Gnosticismo. Texto de Samael Aun
Weor (1917-1977). O SIMBOLISMO ESOTÉRICO DO NATAL. É claro que este é um evento
maravilhoso, sobre o qual urge meditar profundamente (…). O Sol realiza a cada
ano uma viagem elíptica que começa no dia 25 de dezembro, e então regressa ao
polo sul, até a região da Antártida; exatamente por isto vale a pena
refletirmos sobre o significado profundo do NATAL. Nesta época começa o frio
aqui no norte, devido exatamente ao fato de que o Sol vai se afastando para as
regiões austrais e, no dia 24 de dezembro, terá atingido o ponto máximo de sua
viagem na direção sul. Se o Sol não avançasse rumo ao norte do dia 25 de
dezembro em diante, morreríamos de frio. A Terra inteira se converteria em um
bloco de gelo e realmente pereceriam todas as criaturas, tudo o que tem vida.
Assim, vale a pena refletir sobre o acontecimento do NATAL. O Cristo-Sol deve
avançar para dar-nos vida, e, no equinócio da Primavera, se crucifica na Terra;
então amadurecem a uva e o trigo. É precisamente na Primavera que o Senhor deve
passar por sua vida, paixão e morte, para logo ressuscitar; a Semana Santa é na
Primavera no Hemisfério Norte. O Sol físico nada mais é que um símbolo do Sol
Espiritual, do Cristo-Sol. Quando os antigos adoravam o Sol, quando lhe rendiam
culto, não se referiam exatamente ao Sol físico; rendia-se culto ao Sol
Espiritual, ao Sol da Meia-Noite, ao Cristo-Sol. Inquestionavelmente, é o
Cristo-Sol quem deve guiar-nos nos Mundos Superiores de Consciência Cósmica.
Todo místico que aprende a funcionar fora do corpo físico à vontade é guiado
pelo Sol da Meia-Noite, pelo Cristo Cósmico. É preciso aprender a conhecer os
movimentos simbólicos do Sol da Meia-Noite; é ele quem guia o Iniciado, quem
nos orienta, ele é que nos indica o que devemos e não devemos fazer. Estou
falando no sentido esotérico mais profundo, levando em conta que todo Iniciado
sabe sair do corpo físico à vontade, que isto de não saber sair à vontade é
próprio de principiantes, gente que ainda está dando os primeiros passos nesses
estudos. Se alguém está na Senda, tem que saber guiar-se pelo Sol da
Meia-Noite, pelo Cristo-Sol, aprender a reconhecer seus sinais, seus
movimentos. Se o vemos, por exemplo, desaparecer no ocaso, o que é que isto nos
indica? Simplesmente que algo deve morrer em nós. Se o vemos surgir do Oriente,
o que é que isto nos diz? Que alguma coisa deve nascer em nós. Quando nos
saímos bem nas provas esotéricas, ele brilha em sua plenitude no horizonte. O
Senhor nos orienta nos Mundos Superiores, e temos que aprender a reconhecer
seus sinais. Jean Dupuis (1828-1912) e muitos outros estudaram o maravilhoso
acontecimento do NATAL; não há dúvida, e isto o reconhece Jean Dupuis, de que
todas as religiões da antiguidade celebraram o NATAL. Assim como o Sol físico
avança para o norte para dar vida a toda a criação, também o Sol da Meia-Noite,
o Sol do Espírito, o Cristo-Sol, nos dá vida se aprendemos a cumprir com seus
mandamentos. Nas Sagradas Escrituras se fala, obviamente, do acontecimento
solar, e há que saber entender isto nas entrelinhas. A cada ano se vive no
Macrocosmo todo o Drama Cósmico do Sol; cada ano, repito. Leve-se em conta que
o Cristo-Sol deve crucificar-se cada ano no mundo, viver todo o drama de sua
