Religião
Afro-brasileira. UMBANDA. Texto de Yamunisiddha Arhapiagha. Mestre Tântrico
Curador. Médium F. Rivas Neto. II. INTRODUÇÃO E ESCLARECIMENTOS PRELIMINARES.
Por conseguinte, nos ritos de primeiro nível prevalecem as raízes étnicas e
folclóricas da Umbanda; logo a seguir, observam-se os valores sincréticos,
místicos, no segundo nível; o aspecto de Exu, no terceiro nível; a chamada
escola esotérica, no quarto nível; os fundamentos básicos do Tríplice Caminho,
no quinto nível; e, por fim, os fundamentos cósmicos do Tríplice Caminho, no
sexto nível. Nesse último rito, a O.I.C.D. irmana-se com representantes de
outros setores filo religiosos falando uma linguagem comum a todos.
Finalizando, cabe ressaltar que a Escola de Síntese, em virtude de sua
consistência doutrinária expressa em Epistemologia, Ética e Método próprios da
Umbanda, tem ampliado sua atuação na sociedade planetária, contribuindo para a
formação de uma consciência de cidadania planetária através da Fundação
Arhapiagha para a Paz Mundial. Essa fundação promove ações educativas,
difundindo a necessidade da mudança de valores sociais, contrapondo-se ao
convencionalismo e ao condicionamento de pensamento que precisam ceder para que
surja uma nova humanidade, na qual espírito e matéria não sejam conflitantes,
mas partes integrantes de uma só Realidade. A DOUTRINA DO TRÍPLICE CAMINHO. O
Movimento Umbandista, surgido no Brasil, apresenta duas perspectivas ou ângulos
de visão a serem considerados: a dos seres encarnados que integram a
coletividade de adeptos e a dos mestres astralizados, as entidades que se
manifestam através do mediunismo dos umbandistas. Do ponto de vista dos seres
encarnados, é evidente que o movimento umbandista surgiu como amalgamação de
ritos oriundos de povos culturalmente diferentes. Tal integração cultural
permitiu amenizar os conflitos ou choques de culturas. Esse meio-termo,
representado pela Umbanda, conseguiu congregar uma variedade de influências
étnicas que passaram a conviver harmoniosamente. É interessante notar que o
Brasil pode ser considerado um mini planeta, pois aqui temos representantes de
todos os continentes e tradições convivendo pacificamente, sem os atritos
provenientes do fundamentalismo de um ou outro setor. O mesmo não acontece em
outros pontos do planeta, onde os conflitos baseados na "fé" têm
lugar, deixando marcas de dor e violência em todos os povos. Qual seria a causa
do congraçamento entre tradições tão diferentes no Brasil? Não fosse o
bastante, podemos ainda dizer que isso acontece com maior intensidade na
Umbanda, onde não apenas tradições diferentes intercambiam valores, mas também
todos os extratos sociais e econômicos encontram um campo de trégua,
favorecendo o convívio em termos de igualdade perante o Astral. Esta é uma
"magia" que a Umbanda faz e que poucos percebem. Por trás da
aparência de colcha de retalhos, existe um princípio inteligente que coordena
as diferenças e promove a união pelas semelhanças. Em outras palavras, na
Umbanda não há o rico e o pobre, o douto e o analfabeto, essa ou aquela etnia.
