sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Visão Teosófica do Pós Morte. Parte II.



Redemoinho. Se, o que é muito raro, o quinto princípio das pessoas abandonadas pelos princípios superiores, devido a insensatez de suas vidas inteiramente materialistas, resvala para o “poço sem fundo”, a luta é perdida pela dualidade superior, com o sexto e o sétimo princípios nada absorvendo do quinto, e este, ao contrário, assimilando o que já havia de lembranças pessoais e percepções individuais no sexto princípio, a entidade inferior resultante, quando Manas Superior se junta ao cascão, não permanecerá no kama-Loka e não terá tempo de visitar médiuns, porque afundará quase imediatamente na oitava esfera ou, como de outra forma afirma o Mestre, será rapidamente atraída e aprisionada pelo "grande redemoinho"de Egos humanos. (O que é esse redemoinho ou por que o cascão incrementado com o acúmulo de experiências pessoais positivas do sexto princípio tem que ser destruído rapidamente, e não se desintegrar paulatinamente como os demais, não é explicado, e o próprio Mestre afirma não ter permissão para responder sobre a natureza da vida no planeta da morte, ou oitava esfera). Nesse caso, a pura Mônada individual e espiritual formada pelos sexto e sétimo princípios, por outro lado, não transitará pelo Devachan, indo repousar inconsciente no espaço ilimitado, pois a menos que haja assimilado alguns dos mais puros e abstratos atributos mentais do quinto princípio e da memória, a Mônada individual não poderá ter existência consciente no Devachan. (Daí porque as crianças mortas antes do aperfeiçoamento de sua entidade septenária e os deficientes mentais congênitos não chegam ao Devachan, visto que não têm experiências a serem desfrutadas ali, devendo, voltar a encarnar-se rapidamente e com o mesmo princípio vital e o mesmo Manas, sendo, portanto, uma reencarnação da personalidade). Contudo, chegará de novo um período de "plena consciência individual", quando àquela pura Mônada individual juntar-se-ão outra vez os atributos mais elevados do quinto princípio, voltando ela a encarnar-se num próximo planeta. E, assim, entrando de novo no mundo das causas e sendo alcançada pelo carma ao tomar nova personalidade, virá a esquecer-se completamente da série de nascimentos anteriores, que foram como uma página arrancada do grande livro da vida. Da leitura da página cem do livro citado de H. P.Blavatsky (1831-1891), é possível depreender-se a existência de uma situação diferenciada, relativamente à descrita acima, em que, se o Ego reencarnante apenas não absorve nada do Ego Pessoal trazido da última vida, então este é abandonado, vindo a dissolver-se gradualmente, enquanto o ego individual apenas perde um estado devacânico depois dessa vida especial, reencarnando-se outra vez após curto período de tempo passado como um espírito planetário. Tempo de Vida no Post-mortem. Blavatsky afirma que, em geral, "o período entre dois renascimentos estende-se de 1000 a 1500 anos, durante os quais a consciência física está total e absolutamente inativa pela falta de órgãos pelos quais atuar". O Mestre, contudo, dá nos uma melhor ideia do tempo vivido no pós-morte, esclarecendo que o bardo é o período entre a morte e a reencarnação, e que este teria três sub períodos. O primeiro vigeria desde a entrada no kama-Loka até o estado de gestação, podendo durar de alguns minutos a vários anos. Antes de entrar na fase de gestação, o falecido deverá permanecer no kama-Loka até completar o tempo que deveria ter sido o de sua vida natural, que poderá ser desde algumas horas até alguns poucos anos, para os que tenham tido morte natural e, provavelmente, um período mais longo para os que tiveram morte provocada (suicidas e vítimas de violência). Nesse sentido, julgo que todos nós, de alguma forma, antecipamos também ou temos antecipada nossa ida para o outro lado, seja por motivo de doença ou em consequência da vida moderna. As condições atuais de vida, com seu alto nível de estresse e poluição, agravado ainda pelos maus hábitos e vícios tão comuns na humanidade atual, são muito desgastantes e rompem comumente o equilíbrio natural do corpo, reduzindo o tempo de vida das pessoas e, portanto, alongando a passagem no kama-Loka. O segundo sub período do bardo, o estado de gestação, poderia