vida, paixão e morte, para logo ressuscitar em tudo o que é, foi e será, quer
dizer, em toda a criação. Assim, pois, é como todos nós recebemos a vida do
Cristo-Sol. Também é certo que cada ano o Sol, ao afastar-se para a região
Austral, nos deixa tristes aqui no norte, pois vai dar vida a outras partes. As
noites longas de inverno são fortes. Na época do NATAL os dias são curtos e as
noites longas. Vamos refletindo sobre tudo isto, e convém que entendamos o que
é o Drama Cósmico. É necessário que também em nós nasça o Cristo-Sol, ele deve
nascer em nós. Nas Sagradas Escrituras se fala claramente de Belém e de um
estábulo onde ele nasce; esse estábulo de Belém está dentro de cada um aqui e
agora; precisamente nesse estábulo interior moram os animais do desejo, todos
esses “eus ” passionais que carregamos em nossa psique, isto é óbvio. “Belém”
mesmo é um nome esotérico; nos tempos em que o grande Cabir veio ao mundo, a
aldeia de Belém não existia, de modo que isto é inteiramente simbólico. Bel é
uma raiz caldeia que significa Torre do Fogo, de modo que, propriamente dito,
Belém é Torre do Fogo. Quem poderia ignorar que Bel é um termo caldeu que
corresponde precisamente à Torre de Bel, à Torre do Fogo? Assim, o termo Belém
é totalmente simbólico. Quando o Iniciado trabalha com o Fogo Sagrado, quando
elimina completamente de sua natureza íntima os agregados psíquicos, quando de
verdade está realizando a Grande Obra, indubitavelmente há de passar pela
Iniciação Venusta; a descida do Cristo ao coração do homem é um acontecimento
cósmico e humano de grande transcendência; tal evento corresponde na verdade à
Iniciação Venusta. Infelizmente, não se compreendeu realmente o que é o Cristo;
muitos supõem que o Cristo foi exclusivamente Jesus de Nazaré, e estão
equivocados. Jesus de Nazaré, como homem – ou, melhor dizendo, Jeshuá ben
Pandirá – recebeu, como homem, a Iniciação Venusta, encarnou o Cristo, mas não
é o único a ter recebido tal Iniciação. Hermes
Trismegisto, o três vezes grande Deus Íbis de Thot, também O
encarnou. João Batista, a quem muitos consideravam como o Christus, o Ungido,
inquestionavelmente recebeu a Iniciação Venusta, encarnou-O. Os Gnósticos
Batistas asseguravam na Terra Santa que o verdadeiro Messias era João, e que
Jesus era somente um Iniciado que havia querido seguir a João. Havia naquela
época disputas entre Batistas, Gnósticos, Essênios e outros. Devemos entender o
Cristo tal qual é, não como uma pessoa, como um indivíduo. O Cristo está mais
além da Personalidade, do Eu e da Individualidade. Cristo em esoterismo
autêntico é o Logos, o Logos Solar representado pelo Sol. Agora compreenderemos
porque os Incas adoravam o Sol, os Nahuas lhe rendiam culto, os Maias, os
Egípcios, etc. Não se trata da adoração a um sol físico, mas ao que se oculta
atrás deste símbolo físico; obviamente, adorava-se o Logos Solar, o Segundo
Logos. Este Logos Solar é unidade múltipla perfeita. A variedade é unidade. No
mundo do Cristo Cósmico a individualidade separada não existe; no Senhor somos
todos um (…). Me vem à memória certa experiência, digamos, esotérica, realizada
há muitos anos. Então, submergido em profunda meditação, obtive certamente o
Samadhi, o estado de Mantéia, o Êxtase, como é chamado no esoterismo ocidental.