Todos sentem-se iguais e o mérito parece ser o principal fator determinante na
hierarquia social. Quer dizer: o que tem mais a oferecer assume o posto de
maior doador. Exercer uma função sacerdotal ou semelhante corresponde a uma
responsabilidade maior, uma dedicação e doação maiores, e não privilégios
eclesiásticos ou políticos. É claro que nos referimos aos umbandistas de fato e
de direito, e não aos aproveitadores e mercadores do templo de todas as eras,
que mancham nosso meio com suas atitudes farisaicas. Preferimos ser tachados de
heterodoxos ou revolucionários a nos submetermos à fé institucionalizada que
sempre contribuiu para a manutenção de um status quo onde prevalecem as
diferenças e a concentração de poder tão a gosto do submundo astral e de seus
feudos. Lutamos pela Umbanda de todos, sem a primazia de Pai Fulano ou Babalaô
Sicrano, muito menos daqueles que se utilizam dos nomes das entidades para
escudar suas empreitadas materiais. Pedimos escusas ao leitor por esse
desabafo, mas acreditamos em uma Umbanda ampla, que atende a todos com igual
respeito. Muito fomos criticados ao instituirmos em nosso templo seis níveis
diferentes de rito, cada um representando um segmento da Umbanda. Queriam que
fôssemos sectários, elitistas, dizendo: isso é certo, aquilo é errado. Nossa
posição é a de Síntese; respeitamos a todos e entendemos que as diferenças de
graus conscienciais são um fenômeno transitório. No decorrer do tempo e do
espaço encontraremos cada vez mais pontos de união e caminharemos todos para
uma mesma Realidade, à qual almejamos mas que ainda se encontra distante de
todos nós. Assim posto, voltemos às considerações sobre o movimento umbandista
em seu lado humano. Observamos um sistema aberto, que permite tantas variações
quanto as necessárias para atender a multitude de graus conscienciais que
encontram na Umbanda sua identidade espiritual. É claro que não podemos esperar
um consenso universal entre os umbandistas. Se isso acontecesse agora, seria
por força de imposição, contrariando o princípio de liberdade espiritual que
deve beneficiar a todos. Contudo, não podemos negar que o amadurecimento deve
conduzir a uma visão mais abrangente da Realidade, aparando as arestas e
fazendo ressaltar a Essência até então velada pela pluralidade da Forma. Com
isso, somos remetidos ao aspecto espiritual da Umbanda, à perspectiva das
entidades atuantes nesse movimento. Penetremos agora nos bastidores do rito, na
força motriz que impulsiona essa Umbanda ao resgate da Tradição-Una. Com a
chegada de imigrantes de todos os continentes e os antecedentes espirituais de
nossa terra (como poderá o leitor ver no Capítulo V), estabeleceu-se aqui o
local ideal para se dar início à reintegração da Humanidade. Com esse
compromisso, representantes de todas as culturas aqui se encontraram através de
migrações físicas ou reencarnatórias em obediência aos desígnios traçados por
nossos Ancestres Ilustres, na expectativa de construir uma nova sociedade. É
claro que nossos Ancestres Ilustres — os Mestres Astralizados — necessitavam de
um ponto de entrada para atuar entre os encarnados e incutir as novas
diretrizes. Para isso, utilizaram-se dos cultos miscigenados de índios, negros
e brancos, marcados ainda pelo fetichismo e crendices várias. De par em par,
entidades de alto escola espiritual usaram das formas de Caboclos, Pais-Velhos,
Crianças e outras para trazer nova luz à nascente identidade brasileira. Por
essa perspectiva, podemos observar que o Movimento Umbandista não apenas surgiu
para minimizar os choques étnicos, religiosos, econômicos e sociais
brasileiros, mas também serviu como porta de entrada para um movimento que visa
atingir todos os cidadãos planetários, aqui representados pela população de
várias nacionalidades. Fica evidente que somente entidades espirituais
elevadas, já destituídas de qualquer atavismo espiritual e conhecedoras da
sistemática evolutiva planetária poderiam atuar nesse movimento. Mas, para
serem mais bem aceitos, esses Mestres planetários necessitavam adaptar suas
formas de apresentação para melhor entendimento da coletividade-alvo. Todos
sabemos que espíritos superiores estão livres de atributos como idade, raça,
língua ou religião. Contudo, escolheram as formas de Crianças, Caboclos,
Pais-Velhos e sucedâneos para atuar entre a massa de adeptos. Qual o motivo de
escolherem essas formas? Por que se travestir com essas roupagens fluídicas?
Primeiro, escolheram estas variações regionais para facilitar o contato com
aqueles que ainda traziam fortes traços culturais. Assim, os brasileiros de
origem ameríndia facilmente se identificaram com os "Caboclos"; os
brasileiros de origem africana se identificaram com os "Pais-Velhos";
os de origem europeia se identificaram com as "Crianças", e assim por
diante. Um segundo aspecto é que Crianças, Caboclos e Pais-Velhos representam
as três etapas da vida humana: infância, maturidade e senilidade (velhice),
aspectos esses presentes em todas as raças. O terceiro aspecto são os valores
inconscientes ou arquetípicos que essas roupagens traduzem. Assim, a Criança é
símbolo de Amor e Pureza; o Caboclo é símbolo da Fortaleza e da Atividade; o
Pai-Velho é símbolo da Sabedoria e da Humildade. Novos horizontes se
descortinam. O que antes parecia um fenômeno folclórico, fruto do animismo
fetichista como quiseram fazer crer, agora passa a ser observado como movimento
coordenado com intenções universalistas. Esse é o ponto de vista espiritual.