ter uma duração muito longa e seria "proporcional à força espiritual do Ego". (Essa colocação do Mestre parece sugerir que as experiências de todas as vidas anteriores trazidas pelo Ego, e não só as da última personalidade, reforçariam a sua vivência no estágio de gestação, ao tempo em que seriam condicionantes para o próximo renascimento no mundo material, ou das causas). O terceiro sub período tem início quando o Ego renasce no Rupa-Loka do Devachan. Lemos no Glossário Teosófico, Editora Ground, que o Devachan comporta sete subdivisões, sendo as quatro primeiras, denominadas Rupa-Devachan, pertencentes ao mundo da forma (correspondentes ao Rupa-Loka de que fala Koot.Homi.) e provavelmente situadas no plano mental da Terra, onde cada pensamento apresenta-se como uma forma]. O tempo que se passa no Devachan é geralmente longo, mas muito variável, devendo-se observar que, no nosso próprio mundo, o desenvolvimento e a absorção plena dos efeitos toma muitíssimo mais tempo do que o ocupado na produção das causas. O período devachânico será tanto maior quanto melhor forem aproveitados os estímulos provindos da alma durante a vida na Terra, ou seja, da quantidade de carma bom que se tenha acumulado. Por outro lado, quanto mais forte foi a atração pelas coisas terrenas, mais rapidamente o Ego deixará o Devachan para reencarnar-se. As pessoas mais altruístas, puras e benévolas têm como recompensa passar mais rapidamente pelo kama-Loka e Rupa-Loka, atingindo esferas mais elevadas do Devachan, ocupando-se, então, com ideias abstratas e consideração dos princípios gerais da natureza e das coisas, desprendendo-se dos vínculos egoísticos da personalidade. Recuperação da Memória, (Final de Ciclo). A memória voltará ao ego lenta e gradativamente durante a gestação e completamente no final desse período, no momento de entrada no Devachan. O ingresso nesse estado também é gradual e dá-se em etapas imperceptíveis. Primeiro o ego revive todas as experiências da personalidade na última vida, só que o ego se apega apenas às cenas e aos atores que lhe interessam. Os acontecimentos que experimentou por intermédio das faculdades espirituais, sejam de amor ou ódio, tornam-se permanentes (por isso somente o amor e ódio são eternos), enquanto as demais recordações desaparecem para sempre ou retornam ao cascão, que é a sombra da personalidade que os criou. No entanto, o ego recorda-se apenas da essência de sua vida física, a experiência física que viveu é apenas virtual, pois não pode ter consciência física propriamente dita, em face da falta de órgãos físicos pelos quais atuar. A consciência do eu pessoal da última encarnação, preservada no ego espiritual, persiste como uma recordação distinta e separada apenas durante o Devachan. Findo esse período, essa memória junta-se ao acervo das demais experiências acumuladas de outras inumeráveis encarnações do ego. Ao final de cada uma das primeiras seis rondas (ciclos menores), o ego recuperará a lembrança de todas as impressões que se impuseram nos respectivos períodos de Devachan. Todas vidas vividas nesses períodos são probatórias, com grandes indulgências e novas oportunidades a cada novo nascimento. Mas os egos que retiveram a memória no kama-Loka, que não produziram coisa alguma de boa com seu quinto princípio serão aniquilados, não desfrutarão dessa memória completa, afundarão na oitava esfera. A lembrança de todas as vidas do ego dar-se-á no final da sétima ronda, que completa um ciclo maior, no limiar do longo nirvana (estado de reabsorção, mas não de extinção ou aniquilamento do ego, na força universal, a eterna felicidade e descanso enquanto aguarda outro Manvantra, que é um longo período de manifestação, uma época de atividade criativa) que nos espera depois de deixarmos o último globo da cadeia planetária em que vivemos. Como acentua Blavatsky, uma entidade é imortal apenas na sua essência última, não na sua forma individual. Quando ela atinge o ponto mais alto de seu ciclo é absorvida em sua natureza primordial: torna-se espírito e perde o nome de entidade. Assim, sua imortalidade, como forma, é limitada ao seu ciclo de vida. Ao final da sétima ronda não haverá benevolência, tudo o que foi desprezado no Devachan retorna outra vez diante da visão do ego, e o conjunto das vidas do ego será só pesado: de um lado da balança estarão os méritos e de outro os deméritos. Cada Ego deverá sorver a taça das ações que praticou depois ser pesado na balança da justiça compensatória. Segue-se um período indefinido cuja duração depende do estágio evolutivo de cada um. Nesse período, até que aconteça o Pralaya (período de não manifestação e repouso), o ego transforma-se virtualmente em um deus, um ser onisciente, candidato a ser algum dia, após um período incomensurável, um Dhyan Chohan ou, se foi mau, entrará no nirvana de Avitchi e num Manvantra (um período incrivelmente longo de bilhões de anos) de sofrimento e horror como um feiticeiro. Os feiticeiros, assim como os adeptos, têm imortalidade Paneônica, isto é, mantêm clara consciência do Eu em qualquer estágio ou forma em que se encontre, do início ao fim do Manvantra. Quando estão mortos, por exemplo, têm perfeito conhecimento de que deixaram o corpo físico. No Nirvana o eu superior (Atma-Buddhi), unindo-se à Mente-Alma Universal, torna-se efetivamente onisciente, realizando aquilo que era apenas virtual no Devachan. H. P. Blavatsky (1831-1891) diz-nos que mesmo encarnado o Ego pode em situações especiais, quando mudanças fisiológicas do corpo permitem, libertar-se da matéria tornando-se nesses instantes quase onisciente outra vez. Contato com os Vivos. Blavatsky esclarece que, após a morte, o espírito fica aturdido e confuso e muito em breve entra no estado de inconsciência que precede o Devachan. Ainda assim, nesse rápido intervalo antes da inconsciência, esse ser atordoado poderia comunicar-se com uma pessoa viva, mas dificilmente essa comunicação seria proveitosa para o vivo. No entanto, ela admite a existência de raros casos em que a intensidade do desejo de retorno, com um objetivo muito especial, é tão grande que força a consciência do comunicante a permanecer desperta, sendo, portando, a individualidade que realmente se comunica. Ela cita ainda o caso dos Nirmarnakayas. Esses são seres que desprezaram o desejo pelas ilusões do mundo e renunciaram ao cíclico estado nirvânico a que faziam jus, por compaixão à humanidade e por amor àqueles que deixaram na Terra. Aqui permanecem invisíveis em espírito, em vida astral, com todos os seus princípios, podendo comunicar-se, como o fazem com alguns eleitos (que não seriam os médiuns comuns, como ressalta aquela autora), aconselhando e inspirando mortais para o bem geral. O Mayavi-Rupa (que, como já vimos, é um corpo não natural formado por elementos mentais e astrais) de uma pessoa morta no kama-Loka pode também amiúde aparecer como um fantasma no mundo objetivo, sem que, contudo, isso represente a expressão da vontade daquele que o projeta ou da atração do desejo daquele que o vê, sendo apenas um ato involuntário e maquinal do falecido. Não se exclui, no entanto, a possibilidade de isso vir a acontecer como consequência de um conhecimento que existia potencialmente na pessoa. Para o ego em repouso no Devachan seria, entretanto, impossível qualquer comunicação com os encarnados, pois tal contato traria certamente alguma angústia e amargura, rompendo a condição de ausência de dor ou sofrimento que prevalece nesse estado de suspensão temporária do carma. Se o ego depois que sai do kama-Loka e entra no Devachan não pode se comunicar com médiuns, o mesmo não aconteceria com o cascão, pois ele, como já vimos, portador apenas dos apetites inferiores da personalidade, está acessível ao médium comum, sendo usualmente o seu guia. Os erradios cascões (é o cadáver astral em seu último estágio de desintegração; uma partícula mental que vai deixando de existir; vivendo passivamente entre as correntes astrais. Pode reproduzir sua caligrafia e expressões familiares. Tem a qualidade de ser cegamente responsivo as vibrações dos mundos inferiores. O cascão vitalizado e fisicamente morto  não é um a entidade humana; sendo destituído de sentidos também é completamente passivo. O elemental artificial o anima sendo sempre malevolente; é usado na magia negra com forma de Obead e Vudu) são frequentemente nocivos, produzindo maldades, violência e brutalidade física e psicológica. Porém, devido aos médiuns podem se converter temporariamente em maus. Todavia, um sensitivo mais puro pode ascender ao Devachan e imaginar que seus entes queridos que lá estão é que baixaram à Terra, e não que ele subiu ao Devachan. Ao penetrar naquele estado consciencial, o sensitivo funde-se na aura do espírito que lá se encontra e converte-se naquela personalidade desaparecida, escrevendo com sua letra e na sua linguagem (psicografia). Há, então, uma identidade de vibração molecular entre as partes astrais do médium e do desencarnado, e a mensagem transmitida será tanto mais autêntica e mais apurada no seu conteúdo moral quanto mais desenvolvido for o médium, isto é, quanto menos de si próprio ele colocar na mensagem. Percebe-se, assim, que há objetividade consciencial no Devachan, ainda que limitada, pois o Ego, embora concentrado apenas nas experiências mais positivas que trouxe da encarnação anterior, consegue concatenar perfeitamente o seu pensamento; e lá onde está, cada pensamento torna-se uma coisa concreta. Por isso, a comparação do Devachan com um sonho terreno é apenas uma figura de linguagem. Se a vida lá não é objetiva, certamente aqui na Terra também não o é, pois, no nosso plano, o nível de consciência ordinário é extremamente limitado, circunscrito ao que se percebe através dos sentidos físicos, sendo nossa vida repleta de ilusões, e nem sequer sabemos quem somos. Os egos de suicidas e vítimas de acidente, inclusive os assassinados, também podem se comunicar com os vivos, é o que veremos a seguir. Suicidas e Acidentados. Desde o momento em que se suicidaram até o dia em que teriam a morte natural, os suicidas não estão completamente separados dos seus princípios superiores (6º e 7º). Porém, funcionam, de fato, apenas com o quarto e o quinto princípios, enquanto os dois superiores permanecem passivos, porque, devido ao ato tresloucado que cometeram, forma-se uma barreira insuperável entre os dois grupos de princípios. Eles persistem vivendo conscientemente no kama-Loka, estando agora mais sujeitos aos impulsos dos desejos terrenos e sem possibilidade de satisfazê-los diretamente, posto que já não mais possuem o instrumental proporcionado pelo corpo físico. O suicida, assim entendido como o homem real que apenas foi despojado de seus três princípios inferiores, e não o cascão, pode se comunicar conosco através de médiuns. Os seres sofredores que persistem nesse convívio são exceção à regra, pois permanecem dentro da esfera de atração da Terra, no kama-Loka, até completar o tempo que deveria ter sido o de sua vida natural. Não se deve considerar, entretanto, suicida alguém que por uma ação inconseqüente antecipa sua morte quando não tinha essa intenção (um toxicômano, por exemplo, vítima de overdose): nesse caso o motivo é o que interessa. Essa pessoa, como os que tiveram morte natural, não será vítima das tentações do kama-loka nem dos médiuns e cairá no sono tão logo nele penetre. A qualidade do sonho dependerá das circunstâncias criadas antes da morte, e bem pode não ser agradável. Em vez de procurar se redimir da loucura que cometeu, aceitando seu castigo, o suicida busca ilicitamente, através de um substituto vivente, satisfazer os desejos que ainda o mantém preso à Terra. Por causa dessa prática, ao término do tempo natural que teria durado sua vida, costuma perder sua Mônada para sempre, ou melhor, perder a possibilidade de entrar no devachan, desperdiçando suas experiências pessoais no atual ciclo de vida. É comum ocorrer isso com o suicida, embora muitos resistam bravamente, e nem todos sejam necessariamente atraídos pela ânsia perturbadora dos médiuns. Penso, nesse sentido, que a motivação do suicida muitas vezes não é tanto o apego às coisas terrenas, mas, muito mais, a incapacidade de suportar uma dor física ou moral muito intensa. O Mestre adverte que seria errado e cruel reavivar-lhe a memória ao oferecer-lhe a oportunidade de desfrutar uma vida material indireta por intermédio de médiuns e sensitivos, pois isso intensificaria seu sofrimento, e ele pagaria caro por tais prazeres, sobrecarregando seu carma. A questão das vítimas de acidentes (ou de assassinato) é uma das mais controversas nesse estudo, embora os mal entendidos fossem suficientemente elucidados pelo Mestre. Assim, é que, na Carta nº 76, o Mestre  Koot Homi comenta a carta 68, que havia sido publicada sem revisão, e afirma que o material nela contido sobre a possibilidade das vítimas de acidentes terem uma situação pior que a dos suicidas não está incorreto, mas trata-se apenas de uma exceção. Essa posição está ainda reforçada na Carta nº 71, em que fala sobre a afirmação do Sr. Sinnett de que “as vítimas de acidentes às vezes, embora raramente, e as vítimas de suicídio podem se comunicar conosco através de médiuns”. Naquela missiva o Mestre pontifica que isso só ocorre em casos excepcionais quanto aos acidentados, mas que os suicidas podem e fazem isso com frequência. Em resumo, nos acidentados, ao contrário do que ocorre com os suicidas, os princípios remanescentes (do 4º ao 7º) atraem-se reciprocamente, sem quaisquer barreiras. Quando o ego é bom e puro, os princípios superiores puxam fortemente os inferiores em sua direção, a da espiritualidade, e o ego espera o momento de ir para o período de gestação dormindo placidamente, tendo sono sem sonhos ou, sonhos felizes e cheios de visões venturosas da vida na Terra, porém nada comparáveis ao sonho devachânico, e sem a consciência de que deixou para trás a vida terrena. Isso ocorre porque o ego pessoal do acidentado não é responsável por sua morte, embora deva estar sofrendo a ação da lei do carma. Se tivesse vivido mais, poderia ter compensado alguns erros anteriores. Mas, porque pagou débito anterior (de reencarnação passada), está livre da justiça compensatória. Os acidentados são protegidos pelos Dyan-Chohans até que estejam amadurecidos e preparados para o kama-Loka. Eles, em geral, sejam bons ou maus, dormem e só acordam no momento de separação dos princípios (hora do julgamento final), no limiar do estado de gestação. Se, nesse caso e à semelhança do que ocorre com os que tiveram morte natural, a carga de experiências positivas a ser aportada pelo quinto princípio for insuficiente para permitir o desfrute no devachan, o ego tomará imediatamente um novo corpo material, neste ou noutro planeta. Assim, pode-se estabelecer como regra geral que, exceto os suicidas e os cascões, não há possibilidade de um Ego freqüentar um centro espírita. Carma, Trishna e Skandhas Subjacentes aos fatos do pós-morte, existem leis e princípios naturais que permitem sua compreensão. Assim, o Mestre pontifica alguns conceitos que considera fundamentais para o entendimento dos mistérios da roda da vida. Esclarece inicialmente, adotando uma terminologia budista, que carma é a doutrina segundo a qual todo ser senciente, após a morte, nasce outra vez, no mesmo planeta ou não, debaixo das condições por ele mesmo criadas. Todos os atos e pensamentos são causas cujos reflexos, ou efeitos, serão sentidos tanto no mundo positivo como no espiritual. As energias materiais agem essencialmente no plano físico e, portanto, repercutem na personalidade atual ou nas que futuramente serão assumidas pela individualidade. Pela operação da lei de ação e reação, o ego, após deixar o Devachan para reencarnar-se, defronta-se, como diz Blavatsky, com o carma e seu exército de Skandhas (esses são os atributos que formam a personalidade e dão a sensação de um ‘eu’ separado), e recebe punição por cada falta que cometeu na vida anterior na matéria, e não há nisso qualquer injustiça, pois, com a punição da personalidade, quem sofre, de fato, é a individualidade, que é a entidade que verdadeiramente deu causa à punição. Vale lembrar que a personalidade atual não se lembra da que a precedeu, mas o ego reencarnante tem pleno conhecimento de suas boas e más ações e comunica-se com a consciência inferior de diversas formas, tais como a intuição, premonição, reminiscências e daquilo que chamamos voz da consciência. Dessa forma, cada personalidade nova assumida pelo ego reencarnante é um produto, ou conseqüência, cármica da anterior. Se a inclinação da personalidade é para coisas materiais e prazeres da vida mundana, a personalidade adotada pelo ego na próxima encarnação deverá ter as mesmas propensões. É enfatizado, nesse sentido, que bem-estar e satisfação são antes causa de um novo e sobrecarregado carma do que efeito de um carma favorável, e que pobreza e condição humilde na vida são, em geral, causa menor de sofrimento do que riqueza e nascimento privilegiado. Já ações morais, pertencentes ao espírito, desdobram-se no mundo subjetivo, refletindo-se essencialmente no devachan, que será tanto mais proveitoso e prazeroso quanto mais refinada foi a personalidade. O sonho devachânico, nesse caso, seria tão vívido que nenhuma realidade cotidiana poderia se igualar. Portanto, todo ego está sujeito a um impulso cármico que o leva a se encarnar numa família que tenha qualidades e tendências semelhantes às que ele mesmo apresenta, numa espécie de hereditariedade espiritual, e essa atração, que nada mais é que uma confirmação da lei da afinidade (semelhante atrai semelhante), regerá e orientará sua futura existência. Uma vez esgotados os impulsos cármicos que se desdobram no devachan, o indivíduo sente necessidade de entrar outra vez no mundo das causas, que pode ser aquele de onde ele veio ou mesmo outro, de acordo com o estágio de desenvolvimento que já tenha alcançado. Se, por um lado, o carma é a lei que orienta o sentido da vida e permite saber a direção a que os fatos conduzirão, por outro, Trishna é a ânsia, o impulso incontido e primitivo, pela vida sensível, e a causa da reencarnação. Um forte anelo por vida física pode levar o indivíduo a inúmeras reencarnações sem que, contudo, desenvolva necessariamente suas potencialidades superiores. Essa sede de viver, condicionada pelos Skandhas adquiridos já de outras vidas e transformados nesta, conduz a um novo nascimento, e as ações resultantes dessa nova vida produzem novos Skandhas e condicionam o próximo nascimento num movimento perpétuo. Depreende-se daí a justeza do carma, pois, da mesma forma como um homem de 40 anos deve colher os frutos das suas ações realizadas aos 20 anos, também é perfeitamente legítimo que o ego trans vestido de uma nova personalidade seja alcançado pelas ações geradas por sua personalidade anterior. Não só os homens, mas todas as criaturas vivas, são constituídos, objetiva ou subjetivamente, por Skandhas, que são exotericamente cinco (ou sete esotericamente): Rupa (forma ou atributos materiais), Vedana (percepção, sensações), Sanna (consciência, ideias abstratas), Sanskara (tendências para a ação, tanto físicas quanto mentais) e Vinnana (conhecimento, poderes e predisposições mentais). Eles estão em constante transformação e são os rudimentos e causas da vida nos sete planos da existência, formando, após a morte, a base para o reingresso na matéria, pois são as sementes abandonadas pelo ego quando entra no Devachan e outra vez recolhidas pela nova personalidade e por ela esgotadas. Os Skandhas espirituais deixam marcas indeléveis no Ego permanente, pois algumas qualidades da personalidade, tais como amor, altruísmo, caridade etc., fixam-se para sempre naquele ego como atributos divinos ofertados pelo indivíduo transitório. De outra parte, os Skandhas materiais, os que dizem respeito ao eu pessoal, ainda que sejam passageiros e não impressionem o cérebro da nova personalidade, são os que geram efeitos cármicos mais evidentes. Após o Devachan, eles agregam-se à nova personalidade na encarnação seguinte, sob a forma de resultados cármicos a serem remidos e ainda como efeitos cármicos positivos, proporcionando um corpo adequado ao ego reencarnante. Blavatsky afirma que, embora o Ego Pessoal não detenha a memória das vidas passadas, ele pode, quando colocado em estado sonambúlico ou hipnótico, estabelecer comunicação com o ego espiritual, que acumula essas lembranças, habilitando a pessoa a realizar coisas que não aprendeu na atual existência. Modernamente, fenômeno semelhante a esse tem sido bem estudado no Ocidente sob a denominação de regressão a vidas passadas. Males Produzidos por Médiuns. O Ego no Devachan está imbuído dos mais nobres sentimentos possuídos pela personalidade falecida, e sua bem aventurança consiste exatamente no esquecimento das desgraças que deixou para trás. Ao contrário desse ensinamento, a doutrina espírita assegura que os espíritos enxergariam mais longe que os encarnados e que, portanto, estariam ainda mais conscientes das mazelas terrenas. Blavatsky argumenta que essa consciência traria terrível consequência ao desencarnado, que continuaria carregando todos os sofrimentos da vida na Terra, com o agravante de não poder interferir nos acontecimentos desastrosos que aqui acontecem e a que é obrigado a assistir impassível. Isso seria uma verdadeira maldição. A morte não traria nenhum conforto. Por acreditar nessa doutrina e por julgar geralmente que está fazendo o bem, o médium auxilia no despertar de Trishna e na realização, ou Upadana, dos desejos subjacentes nas formas astrais, quer de um suicida ou de uma vítima de violência, transformando-as assim em elementares. Por isso, eles podem ter de passar no kama-Loka muitos anos sob a forma de elementares, não um cascão propriamente dito, mas um vagabundo terrestre, pois seus Trishnas os atraiu aos médiuns, que facilmente realizam seus desejos, e eles desenvolvem novo conjunto de Skandhas, novo corpo com tendências e paixões piores que as do corpo anterior. Agora o carma deles será acrescido das ações que venham a praticar sob a nova influência, comprometendo sua reencarnação. Se os médiuns soubessem os males que podem provocar nesses seres a cada sessão espírita, mormente com materializações, seriam menos generosos em prodigalizar sua hospitalidade. Por isso o Mestre opõe-se tão veementemente ao tipo de espiritismo que incentiva a mediunidade e as manifestações físicas indiscriminadas, especialmente materializações e incorporações. Conclusão. A morte é apenas um ponto de parada para reabastecimento e descanso na infindável jornada da vida. É um breve momento de transição entre dois estados de consciência, o material e o espiritual. Ela está entre as mais importantes leis do Universo, na medida em que proporciona condições para a marcha da evolução, separando o eterno do perecível. O transitório é o material daquelas experiências que não deram certo e que deve desaparecer durante a longa luta da Natureza em busca da perfeição. O permanente é a perfeição alcançada. Para nascer é preciso morrer. Assim, a morte é antes uma extraordinária oportunidade de renovação, pois ao renascer o ego esquece completamente todos os erros e descaminhos da velha personalidade que já não suportava mais carregar, surgindo outra vez como uma criancinha inocente e pura, a ser prontamente amparada e amada por aqueles que a cercarem. Morte e reencarnação significam, portanto, as oportunidades para o progresso sem limite da alma divina, num permanente processo evolutivo que vai do material para o espiritual. Ao final de cada ciclo o homem renova-se em conhecimento e poder, e a sua sagrada missão é conquistar a imortalidade por intermédio da união de sua alma com o princípio divino que a sustém, elevando-se em direção da Unidade Absoluta. Seu destino é glorioso e cada um é o seu próprio salvador no mundo onde está e na encarnação em que se encontra. Assim, o homem de bem que conhece os segredos do além não teme a morte e pode exclamar como o apóstolo: "Onde está o morte a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (I Cor 15:55). Minha opinião. É natural que pouco entendamos desse assunto, pois seu nível de abstração é altíssimo, assim as dificuldade para uma compreensão plausível são enormes. Também junto com vocês leitores estou dando os primeiros passos na filosofia esotérica; mas esclarecedor e importante é sabermos esses assuntos, mesmo não conseguindo entrar em sua profundidade. Como observação destaco nessa parte final o assunto comentado sobre a morte dos que se suicidam e os acidentados. Li A Carta dos Mahatmas sobre esses dois tópicos e confesso que pouco depreendi; são itens que precisam de uma lógica consistente para inferirmos os princípios neles abordados. No curso de introdução a Teosofia que estou fazendo, houve uma aula onde se aludiu esse tema, mas a nível superficial (exatamente pelo alto gabarito exigido para um entendimento razoável); e achei sábia a atitude do expositor, pois citou esse tema no campo da especulação sem uma exigência de está passando uma verdade. Então reconheci que ainda não se chegou a um consenso entre os estudiosos mais avançados (adeptos ou membros de Sociedades Esotéricas), e continuamos no campo da investigação e pesquisa sobre ele, mesmo tendo a autoridade da Senhora Blavatsky como mentora desse ensino Oculto dado pelo Mestre Koot Hoomi. Evidentemente o mistério revelado aos iniciados, em muitos aspectos é tão velado que não conseguimos adentrar em seus portais secretos. De fundamental podemos deduzir que, após a morte iniciamos um novo ciclo evolutivo, agora não mais num estado físico carnal, mas num corpo mental emocional.  Site: teosofialiberdade.org.br. Abraço. Davi.

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