Mahabharata. Livro
Mahabharata Recontado por Krishna Dharma (1955 - ). MAHABHARATA – INTRODUÇÃO. APRESENTAÇÃO – O MAHABHARATA É,
ORIGINALMENTE, uma imensa obra de cerca de 100 mil versos em sânscrito.
Profundamente reverenciado pelos indianos como um texto sagrado, forma a base
do pensamento religioso e filosófico hindu há milhares de anos. Por muito tempo
este texto precioso esteve inacessível aos leitores ocidentais, pois o complexo
idioma sânscrito não permitia a tradução, pelo menos não uma de leitura fácil
em inglês. Portanto, Krishna Dharma nos prestou um serviço valioso ao condensar
o clássico numa história encantadora, à semelhança de uma novela, embora
mantendo-a fiel ao original. O Mahabharata simplesmente trata de tudo o que se
possa imaginar, de romance e intrigas a política, astrologia e artes marciais.
Sua narrativa central enfoca o cruel conflito que houve entre os irmãos
pândavas, de origem divina, e seus primos kauravas. Deuses, sábios, reis e
heróis participam da disputa, que culmina numa grande guerra que aniquila
milhões de vidas. Tudo é descrito como parte do plano cósmico de krishna – e
aqui deve ser esclarecido que Krishna, que também desempenha um papel central
no texto, é visto e apresentado como o Ser Supremo. Diferentemente de muitos
tradutores, Krishna Dharma não minimiza esse ponto fundamental. Assim, sente-se
tranquilamente e entre no mundo do Mahabharata – um mundo que, sob muitos
aspectos, não é diferente do nosso, já que nos faz confrontar sentimentos e
verdades universais. O texto é como um espelho no qual podemos vislumbrar
nossas fragilidades humanas e, também, nossas mais altas aspirações. Ele
ilumina nosso lado obscuro e nos eleva à luz da consciência de Deus. Trata do
egoísmo, do engano, da desonra e do ateísmo, mas também mostra o caminho para
chegarmos ao altruísmo, à verdade, à honra e à essência da benção da fé. Embora
possamos nos sentir distantes dos personagens do Mahabharata no tempo e espaço,
o que aprendemos deles e com eles é tão significativo hoje quanto o foi, na
Índia, há 5 mil anos. Na verdade, devido à sua aplicabilidade universal, o
Mahabharata é uma das tradições vivas mais antigas do mundo, que pode ser
reinterpretada geração após geração, revitalizando-se nas vidas das pessoas que
existiram em qualquer em qualquer época da história mundial, e centenas de
milhões de hindus contemporâneos são testemunhas desse fato. Talvez um prova
evidente de que o Mahabharata continua a falar às pessoas, milhares de anos
depois de seu aparecimento, seja o sucesso da adaptação do épico em filme e
peça teatral por Peter Brook (1925- ), no início da década de 1990. O
Mahabharata de Brook é adaptado à era moderna. Outro exemplo seria o trabalho
de Steven Pressfield (1943- ), que, em 1995, publicou uma novela
chamada The Legend Of Bagger Vance (A Lenda de Bagger Vance), na qual apresenta
a história do Mahabharata num campo de golfe. Pelo menos, foi isso que fez na
seção que trata do Bhagavad Gita. O trabalho de Krishna Dharma é uma
contribuição importante a essa lista de Mahabharatas modernos. Seu livro faz
com que olhemos dentro de nossos corações, descobrindo se o Mahabharata
desempenha ou não algum papel no drama de nossas vidas. Steven J. Rosen
(1955- ). Texto de Krishna Dharma (1955- ). NOTA DO
AUTOR. DEPOIS DE FALAR com vários revisores e leitores de meus livros, soube
que o Mahabharata é classificado como mitologia. Embora seja reconhecida a
validade de seus ensinamentos éticos e espirituais, sua história é tida como
pouco mais que um veículo fictício para sua apresentação. Porém, para milhões
de outras pessoas, o Mahabharata é muito mais que mera ficção. Os seguidores
das Escrituras Védicas consideram-no o relato de fatos históricos e parte dos
Vedas. Ele inclui o Bhagavad Gita, que, por si só, é um tratado espiritual de
cunho elevadíssimo que expõe a teologia védica essencial. O Mahabharata narra,
basicamente, os eventos que cercam a narrativa do Bhagavad Gita, sendo, por
isso, um texto importante dentro do cânone védico. Entretanto, se não pudermos
admitir a história do Mahabharata como factual, sua credibilidade espiritual,
poderá ser bastante diminuída. Acredito que isso seria uma vergonha, já que,
para mim, tanto a beleza como o valor do Mahabharata residem justamente em sua
espiritualidade. Reconheço os problemas que essa questão suscita. Há muitos
elementos no Mahabharata que um leitor moderno achará difícil aceitar deuses,
demônios, poderes místicos, guerreiros com habilidades super-humanas etc. Sem
dúvida, há muitas coisas que estão além da experiência da maioria, se não de
todos nós. Então, como podem elas ser admitidas por qualquer pessoa razoável?