Naquela ocasião eu desejava saber algo sobre o batismo de Jesus, o Cristo, pois
bem sabemos que João o batizou. Foi profundo o estado de abstração, obtive o
perfeito Dharana, ou seja, concentração, o Dhyana, ou meditação, e por fim
consegui o Samadhi; me atreveria a dizer que foi um Maha-Samadhi, porque
abandonei perfeitamente os corpos Físico, Astral, Mental, Causal, Búdico e até
o Átmico. Consegui, pois, reabsorver minha consciência de forma íntegra no
Logos. Assim, nesse estado logoico, como um Dragão de Sabedoria, fiz a
correspondente investigação. De imediato me vi na Terra Santa, dentro de um
templo; mas, coisa extraordinária, vi a mim mesmo convertido em João Batista,
com uma vestimenta sagrada; vi quando traziam a Jesus com sua veste branca, sua
túnica branca. Dirigindo-me a Ele, disse: “Jesus, despe tua túnica, tua
vestimenta, pois vou batizar-te”. Depois retirei de um recipiente um pouco de
azeite de oliva, conduzi-O ao interior do Santuário, ungi-O com o óleo,
despejei água sobre Ele e recitei os mantrams e ritos. Depois, o Mestre se
sentou em sua cadeira à parte; eu guardei tudo novamente, pus os objetos em
seus lugares e dei por terminada a cerimônia. Mas vi-me transformado em João! É
claro que, uma vez passado o Êxtase, o Samadhi, pensei: “Mas como é possível
que eu seja João Batista? Nem remotamente, eu não sou João Batista! Fiquei
bastante perplexo e pensei: “Vou fazer agora outra concentração, mas agora não
vou me concentrar em João, vou concentrar-me em Jesus de Nazaré”. Então escolhi
como motivo da concentração o Grande Mestre Jesus. O trabalho foi longo e
árduo, a concentração foi se fazendo cada vez mais profunda; logo passei do
Dharana – concentração, ao Dhyana – meditação, e deste ao Sammadhi, ou Êxtase.
Fiz um esforço supremo que me permitiu despir-me dos corpos Físico, Astral,
Mental, Causal, Búdico e Átmico até introverter minha consciência, absorvendo-a
no mundo do Logos Solar, e, em tal estado, querendo saber sobre o Cristo Jesus,
me vi a mim mesmo convertido em Cristo Jesus, fazendo milagres e maravilhas na
Terra Santa, curando os enfermos, dando vista aos cegos etc., e, por último, me
vi vestido com as vestes sagradas chegando ante João naquele Templo. Então João
se dirigiu a mim e disse: “Jesus, retira tua vestimenta, pois vou batizar-te”.
Trocaram-se os papéis, já não me vi transformado em João mas em Jesus, e recebi
o batismo de João. Passado o Samadhi, regressando ao corpo físico, vim a
constatar perfeitamente, com toda a clareza, que no mundo do Cristo Cósmico
somos todos um. Se eu tivesse querido meditar em qualquer um de vocês, lá no
mundo do Logos, me teria visto transformado em um de vocês, vivendo sua vida,
já que lá não há individualidade, não há personalidade nem Eu; ali somos todos
o Cristo, ali somos todos João, ali todos somos o Buda, ali somos todos um; no
mundo do Logos não existe a individualidade separada. O Logos é Unidade
Múltipla Perfeita, é uma energia que se move e palpita em todo o criado, que
subjaz em todo átomo, em todo elétron, em todo próton, e se expressa vivamente
através de qualquer homem que esteja devidamente preparado. Bem, este
esclarecimento teve como objetivo explicar melhor o acontecimento de Belém.
Quando um homem está devidamente preparado, passa pela Iniciação Venusta – mas,
esclareço, deve estar devidamente preparado – e na Iniciação Venusta consegue a
encarnação do Cristo Cósmico em si mesmo, dentro de sua própria natureza.
Inutilmente teria Jesus nascido em Belém se não nascesse em nosso coração
também. Inutilmente teria morrido e ressuscitado na Terra Santa, se não morre e
ressuscita em nós também. Esta é a natureza do Salvator Salvandus.
O Cristo Íntimo deve salvar-nos, mas salvar-nos desde dentro, a todos nós.