Então a Umbanda não é uma religião brasileira? Não. Apenas surgiu no Brasil,
mas destina-se a toda humanidade. Isso não significa que veremos Pais-Velhos
"baixando" na China ou Caboclos incorporados na Rússia. Isso tudo faz
parte do aspecto regional do movimento umbandista, das adaptações necessárias
ao povo brasileiro, incluindo as formas de baianos, boiadeiros, marinheiros e
outros, que têm funções ainda mais particulares e menos universais. Por outro lado,
deve haver formas que simbolizam a Pureza, a Fortaleza e a Sabedoria em outros
povos. Podemos ter, talvez, um Guerreiro europeu simbolizando a Fortaleza para
aquele povo, ou um Velho Mestre oriental simbolizando a Sabedoria entre os
chineses. Os arquétipos e seus valores são os mesmos para todos; mudam apenas
as formas de simbolizá-los ou representá-los. Os arquétipos são universais e
estão no inconsciente de todos os seres. Entendemos agora que, na verdade, os
espíritos que se apresentam na forma de Crianças são Mestres do Amor e da
Pureza que usam essa vestimenta para transmitir sua valência espiritual.
Igualmente, os Mestres da Fortaleza e da Atividade se manifestam como Caboclos,
e os Mestres da Sabedoria e da Humildade se apresentam como Pais-Velhos. Mas
isso não é tudo. O objetivo da Umbanda é resgatar para o Homem sua cidadania
espiritual, sua consciência eternal, perdida nas brumas do egoísmo, da vaidade
e do orgulho. A perda da consciência espiritual levou-nos à fragmentação de
nosso psiquismo e, consequentemente, a uma visão fragmentária do mundo. Para
restituir a sanidade espiritual do Homem, os Mestres Astralizados apresentam-se
como Mestres da Sabedoria, atuando diretamente no campo mental dos adeptos; os
Mestres do Amor e da Pureza promovem a cura dos sentimentos; e, completando o
ternário de forças, temos os Mestres da Fortaleza e da Atividade, atuando nas
energias físicas dos consulentes. Nós, seres encarnados, expressamos nossa
personalidade através de Pensamentos, Sentimentos e Ações. Os pensamentos têm
sua sede no Organismo Mental, os sentimentos no Organismo Astral e as ações
estão situadas no Organismo Etérico-físico. Por conseguinte, os
"Pais-Velhos" atuam no Organismo Mental, as "Crianças"
atuam no Organismo Astral e os "Caboclos" atuam no Organismo
Etérico-físico. É precisamente isso o que se verifica nos templos de Umbanda.
Sem que os consulentes percebam, os "Pais-Velhos" orientam as mentes
através de seus conselhos e experiência; as "Crianças" infundem
alegria, bom ânimo e felicidade; os "Caboclos" trazem energias
positivas dos sítios sagrados da Natureza, para dar saúde, impulso e movimento
aos filhos de fé. Resumindo, a tríplice manifestação dos Mestres Astralizados
na Umbanda visa trazer Equilíbrio na Mente, Estabilidade no Sentimento e
Harmonia nas Ações. Neste ponto, podemos dizer que já temos uma visão muito
mais abrangente do que seja o Movimento Umbandista e uma leve noção do que seja
a Tradição Cósmica, a umbanda ou simplesmente, Umbanda, que o Movimento
Umbandista pretende resgatar. Compreendemos que a Umbanda tem caráter
universalista e que o Movimento Umbandista tem o objetivo de adaptar as
verdades universais ao entendimento de cada povo, enquanto a adaptação for
necessária. Podemos ainda ir além e verificar que tudo no Universo é
interligado e que o macrocosmo se reflete no microcosmo. O princípio ternário
que faz o homem expressar sua personalidade em Organismos Mental, Astral e
Físico é o mesmo que ordena a tríplice manifestação dos Mestres Astralizados e
foi o mesmo que ordenou o caos e presidiu a gênese do Universo. No momento da
cosmogênese, conhecido como big bang, três fenômenos concretizaram a Criação: a
Luz, o Som e o Movimento. A interação da Essência Espiritual com a Substância
Etérica amorfa produziu a Existência consubstanciada em Luz, Som e Movimento.
