terça-feira, 4 de agosto de 2020

O RETO CUMPRIMENTO DA AÇÃO

Bhagavad Gita. A Mensagem do Mestre. Capítulo III. Karma Yoga – O RETO CUMPRIMENTO DA AÇÃO. Tudo o que o homem faz com motivos pessoais é sem valor para o Eterno.  Para atingirmos a salvação e a união com Deus, havemos de agir sem motivos egoístas, sem tomar em consideração o nosso próprio Eu pessoal. Entregando-nos à vontade divina como um instrumento na mão de Deus e, assim, cumprindo o nosso dever por ser dever, sem pedir recompensas.

 

 

Falou Arjuna, 1. O príncipe Pandava, a Krishna, o Senhor Bem-aventurado, dizendo: Ó Conferidor do saber! Disseste-me que o conhecimento é até mais importante do que a ação. Se assim é, por que me incitas à ação? Por que queres que eu entre nesta horrível batalha com meus parentes e amigos? 2. Tuas ambíguas palavras me trazem dúvidas e me confundem o entendimento. Dize-me, peço-te, em frases claras e certas, qual é o caminho que me conduzirá à paz e à satisfação? 3. Respondeu Krishna, o Divino: Como já te disse, ó nobre príncipe, há dois caminhos que vão à perfeição. O primeiro é o caminho do conhecimento (1), e o segundo o da ação (2). Uns preferem o primeiro, e outros, o segundo desses dois caminhos. Sabe, porém, que considerados do alto, ambos são um só caminho. Escuta! 4. Engana-se quem pensa que, esquivando-se das ações e persistindo na inatividade, escapa dos resultados da ação. Quem nada começa, não pode entrar no estado da paz eterna, a inatividade não conduz à perfeição. E, na realidade, nem há coisas que se possam designar pela palavra inatividade. Pois tudo, no Universo, está em atividade constante, e anda pode subtrair-se à Lei geral. 5. Ninguém pode ficar inativo nem um instante, pois as leis de sua natureza o impelem constantemente a fazer alguma coisa, queira ele ou não. O seu corpo ou a sua mente, ou ambos, sempre estão ocupados. 6. Se alguém se assenta para reter e dominar os seus sentidos e os órgãos de atividade, mas em sua mente, está apegado aos objetos dos sentidos. Ilude-se e merece o nome de hipócrita. 7. Porém, é digno de ser chamado sábio e nobre aquele que sujeitou os seus sentidos a Deus, pelo amor ardente ao Altíssimo. E expressa o seu reto pensar em reta ação, ele cumpre o seu dever, sem esperar recompensas e, ocupando-se de objetos dos sentidos, não se deixa dominar por eles. 8. Faze bem o que te compete fazer no mundo. Cumpre bem as tuas tarefas, ocupa-te da obra que encontras, para fazê-la o melhor possível. Assim será muito bom para ti. Atividade é melhor do que ociosidade. A atividade fortalece a mente e o corpo, e conduz a uma vida longa e normal. A ociosidade, enfraquece tanto o corpo como a mente e conduz a uma vida impotente e anormal, de duração incerta. 9. Os homens estão aferrados a este mundo, porque agem com o fim de obter recompensa e ganho. Estão apegados aos objetos de seus desejos, e, por isso, cansam-se na escravidão dos sentidos. Para se libertarem, hão de agir com resignação, movidos pelo puro amor ao Bem. Faze, pois, ó Arjuna! a tua tarefa, para cumprires o dever que o Eu Real te impõe, e não por qualquer outro motivo. 10. Lembras-te das doutrinas antigas que narram a criação do mundo, e as palavras que o Criador disse aos homens que tinha criado! Ouve as repetirei: Pela adoração e pelo sacrifício mútuo, crescerei e vos multiplicareis. Pela resignação, obtereis a satisfação dos vossos desejos. 11. Lembrai-vos da Fonte de todas as coisas, do distribuidor dos objetos desejados. Pensai no que é Divino, para que o Divino pense em vós. 12. Se nutrirdes, com o sacrifício de vós mesmos, os deuses, eles vos darão o desejado alimento espiritual. Quem recebe os dons dos deuses e não lhes mostra a gratidão, é como um ladrão. 13. Os bons homens que retêm para si só aquilo que resta depois de terem oferecido à Divindade tudo o que é divino, são livres de todos os pecados. Porém, os maus que querem agir só para si mesmos, vivem em pecado. 14. Todas as criaturas – tanto as espirituais como materiais – vivem, enquanto se alimentam. O alimento cresce com a chuva. A chuva é mandada pelos deuses em resposta aos desejos, às preces e às súplicas dos homens. Os desejos, as preces e as súplicas dos homens são formas de ações. As ações procedem da Vida Uma que tudo penetra. 15. Sabe que toda ação tem sua origem em Brahma. Brahma é a revelação da indivisível Unidade. Por isso, Brahma, que tudo penetra é sempre presente nas tuas ações. 16. É vã e vergonhosa a vida do homem que, vivendo neste mundo de ação, tenta abster-se da ação. Quem, gozando o fruto da ação do mundo ativo, não coopera, mas vive em ociosidade. Aquele que, aproveitando a volta da roda, em cada instante de sua vida, não quer pôr a mão à roda para ajudar a movê-la, é um parasita e um ladrão que toma, sem dar coisa alguma em troca. 17. Sábio é, porém, aquele que cumpre bem os seus deveres e executa as obras que são para fazer-se no mundo, renunciando a seus frutos e concentrado na ciência do Eu Real. 18. Tal homem, elevado acima dos mundos, não se inquieta por saber se alguma coisa no mundo acontece ou não acontece. Achando em si mesmo tudo de que precisa, não tem necessidade de refugiar-se em nenhum ser criado, para nele achar apoio. Participando de tudo e agindo, em tudo, de acordo com os ditames do dever, de nada depende, porque a sua fé, esperança e ciência se fixam no imperecível, que é o único apoio seguro. 19. Faze, pois, o que deve ser feito. Porém, sem egoísmo e sem considerações pessoais. Quem age assim e cumpre o seu dever, livre de motivos egoístas e sem depender de alguém, caminha, com passos firmes, diretamente à Consciência Superior, ao plano espiritual. 20. Janaka e muitos outros atingiram o estado de perfeição por meio de boas obras e reta ação. Trabalha, pois, também tu por amor à humanidade. 21. Quando um nobre homem faz alguma coisa, os outros o imitam. O exemplo que ele dá é seguido pelo povo. Segue, portanto, os melhores de tua raça. 22. Toma-me por exemplo, ó príncipe. Nada há, no Universo dos Universos, que eu deseje ou que seja necessário que para mim não se faça. Nem há coisa alguma atingível que eu não tenha já atingido. E, contudo, estou em constante ação e movimento, agindo sempre e incessantemente. 23. Os homens, ó Arjuna, seguem sempre o meu exemplo. Por isso, se eu deixasse de ser ativo, estes Universos cairiam em ruína. 24. Se eu não agisse, começaria a reinar uma confusão universal, e a minha inatividade seria a causa da destruição do gênero humano. 25. Como os que carecem ainda da Luz Espiritual fazem esforços para alcançar o que desejam, sendo a esperança de recompensa o estímulo de suas ações. Assim deve o homem desenvolvido e iluminado agir abnegadamente pela causa do bem comum e conforme a Lei Universal. 26. Mas não deves confundir, com estas ideias, as cabeças dos homens inexperientes, cujo coração ainda está apegado às obras. Deixa-os fazer o melhor que podem. Mas tu e os outros sábios devem agir em harmonia comigo, animando os outros à atividade e dando-lhes o exemplo. 27. Toda a atividade e todas as ações provêm dos movimentos das forças da Natureza. O insensato, que é iludido pela presunção e vaidade, pensa que ele é o ator e diz: Eu faço isto, eu fiz aquilo. 