Aqueles que aguardam a vinda de Jesus de Nazaré para um futuro remoto estão
equivocados; o Cristo deve vir agora desde dentro, a segunda vinda do Senhor é
desde dentro, desde o próprio fundo da Consciência. Por isto está escrito o que
Ele disse: “Se ouvires alguém dizendo na praça pública que é Cristo, não o
creiais, e se disserem “Ele está ali no Templo predicando”, não o creiais”. É
que o Senhor não virá desta vez de fora mas de dentro, virá desde o próprio
fundo de nosso coração, se nós nos prepararmos. Paulo nos esclarece, dizendo:
“De Sua virtude tomamos todos, graça por graça”. Então, está documentado; se
estudarmos cuidadosamente Paulo de Tarso, veremos que raramente alude ao Cristo
histórico; cada vez que Paulo de Tarso fala sobre Jesus Cristo, refere-se ao
Jesus Cristo Interior, ao Jesus Cristo Íntimo, que deve surgir do fundo de
nosso Espírito, de nossa Alma. Enquanto o homem não O tiver encarnado, não
se pode dizer que possua a Vida Eterna, só Ele pode tirar nossa Alma do Hades,
só Ele pode verdadeiramente dar-nos Vida, e em abundância. Assim, pois, devemos
ser menos dogmáticos e aprender a pensar no Cristo Íntimo, isto seria grandioso
(…). Todo o simbolismo relacionado com o nascimento de Jesus é alquímico e
cabalístico. Diz-se que três Reis Magos vieram adorá-lo, guiados por uma
estrela; este trecho não pode ser compreendido, falando francamente, se não se
for versado em alquimia, porque é alquímico. Que são essa estrela e esses Reis
Magos? E eu vos digo que essa estrela não é outra coisa que o Selo de Salomão,
a estrela de seis pontas, símbolo do Logos Solar. O triângulo superior representa
obviamente o Enxofre, ou seja, o Fogo. E o inferior, o que representa em
Alquimia? O Mercúrio, a Água; mas a que tipo de água se referem os Alquimistas?
Dizem eles: “A Água Que Não Molha as Mãos, o Úmido Radical Metálico”, em outras
palavras, o Exiohehari. Ele nasce no estábulo de nosso próprio corpo dentro do
qual temos todos os animais do desejo, das paixões inferiores. Ele tem que
crescer, desenvolver-se ascendendo pelos diversos graus até converter-se num
Homem entre os homens, tomar a seu cargo todos os nossos processos mentais,
volitivos, sexuais, emocionais, etc., passar por um homem comum. Mesmo sendo o
Cristo um Ser tão perfeito, um Homem que não peca, ainda assim deve viver como
um pecador entre pecadores, um desconhecido entre outros desconhecidos; esta é
a crua realidade dos fatos. Mas (o Cristo) vai crescendo, vai-se desenvolvendo
à medida que elimina em si mesmo os elementos indesejáveis que levamos dentro.
É tal sua integração conosco que lança toda a responsabilidade sobre seus
ombros. Converteu-se num pecador como nós, não sendo Ele um pecador – sentindo
em carne e osso as tentações, vivendo como um homem qualquer. E assim, pouco a
pouco, à medida que vai eliminando os elementos indesejáveis de nossa Psique,
não como algo alheio ou estranho mas como algo próprio Dele, vai se
desenvolvendo no interior de nós mesmos; isto precisamente é o maravilhoso. Se
não fosse assim, seria impossível realizar a Grande Obra. É Ele quem tem de
eliminar todo esse Mercúrio Seco, todo esse Enxofre venenoso, para que os
Corpos Existenciais Superiores do Ser possam converter-se em veículos de Ouro
Puro, Ouro da melhor qualidade. Os Três Reis Magos que vieram adorar o Menino
representam as cores da Grande Obra. A primeira cor é o Negro, quando estamos
aperfeiçoando o corpo. Isto, repito, simboliza o Corvo Negro da Morte, é a Obra
de Saturno simbolizada pelo Rei Mago de cor negra; então passamos por uma
morte, a morte de nossos desejos, paixões, etc., no Mundo Astral. A seguir vem
a pomba Branca, isto é, o momento em que já desintegramos todos os Eus do Mundo
Astral; adquirimos então o direito de usar a túnica de linho branco, a túnica
do Phtah egípcio, a túnica de Ísis; evidentemente esta cor é simbolizada pela
Pomba Branca; este é ainda o segundo dos Reis, o Rei Branco. Já bastante
avançado no aperfeiçoamento do Corpo Astral, apareceria a cor Amarela, ou seja,
conquistaria o direito à túnica Amarela; então aparece a Águia Amarela, o que
nos recorda o terceiro dos Reis Magos, que é da raça amarela. Finalmente, a
coroação da Obra é a Púrpura. Quando um corpo, seja o Astral, o Mental ou o
Causal, já se tornou de Ouro Puro, recebe a púrpura dos Reis, porque triunfou.
