Confucionismo.
Texto de Jacques Gernet (1921-2018). III. OS PRINCÍPIOS CONFUCIONISTAS DA
IDEOLOGIA CHINESA ATUAL. A VIDA. Natural do Reino de Zhao (actual província de
Shanxi), Xunzi (荀子) teve uma vida breve (298 AC238). Quando nasceu,
Mêncio era já um homem maduro. Viajou bastante pelo seu reino, assim como pelos
reinos vizinhos de Yan, Chu, Qin e Qi. Apesar de não ter sido reconhecido
enquanto esteve no reino de Yan, durante o reinado de Gui, foi nomeado três
vezes decano da Academia de Ji Xia, em Qi, um dos reinos centrais de tradição
ritualista ligada a Confúcio e Mêncio (372 AC 289). Esta academia foi fundada
pela vontade dos soberanos preocupados em aliar o prestígio cultural à sua
política de hegemonia. Era o caso do soberano Xuan de Qi que Mêncio conheceu
pessoalmente e que encorajava os letrados de todos os municípios a vir a Jixia,
oferecendo-lhes todas as comodidades para prosseguir os seus estudos e expor as
suas doutrinas. Isto tornou aquela academia num dos principais focos de
atividade cultural e ponto de reunião dos grandes pensadores da época nos
começos do século III AC. Foi lá que Xunzi teve a oportunidade de se destacar
como um polémico defensor da causa confucionista face aos outros pensadores. É
aqui que o reconhecimento do poder político do prestígio moral e intelectual
dos letrados atinge o auge, os detentores do saber passam a ser chamados de
"mestres" (先生). No reino de Zhao discutiu
assuntos militares com o Duque de Linwu perante o Imperador Xiao Cheng e, no
reino de Qin, fez investigações acerca das políticas adoptadas. Finalmente, em
255, serviu o duque Chun Sheng no reino de Chu como alto magistrado de Lanling
(na actual província de Shandong), onde permaneceu até ao fim da sua vida. Foi
também ali que compôs o seu livro "Xunzi", com os seus discípulos.
"O Livro de Xunzi" é constituído por 32 capítulos, cada um formando
um tratado teórico sobre um assunto preciso. Trata-se do único livro da
antiguidade chinesa, com exceção do "Han Feizi", com um discurso
elaborado e construtivo. Apesar da sua importância, não foi considerado um
Clássico. Embora não tivesse tido a oportunidade de assistir à ascensão
crescente do reino de Qin através da força e dos meios militares, triunfando
sobre todos os outros reinos e fundando a Dinastia Qin, parece que Xunzi não
nutriu nenhuma admiração pela eficácia do seu governo. Até porque este se
baseava em princípios legistas, contrários à doutrina confucionista. Aliás, na
senda do confucionismo, Xunzi não acreditava que o poder militar de Qin fosse
suficiente para se impor ao povo, devendo este basear-se antes na humanidade do
soberano, tal como já o haviam defendido Confúcio e Mêncio. Na realidade, a
repressiva Dinastia Qin (221-206 a.C.) não haveria de durar muito tempo, por
contraposição à anterior Dinastia Zhou, a mais longa de toda a História da
China. 2.3.2. A CONCEPÇÃO DO HOMEM. Contrapondo-se a Mêncio, Xunzi defendia que
a natureza humana é um complexo de tendências anárquicas e irracionais, sendo o
homem mau por natureza. Somente através do contacto com os outros indivíduos,
poderá o homem tornar-se sociável e civilizado. Segundo Xunzi, na origem toda a
humanidade era luta pela posse dos bens, o que gerava desordem. Trata-se de uma
teoria pessimista naturalista, semelhante à que Thomas Hobbes (1588-1679)
haveria de desenvolver cerca de 20 séculos mais tarde. Defendendo que "a
sociedade é a grande educadora dos indivíduos", a bondade torna-se em algo
artificial, adquirida pelo treino. Para Xunzi, as qualidades inatas como o amor
ao lucro, o ódio e a inveja, os desejos sensuais, não incluem nenhuma
predisposição da natureza humana para a moralidade. O espírito dos homens é
obscurecido por preconceitos, os quais só serão eliminados através da Razão, do
dao (道), através da sua capacidade de inteligência e
discernimento, o zhi (智). Ora, é a inteligência através
do coração/espírito, o xin (心), que julga se uma ação levada a
cabo para satisfazer um desejo é admissível moralmente ou é somente materialmente
possível. Só quando agimos de acordo com a Razão haverá ordem social. Por
contraposição a Mêncio, Xunzi vê a bondade não na natureza do homem, mas na sua
cultura: "A natureza é a raiz e o original, a matéria bruta; o fabricado é
o que é desenvolvido até ao desabrochar pela cultura e pelos ritos. Sem a
