Teosofia.
Livro Os Mestres e a Senda. Texto de Charles Webster Leadbeater (1854-1934). OS
MESTRES. Capitulo Dois. I OS CORPOS FÍSICOS DOS MESTRES. SUA APARÊNCIA – Tem
havido entre os estudantes de Teosofia, uma grande quantidade de ideias vagas e
incertezas sobre os Mestres. Portanto, talvez seja útil entender o quão natural
são as suas vidas e como há um lado físico trivial a respeito deles,
mencionando algumas poucas palavras sobre suas vidas diárias e sobre a
aparência de alguns deles. Não há uma característica física pela qual um Adepto
possa ser infalivelmente distinguido de outros homens, mas ele sempre parece
impressionante, nobre, dignificado, santo e sereno; e quem quer que o tenha
encontrado dificilmente poderia falhar em reconhecer que esteve na presença de
um homem notável. Ele é um homem enérgico, mas silenciosos, falando apenas
quando tem um objetivo definido em vista, para encorajar, ajudar ou acalentar;
maravilhosamente benevolente e pleno de um senso de humor perspicaz – humor
sempre de ordem gentil, nunca usado para injuriar, mas sempre para aliviar as
dificuldades da vida. O Mestre Mora uma vez disse que é impossível fazer
progresso na Senda oculta sem senso de humor, e certamente todos os Adeptos que
tenho visto possuem essa qualificação. A maioria deles é, notoriamente,
composta de homens de boa aparência; seus corpos físicos são praticamente
perfeitos, pois eles vivem em completa obediência às leis da saúde e,
sobretudo, eles nunca se preocupam com nada. Todo o seu carma há muito tempo se
exauriu; dessa forma, seus corpos físicos são uma expressão perfeita do
Augoeides (em ocultismo é a radiação luminosa divina do Ego, que, quando
encarnado, não é mais do que sua sombra pura), ou corpo glorificado do Ego,
tanto quanto as limitações do plano físico permitam. Assim, usualmente, não
apenas o presente o corpo de um Adepto é esplendidamente formoso, como também o
novo corpo que ele virá a ter em uma encarnação subsequente será provavelmente
quase uma reprodução exata do anterior, permitindo diferenciações raciais e
familiares, pois não há nada a modificar nele. Quando por alguma razão escolhem
ter novos corpos, essa independência em relação ao karma lhes dá inteira
liberdade para selecionar um nascimento em qualquer país ou raça que possa ser
conveniente para o trabalho que tenham a fazer. Dessa forma, a nacionalidade do
corpo específico que eles eventualmente estejam usando, a qualquer tempo, não
tem uma importância primária. Para saber se um homem é um Adepto, seria
necessário ver seu corpo causal, pois seu desenvolvimento seria demonstrado
pela ampla dimensão e por um arranjo especial de suas cores em esferas
concêntricas, tal como está indicado em certa medida na ilustração do corpo
causal de um Arhat no Livro O Homem Visível e Invisível do mesmo autor. UM
DESFILADEIRO NO TIBETE – Há um vale, ou melhor, um desfiladeiro, no Tibete,
onde três desses Grandes Seres – o Mestre Morya, o Mestre Kuthumi e o Mestre
Djwal Kul – vivem atualmente (o autor se refere ao ano de 1925, data da
publicação desse livro que estudamos agora). O Mestre Djwal Kul, por
solicitação de Madame Helena P. Blavatsky (1831-1891), certa vez fez para ela
um quadro precipitado da entrada desse desfiladeiro. A ilustração dada aqui é
uma reprodução de uma fotografia de seu quadro. O original, precipitado em seda,
está preservado no santuário da sede da Sociedade Teosófica em Adyar – Índia. À
esquerda do quadro, o Mestre Morya é visto montando a cavalo perto da porta de
sua casa. A morada do Mestre Kuthumi não aparece no quadro, pois está mais
acima no vale, em volta da curvatura à direita. Madame Blavatsky pediu ao Meste
Kuthumi para colocar a si mesmo na gravura. A princípio, ele recusou, mas
afinal adicionou a si mesmo como um pequeno vulto dentro d’água segurando uma
estaca, mas com as costas para o espectador! Este original está fracamente
colorido –as cores são azul, verde e preto. Tem a assinatura do artista, com o
apelido Gai Ben-Jamin, que ele carregava nos primórdios da Sociedade Teosófica,
muito antes de ele alcançar o Adeptado. A cena é evidentemente tomada de manhã
cedo, já que a névoa ainda está escalando a encosta (o Mosaico omitiu a gravura
no texto devido a dificuldades de imprimi-la). Os Mestres Morya e Kuthumi
ocupam em lados opostos desse estreito desfiladeiro, cujas encostas estão
cobertas com pinheiros. As trilhas correm desfiladeiro abaixo passando por suas
casas e se encontram ao fundo, onde há uma pequena ponte. Perto da ponte, uma
pequena porta, que pode ser vista à esquerda no fundo da gravura, leva a um
vasto sistema de corredores subterrâneos que inclui um museu oculto, do qual o
Mestre Kuthumi é o Guardião, em nome da Grande Fraternidade Branca. O conteúdo
desse museu é de caráter bastante variado. A intenção parece ser ilustrar todo
o processo de evolução. Por exemplo, nele há as mais vívidas imagens de cada
tipo de homem que já existiu neste planeta desde o começo dos gigantes
lemurianos (povo de Lemúria, um suposto continente perdido localizado no Oceano
Índico ou Pacífico. A ideia teve origem no século XIX, pela hipótese geológica
do catastrofismo. Desde então adotado por estudiosos do ocultismo, assim como
pelo povo Tâmil da Índia) desconjuntados a minúsculos restos até mesmo de raças
primitivas e menos humanas. Modelos em alto relevo mostram todas as variações
da superfície da Terra – as condições de antes e depois dos grandes cataclismos
que tanto a modificaram. Imensos diagramas ilustram as migrações das diferentes
Raças do mundo, mostrando exatamente o quão longe elas se espalharam desde suas
respectivas origens. Outros diagramas similares referem-se à influência das
várias religiões do mundo, mostrando onde cada uma foi praticada em sua pureza
original, e onde se misturou com e foi
distorcida pelos remanescentes de outras religiões. Admiráveis estátuas em
tamanho real perpetuam a aparência física de certos grandes líderes e
instrutores de Raças há muito tempo esquecidas e vários objetos de interesse,
relacionados a importantes e mesmo despercebidos avanços na civilização, estão
preservados para investigação na posteridade. Os manuscritos originais de
incrível antiguidade e valor inestimável estão aqui para serem vistos – por
exemplo, um manuscrito feito pelas mãos do próprio Senhor Budha em sua
derradeira vida como o Príncipe Sidartha, e outro escrito pelo Senhor Cristo
durante sua encarnação na Palestina. Aqui é mantido o maravilhoso original do
Livro de Dzyan, que Madame Blavatsky descreve na introdução de A Doutrina
Secreta. Nele também há estranhas escrituras de mundos diferentes do nosso.
Formas animais e vegetais também são retratadas, algumas das quais conhecemos
como fosseis, embora a maioria delas seja inimaginável para nossa ciência
moderna. Modelos reais de algumas das
grandes cidades de antiguidade remota e esquecida estão lá para o estudo dos
discípulos. Todas as estátuas e modelos são vividamente coloridos exatamente
reunida no seu tempo, para preservar para a posteridade os estágios precisos
pelos quais a evolução ou civilização da época estava passando. Dessa forma, ao
invés de meros fragmentos incompletos, tal como nossos museus tão
frequentemente nos apresentam, temos na totalidade uma série intencionalmente
educativa de apresentações. Lá encontramos modelos de todos os tipos de
maquinário que as diferentes civilizações desenvolveram, e também há
ilustrações elaboradas e abundantes dos tipos de magia em uso nos vários
períodos da história. Na antecâmara que leva a estes vastos salões, estão
guardadas as imagens vivas dos discípulos dos Mestres Morya e Kuthumi em
provação àquele tempo, que descreverei mais adiante. Essas imagens estão
enfileiradas em volta das paredes como estátuas, e são representações perfeitas
dos respectivos discípulos. Não é provável, no entanto, que sejam visíveis aos
olhos físicos, pois a matéria mais baixa que entra em sua composição é etérica.
