quinta-feira, 9 de maio de 2019

AS SEMENTES DO CONFLITO


Mahabharata. Texto de krishna Dharma (1955 - ). Capítulo II. AS SEMENTES DO CONFLITO. QUANDO SE INSTALARAM, Kunti contou aos filhos a história dos Kurus. Ela lhes explicou como Pandu, depois de ter sido amaldiçoado, entregara o governo do reino ao irmão mais velho, Dritarastra. Este, devido ao fato de ter nascido cego, não pudera assumir o trono antes do irmão, mas quando Pandu partiu para a floresta, Dritarastra teve que tomar seu lugar. Ele era assistido por Bishma e por Vidura, outro irmão de Pandu, que também era o primeiro-ministro. Ele era filho de uma criada e, por isso, não poderia se tornar rei. Os meninos queriam saber por que Bishma, como o mais idoso dos Kurus, não governava o reino, então kunti lhes contou a história dele: “Há muito tempo. Hastinapura era governada por um rei que se chamava Shantanu, que se enamorou da deusa do Ganges, depois de vê-la um dia às margens do rio. Eles se casaram e seu filho se chamou Bishma, o qual cresceu e estudou entre os deuses”. Dunti descreveu como Shantanu se apaixonou, mas tarde, por outra moça, desta vez a filha de um pescador, que só lhe deu a mão da filha em casamento com uma condição: o pescador queria que o filho de sua filha fosse o próximo rei, depois de Shantanu. O rei, porém, não podia concordar com isso, uma vez que já tinha feito de seu filho altamente qualificado, Bishma, príncipe regente. Ele tentou esquecer a moça, mas Bishma soube da decepção do pai e foi falar com o pescador, prometendo-lhe que nunca se tornaria rei. Mas o pescador ainda não concordava, temeroso que os filhos de Bishma exigissem o trono em detrimento de seu neto. Só quando Bishma  jurou que nunca se casaria foi que o pescador finalmente concordou com o casamento. Kunti terminou sua história dizendo: Assim, Shantanu se casou com a filha do pescador, Satiavati. O filho deles era seu avô, que infelizmente morreu antes de ter um filho. Naquela época, os kurus tinham medo de que sua dinastia terminasse. Então, pediram ajuda ao grande rishi Viasadeva. E, de acordo com as escrituras, Viasadeva teve três filhos, com as duas esposas de seu avô e com uma criada culta. Eles eram Dritarastra, Vidrua e seu pai. À medida que os meses se passavam, depois de sua chegada a Hastinapura, os filhos de Pandu, que eram conhecidos como os pandavas, se tornaram muito estimados pelos anciãos kurus. Todos os cinco irmãos exibiam excelentes qualidades. Humildes e obedientes aos mais velhos, eram generosos e sempre sinceros. Conforme cresciam, os anciãos kurus viam que eles seriam os melhores sucessores para o trono. Os garotos divinos agradavam aos kurus de todas as maneiras. Entretanto, os pandavas não eram estimados por todas as pessoas da cidade. Graças a uma benção de Viasadeva, Dristarastra tivera cem filhos. Esses príncipes, que eram conhecidos como os kauravas, logo começaram a invejar os filhos de Pandu. O mais velho deles, Duriódhana, sentia uma raiva especial pelos primos, percebendo que ameaçavam sua reivindicação ao trono. Nem ele nem seus irmãos tinham alguma das virtudes demonstradas pelos pandavas. Na verdade, havia grande preocupação quanto à possibilidade de Duriodhana se tornar rei, uma vez que seu nascimento se fizera acompanhar de muitos maus augúrios. Era claro, para todos, que iudistira seria uma escolha muito melhor. Vendo que a importância de sua posição diminuía com a presença dos pandavas. Duriodhana se encolerizou, pressentindo que seu direito ao trono estava ameaçado. Além das muitas qualidades pessoais, parecia que os pandavas também tinham objetivos superiores para o reino. O pai deles é que fora o rei, e o próprio pai Duriodhana, Dritarastra, só tinha recebido o trono por falta de opção. A dor e a humilhação de Duriodhana ao perder seu prestígio na Casa kuru ainda eram reforçada pela maneira como Bima tratava ele e seus irmãos. O segundo pandava não dava trégua à arrogância dos kauravas. Achava o antipático Duriodhana especialmente insuportável, e logo uma rivalidade se desenvolveu entre os dois príncipes. Da parte de Bima, era apenas uma fonte de diversão de garoto, mas para Duriodhana aquela rivalidade crescia cada vez mais seriamente, e ele começou a achar as caretas de Bima intoleráveis. O filho de Vayu possuía uma força física incomparável. Podia desafiar com uma gargalhada todos os cem kauravas juntos para uma luta corpo a corpo e, quando avançavam contra Bina, ele os jogava longe, como um monte de palha. Bima adorava passar trotes e quase sempre ridicularizava seus primos mais fracos. Duriodhana sentiu que tinha de tomar nas mãos as rédeas dos acontecimentos. Um dia, depois de um incidente especialmente humilhante, no qual Bima sacudira uma árvore imensa onde ele tinha subido e o jogara no chão, Duriodhana não aguentou mais. Levando o segundo kauvara, seu irmão Dushasana, até um canto, disse-lhe: Esse Bima é um espinho em nossas vidas. Nós não conseguimos levar a melhor com ele em nada! Até para comer consome o mesmo que vinte de nós! Eu lhe digo, irmão, ele está me enlouquecendo. Algo tem de ser feito e, na verdade, tenho um plano. Duriodhana tinha se consultado com o tio Shakuni, que ele considerava um confidente. Shakuni era irmão de sua mãe, Gandari. Ele se sentia ofendido porque os kurus não tinham oferecido Pandu em casamento à sua irmã, e sim o cego Dritarastra, e atribuía essa falta a Bishma. Este fora ao reino de Gandara pedir a mão de Gandari em casamento para Dritarastra. E seu pai tinha concordado, apesar de Dritarastra ser cego, considerando que uma aliança com a poderosa Casa kuru seria desejável sob quaisquer circunstâncias. Mas Shakuni sentira raiva. Por que sua irmã, linda e qualificada, que tinha recebido de Shiva (um dos deuses supremos do hinduísmo conhecido como destruidor e regenerador da energia vital, aquele que faz o bem. O também o criador da Yoga, devido ao seu poder de gerar transformações físicas e emocionais em quem pratica a atividade) a graça de ter cem filhos, não seria dada em casamento a Pandu, o rei kuru? Assim, Shakuni foi com Gandari para Hastinapura e começou a maquinar uma forma de revidar a afronta de Bishma. E logo encontrou uma oportunidade, por meio de Duriodhana. O jovem Kaurava rapidamente aceitou seu tio maquiavélico como mentor. Shakuni dera ao Kaurava uma ideia de como lidar com os pandavas, os quais ele sabia que Bishma adorava. Os cantos de boca de Duriodhana se ergueram num leve sorriso. Escute, irmão. Amanhã vamos ao rio com os pandava. Lá, poderemos jogar e nos divertir com nossos queridos primos. Eu mesmo vou arranjar uns pratos especiais para Bima, que está sempre com fome. Olhando para os lados furtivamente. Duriodhana mostrou ao irmão um talo de datura, uma planta extremamente venenosa. Soube que isso fica uma delícia quando cozido com vários temperos. Estou certo de que Bima vai devorar uma tigela inteira sem piscar. Falando suavemente, o Kaurava indicou ao irmão como os dois deveriam esperar perto de Bima até que o veneno fizesse efeito. Então, quando todos já tivessem se afastado, eles poderiam jogá-lo no rio para que se afogasse. Com o poderoso Bima morto, o que podem fazer os outros pandavas? Meu caminho para o trono estará salvo. Dushasana sorriu e aquiesceu. Ele também sofria nas mãos de Bima, mas acima de tudo, queria fazer qualquer coisa que agradasse a Duriodhana. Rindo alto, os dois príncipes se juntaram aos outros irmãos e caminharam pela aleia arborizada, de volta ao palácio. Pensando no que fariam a Bima, riam mais ainda. Na manhã seguinte, Duriodhana sugeriu que os príncipes fossem ao rio para praticar alguns jogos aquáticos. O dia estava quente, e todos concordaram. Subiram nos carros de ouro e partiram, aos gritos, deixando para trás nuvens de poeira. Chegando ao rio, saltaram e entraram na casa de prazeres que o rei tinha construído para os filhos, uma mansão elegante de sete andares, toda de mármore branco. Fileiras de bandeiras coloridas tremulavam do teto. Dentro da mansão, dezenas de quartos bem decorados ofereciam todo tipo de luxo. Músicos e dançarinos reais completavam o ambiente, e uma força de cem guarda costas armados, do lado de fora, mantinha-se pronta para protege-los. Duriodhana entrou ansiosos na casa e depois saiu para os jardins centrais, dizendo: Vamos, irmãos, vamos comer nossos lanches juntos e depois correr para nos divertir no rio. O príncipe sabia que Bima não sucumbiria facilmente ao veneno. Talvez levasse um bom tempo antes que ele fizesse efeito, e por isso queria administrá-lo o mais depressa possível. Ele levou os príncipes para uma grande varanda, onde a comida os esperava. Os assuntos tinham sido marcados para cada um deles, e pratos e copos de ouro enfeitavam as mesinhas baixas. Sem suspeitar de absolutamente nada, os pandava apreciavam o belo jardim e o lindo lago cheio de lótus, cercado de grama macia. O perfume delicado dos botões das flores se espalhava por todos os lugares, e o som mágico de uma cascata cristalina podia ser ouvido ao longe. Os criados levaram os rapazes a seus lugares e começaram a servir a comida. Os pratos preparados eram deliciosos, e os garotos estavam famintos. Duriodhana foi até a cozinha, onde um cozinheiro de confiança já tinha preparado a comida envenenada para Bima, e a trouxe pessoalmente para servi-la, com as próprias mãos, sob o pretexto de assim demonstrar seu afeto pelo primo. Duriodhana encheu o prato de Bima de vegetais mistos e lhe deu muitos doces e bolos, tortas e bebidas – tudo cheio de datura (planta com propriedades narcóticas). O príncipe Kaurava sorria, feliz, enquanto o ingênuo Bima comia alegremente os alimentos mortais. Quando a refeição terminou, os rapazes descansaram um pouco e depois apostaram corrida pelo caminho da floresta até as margens gramadas do rio. Despindo as roupas de seda, mergulharam nas águas claras, onde jogaram e lutaram, rindo e espadanando água uns nos outros. Bima, ainda não afetado pelo veneno, participou dos jogos alegremente, com sua energia costumeira. Ele pegava os kauravas e os atirava no rio como se fossem fardos leves e, na água, movia os braços fortíssimos e provocava ondas altas, fazendo com que os príncipes perdessem o pé. No meio da tarde, eles começaram a se cansar. Vestindo-se, caminharam de volta para a mansão para descansar para a noite. Só então Bima começou a sentir os efeitos do veneno. Sua cabeça rodopiava e os olhos lhe pareciam incrivelmente pesados, mas conseguiu sair da água e, deitando-se à beira do rio, entrou em coma profundo. Perto dali, Duriodhana e Dushasana espiavam cuidadosamente. Vestiram-se bem devagar, dizendo aos irmãos que fossem na frente. Quando todos já tinham voltado, pegaram uma corda no carro, amarraram Bima e o empurraram para o rio. Enquanto o príncipe, inconsciente, afundava nas águas, eles se voltaram e correram atrás dos irmãos, elogiando-se mutuamente pela tarefa bem feita. Mas por alguma graça divina, Bima não se afogou. Acontece que ele foi imediatamente levado pelas correntes mais profundas do rio até um local muito abaixo da Terra, onde viviam as serpentes celestiais conhecidas como nagas. Vendo que um humano tinha chegado misteriosamente até lá, muitas nagas começaram a mordê-lo. Seu veneno virulento atuou, então como um antídoto ao veneno dado por Duriodhana. Devagar, Bima voltou a si e olhou a seu redor. Estava deitado às margens de um rio estranho, cercado por enormes serpentes que o observavam com a cabeça levantada e as presas à mostra. Bima arrebentou as cordas que o prendiam e flexionou os músculos, alongando-os. Levantou-se, pegou as cobras com as duas mãos e as esmagou contra o solo. Outras ele atirou longe e outras ele pisoteou. Quando Bima venceu a maioria delas, as restantes fugiram, correndo à presença de seu rei, Vasuki, a quem contaram temerosas: Um humano muito poderoso chegou até aqui. Nós não pudemos vencê-lo. Ele está lá embaixo, perto do rio. Vasuki sabia que um homem comum não poderia chegar àquele lugar, a não ser que fosse um rishi ou um deus disfarçado. O rei naga se transformou num homem, levantou-se do trono de joias e foi até o rio em companhia de outro chefe naga, Arka. Muitos anos antes, Arka tinha vivido na sociedade humana. Ele era um dos ancestrais de Kunti e, por meio de sua visão celestial, reconheceu Bima como seu bisneto. Apresentando-se ao pandava, abraçou-o calorosamente. Vasuki gostou do príncipe e, entendendo que os deuses deveriam tê-lo trazido ali com algum propósito, perguntou a Arka: Que podemos fazer para ajudar este jovem? Arka mirou o jovem em farrapos e sorriu: Acho que este príncipe se beneficiaria muito se bebesse de nossa rasa. Vasuki concordou e disse: Sim, sim, traga-o ao palácio e dê-lhe rasa. A bebida de ambrósia dos nagas era destilada de muitas ervas celestiais, e dava poderes suprafísicos a quem a bebesse. As nagas observaram admiradas enquanto Bima bebia rapidamente oito potes de rasa, um após o outro. Depois da bebida, Bima sentiu que desfalecia de novo. Vasuki o levou a uma cama no palácio e o deitou. Por oito dias ficou ali, profundamente adormecido, enquanto seu corpo digeria o rasa. No nono dia acordou, sentindo um poder ilimitado dentro de si. Arka lhe disse: Você agora tem força de dez mil elefantes. Ninguém o vencerá em batalha. Venha agora, coma alguma coisa. Vou lhe mostrar como voltar a Terra. Sua família está preocupada com sua ausência. Os nagas ofereceram a Bima uma grande variedade de pratos celestiais, vestiram-no com sedas finas e ornamentos de ouro e o levaram de volta à beira do rio. ARka pediu-lhe que fechasse os olhos e entrou na água com ele. Em poucos momentos Bima viu que estava à beira do rio Ganges, perto da mansão. Arka já se fora, e Bima começou a correr para Hastinapura. Na cidade, Kunti se preocupava com Bima. Onde ele estaria? Depois de o procurar exaustivamente, mas sem sucesso, perto do rio, seus irmãos presumiram que ele tinha voltado sozinho. Mas se surpreenderam desagradavelmente ao ver que Bima não estava na cidade, quando regressaram. Kunti suspeitava de alguma maldade. Ela conhecia os sentimentos de Duriodhana em relação a seus filhos. Desabafando com o cunhado Vidura, ela disse: Temo que os príncipes Kauravas tenham dado fim à vida de meu filho. Vidura balançou a cabeça e respondeu: Mas isso não poderá acontecer, ó rainha! O rishi Viasadeva profetizou que seus filhos viveriam muitos anos. E os deuses também predisseram um grande futuro para Bima. Essas palavras não podem deixar de se materializar. Mas, lembrando-se dos péssimos augúrios vistos e ouvidos durante o nascimento de Duriodhana, Vidura advertiu Kunti para que se mantivesse alerta. O príncipe Kaurava poderá tentar qualquer coisa, até mesmo contra você. Durante os oito dias da ausência de Bima, Kunti e seus outros filhos esperaram ansiosamente por ele. Então, logo depois do nascer do sol do nono dia, o avistaram correndo pela estrada na direção do palácio, sedas brancas voando à sua volta. Bima foi direto ver a mãe e tocou-lhe os pés. Seus irmãos o abraçaram com lágrimas nos olhos, perguntando-lhe por onde tinha andado. Bima contou o que tinha acontecido. Quando vira as cordas que o amarravam, suspeitara, imediatamente, de Duriodhana, e seus temores foram confirmados por Vasuki, que tudo podia ver com sua vidão divina. Também relatou à família a visita que fizera ao mundo celestial das nagas e todos agradeceram ao Senhor Krishna por sua volta. Pela graça do Senhor, Bima tivera sorte, apesar dos esforços de Duriodhana para liquidá-lo. Iudistira ficou chocado ao saber da truculência de Duriodhana. Ele considerou a situação cautelosamente e a discutiu com a mãe e os irmãos. Concluiu, então, que seria melhor silenciar. Se os anciãos kurus fossem informados sobre o ocorrido, uma hostilidade declarada se colocaria entre os primos. E, com Pandu morto, a posição dos pandavas como seus filhos era frágil, porque agora Dritarastra era o rei e seus filhos é que seriam seus herdeiros. Provavelmente, ele não iria contra sua prole para beneficiar os sobrinhos. Vidura era a única pessoa na qual eles confiavam, e kunti se confidenciava com ele. Ele corroborou a decisão de Iudistira. Assim, os irmãos não disseram nada a ninguém sobre o acidente, mas daquele dia em diante ficaram vigilantes, sempre esperando alguma outra traição de Duriodhana. O comportamento correto e quase divino dos pandavas conquistou Bishma e Vidura, de quem eles eram os favoritos. Bishma gostava especialmente dos cinco, protegendo-os como se fosse pai deles. Os irmãos também eram amados pelo professor de artes marciais, Kripa, o filho virtuoso de um rishi chamado Sharadvan, que tinha passado ao filho todas as habilidades de luta. Os kurus estavam satisfeitos com os ensinamentos de kripa, pois seus filhos se iniciavam em todos os tipos de arma. Mas Bishma compreendeu que, para que a educação deles recebesse um toque final de refinamento, precisariam de outro professor. Havia centenas de alunos na escola de kripa – os reis de muitos países enviavam seus filhos para aproveitar as habilidades do talentosos brâmane. Assim, era difícil para ele passar algum tempo ensinando individualmente aos príncipes os pontos mais delicados da ciência das armas. Então, Bishma começou a pensar onde poderia encontrar alguém como kripa e que se concentrasse apenas em ensinar aos seus meninos e a aperfeiçoar suas habilidades marciais. Ele já estava procurando por alguém havia um tempo, mas sem sucesso. Um dia, alguns dos garotos correram até ele. Ajoelhando-se aos pés do avô, eles contaram, entusiasmados: Ó, vovô, encontramos um brâmane estranho fora da cidade, e ele nos mandou vir até o senhor, dizendo que o senhor o conheceria. Contaram que estavam jogando bola no bosque e que esta caíra num poço fundo e vazio. Eles estavam ao redor do poço, imaginando como tirar a bola de lá, quando um brâmane de pele bem escura se aproximara sorrindo e lhes dissera: Vejam só estes príncipes kurus confusos com a perda da bola! Onde está o poder nas armas de vocês? Os garotos coraram com a pergunta e, então, o brâmane disse que poderia recuperar a bola para eles em troca de uma refeição. Pegando um anel do próprio dedo, ele o jogou no poço e disse: Vou lhes mostrar como tirar daí até o meu anel. Iudistira lhe respondera:  Estimado senhor, se puder recuperar a bola e o anel, tenho certeza de que vai encontrar um trabalho permanente em Hastinapura. Com um sorriso, o brâmane pegou um punhado de folhas longas de grama. Cantou alguns mantras e atirou uma folha de grama dentro do poço, furando a bola. As outras folhas foram atiradas em seguida, sucessivamente, e se prendiam às anteriores até formarem uma longa cadeia, que o brâmane puxou do poço com a bola na ponta. Depois, ele pegou uma flecha dentro do poço. E a flecha voltou, trazendo o anel preso na ponta! Os príncipes se acotovelavam ao redor do brâmane, suplicando que este lhes ensinasse aquelas técnicas. Ele lhes disse que fossem até Bishma e relatassem o que tinham visto. O chefe kuru saberia quem ele era e, se Bishma concordasse, ele se estabeleceria em Hastinapura. Ao ouvir aquela história, os olhos de Bishma brilharam, pois ele sabia que aquele brâmane era, certamente, Drona, um discípulo de seu próprio guru de artes marciais, Parasurama. A fama de Drona tinha se espalhado por todos os cantos da Terra. Ele era filho do rishi Baradvaja, que praticara o ascetismo por milhares de anos. Que melhor instrutor haveria para os príncipes? Bishma foi pessoalmente vê-lo e imediatamente lhe ofereceu o posto de professor real. Drona aceitou. Bishma pediu a Drona que contasse, a ele e aos príncipes, tudo sobre si. Embora fosse um brâmane, Drona sempre gostara das artes militares. Ele explicou como tinha aprendido todos os segredos das armas com Agnivesha, um brâmane poderoso que vivia no ashram de seu pai. E que mais tarde recebera treinamento de Parasurama, que era considerado uma encarnação (Krishna) do Senhor Supremo. Entretanto, apesar de todo o meu aprendizado, ainda me sinto muito limitado pela pobreza e mal tenho meios de sustentar minha família, disse Drona. Assim, vim a esta cidade em busca de alunos que caridosamente paguem por minhas lições. Bishma sorriu. Pois sua busca terminou, ó brâmane. Nós lhe daremos tudo de que precisa. Os kurus estão às suas ordens. Toda a nossa riqueza também é sua. Ensine aos nossos filhos suas habilidades incomparáveis. Foi sorte nossa que você para cá viesse. Drona, então, fixou a residência em Hastinapura, trazendo a esposa e o filho para a cidade. Abriu uma escola, aceitando tanto dos kauravas quanto os pandavas como alunos. Os reis de muitos países vizinhos também mandaram seus filhos para treinar com ele, enviando ricos presentes com os rapazes. Sob a tutela de Drona, as habilidades marciais dos príncipes se desenvolveram bastante. Ele os fazia praticar desde o nascer até o pôr do sol. Dentre todos os rapazes, o que mais sobressaia era Arjuna. Ele rapidamente aprendeu a usar todas as armas, tornando-se particularmente excelente em arco e flecha. Suas habilidades, velocidade e perseverança eram incomparáveis. Percebendo a atitude humilde e respeitosa do pandava, Drona sentia uma afeição crescente por Arjuna, e lhe ensinou cuidadosamente tudo o que conhecia. Ninguém poderá se igualar a você em batalha, dissera-lhe certa vez. Ainda mais determinado nos estudos das artes marciais, Arjuna ficava treinando sozinho depois que os outros príncipes saíam da escola. Até tarde da noite ele ainda vestia o arco e atirava flechas em alvos invisíveis. De olhos fechados, podia levantar e armar seu arco, colocar uma flecha e atirá-la num alvo, tudo em questão de poucos segundos! Bima e Duriodhana, rivais mortais, se desenvolveram incomparavelmente na mesma arma: a maça. Passavam longas horas praticando lutas com maça, um tentando superar o outro. Dentre os príncipes, Indistira era o mais talentoso no uso da lança, enquanto os gêmeos se especializaram na espada. Livro Mahabharata – Recontado por Krishna Dharma. Versão condensada da maior epopeia do mundo. Abraço. Davi.

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