natureza, o fabricado não terá nenhum suporte para trabalhar, sem o fabricado,
a natureza não teria nenhum meio de se aperfeiçoar."22 diz Xunzi. Como
tal, a moralidade é puramente «fabricada», totalmente exterior à natureza
humana. Para Xunzi, individual ou socialmente, a principal virtude a ser
cultivada devia ser o li (礼), a conformidade com as normas
rituais. Só através do respeito pelas práticas rituais instituídas, conseguirá
o Homem atingir o equilíbrio individual, e também social, entre vícios e
virtudes. Isto porque os ritos são um reflexo da ordem cósmica. Apesar dos
ritos não serem naturais, têm um valor humano fundamental, trazendo o homem
para a harmonia social. Explica Xunzi: "Os homens têm desejos por
natureza. Quando os desejos não são satisfeitos, eles não têm outra solução
senão procurá-la. Quando esta busca de satisfação não tem medida nem limite
apropriado, só pode haver discórdia. Quando há discórdia, haverá desordem;
quando há desordem, haverá pobreza. Os antigos reis-sábios odiavam esta
confusão, pelo que estabeleceram a regra dos ritos como forma de estabelecer
limites à confusão, para educar e nutrir os desejos dos homens, para dar
oportunidade à sua busca de satisfação, para que os desejos nunca se
extinguissem pelas coisas, nem que as coisas fossem utilizadas pelos desejos;
que ambos continuassem a coexistir. É aqui que a regra dos ritos surge."
Esta concepção é característica de uma época em que o território chinês se
encontrava em convulsão intra reinos e inter-reinos, cada um lutando pelo
domínio interno. A CONCEPÇÃO DO
SOBERANO. Xunzi dividiu os homens em três categorias: os homens superiores, que
podem tornar-se soberanos ou duques; os homens inferiores, que podem tornar-se
em nobres ou funcionários públicos; e os homens comuns que podem tornar-se em
trabalhadores, agricultores ou comerciantes. Mas esta distinção baseava-se, não
em qualquer ordem preestabelecida de carácter divino ou nobiliárquico, mas sim
pelo talento. Ora, os homens superiores deviam respeitar os ritos (礼),
o que assume um cariz mais carregado do que nos confucionistas anteriores.
Assim, se os descendentes dos príncipes, nobres e ministros não agissem de
acordo com os ritos, deviam ser "despromovidos" para a classe dos
homens comuns, enquanto que se a conduta dos descendentes dos homens comuns
estivesse de acordo com os ritos, estes deviam ser promovidos a ministros ou
magistrados. Xunzi considerava os ritos, ligados diretamente às leis, como o
elemento essencial unificador das diversas classes. Quem se conformasse com a
legislação devia ser considerado bom e devia ser tratado de acordo com os
ritos, caso contrário devia ser aplicado um castigo. Por isso, Xunzi é
considerado como o fundador da doutrina da autocracia dos tempos feudais. Um
soberano que dominasse os ritos teria nas suas mãos a absoluta autoridade.
Estas teorias vão ser desenvolvidas pelos seus discípulos Han Fei e Li Si, que
irão ter um papel determinante na fundação do absolutismo na Dinastia Qin e no
desenvolvimento da doutrina legista, que acaba por afastar estas concepções
relativas às leis dos seus fundamentos. Um dos melhores exemplos que os
soberanos podiam encontrar era no tempo dos imperadores das Dinastias Xia (2100
AC 1600), Shang (1600 AC 1100) e Zhou, com especial referência para os desta
última. O seguir-se os últimos soberanos incluía em Xunzi mais do que um
regresso aos antigos, mas mais uma certa inovação como forma de fortalecer as
novas instituições feudais da classe dos proprietários. Isto porque os antigos
soberanos tinham inventado os princípios morais que impediam os conflitos. Por
isso, havia que estudar os Clássicos, mas não os filósofos, com exceção de
Confúcio (551 ac 479). OS NEO-CONFUCIONISTAS Apesar do Confucionismo ainda de
forma incipiente ter surgido já durante o período do Reinos Combatentes e
apesar da grande receptividade de que foi alvo entre o povo chinês,
especialmente entre a classe letrada, não seria logo adoptado como doutrina
oficial durante o período da Dinastia que então emergiu, a celebre mas breve
Dinastia Qin (221 AC 206), unificadora do território chinês. Na realidade, a
forma de governo adoptada pelo Imperador Qin Shihuang não se coadunava com os
princípios confucionistas. O governo déspota do Imperador Qin coadunava-se mais
com os princípios legistas, pelo que adotou o legismo como doutrina oficial.
Foi necessário o aparecimento de uma outra dinastia, a Han (206 AC 220 DC), com
um maior desenvolvimento cultural e uma maior abertura, para que o confucionismo
se impusesse como doutrina do Estado. A partir de então, apesar de alguns
soberanos terem privilegiado mais outras formas de pensamento, nomeadamente
religiosas, nunca mais os princípios confucionistas deixaram de ser adoptados
pela sociedade chinesa, qualquer que fosse a sua origem. Neste sentido, o
confucionismo serviu como verdadeiro cimento aglutinador da sociedade chinesa,
na medida em que muitos dos seus princípios continuaram a reger por muito tempo
até à atualidade os relacionamentos humanos e mesmo a forma de governar. Mais
tarde, mais precisamente durante a Dinastia Song (960-1279), deu-se um
ressurgimento da doutrina confucionista. De 1069 a 1073, Wang Anshi (王安石,(1021-1086) preconizou uma série de duras reformas em
território chinês. As suas reformas eram de natureza diversa (economia, fisco,
exércitos e administração) e procuravam reforçar a autoridade do Estado em
detrimento dos interesses privados. Ora, estas provocaram algum
descontentamento, pelo que alguns intelectuais da época procuram formas de
pensamento alternativas, uma das quais foi desencantar as antigas concepções
confucionistas, reformando e trazendo uma lufada de ar fresco a esta filosofia,
adaptando-a à nova realidade. Este movimento ficou conhecido como o
neo-confucionismo (lixue, 理学). Apesar destes autores se
oporem às concepções tauísta e budista, na realidade também incluíram alguns
dos seus princípios na nova perspectiva emergente. Foi, aliás, esta linha de
pensamento que seguiu Han Yu (768-824), ainda durante a Dinastia Tang
(618-907), procurando desenvolver o confucionismo tradicional, especialmente o
de Mêncio, adaptando-o às novas condições sociais. HAN YU Han Yu (韩愈, 768-824) nasceu em Nayang (na província de Henan),
tendo ficado conhecido como o fundador do movimento literário que adoptava como
modelo os escritos em estilo clássico, assim como o preconizador do
neo-confucionismo. Viveu durante a Dinastia Tang, quando o budismo teve um
grande desenvolvimento na sociedade chinesa e também noutros países da Ásia,
nomeadamente na Coreia e no Japão. Contudo, na sequência do apoio que teve
entre a Corte, esta religião foi em parte responsável pelo aumento das despesas
públicas, devido ao capital investido na construção de templos e à riqueza
crescentemente acumulada pelos monges budistas nos seus templos. Estas
condições originaram, em meados da Dinastia Tang, uma campanha anti budista, na
qual Han Yu teve um papel de liderança. Ora, foi a partir do desenvolvimento da
ortodoxia confucionista, que Han Yu desenvolveu esta campanha anti budista. Os
ânimos elevaram-se quando, em 819, o Imperador Xianzong preparava a chamada
"cerimónia da relíquia do osso de Buda", o que causou alguma sensação
dentro e fora da Corte. Han Yu logo apresentou ao Imperador um "Memorando
contra as bem-vindas à relíquia de Buda", ao que este respondeu
expulsando-o da capital. Han Yu foi viver para Chaozhou (na província de Cantão
- Guandong), onde persistiu na sua posição anti-budista. Começou, também, a
desenvolver a ortodoxia confucionista. Tal como referido no "Grande
Aprendizado", defendia que a única forma de pacificar o mundo era através
da cultivação moral do eu individual, e não isolar do mundo num estado de
inatividade como ensinavam os budistas. No seu "Tratado sobre o Dao",
desenvolveu a noção de benevolência e retidão, sublinhando que as falhas dos
budistas e dos tauístas tinham a ver com a violação do modelo normal da vida,
tendendo a levar as pessoas a afastarem-se completamente da sociedade e do
Estado com todo o código ético que lhes é indispensável. Ainda em relação às
qualidades pessoais, Han Yu defendia que os homens deviam estar dotados, não só
de natureza humana, mas também de emoções, as quais se originariam do contato
da natureza humana com os objetos exteriores. Na medida em que todas as pessoas
possuíam as cinco virtudes em diferentes graus de desenvolvimento,
individualiza três níveis da natureza humana: superior, médio e inferior. Já no
que se refere às emoções humanas, estas são sete: prazer, raiva, tristeza,
felicidade, afeto, ressentimento e desejo. Da mesma forma, as pessoas possuem
estas sete emoções em diferentes graus de desenvolvimento, o que as coloca em
três níveis: inferior, médio e superior. A natureza superior é boa; a média
indeterminada, corrigível pela educação ou susceptível de se degradar; a
natureza inferior é má. Uma vez atribuídos estes graus, estes são imutáveis,
sendo que a educação só poderia ser aplicada para aqueles que se encontravam no
nível médio. Esta teoria afasta-o da concepção de Mêncio. Na História, Hanyu
salientava o papel determinante dos sábios, a cujas normas todas as pessoas se
deviam sujeitar. Trata-se da identificação do Dao com o Céu, que será
desenvolvido posteriormente pela Escola Neo-confucionista Cheng-Zhu (程朱),
dos irmãos Cheng e de Zhu Xi. ZHOU DUNYI Tal como referido anteriormente, o
neo-confucionismo apareceu inicialmente como oposição aos "Novos
Ensinamentos" de Wang Anshi” (1021-1086). Um dos principais intelectuais
que se opôs a estas reformas foi Sima Guang ( 司马光, 1019-1086).
No seguimento político de Sima Guang apareceram Zhou Dunyi (周敦颐), Shao Yong (邵雍) e os irmãos Cheng (程). Intelectualmente, estes seguiam as ideias da Antiga
Escola Confucionista de Zi Si-Mêncio. Apesar de, aparentemente estes repudiarem
o Budismo e o Tauísmo, na realidade incluíam alguns dos seus ensinamentos na
sua teoria. Nas suas considerações filosóficas, os neo-confucionistas estavam
essencialmente preocupados com as questões do Princípio, da mente, da natureza
humana, etc. Na medida em que surgiram diversas concepções destas questões,
geralmente individualiza-se esta filosofia em três escolas: a Escola do
idealismo objectivo, liderada por Cheng Yi (程颐)e Zhu Xi (朱熹); a Escola do idealismo subjetivo, liderada por Lu
Jiuyuan (陆九渊) e Wang Ming (王明); e a Escola do naturalismo e
do utilitarismo liderada por Zhang Zai (张载), Chen Liang (陈亮) e Ye Shi (页适). Porque o
objectivo do nosso estudo não é analisar a escola neo-confucionista
profundamente, procuraremos fazer uma análise geral sobre as contribuições dos
filósofos neo-confucionistas mais importantes para a evolução do confucionismo.
Começaremos, então, por Zhou Dunyi. Zhou Dunyi (周敦颐),1016-1073) foi o fundador do neo-confucionismo
propriamente dito. Defendia que a origem do universo era o Princípio Supremo,
que não tinha som, nem forma, nem princípio, nem fim. Seria deste Princípio
Supremo que originaram o Yin (阴) e o Yang (阳),
e da combinação destes surgiram os Cinco elementos, dos quais, por sua vez, se
originou o mundo com todos os seus elementos. Zhou reduziu, deste modo, todas
as existências a uma entidade indescritível em espiral, que contém todas as
implicações da Via, o Dao (道) ou Princípio, o Li (理).
A santidade é o objetivo último de todas as considerações cosmológicas que
estão ligadas ao domínio humano e com uma preocupação moral tipicamente
confucionista. Para Zhou, de todos os seres, o homem era o mais receptivo ao
Princípio Supremo. A base do Princípio Supremo é a honestidade perfeita. Tal
como Mêncio, Zhou também defendia que todos os seres humanos nasciam com
bondade inata, sendo através do seu contato com o mundo exterior que o mal
aparece, o que provoca a diferenciação das pessoas. Às pessoas com natureza má,
Zhou recomenda que cultivem a sua honestidade perfeita como forma de
restabelecer a bondade inata, tornando-se sábias. Por isso, a santidade, que
pode ser alcançada por qualquer pessoa, só o será quando houver uma perfeita
adequação entre o Homem e o Céu-Terra. Trata-se da prática moral fundada sobre
o princípio celeste (天理), como forma de alcançar o
equilíbrio perfeito entre a vida interior e a vida exterior. 2.4.3. IRMÃOS SU E
IRMÃOS CHENG. Em meados do séc. XI, apareceu uma nova geração formada na senda
dos homens de acção de inícios dos Song. É o caso dos dois irmãos Su, que
passaram nos exames imperiais, e também dos dois irmãos Cheng, descendentes de
uma família de letrados-burocratas do Norte. Enquanto que os irmãos Su (苏)foram
colocados na Escola de Ouyang Xiu (欧阳 修), Cheng Yi (程颐,1033-1107) e Cheng Hao (程颢,1032-1085)
foram enviados ainda jovens para junto de Zhou Dunyi para aprenderem com ele.
Filhos de um letrado autodidacta, os irmãos Su, Su Shi (苏轼,1037-1101) e Su Che (苏撤,1039-1112) candidataram-se aos exames imperiais e ambos foram bem
sucedidos. Contudo, foi o irmão mais velho que sempre se destacou. Aliás, a sua
poesia é bastante conhecida na China. Su Shi começou por comentar o "Livro
das Mutações" (易经), dos quais comentários se poderão retirar algumas
considerações para construir a sua forma de pensar. Segundo ele, os homens
possuem em si próprios a retidão, o que vai de encontro às concepções de Mêncio
sobre a bondade inata. É partidário de uma concepção culturalista do homem, do
homem de cultura (wen ,
文 ). Inclui ainda no seu pensamento algumas
considerações tauístas de Zhuangzi (庄子), quando defende que o sábio é
aquele que encontra o acesso ao princípio das coisas, sublinhando a unidade do
mundo, a fusão com a Origem, que o que se mantém sempre autêntico é a natureza.
Já no que se refere aos irmãos Cheng, também seguiram rumos diferentes. Assim
enquanto Cheng Hao (程颢)se dedicou ao estudo do tauísmo e do budismo, antes de
se dedicar ao dao confucionista, já o seu irmão estudou na capital, junto de Hu
Yuan. Posteriormente, devido aos diferentes resultados que obtiveram nos exames
imperiais, os irmãos Cheng seguiram diferentes percursos. Assim, enquanto Cheng
Hão foi bem sucedido e enveredou por uma carreira oficial, o seu irmão reprovou
e retirou-se. Mais tarde, haveriam de encontrar-se em Luoyang, onde se dedicam
ao ensino e à reflexão filosófica sobre o dao (道学), cada um
fundando a sua escola. Depois da morte de seu irmão, Cheng Yi (程颐)tomou para si a missão de fazer reviver o dao confucionista pois
defendia que desde o desaparecimento de Mêncio, a doutrina confucionista nunca
mais havia sido transmitida. Cheng Yi defende as ideias constantes na
"Doutrina do Meio" de que, sendo o decreto do Céu a natureza, é
tarefa do homem alcançar o seu destino moral de acordo com o dao celeste.
Enquanto seu irmão era mais lírico, exprimindo-se muitas vezes através de
poemas, Cheng Yi é mais rigoroso nas suas considerações, o que imprime um
carácter mais exigente à escola Cheng-Zhu (程朱). Neste
contexto, Cheng Yi desenvolve o conceito de li (理)como
princípio normativo, que engloba toda a totalidade, governando tanto o mundo
natural como a sociedade humana, não tendo início nem fim. Todas as coisas vêm
à existência através deste Princípio dito Divino,sendo a sua
tarefa definir a função que cada coisa deve ter na ordem natural, como forma de
assegurar a harmonia moral. E este Princípio mantém-se por si só em todos os
tempos e em todos os lugares, no mundo natural e no código ético da vida
social. E como podem as pessoas aprender este Princípio Divino? Cheng Yi
responde que é através da manutenção da mente num estado de honestidade e de
veneração, enquanto que Cheng Hao defendia que seria através da investigação
das coisas, através de um processo em que o Princípio era restaurado e os
desejos humanos expulsos. Também aqui, os irmãos Cheng adoptam a teoria dos
três níveis da natureza humana de Han Yu. Cheng Yi conclui que o exame cuidado
do Princípio, o preenchimento da natureza humana e a realização da vocação,
todas os três deviam ser conseguidos em conjunto. ZHU XI E LU JIUYUAN. Nascido
em Wuyuan (na Província de Anhui), Zhu Xi (朱熹,1130-1200)
cresceu em Fujian, pelo que a sua escola ficou conhecida pela Escola de Fujian.
Discípulo da quarta geração de Cheng Yi, Zhu Xi era a figura mais proeminente
do neo-confucionismo do seu tempo, tendo tido o papel mais importante na
ideologia dos tempos posteriores. Como tal, alguns dos seus seguidores chegaram
a compará-lo a Confúcio. Zhu viveu numa altura em que a parte Norte do país
tinha caído às mãos dos Jin, pelo que os Song deslocaram a capital mais para
Sul - ficando assim conhecidos por Song do Sul - não lhes restando outra
solução senão apaziguá- -los ou entrar em guerra com eles. Para Zhu Xi, a
solução seria melhorar a situação política através da expulsão dos bárbaros.
Depois de passar brilhantemente nos exames imperiais, Zhu Xi enveredou por uma
carreira burocrática, com responsabilidades nas escolas, bibliotecas e ritos da
sua região de origem. Em 1179, como governador de Nankang, na província de
Jiangxi, Zhu Xi dedicou-se completamente à sua missão educativa, fazendo
palestras e restabelecendo a “Academia da Gruta do Veado Branco”, que
desempenharia um papel de primeiro plano no desenvolvimento das academias
privadas e da divulgação da daoxue (道学). Compilou e comentou, ainda,
os "Cinco Clássicos" (五经) e os "Quatro Livros" (四书), procurando
reencontrar o espírito original de Confúcio, do qual Mêncio é designado como o
seu herdeiro e porta-voz. No que se refere à sua teoria filosófica, Zhu Xi
inclui elementos das teorias do Princípio Supremo de Zhou Dunyi e de Cheng Yi.
Defendia que o Supremo Princípio era constituído pelo Princípio, o li (理) e
pela Energia, o qi (气), sendo o primeiro antecedente do último. Assim, o
Princípio Supremo é a origem e ao mesmo tempo a síntese de todos os outros
princípios do mundo, é um princípio transcendente e perfeito, enquanto que os
outros são princípios concretos que regulam objetos concretos do mundo. Esta
teoria tem origens numa seita budista que ensina que as variedades estão
compreendidas na entidade, se bem que também se aproxima da noção de dao
tauísta. À semelhança do que ocorre com todos os outros objetos do mundo,
também os homens são manifestações do Princípio. Como a natureza humana vem
diretamente do Princípio Divino, esta é perfeita. Contudo, com o relacionamento
com outros seres, também a "natureza humana pelo temperamento", como
Zhu Xi define, pode transformar-se em má ou boa. A inspiração menciana,
relativo à Mêncio, é aqui clara. Como tinham um temperamento mais calmo e
inocente, os sábios eram mais dificilmente afetados pela maldade, enquanto que
em relação às pessoas comuns se passava exatamente o contrário. Zhu Xi propunha
duas formas através das quais o pensamento podia ser remodelado: o estudo
exaustivo do Princípio e manutenção do fervor. Zhu Xi desenvolveu também a
interpretação da História, defendendo que o seu curso é determinado pelo
pensamento dos soberanos. Enquanto que os antigos reis-sábios praticavam o
Princípio Divino, os soberanos dos tempos posteriores praticavam os desejos
humanos, pelo que os primeiros reinavam de uma forma real enquanto que os
últimos faziam-no de uma forma coerciva. A teoria de Zhu Xi encontrou oposição
por parte de Lu Jiuyuan (陆九渊,1139-1193)
que, embora também admitindo a existência de um Princípio como a entidade do
mundo, defendia que este se encontrava dentro da mente e não fora dela como
preconizava Zhu Xi. Por outro lado, enquanto Zhu Xi preconizava a aproximação
ao Princípio através do estudo, Lu recomendava a procura de dentro para fora da
mente. Enquanto a doutrina de Zhu Xi ficou conhecida como a Escola
Racionalista, as ideias de Lu Jiuyuan foram mais tarde desenvolvidas na Escola
Idealista de Wang Yangming durante a Dinastia Ming (1368-1644). Aliás, a partir
de meados do séc. XIII, o pensamento de Zhu Xi ascende à categoria de ortodoxia
e começa a difundir-se por todo o mundo sinizado de então, nomeadamente pela
Coreia e Japão. Através de um decreto de 1313 do Imperador Renzong da Dinastia
Yuan ou Mongol (1271-1368), os comentários de Zhu Xi aos "Clássicos"
e aos "Quatro Livros" são incluídos no programa dos exames imperiais. Livro Os Princípios Confucionistas da Ideologia Chinesa Atual. Abraço. Davi
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