Assim, como podem ver, os Três Reis Magos não são três indivíduos, como muitos
acreditam, mas símbolos das cores fundamentais da Grande Obra, e o próprio
Jesus Cristo vive dentro. Jesus em hebraico é Jeshuá; Jeshuá significa
Salvador, e, como Salvador, nosso Jeshuá Particular tem de nascer neste
estábulo que temos dentro de nós para realizar a Grande Obra; Ele é o Magnésio
Interior do Laboratório Alquimista. O grande Mestre deve surgir no fundo de
nossa Alma, de nosso Espírito. O mais duro para o Cristo Íntimo, após seu
nascimento no coração do Homem, é precisamente o Drama Cósmico, sua Via Crucis.
No Evangelho as multidões aparecem pedindo a crucificação do Senhor; essas não
são multidões de ontem, de um passado remoto, como se supõe, de algo que
ocorreu há 1975 (ano em que este texto foi escrito) anos. Não, senhores, essas
multidões estão dentro de nós mesmos, são nossos famosos “Eus”; dentro de cada
pessoa moram milhares de pessoas, o “Eu do ódio”, o “Eu tenho ciúmes”, o “Eu
sinto inveja”, o “Eu da cobiça”, ou seja, todos os nossos defeitos, e cada
defeito é um “Eu” diferente. É claro que essas multidões que trazemos dentro de
nós, que são nossos famosos “Eus”, são os que gritam: “Crucifiquem-nO,
crucifiquem-no!”. Quanto aos Três Traidores, já sabemos que no Evangelho
Crístico são Judas, Pilatos e Caifás. Quem é Judas? O Demônio do Desejo. Quem é
Pilatos? O Demônio da Mente. Quem é Caifás? O Demônio da Má Vontade. Mas é
preciso esclarecer isto, para que se possa compreendê-lo melhor. Judas, o
Demônio do Desejo, troca o Cristo Íntimo por 30 moedas de prata: 30 (3 + 0
= 3), esta é a alusão cabalística, ou seja, troca-O pelas coisas materiais,
pelo dinheiro, pela bebida, pelo luxo, pelos prazeres animais etc. Quanto a
Pilatos, é o Demônio da Mente; este sempre “lava as mãos”, nunca tem culpa,
para tudo encontra uma evasiva ou justificativa, jamais se sente responsável.
Realmente, estamos sempre justificando todos os defeitos psicológicos que temos
em nosso interior, jamais nos julgamos culpáveis. Muita gente me diz: “Acredito
ser uma boa pessoa; eu não mato, não roubo, sou caridoso, não sou invejoso”, ou
seja, são todos cheios de virtude, perfeitos, segundo eles próprios; “ignoto”,
é o que tenho a dizer ante tanta perfeição. Assim, olhando as coisas como são,
em seu cru realismo, esse Pilatos sempre lava as mãos, nunca se considera
culpado. Quanto a Caifás, francamente o considero o mais perverso de todos.
