. 27. O Mestre disse: “A fala ardilosa arruína a virtude de uma pessoa; a falta de autocontrole em pequenas questões arruína grandes planos”. 28. O Mestre disse: “Aja com cuidado em relação a um homem que é odiado por todos. Aja com cuidado em relação a um homem que é amado por todos”. [171] 29. O Mestre disse: “O homem é capaz de ampliar o Caminho. O caminho não é capaz de ampliar o homem”. 30. O Mestre disse: “Não emendar a si próprio quando se errou é errar, de fato”. 31. O Mestre disse: “Uma vez passei todo o dia pensando, sem comer nada, e toda a noite pensando sem ir para a cama, mas descobri que nada ganhei com isso. Teria sido melhor gastar o tempo estudando”. 32. O Mestre disse: “O cavalheiro se dedica a atingir o Caminho e não a garantir comida. Vá e cultive a terra e você terminará tendo fome, é claro; estude e você terminará com um salário de oficial, é claro. O cavalheiro preocupa-se com o Caminho, não com a pobreza”. 33. O Mestre disse: “Aquilo que está ao alcance do conhecimento de um homem mas não pode ser mantido por sua benevolência é algo que ele acabará perdendo. Um homem pode ser sábio o suficiente para atingi-lo e benevolente o suficiente para mantê-lo, mas se ele não governar com dignidade, então oo povo não o respeitará. Um homem pode ser sábio o suficiente para atingi-lo, benevolente o suficiente para mantê-lo e pode governar o povo com dignidade, mas se ele não colocá-lo para trabalhar de acordo com os ritos, não terá atingido a perfeição”. [172] 34. O Mestre disse: “O cavalheiro não pode ser apreciado por pequenas coisas, mas é competente em grandes questões. Um homem vulgar não é competente em grandes questões, mas pode ser apreciado por pequenas coisas”. 35. O Mestre disse: “A benevolência é mais vital ao povo do que o fogo e a água. No caso do fogo e da água, já vi homens morrerem ao se entregarem a eles, mas nunca vi nenhum homem morrer ao se entregar à benevolência”. 36. O Mestre disse: “Quando diante de uma oportunidade de praticar a benevolência, não ceda a vez nem mesmo ao seu professor”. 37. O Mestre disse: “O cavalheiro é devotado aos seus princípios, mas não é inflexível em pequenas questões”. 38. O Mestre disse: “Ao servir o senhor, deve-se cumprir os deveres com reverência e considerar o pagamento como algo de importância secundária”. 39. O Mestre disse: “Em educação, não há distinção de pessoa para pessoa”. 40. O Mestre disse: “Não há sentido em duas pessoas que tomam caminhos diferentes se aconselharem uma com a outra”. 41. O Mestre disse: “É suficiente que as palavras utilizadas por alguém comuniquem o seu sentido”. 42. Mien, o mestre de música, [173] fez uma visita. Quando ele chegou aos degraus, o Mestre disse: “O senhor chegou aos degraus”, e quando ele chegou até o tapete, o Mestre disse: “O senhor chegou ao tapete”. Quando todos se sentaram, o Mestre disse a ele: “Este é Fulano de Tal e aquele ali é Fulano de Tal”. Depois que o mestre de música foi embora, Tzu-chang perguntou: “É esta a maneira de falar com um músico?”. O Mestre disse: “Sim. Esta é a maneira de guiar um músico”.


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