Em resposta, gostaria de apresentar algumas considerações do ponto de vista de
um seguidor da tradição védica. Antes de fazê-lo, entretanto, tenho de levar em
conta que, depois de milhares de anos, é provável que alguns dos pormenores do
Mahabharata já não sejam inteiramente precisos. Existem agora numerosas
versões, e muitas delas foram preservadas principalmente por meio de tradições
orais, de forma que variações não devem surpreender. Talvez, aqui e ali, alguns
poetas criativos tenham adornado o texto, e talvez o verso singular do texto
original tenha se perdido. Mas, de modo geral, a narrativa principal e os
pormenores permanecem e são comuns à maioria das versões. Foram produzidas as
chamadas “edições críticas do texto” que incluem apenas os versos constantes em
todas as versões, e essas edições contam basicamente a mesma história que
adaptei neste livro. Então, como podemos acreditar na veracidade dessa
história? Consideremos, primeiro, a questão da epistemologia, isto é, de como
chegamos ao conhecimento das coisas. Quando nossa razão é atraída para fora de
seus limites, em geral reagimos de duas maneiras: ou rejeitamos a nova
informação que desafia nossos conceitos, ou os submetemos a uma checagem. “Em
que acredito, e por que acredito? Será que aquilo que acolho com verdadeiro é
factual? Como foi que adquiri meu conhecimento?” Atualmente dá-se grande
importância ao método empírico: ver para crer. Na maioria dos casos, a ciência
trabalha dessa forma – por meio do processo indutivo da compreensão, que
depende do fenômeno observado. Porém esse não é o método mais confiável. Nossos
sentidos, nos quais nos baseamos para realizar observações, podem ser
facilmente enganados. Vemos o Sol, no céu, como um pequeno disco, mas na
realidade ele é um astro milhares de vezes maior do que a Terra. E nossos
sentido não percebem essa verdade. Além do problema de os sentidos falharem, o
que faz com que nossa informação sobre o Universo se torne questionável, também
lutamos para traduzir essa informação com clareza. Os cientistas sempre
buscaram sofregamente a verdade, o entendimento mais profundo e mais completo
do que eles veem. Novas teorias sempre surgem, e as velhas são desafiadas.
Muito daquilo em que se acreditava há alguns séculos hoje é rejeitado. Talvez
até mesmo o que aprendemos na escola, quando crianças, esteja agora superado
por um entendimento mais completo. Contudo, ao longo da construção de nosso
conhecimento há um processo que nunca falha: o de ouvir uma autoridade que já
conhece a verdade. É assim que a maioria de nós aprende qualquer coisa. Ouvimos
nossos pais, professores, rádio, tevê; lemos livros, jornais e muito mais.
Devemos ter um pouco de fé, nessas fontes, mas o que acontece em última análise
é que aquilo que ouvimos e lemos forma nosso sistema de crenças e compreensão.
