Religião
Afro-brasileira. UMBANDA. Texto de Yamunisiddha Arhapiagha. Mestre Tântrico
Curador. Médium F. Rivas Neto. I. INTRODUÇÃO E ESCLARECIMENTOS PRELIMINARES.
Entregamos ao público leitor a nova edição, revista e atualizada, de Umbanda —
A Proto-Síntese Cósmica, escrita e editada pela primeira vez em 1989, exatos
cem anos após a Proclamação da República Federativa do Brasil e a abolição (13
de maio de 1888) da escravatura. Para a coletividade umbandista, esta obra, bem
como Umbanda de Todos Nós, escrita em 1956 por W. W. da Matta e Silva (Mestre
Yapacany), foi responsável por grandes mudanças no panorama do Movimento
Umbandista, mostrando uma organização estrutural, filosófica e doutrinária até
então inexistentes. Temos nas palavras de Mestre Orishivara (senhor Sete
Espadas) a pedra basilar sobre a qual edificamos nosso santuário que se
transmite ao mundo através dos livros que escrevemos subsequentemente.
Acreditamos que tudo evolui e que os conceitos aqui apresentados correspondem
aos necessários para o momento. Muitas pessoas podem ter avançado além dos
ensinamentos entregues a nós por Mestre Orishivara; outros ainda não atingiram
a compreensão mesmo de assuntos mais básicos. Compreendemos então que o momento
a que este livro é dedicado está no interior de cada pessoa, não no calendário
temporal, mas no das vivências espirituais. Assim, esperamos contribuir com
todos os irmãos planetários, não importando em que etapa da jornada espiritual
se encontrem. Bênçãos de Paz e Luz dos Arashas a todos! Aranauam.
ESCLARECIMENTOS PRELIMINARES – HISTÓRIA DO MOVIMENTO UMBANDISTA. O Movimento
Umbandista surgiu no final do século XIX, utilizando-se como cenário os cultos
miscigenados de negros, índios e brancos, conhecidos como macumbas, candomblés,
catimbós, torés, xambás, babassuês, xangôs, etc. Nesse contexto, começaram a se
manifestar entidades espirituais, através da incorporação, nas formas de índios
(Caboclos) e de Pais-Velhos trazendo as mensagens dos espíritos ancestrais
desses povos. O processo do sincretismo facilitou a inclusão da cultura
católica pela assimilação dos santos com as divindades do panteão africano e
ameríndio. Logo apareceriam também as entidades que se apresentavam como Crianças,
completando o ternário de manifestação mediúnica que serviria de base para a
sustentação da doutrina umbandista. Essas três formas de apresentação,
Crianças, Caboclos e Pais-Velhos, correspondem a arquétipos do inconsciente
coletivo com seus valores intrínsecos — o enigma da esfinge desvendado. Assim,
a forma "infantil" representa o início do ciclo e também a Pureza; a
forma adulta, de "caboclo", carrega o valor da Fortaleza e da
Simplicidade; e a forma senil, de "pai-velho", identifica-se com a
Sabedoria e a Humildade. Pureza, Simplicidade e Sabedoria Humilde seriam as
virtudes a serem cultivadas por todos os umbandistas, bem como regeriam a ética
desse setor filorreligioso. No início do século XX, com o médium Zélio
Fernandino de Moraes (1891-1975), a Umbanda recebeu sua primeira roupagem, com
organização à parte dos cultos afro-ameríndios. Nessa época também surgiu o
vocábulo Umbanda para designar aquela forma ritualística monoteísta, que
cultuava os Orishas como representantes da Divindade e que tinha as entidades
espirituais, que se manifestavam pela mediunidade dos adeptos, como ancestrais
ilustres enviados pelos Orishas. A característica mais marcante do culto, nesse
tempo, era o fato de ser simples, objetivo, aberto a todos os segmentos sociais,
econômicos, religiosos ou étnicos. Desde o início, a abertura universal era
estigma da Umbanda. Com o passar do tempo, várias formas de culto surgiram,
cada uma com proporções diferenciadas de influências africanas, ameríndias,
europeias e mesmo orientais, facilitando a adaptação e assimilação da doutrina
por recém-egressos de outros cultos. Essa fase caracterizou-se por uma rápida
propagação e expansão da Umbanda, especialmente pela abundância de
manifestações espiríticas concretas, fenômenos físicos, curas espirituais e
movimentação das forças sutis da natureza pela magia manipuladas pelos orishas,
guias e protetores que "baixavam" nos vários terreiros, cabanas,
choupanas, tendas de Umbanda de todo Brasil. Apesar de todas as manifestações
impressionantes, o tônus do movimento umbandista nessa época era dado pelo
pragmatismo e pelo empirismo doutrinário, não havendo um sistema consistente
filosófico acessível aos praticantes. A partir de 1956, com o lançamento do
livro Umbanda de Todos Nós, novo alento foi dado à Umbanda por Mestre Yapacany
(W. W. da Matta e Silva) que viria mostrar o aspecto oculto do conhecimento
trazido pelas entidades militantes nesse movimento. Em mais oito obras, Mestre
Yapacany desenvolveu as bases da escrita sagrada da Lei de Pemba, a hierografia
umbandista, apresentou os fundamentos da metafísica da Umbanda e revelou a
conexão com o sistema cosmogônico ligado à cabala ário-egípcia, descrito em
1911 por Saint-Yves d'Alveydre (1842-1909) em seu L'Archéomètre. Apesar de toda
a contribuição filosófica e científica dada à Umbanda por Mestre Yapacany, na
denominada Umbanda Esotérica, as mudanças práticas no sistema ritualístico
foram modestas, considerando-se que a profundidade da doutrina era alcançada
por poucos e raros iniciados, não havendo um método sistemático de transmissão
de conhecimento, nem uma organização templária capaz de conduzir os neófitos
aos patamares superiores da iniciação, a não ser que uma predisposição inata se
fizesse sentir de maneira muito evidente. Chegamos então à fase representada
pela Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino, fundada por nós em 1970, honrando o
compromisso que temos com nossos mentores e com Mestre Yapacany, do qual fomos
discípulo e recebemos a incumbência de continuar a tarefa. Dois anos se passaram
do desencarne de nosso Mestre quando lançamos nossa primeira obra, esta Umbanda
— A Proto-Síntese Cósmica, agora com sua quarta edição nas mãos do leitor.
Muitos fatores fizeram de Umbanda — A Proto -Síntese Cósmica um novo marco para
o Movimento Umbandista, a começar pelo fato de ter sido a primeira obra a ser
escrita diretamente por uma entidade de Umbanda, o Caboclo Sete Espadas (Mestre
Orishivara) que deixou o linguajar de terreiro, o jargão umbandista, para
transmitir os conceitos próprios de um sábio do Astral Superior. Nesta obra, o
Senhor Sete Espadas apresentava, já no início, uma controvertida teoria
antropológica que, se ainda não confirmada, ao menos encontra nos estudos
recentes do sítio arqueológico da Pedra Furada no Piauí respaldo para o benefício
da dúvida. Se esperarmos que aconteça como na profecia concretizada em relação
ao vigésimo primeiro aminoácido ou nas questões que trata de matéria e
anti-matéria, basta o tempo para que o rigor científico venha ratificar esses
escritos. A heterodoxia de Umbanda — A Proto Síntese Cósmica avança ainda na
demonstração geométrica e aritmética do número correto dos Arcanos Maiores e
Menores e ainda explica o motivo do conceito vigente. Discorre sobre magia
etérico-física em minúcias conceituais e aprofunda-se nos métodos oraculares
restituindo seus valores adormecidos. Um capítulo especial é dedicado à
organização do processo iniciático, em suas várias fases, ilustrado como
acontecia nos tempos antigos dos grandes Colégios Divinos da tradição hermética.
Finalizando, Mestre Orishivara levanta os véus da universalidade da Umbanda,
antecipando as mudanças sociais esperadas para o Movimento Umbandista no Brasil
e para a coletividade planetária como um todo. Constituindo-se como tratado de
filosofia hermética, magia, doutrina espiritual e prática mediúnica. Umbanda —
A Proto-Síntese Cósmica foi elevada à condição de texto sagrado basilar para
boa parte dos templos umbandistas de todo o país e se tornou o paradigma da
fase iniciática da Umbanda, por ela inaugurada. Tudo isso contribuiu para uma
transformação da Umbanda e do que se pensava da mesma. Vivemos, atualmente, uma
fase prolífica no setor umbandista que deixou de ter um caráter regional e
passou a se relacionar naturalmente com outros setores filorreligiosos. A
Umbanda participa ativamente das discussões das necessidades sociais e
espirituais brasileiras e planetárias, propondo um método de abordagem da
Realidade que se direciona para o universalismo expresso na meta de
Convergência com vistas à Paz Mundial. Temos sido testemunha das mudanças na
Umbanda. Atuamos no meio umbandista desde a década de 1960, quando ainda aos
doze anos de idade tivemos os primeiros contatos mediúnicos. Já aos dezoito
anos assumíamos a direção de um templo e em 1969 tivemos a honra de conhecer
Mestre Yapacany, do qual nos tornamos discípulo. Em 1970, fundamos a Ordem
Iniciática do Cruzeiro Divino que, desde então, representa uma referência para
os adeptos umbandistas, contando com vários templos em todo o Brasil e
discípulos por todo o mundo. Em função da atividade espiritual, sentimo-nos
inclinado ao estudo aprofundado das mazelas humanas, inclusive do ponto de
vista físico, o que nos levou à graduação em Medicina e especialização em
Cardiologia. Desde que iniciamos nossa produção literária, temos sentido o peso
da oposição, mesmo dentro do próprio Movimento Umbandista. Acreditamos que tudo
evolui, tudo precisa transformar-se e por que não a Umbanda? Afinal, o universo
todo progride, caminha (...). E justo que nossa compreensão da Realidade também
o faça. Preferimos ser heterodoxo (ter opinião diferente), especialmente em
relação àqueles que se acomodaram no misoneísmo e fizeram de suas verdades os
dogmas que lhes garantiram o conforto material. Longe, muito longe estamos da
Realidade Absoluta, que é uma e não duas. O mínimo que podemos esperar daqueles
que buscam a evolução espiritual é uma atitude aberta, não sectária, disposta a
modificar-se em função do aprendizado. Empenhado nessa atitude de evolução
constante, iniciamos a tarefa de escritor em 1989 com Umbanda — A Proto-Síntese
Cósmica. A cada novo lançamento, em obediência ao Astral, temos revisado
conceitos, aprofundado conhecimentos, ampliado nossos horizontes. Esperamos
assim colaborar para o ressurgimento da Tradição-Una, que é patrimônio de toda
humanidade e se encontra eclipsada pela visão fragmentária e parcial que temos
da Realidade. Nossa segunda obra, Umbanda – O Elo Perdido, também psicografada
por Mestre Orishivara (Caboclo Senhor Sete Espadas), lançou nova luz sobre os
delicados mecanismos hiper físicos da mediunidade, esclarecendo as várias
formas de intermediação dimensional, como a incorporação nas fases inconsciente
e semiconsciente, a irradiação intuitiva, a clarividência, a clariaudiência, a
psicografia, a psico hierografia e a dimensão-mediunidade. Discorre Mestre
Orishivara ainda sobre os distúrbios da mediunidade classificados em animismo
vicioso, ficção anímica, atuação espirítica patológica e obsessões. A
fisiologia astral é detalhada em O Elo Perdido na seção que fala sobre prana,
kundalini e chacras. Sempre temos nos posicionado como aprendizes do Astral
Superior, que nos incumbiu de transmitir alguns poucos ensinamentos aos nossos
irmãos planetários. A repercussão de nossa obra no Movimento Umbandista deve
ser creditada aos Mestres Astralizados e nosso próprio mestrado se faz em
obediência a eles. Lições Básicas de Umbanda, nossa terceira obra, firmou-se
como manual prático seguido por muitos umbandistas para a formação de várias
coletividades de terreiros, com orientações no tocante à rito-liturgia da
Umbanda, bem como a movimentações magísticas básicas necessárias ao
funcionamento dessas casas espirituais. Umbanda - O Arcano dos Sete Orixás,
nova obra escrita por Mestre Orishivara, foi determinante para a mudança de
concepção dos praticantes umbandistas acerca dos Orishas, nossos Genitores
Divinos e suas hierarquias. Através das correlações vibratórias que atribuem a
cada Orisha número, cor, som, letras sagradas, dias propícios, horários
vibratórios, ervas sagradas, essências voláteis específicos, estabeleceu as
bases para o que seria conhecido, mais tarde, como yoga umbandista. Exu - O
Grande Arcano abalou a coletividade umbandista desde sua base até suas
"instituições coordenadoras". Ditado pelo Exu Senhor (...), esse
livro descerrou os véus do arcano e separou a real manifestação de Exu da
mitologia que anima o inconsciente de muitos que dizem estar por ele
mediunizados. Separado o joio do trigo, revelou-se Exu como o Agente Executor
da Magia e da Justiça Kármica, entidade responsável e conhecedora da
movimentação de forças magísticas nos processos de agregação de forças
positivas e desagregação de forças negativas no "eró" da encruzilhada
de Exu (a cruz dos quatro elementos). Em 1996, escrevemos a obra Fundamentos
Herméticos de Umbanda onde consta a exposição inicial da Doutrina do Tríplice
Caminho. Apoiada nas Doutrinas Tântrica (Luz), Mântrica (Som) e Yântrica
(Movimento) representadas pelos Mestres da Sabedoria (Pais-Velhos), do Amor e
da Pureza (Crianças) e da Atividade (Caboclo), a Doutrina do Tríplice Caminho é
a base dialética da iniciação dentro da Umbanda. Compromissado com a qualidade
e não com a quantidade, voltamo-nos para o interior do Templo e nos dedicamos à
prática dos ensinamentos recebidos do Astral Superior. Acreditamos que teoria e
prática devem caminhar pari passu e, por isso, estabelecemos a Escola de
Síntese que deu origem a um Centro de Meditação Umbandista e à Faculdade de
Teologia Umbandista. A ESCOLA DE SÍNTESE. No Movimento Umbandista, em
decorrência da variedade de ritos, de formas de se compreender a Umbanda e de
cultuar o Sagrado, várias tendências ou correntes doutrinárias surgiram.
Naturalmente, essas tendências agruparam-se por afinidade e favoreceram a
eclosão do conceito de escolas de pensamento filosófico dentro da Umbanda.
Assim, no universo que engloba todos os umbandistas, há escolas mais voltadas à
tradição africana, à ameríndia, como também outras que privilegiam os
conhecimentos do dito esoterismo, além das denominações conhecidas como Umbanda
Omolocô, Traçada, Oriental, etc. Consonante com a visão universalista
preconizada pelos Mestres Astralizados responsáveis pela Ordem Iniciática do
Cruzeiro Divino, formalizamos nossa abordagem da Umbanda através da Escola de
Síntese, que coincide com o pensamento filosófico de conciliar todos os
segmentos umbandistas e, ao mesmo tempo, conectar-se com os demais setores filo
religiosos existentes no globo terrestre em busca da Convergência para a Paz
Mundial. A base discursiva para essa escola compreende a ideia de que as
Religiões são visões particulares e parciais do Sagrado, que é a Realidade-Una,
portanto, Absoluta. Em que pesem os variados graus de percepção da realidade
espiritual, cada religião e, analogamente, cada setor do movimento umbandista
correspondem a uma visão mais ou menos abrangente dessa Realidade. Partindo-se
do pressuposto de que ninguém detém o conhecimento integral da Verdade,
chegamos à conclusão de que todos devem ser respeitados por conterem parte da
Verdade. Por outro lado, evidencia-se a necessidade de evolução para toda a
humanidade, o que implica o desapego gradual dos vários rótulos e partir em
busca da Essência que deve ser comum a todos. Aí está delineado o processo de
Convergência que a Escola de Síntese propaga. Na prática, o que se verifica na
Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino são seis ritos diferentes, seis níveis de
interpretação do Sagrado, partindo da apreensão pela Forma e caminhando,
dialeticamente, até a percepção da Essência. Livro A Proto-Síntese Cósmica.
Abraço. Davi
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