Pensem no que representa Caifás: muitas vezes o Cristo Íntimo nomeia um
Sacerdote, um Mestre ou Iniciado para que guie suas ovelhas e as apascente, lhe
entrega a autoridade e o põe à frente de uma congregação, e o tal Sacerdote,
Mestre, Iniciado etc., em vez de guiar seu povo sabiamente, vende os
Sacramentos, prostitui o Altar, fornica com as devotas etc. Ou seja, trai o
Cristo Interno, isto é o que faz Caifás. É doloroso isso? É claro, é horrível,
é uma traição do tipo mais sujo que há, e não há dúvida de que muitas religiões
se prostituíram e muitos sacerdotes traíram o Cristo Íntimo; não me refiro a
nenhuma seita em particular, mas a todas as religiões do mundo. É possível que
haja grupos esotéricos dirigidos por verdadeiros Iniciados, e que estes, muitas
vezes traidores, tenham traído o Cristo Íntimo. Tudo isto é doloroso,
infinitamente doloroso. Caifás é o que há de mais sujo. Estes três traidores
levam o Cristo Íntimo ao suplício. Pensem por um instante no Cristo Íntimo no
mais profundo de cada um de vocês, senhor de todos os processos mentais e
emocionais, lutando por salvá-los, sofrendo terrivelmente; os próprios Eus de
vocês protestando contra Ele, blasfemando, pondo a coroa de espinhos,
açoitando-O. Bem, esta é a crua realidade dos fatos, este é o Drama Cósmico
vivido interiormente. Finalmente, este Cristo Íntimo subiria ao Calvário, isto
é óbvio, e baixa ao sepulcro, com sua morte mata a morte, isto é a última coisa
que faz. Posteriormente ressuscita no Iniciado e o Iniciado ressuscita n’Ele.
Então a Grande Obra está realizada, consummatum est. Assim têm
surgido através dos séculos Mestres Ressurretos; lembremos um Hermes
Trimegisto, um Moria, grande Mestre da Força do Tibet, lembremos o Conde
Cagliostro (1743-1795), que ainda vive, e Saint-Germain (1712-1784), que em
1939 visitou outra vez a Europa. Este Saint-Germain trabalhou ativamente nos
séculos 17, 18 e 19 e, entretanto, continua a existir fisicamente, é um Mestre
Ressurreto. Por que são Mestres Ressurretos? Porque, graças ao Cristo Íntimo,
obtiveram a Ressurreição. Sem o Cristo Íntimo, a Ressurreição não seria
possível. Aqueles que supõem que pelo simples fato de morrer fisicamente alguém
já tem direito à Ressurreição dos Mortos são realmente dignos de compaixão;
falando outra vez em estilo socrático, não apenas ignoram mas, o que é ainda
pior, ignoram que ignoram. A Ressurreição é algo pelo qual se tem de trabalhar,
e trabalhar aqui e agora, e é preciso ressuscitar em carne e osso (e ao vivo).