Perto da ponte há também um pequeno. Templo com torres de forma birmanesa, para
o qual alguns poucos camponeses vão para fazer oferendas de frutas e flores,
queimar cânfora e recitar o Pancha Sila (são as cinco virtudes, moralidades ou
preceitos universais do Budismo). Uma trilha acidentada e irregular leva ao
vale pelo lado do riacho. De ambas as casas dos Mestres, acima da ponte,
pode-se ver o Templo; porém, a partir dele, nenhuma das duas pode ser vista, já
que o desfiladeiro faz uma curva. Se seguirmos o caminho acima do vale,
passando pela casa do Mestre Kuthumi, chegaremos a um grande pilar de pedra,
para além do qual, o desfiladeiro dando outra volta, fica esse caminho fora de
vista. Alguma distância depois o desfiladeiro se abre em um planalto onde há um
lago, no qual, a tradição nos conta. Madame Blavatsky costumava tomar banho. Dizem que ela o achou
muito frio. O vale é protegido e aponta para o sul: embora a região em volta
fique coberta de neve durante o inverno, não me lembro de tê-la visto perto das
casas dos Mestres. Estas casas são de pedra, de construção forte e pesada. A
CASA DO MESTRE KUTHUMI – A casa do Mestre Kuthumi é dividida em duas partes por
um corredor que passa ininterrupto por dentro dela. Como visto em nosso
diagrama I (o Mosaico não imprimiu o diagrama citado), que mostra a planta
baixa da parte sul da casa, ao entrar no corredor; a primeira porta à direita
leva à sala principal da casa, na qual nosso Mestre usualmente se assenta. Ela
é larga e alta (cerca de 16 por 9 metros), mais parecendo um saguão do que uma
sala, e ocupando toda a frente da casa desse lado do corredor. Atrás dessa
grande sala há dois outros aposentos
quase quadrados, um dos quais ele usa como biblioteca e o outro como quarto.
Isso completa esse lado ou divisão da casa, que aparentemente é reservada para
uso pessoal do Mestre e é cercada por uma grande varanda. O outro lado da casa,
no lado esquerdo do corredor, quando se entra, parece estar dividido em quartos
menores e escritórios de vários tipos. Nós não tivemos oportunidade de
examiná-lo de perto, mas notamos que do lado oposto ao quarto há um banheiro
bem equipado. O aposento maior é bem suprido de janelas, tanto na frente quanto
atrás, de forma que ao entrar tem-se a impressão de uma vista quase contínua; abaixo
das janelas há grandes assentos. Também há algo um tanto quanto não usual para
aquele país: uma grande lareira aberta no meio da parede oposta às janelas da
frente. Ela está posicionada de tal forma a possibilitar o aquecimento de todos
os três cômodos, e tinha uma curiosa tampa forjada em ferro, que, segundo me
disseram, é única no Tibete. Acima da abertura da lareira há uma prateleira, e
perto dela a poltrona do Mestre, esculpida em madeira muito antiga, escavada
para caber aquele que que se senta, de maneira a não precisar de almofadas.
Espalhados pela sala, há mesas e cadeiras ou sofás, a maioria sem encosto; e em
um dos cantos fica o teclado do órgão. O teto tem aproximadamente 6 metros de
altura e é muito bonito, com feixes bem esculpidos, que descem em pontos
ornamentais onde se encontram e o dividem em seções retangulares. Uma abertura
arqueada com um pilar ao centro, em estilo gótico, mas sem vidros, se abre na
viga, e uma janela similar se abre no quarto. Este último quarto é mobiliado de
forma muito simples. Há uma cama comum e uma rede de balanço entre dois
suportes de madeira esculpidos e fixados na parede (um deles imitando a cabeça
de um leão e o outro a de um elefante). A cama, quando não está em uso,
dobra-se contra a parede. A biblioteca é uma elegante sala, contendo milhares
de volumes. Correndo nas paredes, há altas prateleiras, repletas de livros em
muitas línguas, alguns deles trabalhos europeus modernos; no topo, há
prateleiras abertas para manuscritos. O Mestre é um grande linguista, e além de
ser um excelente erudito da língua inglesa tem também um completo conhecimento
do francês e do alemão. A biblioteca dispõe ainda de uma máquina de escrever,
que foi presenteada ao Mestre por um de seus discípulos. Sobre a família do
Mestre, sei muito pouco. Há uma senhora, evidentemente uma aspirante, que ele
chama de “irmã”. Se ela é realmente sua irmã, não sei; possivelmente ela é uma
prima ou uma sobrinha. Ela parece ser muito mais velha que ele, mas isso não
tornaria improvável a relação, já que ele tem aparentado a mesma idade por um
extenso prazo. Ela se parece com ele em alguma medida, e vez ou outra, quando
houve assembleias, ela se juntou à reunião, embora seu principal trabalho
pareça ser cuidar dos serviços domésticos e administrar os empregados. Dentre
esses, há um velho home e sua esposa, que tem estado a serviço do Mestre por um
longo tempo. Eles nada sabe sobre a real dignidade de seu empregador, mas o tem
como um patrão muito indulgente e amável e, naturalmente, eles muito se beneficiam
por estar a seu serviço. AS ATIVIDADES DO MESTRE – O Mestre tem um grande
jardim pessoal. Possui também uma extenso de terras e emprega trabalhadores para cultivá-la.
Próximo à casa há arbustos floridos e arranjos de flores crescendo livremente,
com samambaias entre eles. Pelo jardim flui um riacho, que forma uma pequena
cachoeira e, sobre ela, uma pequena ponte foi construída. Ele frequentemente se
senta lá quando está enviando correntes de pensamento e bênçãos para seu povo.
Sem dúvida, ao observador casual, iria parecer que ele está parado olhando a
Natureza, ouvindo de forma descuidada o som dos pássaros e as quedas d’água. Às
vezes, também, ele descansa em sua grande poltrona; e quando seu povo o vê
assim, eles sabem que não devem perturbá-lo. Eles não entendem exatamente o que
ele está fazendo, mas supõem que ele esteja em samadhi (concentração,
tranquilidade, calma, quietude; a prática de aquietar a mente). O fato de as
pessoas do Oriente compreenderem e respeitarem este tipo de meditação pode ser
uma das razões pelas quais os Adeptos preferem viver por lá, e não no Ocidente.
Dessa forma, nós recebemos as consequências do sereno repouso do Mestre por uma
parte considerável de seu dia e, como se diria, de sua meditação. Porém,
enquanto ele parece estar descansando calmamente, ele está, na realidade,
engajado todo o tempo no mais vigoroso
trabalho em planos superiores, manipulando várias forças naturais de
almas simultaneamente, pois os Adeptos são as pessoas mais ocupadas do mundo. O
Mestre, no entanto, também faz muitos trabalhos no plano físico. Ele compôs
algumas músicas e tem escrito notas para vários propósitos. Ele também está
muito interessado no crescimento da ciência física, embora isso seja
competência especial de outro grande Mestre de Sabedoria. De tempos em tempos o
Mestre Kuthumi cavalga um grande cavalo baio, e ocasionalmente, quando têm
trabalho conjunto, ele é acompanhado pelo Mestre Mora, que sempre cavalga um
magnífico cavalo branco. Nosso Mestre visita regularmente alguns monastérios, e
às vezes sobe por um grande desfiladeiro até um monastério isolado nas colinas.
Cavalgar no curso de suas tarefas parece ser seu principal exercício, mas
ocasionalmente ele caminha com o Mestre Kjwual Kul, que mora em uma pequena
cabana que ele próprio construiu com suas mãos, bem próximo ao grande penhasco
no caminho para o planalto. De quando em quando, nosso Mestre toca o órgão que
está no grande cômodo de sua casa. Ele o encomendou no Tibete, sob suas
orientações; na verdade é uma combinação de piano com órgãos, com um teclado
como aquele que temos no Ocidente, no qual ele pode tocar todas as nossas
músicas ocidentais. Não se parece com nenhum outro instrumento a que sou
familiarizado, pois ele possui dupla face, podendo ser tocado tanto da sala
quanto da biblioteca. O teclado principal do órgão (ou melhor, os três
teclados, grande órgão, expressivo e positivo) está na sala de estar, enquanto
o teclado do piano está na biblioteca. Esses teclados podem ser usados tanto
conjuntamente quanto separados. O órgão completo, com seus pedais, pode ser
tocado de forma usual a partir da sala de estar, mas ao mover uma manivela tal
qual um registro, o mecanismo do piano pode ser ligado ao órgão, de maneira que
ambos possam ser tocados de forma simultânea. Desse ponto de vista, de fato, o
piano é considerado como um terminal adicional ao órgão. Do teclado da
biblioteca, no entanto, o piano pode ser tocado isoladamente, como um
instrumento separado, completamente dissociado do órgão, mas por algum complexo
mecanismo, os teclados do órgão também estão ligados àquele teclado, de forma
que se pode tocar o piano em separado, precisamente como se fosse um piano
comum, ou pode-se tocar o piano acompanhado pelo órgão, em qualquer proporção,
a partir de determinado registro desse órgão. Também é possível, como