28. Mas quem conhece a verdade, sorri, porque detrás da personalidade, enxerga a fonte real da ação, a causa e o efeito. 29. Entretanto, os que conhecem a verdade inteira, devem acautelar-se para não ofuscarem com ela o fraco entendimento daqueles que ainda não estão preparados para conhece-la, porque as doutrinas prematuras poderiam confundir e desviar estes da sua atividade. 30. Tu, porém, ó Arjuna, Liberta-te de todos os cuidados, de todo medo e, igualmente, do egoísmo e das esperanças pessoais. Em meu nome (3), faze tudo o que hás de fazer, concentrando todos os teus pensamentos no Altíssimo! 31. Os homens que, cheios da fé e confiança, seguirem estes meus ensinos e não tiverem dúvidas, alcançarão a liberdade também pelas obras e ações. 32. Porém, aqueles que rejeitam os ensinos da Verdade e agem contra eles, são insensatos e iludidos. Caem em confusão e inquietações. 33. Cada ser age em conformidade com a sua natureza. Também o sábio procura o que se harmoniza com a sua própria natureza, de acordo com aquilo que é o mais alto no seu caráter. 34. Ninguém pode escapar às leis naturais. Os objetos sensuais são os senhores dos sentidos e atraem ou repelem o coração dos homens, enchendo-o de afeição ou de aversão. Não te deixes dominar por nenhuma destas duas forças, porque ambas são obstáculos no caminho e o sábio as subjuga ambas. 35. Finalmente, lembra-te que é melhor cumprir a própria tarefa, ainda que seja humilde e insignificante, do que querer fazer a tarefa de um outro, por mais nobre e excelente que seja. É melhor morrer no cumprimento do seu dever, do que viver negligenciando –o e querendo fazer o que a outros compete fazer. 36. Pergunta Arjuna: Mas dize-me, ó Senhor, que força misteriosa é essa que, muitas vezes, parece obrigar o homem a praticar um mal, até contra a própria vontade? 37. Explica Krishna: Esta tentação, ó príncipe, é a essência dos desejos que o homem em si acumulou (4). Ela é o seu maior inimigo, e chama-se Paixão. Nasce da natureza carnal, cheia de pecado e de erro e ataca o homem para o consumir. 38. Como a fumaça envolve a chama, a ferrugem o metal, o útero a criança para nascer. Assim o mundo é envolvido por este inimigo, chamado desejo. 39. O desejo impede o verdadeiro saber. Ele é como um fogo devorador, difícil de extinguir-se. 40. Os sentidos e a mente são a sua sede, e, por meio deles, confunde o discernimento e obscurece o conhecimento da verdade. 41. Antes de tudo, deves, portanto, vencer esse inimigo de tua alma. Domina os teus sentidos e os seus órgãos e afugenta de ti esse gerador do mal. 42. Os sentidos são grandes e poderosos. Porém, maior e mais poderosa é a mente. Maior do que está é a razão, e o mais forte é o Eu Real, a Luz da Divindade (5). 43. Reconhecendo, pois, o Eu Real como o Senhor mais poderoso, domina pelo seu poder o eu pessoal. E assim subjuga o monstro de desejo, esta tarefa é difícil, mas não impossível. Combate o desejo, domina-o pela força da Luz Divina do Eu Real, não o deixes ser teu Senhor, mas reduze-o a ser teu escravo! Livro Bhagavad Gita – A Mensagem do Mestre. Abraço. Davi

 

 

Referência: 1. Sankhya. 2. Yoga. 3. Isto é, em nome de Deus, Krishna é a encarnação Divina. 4. Em sânscrito, dá-se-lhe o nome de Kama (não confundir com carma). 5. Os sentidos, que são a sede do desejo, designam-se em sânscrito pelo termo Kama. A mente chama-se Manas. A Razão iluminada chama-se Budhi. A consciência da Divindade chama-se Atma. Bhagavad Gita – A Mensagem do Mestre. Abraço. Davi

 


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