A Imortalidade deve-se consegui-la agora mesmo, pessoalmente; assim se deve
considerar todo o Mistério Crístico. Todo o Drama Cósmico é em si mesmo
extraordinário, maravilhoso, e se inicia realmente com o NATAL DO CORAÇÃO. O
que vem a seguir relacionado com o Drama, a fuga para o Egito, quando Herodes
manda matar todos os meninos e Ele tem de fugir, tudo é simbólico, totalmente
simbólico. Dizem (num Evangelho Apócrifo) que Jesus, José e Maria tiveram de
fugir para o Egito, tendo permanecido vários dias vivendo sob uma figueira, e
que desta figueira saiu um manancial de água puríssima – é preciso saber
compreender isto : esta figueira representa sempre o sexo; dizem ainda que se
alimentavam do fruto desta figueira, os frutos da Árvore da Ciência do Bem e do
Mal. A água que corria puríssima, que saía desta figueira, é nada menos que o
Mercúrio da Filosofia Secreta. Quanto à decapitação dos inocentes, muito se tem
escrito sobre isso. Nicolas Flamel (1340-1418) deixou gravadas nas portas do
cemitério de Paris cenas retratando a degola dos inocentes. Por que essa cruel
degola dos inocentes? Não obstante, isto é também muito alquímico, todo
Iniciado tem de passar pela decapitação. Mas o que é que o Cristo Íntimo tem de
decapitar em nós? Simplesmente deve degolar o Ego, o Eu, o Si Mesmo, e o sangue
que emana da decapitação é o Fogo, é o Fogo Sagrado pelo qual o Iniciado tem de
purificar-se, limpar-se, branquear-se; tudo isso é profundamente esotérico,
nada pode ser tomado “ao pé da letra”. A seguir vêm os feitos milagrosos do grande
Mestre. Caminhava sobre as águas, [como] sobre as Águas da Vida tem de caminhar
o Cristo Íntimo. Abrir a visão dos que não vêm, predicando a palavra para que
vejam a luz; abrir os ouvidos dos que não querem ouvir, para que escutem a
palavra. Quando o Senhor já cresceu no Iniciado, tem de tomar a palavra e
explicar a outros o que é o caminho, limpar os leprosos; não há ninguém que não
esteja leproso, essa lepra é o Eu pluralizado, essa é a epidemia que todos
levam dentro de si, a lepra da qual devemos ser limpos. Os que estão
paralíticos não caminham ainda pela Senda da Auto realização, o Filho do Homem
deve curar os paralíticos para que andem rumo à montanha do Ser. Há que
compreender tudo isto de forma mais íntima, mais profunda; isto não corresponde
a um passado remoto, é para ser vivido dentro de nós mesmos aqui e agora. Se
começamos a amadurecer um pouquinho, saberemos apreciar melhor a mensagem que o
Grande Kabir Jesus trouxe à Terra. Em todo caso, precisamos passar por Três
Purificações, à base de ferro e fogo – este é o significado dos Três Cravos da
Cruz. E a palavra INRI (é o acrônimo da frase em latim: Iesus Nazarenus, Rex
Iudaeorom, cuja tradução é - Jesus Nazareno o Rei dos Judeus) diz muito. Já
sabemos que INRI esotericamente é o Fogo; necessitamos passar pelas Três
Purificações à base de ferro e fogo antes de conseguir a Ressurreição, do
contrário seria impossível lográ-la. Aquele que ressuscita se transforma
radicalmente, se converte num Deus-Homem, é um Hierofante da estatura de um
Hermes, um Quetzalcoatl ou um Buda. Mas é necessário fazer a Grande Obra.
Realmente, não se poderia entender os quatro Evangelhos se não se estudasse
Alquimia e Cabala, porque [os Evangelhos] são alquimistas e cabalistas, isto é
óbvio. Os judeus tinham três livros sagrados. O primeiro é o corpo da doutrina,
a Bíblia. O segundo é a alma da doutrina, o Talmud, no qual está a alma
nacional judaica. E o terceiro é o espírito da doutrina, o Zohar, onde está
toda a Cabala dos rabinos. A Bíblia, o corpo da doutrina, está escrita sob
chave. Se queremos estudar a Bíblia “compaginando versículos”, procedemos de
forma ignorante, empírica e absurda. Prova disto é que todas as seitas mortas
que, até a época atual, se nutriram da Bíblia interpretada de forma empírica,
não puderam entrar em acordo. Se existem milhares de seitas baseadas na Bíblia,
quer dizer que nenhuma delas a compreendeu. As chaves para a interpretação
estão no Zohar, escrito por Simeon Ben Jochai,
o grande rabino iluminado. Aí encontramos as chaves para interpretar a Bíblia.
Então, é necessário “abrir” o Zohar. Se queremos saber algo sobre
Cristo, sobre o Filho do Homem, devemos estudar a árvore da vida (...). www.gnosisonline.org.br.
Abraço. Feliz Natal a todos os leitores do Mosaico, bem como a seus queridos
familiares. Davi
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