quinta-feira, 19 de setembro de 2019

II. INTRODUÇÃO E ESCLARECIMENTOS PRELIMINARES


Religião Afro-brasileira. UMBANDA. Texto de Yamunisiddha Arhapiagha. Mestre Tântrico Curador. Médium F. Rivas Neto. II. INTRODUÇÃO E ESCLARECIMENTOS PRELIMINARES. Por conseguinte, nos ritos de primeiro nível prevalecem as raízes étnicas e folclóricas da Umbanda; logo a seguir, observam-se os valores sincréticos, místicos, no segundo nível; o aspecto de Exu, no terceiro nível; a chamada escola esotérica, no quarto nível; os fundamentos básicos do Tríplice Caminho, no quinto nível; e, por fim, os fundamentos cósmicos do Tríplice Caminho, no sexto nível. Nesse último rito, a O.I.C.D. irmana-se com representantes de outros setores filo religiosos falando uma linguagem comum a todos. Finalizando, cabe ressaltar que a Escola de Síntese, em virtude de sua consistência doutrinária expressa em Epistemologia, Ética e Método próprios da Umbanda, tem ampliado sua atuação na sociedade planetária, contribuindo para a formação de uma consciência de cidadania planetária através da Fundação Arhapiagha para a Paz Mundial. Essa fundação promove ações educativas, difundindo a necessidade da mudança de valores sociais, contrapondo-se ao convencionalismo e ao condicionamento de pensamento que precisam ceder para que surja uma nova humanidade, na qual espírito e matéria não sejam conflitantes, mas partes integrantes de uma só Realidade. A DOUTRINA DO TRÍPLICE CAMINHO. O Movimento Umbandista, surgido no Brasil, apresenta duas perspectivas ou ângulos de visão a serem considerados: a dos seres encarnados que integram a coletividade de adeptos e a dos mestres astralizados, as entidades que se manifestam através do mediunismo dos umbandistas. Do ponto de vista dos seres encarnados, é evidente que o movimento umbandista surgiu como amalgamação de ritos oriundos de povos culturalmente diferentes. Tal integração cultural permitiu amenizar os conflitos ou choques de culturas. Esse meio-termo, representado pela Umbanda, conseguiu congregar uma variedade de influências étnicas que passaram a conviver harmoniosamente. É interessante notar que o Brasil pode ser considerado um mini planeta, pois aqui temos representantes de todos os continentes e tradições convivendo pacificamente, sem os atritos provenientes do fundamentalismo de um ou outro setor. O mesmo não acontece em outros pontos do planeta, onde os conflitos baseados na "fé" têm lugar, deixando marcas de dor e violência em todos os povos. Qual seria a causa do congraçamento entre tradições tão diferentes no Brasil? Não fosse o bastante, podemos ainda dizer que isso acontece com maior intensidade na Umbanda, onde não apenas tradições diferentes intercambiam valores, mas também todos os extratos sociais e econômicos encontram um campo de trégua, favorecendo o convívio em termos de igualdade perante o Astral. Esta é uma "magia" que a Umbanda faz e que poucos percebem. Por trás da aparência de colcha de retalhos, existe um princípio inteligente que coordena as diferenças e promove a união pelas semelhanças. Em outras palavras, na Umbanda não há o rico e o pobre, o douto e o analfabeto, essa ou aquela etnia. Todos sentem-se iguais e o mérito parece ser o principal fator determinante na hierarquia social. Quer dizer: o que tem mais a oferecer assume o posto de maior doador. Exercer uma função sacerdotal ou semelhante corresponde a uma responsabilidade maior, uma dedicação e doação maiores, e não privilégios eclesiásticos ou políticos. É claro que nos referimos aos umbandistas de fato e de direito, e não aos aproveitadores e mercadores do templo de todas as eras, que mancham nosso meio com suas atitudes farisaicas. Preferimos ser tachados de heterodoxos ou revolucionários a nos submetermos à fé institucionalizada que sempre contribuiu para a manutenção de um status quo onde prevalecem as diferenças e a concentração de poder tão a gosto do submundo astral e de seus feudos. Lutamos pela Umbanda de todos, sem a primazia de Pai Fulano ou Babalaô Sicrano, muito menos daqueles que se utilizam dos nomes das entidades para escudar suas empreitadas materiais. Pedimos escusas ao leitor por esse desabafo, mas acreditamos em uma Umbanda ampla, que atende a todos com igual respeito. Muito fomos criticados ao instituirmos em nosso templo seis níveis diferentes de rito, cada um representando um segmento da Umbanda. Queriam que fôssemos sectários, elitistas, dizendo: isso é certo, aquilo é errado. Nossa posição é a de Síntese; respeitamos a todos e entendemos que as diferenças de graus conscienciais são um fenômeno transitório. No decorrer do tempo e do espaço encontraremos cada vez mais pontos de união e caminharemos todos para uma mesma Realidade, à qual almejamos mas que ainda se encontra distante de todos nós. Assim posto, voltemos às considerações sobre o movimento umbandista em seu lado humano. Observamos um sistema aberto, que permite tantas variações quanto as necessárias para atender a multitude de graus conscienciais que encontram na Umbanda sua identidade espiritual. É claro que não podemos esperar um consenso universal entre os umbandistas. Se isso acontecesse agora, seria por força de imposição, contrariando o princípio de liberdade espiritual que deve beneficiar a todos. Contudo, não podemos negar que o amadurecimento deve conduzir a uma visão mais abrangente da Realidade, aparando as arestas e fazendo ressaltar a Essência até então velada pela pluralidade da Forma. Com isso, somos remetidos ao aspecto espiritual da Umbanda, à perspectiva das entidades atuantes nesse movimento. Penetremos agora nos bastidores do rito, na força motriz que impulsiona essa Umbanda ao resgate da Tradição-Una. Com a chegada de imigrantes de todos os continentes e os antecedentes espirituais de nossa terra (como poderá o leitor ver no Capítulo V), estabeleceu-se aqui o local ideal para se dar início à reintegração da Humanidade. Com esse compromisso, representantes de todas as culturas aqui se encontraram através de migrações físicas ou reencarnatórias em obediência aos desígnios traçados por nossos Ancestres Ilustres, na expectativa de construir uma nova sociedade. É claro que nossos Ancestres Ilustres — os Mestres Astralizados — necessitavam de um ponto de entrada para atuar entre os encarnados e incutir as novas diretrizes. Para isso, utilizaram-se dos cultos miscigenados de índios, negros e brancos, marcados ainda pelo fetichismo e crendices várias. De par em par, entidades de alto escola espiritual usaram das formas de Caboclos, Pais-Velhos, Crianças e outras para trazer nova luz à nascente identidade brasileira. Por essa perspectiva, podemos observar que o Movimento Umbandista não apenas surgiu para minimizar os choques étnicos, religiosos, econômicos e sociais brasileiros, mas também serviu como porta de entrada para um movimento que visa atingir todos os cidadãos planetários, aqui representados pela população de várias nacionalidades. Fica evidente que somente entidades espirituais elevadas, já destituídas de qualquer atavismo espiritual e conhecedoras da sistemática evolutiva planetária poderiam atuar nesse movimento. Mas, para serem mais bem aceitos, esses Mestres planetários necessitavam adaptar suas formas de apresentação para melhor entendimento da coletividade-alvo. Todos sabemos que espíritos superiores estão livres de atributos como idade, raça, língua ou religião. Contudo, escolheram as formas de Crianças, Caboclos, Pais-Velhos e sucedâneos para atuar entre a massa de adeptos. Qual o motivo de escolherem essas formas? Por que se travestir com essas roupagens fluídicas? Primeiro, escolheram estas variações regionais para facilitar o contato com aqueles que ainda traziam fortes traços culturais. Assim, os brasileiros de origem ameríndia facilmente se identificaram com os "Caboclos"; os brasileiros de origem africana se identificaram com os "Pais-Velhos"; os de origem europeia se identificaram com as "Crianças", e assim por diante. Um segundo aspecto é que Crianças, Caboclos e Pais-Velhos representam as três etapas da vida humana: infância, maturidade e senilidade (velhice), aspectos esses presentes em todas as raças. O terceiro aspecto são os valores inconscientes ou arquetípicos que essas roupagens traduzem. Assim, a Criança é símbolo de Amor e Pureza; o Caboclo é símbolo da Fortaleza e da Atividade; o Pai-Velho é símbolo da Sabedoria e da Humildade. Novos horizontes se descortinam. O que antes parecia um fenômeno folclórico, fruto do animismo fetichista como quiseram fazer crer, agora passa a ser observado como movimento coordenado com intenções universalistas. Esse é o ponto de vista espiritual. Então a Umbanda não é uma religião brasileira? Não. Apenas surgiu no Brasil, mas destina-se a toda humanidade. Isso não significa que veremos Pais-Velhos "baixando" na China ou Caboclos incorporados na Rússia. Isso tudo faz parte do aspecto regional do movimento umbandista, das adaptações necessárias ao povo brasileiro, incluindo as formas de baianos, boiadeiros, marinheiros e outros, que têm funções ainda mais particulares e menos universais. Por outro lado, deve haver formas que simbolizam a Pureza, a Fortaleza e a Sabedoria em outros povos. Podemos ter, talvez, um Guerreiro europeu simbolizando a Fortaleza para aquele povo, ou um Velho Mestre oriental simbolizando a Sabedoria entre os chineses. Os arquétipos e seus valores são os mesmos para todos; mudam apenas as formas de simbolizá-los ou representá-los. Os arquétipos são universais e estão no inconsciente de todos os seres. Entendemos agora que, na verdade, os espíritos que se apresentam na forma de Crianças são Mestres do Amor e da Pureza que usam essa vestimenta para transmitir sua valência espiritual. Igualmente, os Mestres da Fortaleza e da Atividade se manifestam como Caboclos, e os Mestres da Sabedoria e da Humildade se apresentam como Pais-Velhos. Mas isso não é tudo. O objetivo da Umbanda é resgatar para o Homem sua cidadania espiritual, sua consciência eternal, perdida nas brumas do egoísmo, da vaidade e do orgulho. A perda da consciência espiritual levou-nos à fragmentação de nosso psiquismo e, consequentemente, a uma visão fragmentária do mundo. Para restituir a sanidade espiritual do Homem, os Mestres Astralizados apresentam-se como Mestres da Sabedoria, atuando diretamente no campo mental dos adeptos; os Mestres do Amor e da Pureza promovem a cura dos sentimentos; e, completando o ternário de forças, temos os Mestres da Fortaleza e da Atividade, atuando nas energias físicas dos consulentes. Nós, seres encarnados, expressamos nossa personalidade através de Pensamentos, Sentimentos e Ações. Os pensamentos têm sua sede no Organismo Mental, os sentimentos no Organismo Astral e as ações estão situadas no Organismo Etérico-físico. Por conseguinte, os "Pais-Velhos" atuam no Organismo Mental, as "Crianças" atuam no Organismo Astral e os "Caboclos" atuam no Organismo Etérico-físico. É precisamente isso o que se verifica nos templos de Umbanda. Sem que os consulentes percebam, os "Pais-Velhos" orientam as mentes através de seus conselhos e experiência; as "Crianças" infundem alegria, bom ânimo e felicidade; os "Caboclos" trazem energias positivas dos sítios sagrados da Natureza, para dar saúde, impulso e movimento aos filhos de fé. Resumindo, a tríplice manifestação dos Mestres Astralizados na Umbanda visa trazer Equilíbrio na Mente, Estabilidade no Sentimento e Harmonia nas Ações. Neste ponto, podemos dizer que já temos uma visão muito mais abrangente do que seja o Movimento Umbandista e uma leve noção do que seja a Tradição Cósmica, a umbanda ou simplesmente, Umbanda, que o Movimento Umbandista pretende resgatar. Compreendemos que a Umbanda tem caráter universalista e que o Movimento Umbandista tem o objetivo de adaptar as verdades universais ao entendimento de cada povo, enquanto a adaptação for necessária. Podemos ainda ir além e verificar que tudo no Universo é interligado e que o macrocosmo se reflete no microcosmo. O princípio ternário que faz o homem expressar sua personalidade em Organismos Mental, Astral e Físico é o mesmo que ordena a tríplice manifestação dos Mestres Astralizados e foi o mesmo que ordenou o caos e presidiu a gênese do Universo. No momento da cosmogênese, conhecido como big bang, três fenômenos concretizaram a Criação: a Luz, o Som e o Movimento. A interação da Essência Espiritual com a Substância Etérica amorfa produziu a Existência consubstanciada em Luz, Som e Movimento. Por isso, tudo na Natureza se apresenta de forma ternária, pela interação entre o ativo e o passivo que dá origem ao neutro ou gerado. Por isso dizemos que a Umbanda tem fundamentos cósmicos, porque remontam à cosmo gênese. A Doutrina do Tríplice Caminho contém Epistemologia, Ética e Método para conduzir o Homem à união com o Sagrado, através da Triunidade. Na Doutrina do Tríplice Caminho temos três doutrinas convergentes denominadas: Doutrina Tântrica, Doutrina Mântrica e Doutrina Yântrica. A Tântrica corresponde à Luz, a Mântrica ao Som e a Yântrica ao Movimento. Embora Tantra, Mantra e Yantra sejam termos conhecidos de outras línguas, como o sânscrito, seus valores são cósmicos e, cabalisticamente, seus significados diferem um pouco do que atualmente é conhecido na Ásia. A Doutrina Tântrica é o caminho para a purificação e sublimação do Organismo Mental no homem, e os Mestres Tântricos são os Mestres da Sabedoria e da Humildade. A Doutrina Mântrica é o caminho para a purificação e sublimação do Organismo Astral, e os Mestres Mântricos são os Mestres do Amor e da Pureza. A Doutrina Yântrica é o caminho para a purificação do Organismo Etérico físico, e os Mestres Yântricos são os Mestres da Ação e da Fortaleza. Podemos agora observar o quadro sinóptico abaixo e fazer a síntese: O que varia entre os vários templos de Umbanda é o quanto esses fenômenos são expressos ou velados. Nos locais em que a vivência espiritual ainda é restrita, as entidades fazem tudo de forma menos aparente. Nos locais onde já há um certo amadurecimento espiritual, esses fundamentos são mais abertos e os adeptos buscam conscientemente se reajustarem nesses três aspectos. Em nosso humilde templo, em consonância com a vontade de Mestre Orishivara, recebemos pessoas de todos os graus conscienciais. Por isso temos seis níveis de rito, cada um direcionado a um grupo da nossa comunidade. Todos são igualmente importantes para nós, pois constituem etapas de um caminho que todos percorrem. Se alguns se encontram mais adiantados é porque começaram mais cedo. Os que iniciam agora também chegarão aos patamares superiores, de acordo com o tempo e sua vontade. Com esse espírito constituímos a primeira Faculdade de Teologia de Umbanda, onde podemos ensinar as bases de todos os segmentos umbandistas, seja o da Umbanda Omolocô, da Umbanda Traçada, da Kimbanda, da Umbanda Esotérica ou da Doutrina do Tríplice Caminho, em aspectos básicos ou avançados. Podemos falar disso porque realizamos todos esses ritos quinzenalmente; temos a teoria e a prática. Procuramos fazer um esboço geral de nossas atividades nesta introdução à nova edição de Umbanda – a Proto-Síntese Cósmica, na intenção de mostrar que tudo evolui e que continuamos trabalhando em busca do aperfeiçoamento. Estamos convencidos de que o Terceiro Milênio reserva grandes mudanças e surpresas para toda a humanidade. Haveremos de viver em um mundo mais espiritualizado, derrubaremos o tabu da morte física e experimentaremos a fraternidade e a igualdade da família planetária a que pertencemos. Esperamos contribuir para a evolução nossa e de todos, para extirpar de vez a dor, a miséria, a doença e a fome da face da Terra. Desejamos a todos os irmãos planetários votos de Luz na Mente e Paz no Coração concretizados em uma Vida Longa plena de realizações positivas, neutralizadoras do karma negativo. Temos certeza de que a Paz do indivíduo reflete-se na Paz do Mundo e de que somos todos interdependentes. Pedimos, humildemente, aos Augustos Arashas, Supremos Curadores do Mundo, que nos auxiliem a todos a neutralizarmos o Egoísmo, a Vaidade e o Orgulho, e que estejamos todos em sintonia com o Soberano e Misericordioso Arashala – o Senhor Jesus, que nos abençoa a todos desde sempre. Aranauam (...) Rá-anga (...) Eua (...) Arasha (...) Hum (...). Livro UMBANDA – A Proto Síntese Cósmica. Abraço. Davi.

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