Por isso, tudo na Natureza se apresenta de forma ternária, pela interação entre
o ativo e o passivo que dá origem ao neutro ou gerado. Por isso dizemos que a
Umbanda tem fundamentos cósmicos, porque remontam à cosmo gênese. A Doutrina do
Tríplice Caminho contém Epistemologia, Ética e Método para conduzir o Homem à
união com o Sagrado, através da Triunidade. Na Doutrina do Tríplice Caminho
temos três doutrinas convergentes denominadas: Doutrina Tântrica, Doutrina Mântrica
e Doutrina Yântrica. A Tântrica corresponde à Luz, a Mântrica ao Som e a
Yântrica ao Movimento. Embora Tantra, Mantra e Yantra sejam termos conhecidos
de outras línguas, como o sânscrito, seus valores são cósmicos e,
cabalisticamente, seus significados diferem um pouco do que atualmente é
conhecido na Ásia. A Doutrina Tântrica é o caminho para a purificação e
sublimação do Organismo Mental no homem, e os Mestres Tântricos são os Mestres
da Sabedoria e da Humildade. A Doutrina Mântrica é o caminho para a purificação
e sublimação do Organismo Astral, e os Mestres Mântricos são os Mestres do Amor
e da Pureza. A Doutrina Yântrica é o caminho para a purificação do Organismo
Etérico físico, e os Mestres Yântricos são os Mestres da Ação e da Fortaleza.
Podemos agora observar o quadro sinóptico abaixo e fazer a síntese: O que varia
entre os vários templos de Umbanda é o quanto esses fenômenos são expressos ou
velados. Nos locais em que a vivência espiritual ainda é restrita, as entidades
fazem tudo de forma menos aparente. Nos locais onde já há um certo
amadurecimento espiritual, esses fundamentos são mais abertos e os adeptos
buscam conscientemente se reajustarem nesses três aspectos. Em nosso humilde
templo, em consonância com a vontade de Mestre Orishivara, recebemos pessoas de
todos os graus conscienciais. Por isso temos seis níveis de rito, cada um
direcionado a um grupo da nossa comunidade. Todos são igualmente importantes
para nós, pois constituem etapas de um caminho que todos percorrem. Se alguns
se encontram mais adiantados é porque começaram mais cedo. Os que iniciam agora
também chegarão aos patamares superiores, de acordo com o tempo e sua vontade.
Com esse espírito constituímos a primeira Faculdade de Teologia de Umbanda,
onde podemos ensinar as bases de todos os segmentos umbandistas, seja o da
Umbanda Omolocô, da Umbanda Traçada, da Kimbanda, da Umbanda Esotérica ou da
Doutrina do Tríplice Caminho, em aspectos básicos ou avançados. Podemos falar
disso porque realizamos todos esses ritos quinzenalmente; temos a teoria e a
prática. Procuramos fazer um esboço geral de nossas atividades nesta introdução
à nova edição de Umbanda – a Proto-Síntese Cósmica, na intenção de mostrar que
tudo evolui e que continuamos trabalhando em busca do aperfeiçoamento. Estamos
convencidos de que o Terceiro Milênio reserva grandes mudanças e surpresas para
toda a humanidade. Haveremos de viver em um mundo mais espiritualizado,
derrubaremos o tabu da morte física e experimentaremos a fraternidade e a
igualdade da família planetária a que pertencemos. Esperamos contribuir para a
evolução nossa e de todos, para extirpar de vez a dor, a miséria, a doença e a
fome da face da Terra. Desejamos a todos os irmãos planetários votos de Luz na
Mente e Paz no Coração concretizados em uma Vida Longa plena de realizações
positivas, neutralizadoras do karma negativo. Temos certeza de que a Paz do
indivíduo reflete-se na Paz do Mundo e de que somos todos interdependentes.
Pedimos, humildemente, aos Augustos Arashas, Supremos Curadores do Mundo, que
nos auxiliem a todos a neutralizarmos o Egoísmo, a Vaidade e o Orgulho, e que
estejamos todos em sintonia com o Soberano e Misericordioso Arashala – o Senhor
Jesus, que nos abençoa a todos desde sempre. Aranauam (...) Rá-anga (...) Eua
(...) Arasha (...) Hum (...). Livro UMBANDA – A Proto Síntese Cósmica. Abraço.
Davi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário