quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Visão Teosófica do Pos Morte. Parte I.



Este ensaio é uma tentativa de resumir e reorganizar as respostas do Mestre Koot Hoomi (K.H.) ao Sr. Alfred Percy Sinnet (1840-1921) nas cartas 68, 70 A, B e C, 71, 85 A, 93 A e B, 104, 119 e Apêndice I do livro Carta dos Mahatmas Para A. P. Sinnet, Ed. Teosófica 2001 (essas cartas foram escritas entre 1880 e 1882), a respeito de indagações sobre a vida após a morte, buscando especialmente esclarecer, dentro do meu limitado entendimento, o grande número de conceitos desenvolvidos no texto, sem perda de conteúdo. Por julgar que a fonte é a mesma, algumas informações importantes e complementares foram tiradas do livro A Chave Para a Teosofia (Ed. Teosófica) de Helena P. Blavatsky (1831-1891), a qual sempre faremos referência quando quisermos destacar algumas dessas ideias. O Mestre apresentou justificativas por imprecisões que transparecem em algumas cartas, queixando-se da falta de tempo que pode dedicar a elas, além do que, dizia, estava acostumado a ensinar Chelas (discípulos aceitos) que sabiam se situar além da necessidade de explicações minudentes durante as lições e que, muitas vezes, estava inclinado a julgar que o trabalho que fazia com Sinnett era o mesmo que faria com um desses Chelas, que tinham muito mais discernimento e conhecimento. Advirto, ademais, que as omissões e dúvidas não sanadas são antes produto da minha limitada capacidade de compreensão, embora sejam também da disposição declarada do Mestre de velar alguns conhecimentos aos não iniciados. As questões abordadas neste artigo, impossíveis de serem expostas apenas por palavras, devem ser vistas, como propugna (defende) K.H., não apenas com a mente concreta, mas principalmente com as faculdades superiores, com a visão e o ouvido do Eu Espiritual. Conceito Básico. Blavatsky afirma que o Universo apresenta sete modos de ser relacionados a sete estados de consciência, e que, semelhantemente, o homem revela sete estados e princípios. Diz ela que o “homem é uma correlação de poderes espirituais, assim como de forças químicas e físicas, colocadas em funcionamento pelo que chamamos princípios”, e que, de pronto, percebe-se que o ser humano tem duas naturezas bem distintas: a espiritual, ou superior, e a física, ou inferior. Pela primeira, ele é capaz de pensar, e, pela segunda, de registrar e assimilar os pensamentos. A natureza espiritual é composta de três princípios (Tríade Espiritual ou Superior), enquanto a física, que permite ao homem agir no plano material, é formada por quatro princípios (Quaternário Físico, ou Inferior). Cada estado de consciência do homem é, assim, qualitativamente diferente do outro, devendo por isso mesmo receber um nome apropriado. E, sendo a morte apenas uma mudança de estado consciencial, o conhecimento do homem integral, dos seus princípios constitutivos, é, portanto, indispensável para o estudo dos estados post mortem. Devemos, por isso, aprofundar, ainda que esquematicamente, cada um dos sete princípios que presidem a existência de todos nós, tendo sempre presente que, na filosofia esotérica, entende-se por princípios (cósmicos e humanos) as causas naturais que possibilitam a existência de todas as coisas ou, em outras palavras, os aspectos da Realidade Única Universal, ou Deus, no cosmo e no homem. Utilizaremos a terminologia sânscrita, dada a especialidade dessa língua no trato das questões da subjetividade da natureza humana, lembrando e enfatizando a dificuldade de se reconhecer e compreender os princípios, até porque o próprio jargão teosófico aqui empregado é muitas vezes confuso, com os termos sendo definidos com certa ambigüidade e alto grau de liberdade e extensão: 1. Sthula-sharira, ou Rupa (Rupa significa corpo, ou forma, em sânscrito): é o Corpo Físico, veículo do Duplo Astral, o 3º princípio. 2. Prana: é a vitalidade, a energia que produz todos os fenômenos vitais. 3. Linga-Sharira: é a contraparte etérea do homem ou do animal, conhecida modernamente como Duplo Etérico ou Duplo Astral e, antigamente, como Corpo Astral. Tem a mesma aparência do Corpo Físico e é formado antes dele, e só desaparece após a desagregação do último átomo do cadáver (sem considerar ossos e pêlos, cuja dissolução é muito mais lenta). É o veículo e acumulador de Prana, distribuindo-o com regularidade para o organismo, segundo as suas necessidades. 4. Kama-Rupa: chamado também de alma animal, é a sede dos desejos e das paixões terrenos, animais. Ele é o veículo de Manas (Superior e Inferior), o quinto princípio. Entre kama e Manas situa-se o marco que assinala o fronteira entre a parte mortal e a imortal do homem. Kama-Rupa é a forma subjetiva que o homem apresenta após a morte, criada em conseqüência dos desejos e dos pensamentos relacionados com objetivos materiais por todos os seres sencientes. 5. Manas: também chamado às vezes de ego reencarnante e alma humana, é o veículo do princípio resultante da conjugação de Atma e Buddhi (quinto e sexto princípios, ou Atma-Buddhi) Em outras palavras, é a essência da Mente Universal (Mahat) encarnada no homem. É, portanto, a faculdade mental, aquilo que pensa em nós; a consciência que distingue o homem do animal e faz dele um ser moral e inteligente. Manas tem dupla natureza. Uma parte, o Manas Inferior, está ligada inseparavelmente à alma animal, e denomina-se kama-Manas, ou Ego Pessoal, a essa ligação. Esse é o nível de consciência que prevalece na quase totalidade da humanidade atual, e resulta na aplicação da inteligência na satisfação de desejos meramente egoísticos e passionais, a exploração dos sentidos na busca de prazeres, que pode ser bestial quando levada às últimas conseqüências. A outra parte é Manas Superior, o aspecto mais nobre e sublime da mente, nela encontra-se o acervo da memória de todas experiências vividas na Terra. Ao associar-se com Buddhi (o 6º princípio), que por sua vez é veículo de Atma (o 7º princípio), forma o conjunto buddhi-Manas, princípio dual e imortal da consciência que se reencarna ciclicamente. Quando unido a Atma-Buddhi, Manas é chamado Ego Espiritual, que é a verdadeira individualidade, o homem divino. É esse ego quem faz da forma humana um homem ainda que este possa estar inconsciente da Mônada dual (Atma-Buddhi); é ele quem domina o corpo em que se encarna e que é responsabilizado por todos os atos, quer bons ou maus, perpetrados pelas personalidades que assume, cada uma delas a efêmera fachada sob a qual ele se oculta numa imensa sequência de renascimentos, que é consequência do carma. Assim, associada aos princípios superiores, a Mônada individual, ou ego individual, experencia uma série de vidas tomando a forma de diferentes entidades pessoais, que consideradas no seu conjunto formam a individualidade. Como diz Blavatsky, o verdadeiro homem é Manas Superior, e quando esse se une a Atma-Buddhi, converte-se então em deus. 6. Buddhi: é o veículo de Atma, o sétimo princípio, que é o Espírito (ou Mente) Universal que lhe dá alma, daí Buddhi ser chamado de Alma Espiritual. É através de Buddhi que Atma, a sua síntese, toma substância, sendo a combinação Atma-Buddhi um princípio eterno e imortal. Buddhi é assim uma pura corporificação, ou melhor, emanação da Mente Universal, Atma. No plano material, que é o estado de consciência em que normalmente vivemos, Buddhi não é uma faculdade racional individualizada, antes é algo indiferenciado e, de nossa perspectiva humana, pode ser considerado como destituído de qualquer atributo, mas que se torna ativo quando recebe as qualidades racionais que provêm de Manas. Ele individualiza-se ao atuar junto com Manas. O conjunto Buddhi-Manas é, como já vimos, a consciência que conecta Atma com cada personalidade, permitindo que ele habite na matéria. Esse conjunto acumula em si o resultado das experiências vividas pelo ego, que se tornam as causas (daí ser denominado também de corpo causal) que modelam as vidas futuras. É por intermédio de Buddhi que alcançamos a percepção espiritual, o discernimento intuitivo, imediato, que clarifica a realidade sem o uso da razão. Por isso é que se diz que esse princípio está no plano intuitivo, chamado quase sempre de plano intuicional. Blavatsky afirma que, conhecendo-se o mistério de Buddhi, torna-se possível projetar o duplo etérico conscientemente e à vontade, alertando que certamente esse é um poder muito perigoso. 7. Atma: é o Espírito propriamente dito, isto é, a essência divina não individualizada, portanto, indiferenciada, sem forma nem corpo, invisível e imponderável, como um sol que brilha sobre todos. Costuma ser chamado de Eu Superior e Mônada Divina, em que pese a expressão Mônada, em ocultismo, significar quase sempre a Tríade Atma-Buddhi-Manas. Pode-se também entender Atma como uma irradiação do Uno, que é o Absoluto, o Espírito Universal. Ele está presente em todos os pontos do universo, não sendo propriamente, portanto, um princípio humano, mas é para nós, individualmente, semelhante a um raio do sol, que, apesar de aquecer-nos, continua ainda sendo luz daquele astro. Ele é onisciente, mas atua apenas indiretamente na natureza humana e por intermédio de irradiações luminosas no homem interno, pois se pudesse manifestar-se continuamente não haveria homens na Terra, mas deuses. Atma e Buddhi só fazem sentido para o corpo humano se houver uma consciência para assimilá-los, assim como de nada adianta chover sobre o solo desértico se não houver uma planta ou uma semente que se beneficie da chuva. Nenhum dos dois é alcançado pelo carma, pois Atma é o aspecto superior do carma, o agente ativo de si mesmo, e Buddhi é inconsciente no plano material. Em resumo, pode-se afirmar, que cada ego pessoal, ou veículo pessoal, é uma combinação dos quatro princípios inferiores e de Manas Inferior, enquanto a individualidade, a Mônada imortal, é uma combinação de Manas Superior e dos sexto e sétimo princípios. O espírito humano, ou individualidade, é uma entidade separada, distinta, uma individualização, enquanto Buddhi, a alma espiritual é um alento preexistente, parte inconsciente do Todo inteligente. A alma do homem apresenta-se sob três aspectos: a alma animal, que deixa de existir algum tempo após a morte; a alma humana, Manas, que é o princípio que o humaniza, mas que só tem preservada no post-mortem a parte mais nobre (Manas Superior), que diz respeito a qualidades tais como amor, misericórdia, altruísmo, abnegação etc; e a alma espiritual, que é divina e imortal, embora só tome consciência de sua divindade com a assimilação de Manas Superior. Portanto, o que reencarna é o ego espiritual pensante, o princípio permanente no homem, que é o centro de Manas; não é Atma ou Atma-Buddhi (Mônada dual), o homem divino, mas Manas, pois Atma é o todo universal e torna-se o Eu Superior do homem apenas quando atua em conjunto com Buddhi, seu veículo que o liga à individualidade. Apenas aquilo que está indissoluvelmente ligado a Atma, ou seja, Buddhi-Manas é imortal e, portanto, a alma terrestre, a personalidade, não é imortal, eterna ou divina. Não se pense que os conceitos antes emitidos, derivados dos pensamentos de Blavatsky na obra Chave Para A Teosofia, estão claramente definidos nas cartas em exame. Ao contrário, é possível chegar-se à conclusão que o Mestre adotava classificação um pouco diferente e que poderia também sem qualquer prejuízo ser adotada ao longo deste trabalho, o que não faremos. Nessa classificação, o quinto princípio seria Manas Inferior, ou mental concreto, ou ainda alma animal; enquanto o sexto princípio seria Manas Superior, ou mental abstrato; e o sétimo, Buddhi. Nessa linha de raciocínio, poder-se-ia dizer que a pura mônada individual e espiritual, ou ego, seria formada pelo sexto e sétimo princípios (Manas Superior e Buddhi). Essa Mônada, ao incorporar-se em diferentes entidades pessoais, quando consideradas no seu conjunto, formaria, então, a individualidade. O Ego Pessoal, ou veículo pessoal, seria agora a combinação dos cinco princípios inferiores, que incluiria o mental inferior, enquanto a ‘individualidade’, ou alma espiritual seria a combinação do quinto, sexto e sétimo princípios. Essa classificação aparece em alguns livros, mas não afeta em nada o raciocínio posterior, é apenas uma questão de definição. A tradição oriental, confirmada pelas experiências fora do corpo de pessoas que passaram pela morte clínica e reviveram e que têm sido narradas por autores modernos, afirma que o breve instante entre a última batida do coração e o momento em que a derradeira centelha de energia animal deixa o corpo, o cérebro ainda pensa com perfeita lucidez, mesmo o daqueles que eram insanos. Em poucos segundos, como num sonho ou como se estivesse diante de uma tela de cinema, aquele homem que parece estar morto rememora fielmente toda sua vida, na mais perfeita ordem seqüencial. O Mestre orienta que essa deve ser uma ocasião de profundo respeito ao moribundo, que não deve ser perturbado; os circunstantes devem permanecer quietos após a morte e colocar as mãos do defunto sobre o corpo. Daquela reflexão final do agonizante resulta um sentimento que é a tônica daquela vida e que definirá o destino de sua futura existência no kama-loka (a região onde passará a viver a seguir). Em outras palavras, a impressão ou pensamento mais forte sobrevive enquanto o resto desvanece-se para reaparecer apenas no devachan (espécie de paraíso), onde predominará do início ao fim como o tema principal e recorrente de uma longa melodia. Os desejos, aspirações, esperanças e sonhos relacionados com o sentimento principal, e que jamais se realizaram, também têm seu lugar no Devachan e serão vividos como uma benfazeja realidade, sem que o sonhador suspeite que toda essa fantasia seja o efeito de causas mentais por ele mesmo criadas. Como o duplo etérico do morto não desaparece de imediato, acontece às vezes dele adquirir objetividade e aparecer a alguém, podendo até mesmo ser fotografado, mas será algo totalmente automático sem que esteja implícito qualquer ato voluntário do morto (o ego remanescente). Contudo, o cérebro de uma pessoa agonizante é capaz de projetar consciente ou inconscientemente seu mayavi-rupa, que é um corpo não natural formado por elementos mentais e astrais, que pode funcionar com independência no plano astral e no mental, devido ao impulso do intenso desejo de ver alguém ou de aparecer para ele. Com a morte, o quinto princípio torna-se inconsciente, e o homem perde por completo a memória daquilo que vivenciou de forma objetiva e subjetiva. Assim, não importa o tipo de morte ou em que fase da vida a pessoa morreu, se era boa ou má, a consciência abandona-a total e subitamente, como um apagar da luz que deixa o quarto na escuridão. Com a morte do cérebro e a conseqüente extinção das faculdades perceptivas é impossível exercitar-se o poder da vontade e a ação de pensar, ainda que volição e cogitação não sejam propriedades da matéria orgânica. Kama LoKa básicos. A morte resulta, assim, no rápido desaparecimento dos três primeiros princípios e total perda de memória. Mas imediatamente após a morte, e antes de o falecido entrar no Devachan, o Ego passa a dormir e sonhar na matéria sutil do kama-Loka (em sânscrito, kama significa desejo, apetite, paixão, afã, sensualismo, prazer, amor, apego à existência; enquanto loka denota um local circunscrito). Esse sonho pode durar desde horas (raramente menos que isso) até vários anos, segundo diversos fatores, como a qualidade do ser, o seu estado mental ou como se deu a sua morte. No kama Loka, o ego sobrevive com o quaternário formado pelos seus princípios remanescentes. Essa é a terra de verão, dos espíritas, que