mencionei, separá-los completamente e, dessa forma, com um artista em cada
teclado, tocar um dueto piano órgão. Os mecanismos e tubos desse estranho
instrumento ocupam quase tudo aquilo que pode ser chamado de andar de cima
dessa parte da casa do Mestre. Por magnetização, ele o colocou em comunicação
com os Gandhrarvas, ou Devas da música, de forma que sempre que tocado eles
operam conjuntamente, e assim o Mestre obtém combinações de som jamais ouvidas
no plano físico. Há ainda um efeito produzido pelo próprio órgão, como se
houvesse um acompanhamento por instrumentos de corda e sopro. A música dos
Devas (anjos) está sempre sendo entoada no mundo, sempre soando aos ouvidos dos
homens, mas eles não ouvem sua beleza. Há o intenso baixo do mar, o suspiro do
vento nas árvores, o rugido da torrente da montanha, a música das correntes,
rios e cascatas, que juntos com muitos outros sons formam o poderoso canto da
Natureza vivente. Esse é apenas o eco no mundo físico de um som muito mais
grandioso, o som da Existência dos Devas. Como dito em Luz no Caminho, livro
escrito por Mabel Collins “Só fragmentos da grande canção te chegarão aos
ouvidos enquanto fores apenas um homem. Se, porém, a escutares, recorda-te
fielmente, de modo que nada do que chegue dela a ti seja perdido, e empenha-te
emaprender assim o significado do Mistério que te rodeia. Com o tempo não
necessitarás de instrutor. Pois assim como o indivíduo tem voz, aquilo em que
ele existe também tem voz. A própria vida tem uma fala e nunca está silenciosa.
E o que ela emite não é um grito, como tu, que és surdo, poderias supor: é uma
canção. Aprende da vida que és parte da harmonia; aprende dela a obedecer às
leis da harmonia. Todas as manhãs, m certo número de pessoas – não exatamente
discípulos, mas seguidores – vêm à casa do Mestre e se sentam na varanda e do
lado de fora. Algumas eles ele lhes dirige uma pequena conferência, uma curta
preleção, mas frequentemente ele segue adiante com seu trabalho e não dá
atenção a eles, afora um amistoso sorriso, com o qual eles parecem ficar
igualmente contentes. Eles evidentemente se aproximam para se harmonizarem em
sua aura e venerá-lo. Algumas vezes o Mestre faz suas refeições em presença
deles, sentado na varanda, com esse aglomerado de tibetanos (moradores da
região do Tibete no Himalaia) e outros no chão à sua volta, mas normalmente ele
come sozinho em uma mesa em seu quarto. É possível que ele mantenha as regras
dos monges budistas e não se alimente depois do meio-dia, pois eu não me lembro
de tê-lo visto comer à tarde. É até possível que ele nem necessite de alimento
todo dia; é mais provável que ele, quando se sinta disposto, peça a comida que
gostaria, e não que tome suas refeições em horários estabelecidos. Eu o tenho
visto comer pequenos bolos redondos, marrons e adocicados, são preparados com
trigo, açúcar e manteiga, do tipo comum, por sua irmã. Ele também se alimenta
de molho curry e arroz, sendo o molho em forma de sopa, como dhal (iguaria da
culinária indiana, feita de lentilha, grão de bico ou legumes batidos). Ele usa
uma singular e bela colher de ouro, com uma imagem requintada de um elefante ao
final do cabo, cujo bojo fica em um ângulo não usual da haste. ´uma herança de
família, muito antiga e provavelmente de grande valor. Ele geralmente veste
roupas brancas, mas eu não me lembro de tê-lo visto usando nenhum tipo de
chapéu, exceto nas raras ocasiões em que ele usa a túnica amarela da escola ou
clã Gelugpa (turbante amarelo, a mais importante e mais ortodoxa das linhagens
do Budismo), que inclui um capuz de forma parecida ao elmo romano. O Mestre
Mora, entretanto, geralmente usa um turbante. Livro Os Mestres e a Senda.
Abraço. Davi.
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