A maioria das coisas que sabemos, ou que pensamos saber, foi assimilada aos
poucos de alguma autoridade. Dizemos que o Sol é um astro que fica a milhões de
milhas da Terra porque temos fé, acreditamos nos cientistas que nos afirmam
isso, e não porque fomos ao Sol e medimos a distância até lá nós mesmos. É
claro que consideramos um fato como verdadeiro quando este se confirma por
nossa experiência direta. Esse princípio se aplica até mesmo nos casos em que
não compreendemos completamente um fenômeno. Deixem-me explicar com um exemplo:
uso regularmente e-mail e a internet. Porém, a tecnologia de ambos está muito
além de minha compreensão. Não tenho tempo nem inclinação, talvez nem mesmo
habilidade, para aprender informática. No entanto, me contaram que, quando uma
mensagem de e-mail é enviada, é partida em pequenos pedaços de informação que
são, então, transmitidos a seus destino por várias grades eletrônicas.
Misturados e dispersos por toda a vasta rede de informação, esses bits
finalmente se juntam, outra vez, reconstituindo a mensagem original. Não tenho
a menor ideia de como isso acontece; parece-me quase um milagre, mas sei que as
letras que envio são recebidas, intactas, em seu destino. Os sábios das
verdades cibernéticas me explicaram a tecnologia que desenvolveram e, porque
vejo que ela funciona, eu a aceito, apesar de sentir-me desconcertado. Do mesmo
modo, os Vedas lidam com outro tipo de tecnologia. Basicamente, essa tecnologia
pode ser descrita como a ciência dos mantras. Quando se entoam determinados
mantras em sânscrito. Invocam-se poderes superiores. As vibrações dos sons dos
mantras, quando adequadamente entoados por uma pessoa qualificada, possuem uma
potência intrínseca que atraem seres etéreos, como deuses, gandarvas e outros.
Esses entes super naturais podem, então, a nosso pedido, investir-nos de um
poder que nos permita executar feitos extraordinários como os descritos no
Mahabharata. Nesse ponto, contudo, tenho de ser honesto, enfatizando que não
vivi nenhuma experiência como a que menciono acima. Nunca me deparei com deus
algum, nem com qualquer arma celestial sendo usada; tampouco possuo poderes
místicos. Entretanto, tenho experiência pessoal com uma parte do Mahabharata –
o Bhagavad Gita. Esse livro também descreve uma ciência; na verdade, a ciência
da realização espiritual do homem, em que ele é enviado por Deus. Seguindo as
orientações científicas contidas no Bhagavad Gita – que, aliás, também inclui
mantras – pude experimentar seus resultados práticos. Percebo que minha mente
se tornou mais pacífica, meus desejos materiais diminuíram e que meu
entendimento sobre o conhecimento espiritual ali apresentado se desenvolve
gradualmente, permitindo-me entender sozinho as verdades contidas naquele
texto. Como exemplifiquei com o caso da informática, posso não compreender
totalmente como ou por que tais coisas se dão. Mas os sábios das verdades
espirituais já me explicaram isso e, com base em minha experiência pessoal,
acredito no que eles me disseram. Constatando que a parte mais importante do
Mahabharata é verificável por percepção direta, não tenho razões para duvidar
do teor de outras passagens ainda não verificadas por minha experiência.
Trata-se de julgar uma coisa por seus resultados. Se aceitarmos o Bhagavad Gita
e o Mahabharata com verdadeiros e tentarmos seguir suas orientações,
alcançaremos resultados, como já mencionei. Por outro lado, se seguirmos outras
autoridades, que depreciam os Vedas – jornais, tevê, cientistas ateus etc –
obteremos resultados bem diferentes: nossos desejos por prazeres materiais
crescerão ilimitadamente, e nunca serão satisfeitos; nos tornaremos cada vez
mais perturbados, frustrados, deprimidos e fracassados em nossas vidas.
Portanto, este é o teor do Mahabharata: se o Bhagavad Gita é o manual de orientação
prática, o Mahabharata é o passo a passo ilustrado que mostra, inclusive, os
passos que não devem ser dados. Vejamos, por exemplo, os pandavas, que se
esforçam por seguir as instruções de krishna dadas no Bhagava Gita: embora
passem por dificuldades, permanecem fiéis àquelas orientações e, ao final,
emergem vitoriosos e abençoados pela boa fortuna; por outro lado, Duriodhana e
os irmãos ignoram os ensinamentos de Krishna e optam por seguir seus próprios
desejos, encontrando assim a ruína. Visto pela perspectiva da fé, o Mahabharata
é um trabalho profundamente iluminador, que pode ser lido repetidamente. Em
suas páginas pode-se descobrir várias camadas de significados profundo. É claro
que está é uma versão muito sintetizada, mas espero que, ao conhece-la, você se
inspire para ler o livro mais extenso que escrevi, assim como o texto completo
do Bhagavad Gita, que não foi incluído neste livro. Recomendo o Bhagava Gita
como ele é, escrito por A. C. Bhaktivedanta Swuami. É esse o texto a que me
referi antes por suas instruções espirituais, e aproveito para, aqui,
reverenciar seu estimado autor. Também gostaria de respeitosamente agradecer a
Kishari Ganguli e a Manmatha Datta, dois eruditos cujas traduções do
Mahabharata foram minhas principais fontes de material para este livro. Como
sempre, estou aberto às opiniões de meus leitores, que podem ser enviadas por
intermédio da editora. Acredito que possam existir falhas em meu texto e, nesse
caso, peço-lhe que seja tolerante. Avise-me se encontrar algum engano, e o
corrigirei nas edições futuras. INTRODUÇÃO. O MAHABHARATA, PARTE DOS ANTIGOS
Vedas da Índia, é uma história diferente de qualquer outra. Poucos livros são
tão longevos quanto esse épico de 5 mil anos, e sua popularidade milenar é a
maior testemunha da sabedoria profunda contida nas suas páginas. Este grande
épico inclui o Bhagavad Gita – uma obra-prima de conhecimento espiritual,
reverenciada por milhões de pessoas no mundo todo – que é a narração dos fatos
que levam a revelação daquele texto iluminado. O Mahabharata trata das
atividades de Krishna, que fala no Bhagavad Gita e que é considerado pelos
vedas como o Ser Supremo. Isso dá à obra uma qualidade singular. Embora, sob o
ponto de vista externo, o enredo seja uma lenda emocionante, repleta de intrigas
e conflitos entre reis, demônios, deuses e sábios, existe um significado mais
profundo e espiritual que permeia toda a obra. Sente-se uma certa elevação
espiritual ao se ler o livro, cuja intenção, aliás, é nos aproximar da
compreensão do Divino e despertar, dentro de nós, um prazer transcendental,
superior a todas as outras felicidades. O Mahabharata pode ser lido várias
vezes, sem se tornar repetitivo ou tediosos. Na verdade, podem-se descobrir
camadas de significados diferentes a cada leitura. Junto à sua mensagem
espiritual e à história fascinante, o Mahabharata apresenta uma visão
maravilhosa da vida no mundo antigo. Já foi chamado de “enciclopédia cultural
da Índia”, mas sua abordagem é ainda mais ampla do que isso, pois abarca
verdades universais básicas e comuns a toda a humanidade. Os assuntos tratados
no Mahabharata são muitos para serem mencionados, mas num verso famosos do
original lê-se que “o que quer que não seja encontrado no Mahabharata não
poderá ser encontrado em nenhum outro lugar”. Entretanto, deixo que vocês
descubram por si mesmos o tesouro maravilhoso que o Mahabharata é. Esta é uma
versão resumida, mas espero que estimule seu interesse para ir adiante e ler
outros textos mais completos. Também escrevi uma longa novela, de cerca de mil
páginas, na qual inclui muitas das lendas incríveis que cercam a narrativa
central do Mahabharata, e que exclui deste livro a fim que não se tornasse
muito extenso. Se este é o seu primeiro mergulho nas deliciosas águas do
Mahabharata, e se você experimentar aquela sensação refrescante e encorajadora
da imersão, recomendo que vá ainda mais fundo lendo a versão
inteira. Finalmente, ofereço todos os créditos a Srila Viassadeva, o
sábio imortal, autor da obra original. Que ele abençoe a todos, e que possamos
perceber o significado mais profundo do Mahabharata. “ (...) e aquele que
conhece a causa mais profunda que me move nesta esfera mortal se liberta de vez
da fonte do sofrimento e se eleva acima de todos os medos” Bhagavad Gita 4,9.
Livro Mahabharata – Recontado por Krishna Dharma. Abraço. Davi.
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