comumente não descortinam os horizontes além dessas paisagens. Uma região semi material, sem limite definido, não percebida por nossos sentidos físicos e, portanto, subjetiva para nós, para onde vão as formas astrais (chamadas eidolons, ou kama-rupa, isto é, as formas do plano astral) dos seres desencarnados, inclusive animais, à espera da segunda morte. A segunda morte para os animais vem com a desintegração e completo desaparecimento de suas últimas partículas astrais. Mas, para os eidolons humanos (o fantasma astral), começa quando a tríade Atma-Buddhi-Manas (Manas aqui é o Superior) separa-se dos princípios inferiores para iniciar seu período devacânico, e o fantasma kama-rúpico (alma animal associada a manas inferior), denominado cascão, entra em colapso até desaparecer. Isso ocorrerá com o cascão porque ele está despojado de manas superior, o princípio pensante, que dá forma e luz à inteligência animal, e de um cérebro físico para que possa atuar. Como veremos na seqüência, as vítimas de acidentes ou assassinatos e os suicidas permanecem no kama-loka de um modo um pouco diferente dos demais mortos. Habitantes do Kama Loka. É mencionada a existência de sete lokas, ou regiões, do kama Loka, onde os egos localizam-se segundo os estados mentais que apresentavam no momento da morte. Cada uma dessas esferas, também divididas em sub-regiões, teria um guardião (Tathagata, ou Dhyan Chohan) para protegê-la e vigiá-la sem, contudo, interferir nela. Segundo o Mestre, os habitantes das diversas regiões do kama-Loka seriam: Rupa-Devas, Arupa-Devas, Pisachas, Mara-Rupas, Asuras, bestas e Raksharas. As duas primeiras categorias não devem ser confundidas com anjos, pois são os já mencionados Dhyan Chohans, literalmente, senhores da luz, em sânscrito, ex-homens que agora são espíritos planetários, ou inteligências divinas, encarregados de supervisionar o Universo. (Os Dhyan Chohans de nossa Terra, embora sejam os governantes de nosso mundo, não são os mais elevados na escala cósmica). Os Rupa-Devas são aqueles que têm forma, enquanto os Arupa-Devas são os Dhyan Chohans sem forma. Pisachas e Mara-Rupas são personalidades que romperam sua conexão com o Ego. Esses elementares, ou espectros, em que faltam os princípios superiores, estão destinados a desaparecer. Os Pisachas são os já mencionados cascões, que possuem só o elemento emocional e rudimentos do mental; enquanto os mara-rupas, além do mental concreto, mantêm algo do mental abstrato. Asuras e bestas são elementais (espíritos da natureza). Os primeiros têm forma humana, e os outros são elementais de segunda classe, com forma animal. Ambos serão homens num futuro muito longínquo. Em Teosofia diz-se que essas entidades subumanas evoluem nos quatro reinos (ou elementos) da natureza (terra, ar, fogo e água), e eram conhecidas pelos ocultistas medievais como gnomos, silfos, salamandras e ondinas. Como forças da natureza essas entidades podem ser usadas pelos ocultistas para produzir efeitos físicos diversos, mas quando empregadas por elementares (cascões) poderão enganar as pessoas crédulas, através de domínio que exercem sobre os médiuns. Os Raksharas são formas astrais de feiticeiros, homens que alcançaram a culminância do conhecimento das artes proibidas, e que, mesmo mortos, têm defraudado a natureza. Eles serão inevitavelmente aniquilados quando o planeta entrar em Pralaya (um longo período de repouso, obscurecimento e dissolução). Estado de gestação e cascão. A separação de princípios que precede a entrada no Devachan é dita ser uma luta mortal, que se inicia logo após a entrada do Ego no mundo das emoções, entre a dualidade superior (6º e 7º princípios) e a inferior (4º e 5º princípios), isto é, entre a tendência para espiritualidade e a atração para paixões e desejos mais rudimentares de nossa natureza. Se a parte mais nobre do quinto princípio (manas superior) agrega-se ao sexto, que atrai naturalmente o que há de melhor e mais puro naquele, pois os princípios superiores são incapazes de assimilar algo que não seja bom, o ego prossegue para o ‘estado de gestação’ que antecede o Devachan, recobrando parcialmente a memória e a autoconsciência e sem dar a mínima importância, ou estando inconsciente, dos princípios e da personalidade que ficaram para trás, posto que está inteiramente concentrado na individualidade que é ele mesmo. Enquanto isso, o 4º princípio, agora associado apenas à parte remanescente do quinto, passa a formar o mencionado cascão, que se dissolverá com o tempo. Enquanto viva, a personalidade assumida pelo ego tinha completa identidade, mas na hora da morte a consciência pessoal abandona a todos. O centro da memória, no entanto, será restabelecido no cascão, mas só será ativado com o auxílio do cérebro de um ser humano vivo, podendo ele então lembrar-se e falar de suas recordações. Assim, pois, o cascão não passa de um simulacro da personalidade desencarnada. Ele aparenta autoconsciência, quando na realidade desenvolve só uma espécie de vaga consciência de si próprio, sendo apenas uma sombra, um reflexo fugidio, do que foi a personalidade, pois tem memória, mas não tem faculdades perceptivas. O cascão recupera sua memória, embora limitada às lembranças do homem físico, muito lentamente e de forma bastante imperfeita. Essa entidade semiconsciente tem vida autônoma, vagando no kama Loka, por certo tempo, como um "elementar", ou "elementário", fantasma das paixões e desejos humanos e animais, até desfazer-se completamente, como já dissemos, face ao esgotamento dos impulsos mentais que a criaram. Por ser capaz de lembranças, mas não podendo distinguir com precisão os fatos, o cascão age como um louco. É como, por exemplo, um cão, que é capaz de lembrar a surra que levou de seu dono quando este pega a vara, mas não lembra disso em qualquer outro momento. Ao atuar na aura de um médium, perceberá claramente tudo o que recebe por meio dos órgãos sensitivos deste e dos que estão em simpatia magnética com ele, sendo capaz de reproduzir as impressões que assimila de suas consciências. Mas, se alguma perturbação no círculo desviar o pensamento do médium, e o cascão for deixado sozinho por uns instantes, começará a hesitar, podendo assumir outras personalidades ali relembradas e, uma vez posto de lado, permanecerá adormecido. Poderá ainda, com os resquícios de sua própria memória, fazer até mesmo lindos discursos. Mas apenas repetirá como papagaio tudo aquilo que sabia e pensava enquanto esteve vivo, sem acrescentar coisa alguma. Não distingue nada além do que pode encontrar nas faculdades perceptivas e na memória das pessoas que se acham no círculo espírita, daí as declarações altamente inteligentes e o esquecimento de coisas corriqueiras apresentadas pelo mesmo cascão. Se, por exemplo, é estimulado a rememorar a personalidade que já foi, será capaz de lembrar-se das coisas de que gostava, num nível de detalhes que pode causar grande admiração aos assistentes, aumentando-lhes a credulidade. O tempo de sobrevivência do cascão depende diretamente do grau de cultura e da capacidade intelectual da personalidade que o originou. Durará mais também o cascão da pessoa que teve morte natural. Aos poucos ele vai se desintegrando, e só depois de considerável período é que tem uma vaga consciência desse fato. No entanto, frequentemente, os cascões de feiticeiros apenas parcialmente bem-sucedidos e de pessoas más, quando excessivamente apegadas ao Eu, e, às vezes, de certos suicidas sentem instintivamente que estão em processo de desagregação, tornando-se, assim, um perigo, pois, para não serem aniquilados e manter seu arremedo de vida, abrigam-se em organismos animais vivos, inclusive seres humanos. No caso de magos negros e criminosos empedernidos e pertinazes que se mantiveram assim ao longo de uma série de vidas e que não têm possibilidade de redenção, rompe-se o cordão brilhante que liga o espírito à alma pessoal desde o nascimento da criança, e a entidade superior sem corpo separa-se da alma pessoal, sendo esta destruída sem deixar a mínima impressão na primeira. Devachan e Avitchi. O ego purificado depois de passar pelo período de gestação inconsciente renasce no devachan. Esse é um dos muitos mundos que existem além do plano da objetividade onde vivemos. Região de bem-aventurança e beleza indescritíveis, governada por seres altamente realizados, ou dyan chohans. Local de repouso para onde vai a esmagadora maioria dos que morrem. Para ele só não são atraídos aqueles que são irrecuperáveis na prática de ações pecaminosas e bestiais ou os materialistas empedernidos atraídos para o magnetismo grosseiro da Terra, todos esses serão puxados para a 8ª esfera, ou planeta da morte, espécie de satélite físico e mental da Terra. Ao renascer no devachan, o ego mantém, por certo tempo, completa lembrança de sua vida na Terra. Mas lá, os egos estão momentaneamente livres de sofrimentos e aflições, até que venham a reiniciar novo ciclo de vida material, quando as consequências das ações ruins que praticaram recaem outra vez sobre eles, pois os erros cometidos no plano objetivo só podem ser punidos nesse mesmo plano. As pessoas que tenham sido muito más e viciosas, mas que ainda retêm resquícios da natureza divina, não serão simplesmente aniquiladas, pois a chispa espiritual remanescente será capaz de queimar aos poucos a escória de suas personalidades, impedindo-as de caírem na 8ª esfera. Tais pessoas irão para o Avitchi, que é um estado correspondente à antítese do Devachan, mas onde se aplicam as mesmas leis. Céu ou inferno como lugares objetivos não existem, embora prevaleçam condições mentais semelhantes as que são passadas durante um sonho vívido que criam tais sensações. Portanto, o Devachan, mais do que um local, é um estado de autêntica introspecção em que o Ego recebe a paga de seus atos meritórios na Terra, subsistindo, então, por período proporcional à sua vida anterior, numa espécie de sonho feliz com tudo de puro e bom que pôde aproveitar durante sua última existência terrena com seus entes queridos. O amor nessa paragem possui uma potência que é sentida pelos encarnados. Blavatsky diz que ele se manifesta nos sonhos e, com frequência, em vários acontecimentos, protegendo e salvando o ser amado, funcionando como um escudo poderoso, não limitado a tempo e espaço. O amor espiritual é imortal e faz com que, pela operação do carma, os seres que se amaram reencarnem outra vez no mesmo grupo familiar. No entanto, não há inter-relação entre egos no Devachan, cada um vive seu sonho particular dissociado dos demais, posto que são entidades subjetivas que vivem exclusivamente no reino das atividades psíquicas e emocionais, apesar de ainda serem tridimensionais. A vida sonho no Devachan vai crescendo de intensidade por um longo período, para depois arrefecer. Então, o ego entra num processo de gradual inconsciência e letargia até o total esquecimento, ou morte (Blavatsky diz-nos "que a imortalidade é a continuidade de consciência", para posteriormente renascer em outra personalidade na Terra, dando início mais uma vez a ações que geram cumulativamente outro conjunto de causas a serem trabalhadas noutro Devachan, e assim sucessivamente. Essa cadeia de nascimentos terminará, no entanto, ao final da sétima ronda ou até que o ser alcance a sabedoria de um Arhat (aquele que ultrapassou a quarta e última iniciação) e depois de um buddha (o grau mais elevado do conhecimento) antes mesmo da sétima ronda, quando então terá aprendido a libertar-se do ciclo de renascimento e a passar periodicamente ao paranirvana, estado de absoluta perfeição e de integração no Todo, que a mônada humana alcança no fim do grande ciclo. Os seres que se encontram no Devachan ou em Avitchi criam e destroem os objetos de suas sensações, que não estão limitadas por tempo e espaço, não fazendo sentido as avaliações que fazemos daqueles estados a partir de nossas limitadas percepções terrenas. No devachan perde-se completamente a noção de tempo, à semelhança de uma pessoa que vivencia momentos muito agradáveis, para quem uma hora passa como um minuto. Os habitantes do avitchi também estão sujeitos ao mesmo fenômeno, mas por motivos contrários, pois mesmo curtos instantes de aflição parecem uma eternidade. A felicidade devachânica é muito individual e depende do desenvolvimento dos sentidos espirituais de cada um, pois as vivências de um mesmo fato são percebidas diferentemente segundo a sensibilidade espiritual desenvolvida. Diz o Mestre que a “natureza não engana o habitante do devachan mais do que engana o homem fisicamente vivo”, pois ela dá-lhe muito mais bem aventurança verdadeira lá do que aqui, onde a felicidade genuína é realmente uma impossibilidade devido às condições maléficas prevalecentes. No Devachan a pessoa exerce diversas atividades, com continuas mudanças, e ocupa-se de coisas agradáveis que conduzem ao êxtase. Aquilo que era imaginação idealizada na vida terrena, as faculdades que aspirava possuir quando viva, desde que relacionadas a coisas abstratas, tais como música, pintura, poesia, têm continuidade e podem ser desenvolvidas no devachan, as aspirações da vida concreta transformam-se em realidades da existência subjetiva. Como não há contraste algum que possa criar a sensação de monotonia, a bem-aventurança pode ser desfrutada por milhares de anos sem que apareça o tédio, sendo as situações ali vividas variações infinitas de lances de felicidade e experiências ideais passadas na vida terrena e que resultaram na tônica essencial do que foi aquela pessoa. Esse estado venturoso muda segundo a capacidade de cada ego de preencher o cenário de seus sonhos com coisas, fatos e pessoas que justifiquem a sua existência e o seu desfrute. Mas o pano de fundo é composto pela qualidade de vida construída na Terra: se a vida terrena do ego foi marcante, o Devachan terá o mesmo vigor dessa personalidade, mas se essa foi fraca e sem distinção a passagem pelo Devachan será medíocre. Por isso, um materialista completo pode não ter Devachan e passar o período entre duas vidas em total inconsciência, como se estivesse desmaiado. Os egos mais grosseiros, porém, podem, inclusive, achar-se numa situação próxima a um inferno (Avitchi), ao invés de um paraíso. Uma pessoa, por exemplo, que construísse sua felicidade sobre a infelicidade de outra veria o remorso conspurcar constantemente as cenas de felicidade revividas no Devachan. Assim como o Devachan apresenta infinitas diferenciações com graus ascendentes de espiritualidade que recebem nomes segundo o Loka (região) que os produzem, o avitchi é também muitíssimo diversificado. Destarte, por exemplo, no Rupa-Loka do Devachan, as sensações, percepções e ideações são menos subjetivas que em Arupa Loka (o mais elevado estado do Devachan), onde as experiências vividas variam em relação à forma, cor, substância e possibilidades formativas. Igualmente, a mais sublime experiência no Devachan não se compara ao estado da mônada quando, em sua condição perfeitamente subjetiva de pura espiritualidade, manifesta-se e desce à matéria, retornando à condição anterior depois de completado o grande ciclo. Esse assunto ainda não está totalmente esclarecido em minha mente, há muitas dúvidas, e a compreensão é bastante superficial, mas achei interessante reconhecer que meu estágio de conhecimento das ciências ocultas é bem incipiente, assim, fui impossibilitado de alcançar os profundos enunciados aqui abordados; mas sinto que preciso ter mais consagração e meditação espiritual, para me desapegar da inveja e do egoísmo narcisista. Essa é uma gentileza do Site: www. teosofialiberdade.org.br. Abraço. Davi.

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