Este
ensaio é uma tentativa de resumir e reorganizar as respostas do Mestre Koot
Hoomi (K.H.) ao Sr. Alfred Percy Sinnet (1840-1921) nas cartas 68, 70 A, B e C,
71, 85 A, 93 A e B, 104, 119 e Apêndice I do livro Carta dos Mahatmas Para A.
P. Sinnet, Ed. Teosófica 2001 (essas cartas foram escritas entre 1880 e 1882),
a respeito de indagações sobre a vida após a morte, buscando especialmente
esclarecer, dentro do meu limitado entendimento, o grande número de conceitos
desenvolvidos no texto, sem perda de conteúdo. Por julgar que a fonte é a
mesma, algumas informações importantes e complementares foram tiradas do livro
A Chave Para a Teosofia (Ed. Teosófica) de Helena P. Blavatsky (1831-1891), a
qual sempre faremos referência quando quisermos destacar algumas dessas ideias.
O Mestre apresentou justificativas por imprecisões que transparecem em algumas
cartas, queixando-se da falta de tempo que pode dedicar a elas, além do que,
dizia, estava acostumado a ensinar Chelas (discípulos aceitos) que sabiam se
situar além da necessidade de explicações minudentes durante as lições e que,
muitas vezes, estava inclinado a julgar que o trabalho que fazia com Sinnett
era o mesmo que faria com um desses Chelas, que tinham muito mais discernimento
e conhecimento. Advirto, ademais, que as omissões e dúvidas não sanadas são
antes produto da minha limitada capacidade de compreensão, embora sejam também
da disposição declarada do Mestre de velar alguns conhecimentos aos não
iniciados. As questões abordadas neste artigo, impossíveis de serem expostas
apenas por palavras, devem ser vistas, como propugna (defende) K.H., não apenas
com a mente concreta, mas principalmente com as faculdades superiores, com a visão
e o ouvido do Eu Espiritual. Conceito Básico. Blavatsky afirma que o Universo
apresenta sete modos de ser relacionados a sete estados de consciência, e que,
semelhantemente, o homem revela sete estados e princípios. Diz ela que o “homem
é uma correlação de poderes espirituais, assim como de forças químicas e
físicas, colocadas em funcionamento pelo que chamamos princípios”, e que, de
pronto, percebe-se que o ser humano tem duas naturezas bem distintas: a
espiritual, ou superior, e a física, ou inferior. Pela primeira, ele é capaz de
pensar, e, pela segunda, de registrar e assimilar os pensamentos. A natureza
espiritual é composta de três princípios (Tríade Espiritual ou Superior),
enquanto a física, que permite ao homem agir no plano material, é formada por
quatro princípios (Quaternário Físico, ou Inferior). Cada estado de consciência
do homem é, assim, qualitativamente diferente do outro, devendo por isso mesmo
receber um nome apropriado. E, sendo a morte apenas uma mudança de estado
consciencial, o conhecimento do homem integral, dos seus princípios
constitutivos, é, portanto, indispensável para o estudo dos estados post
mortem. Devemos, por isso, aprofundar, ainda que esquematicamente, cada um dos
sete princípios que presidem a existência de todos nós, tendo sempre presente
que, na filosofia esotérica, entende-se por princípios (cósmicos e humanos) as
causas naturais que possibilitam a existência de todas as coisas ou, em outras
palavras, os aspectos da Realidade Única Universal, ou Deus, no cosmo e no homem.
Utilizaremos a terminologia sânscrita, dada a especialidade dessa língua no
trato das questões da subjetividade da natureza humana, lembrando e enfatizando
a dificuldade de se reconhecer e compreender os princípios, até porque o
próprio jargão teosófico aqui empregado é muitas vezes confuso, com os termos
sendo definidos com certa ambigüidade e alto grau de liberdade e extensão: 1.
Sthula-sharira, ou Rupa (Rupa significa corpo, ou forma, em sânscrito): é o
Corpo Físico, veículo do Duplo Astral, o 3º princípio. 2. Prana: é a
vitalidade, a energia que produz todos os fenômenos vitais. 3. Linga-Sharira: é
a contraparte etérea do homem ou do animal, conhecida modernamente como Duplo
Etérico ou Duplo Astral e, antigamente, como Corpo Astral. Tem a mesma aparência
do Corpo Físico e é formado antes dele, e só desaparece após a desagregação do
último átomo do cadáver (sem considerar ossos e pêlos, cuja dissolução é muito
mais lenta). É o veículo e acumulador de Prana, distribuindo-o com regularidade
para o organismo, segundo as suas necessidades. 4. Kama-Rupa: chamado também de
alma animal, é a sede dos desejos e das paixões terrenos, animais. Ele é o
veículo de Manas (Superior e Inferior), o quinto princípio. Entre kama e Manas
situa-se o marco que assinala o fronteira entre a parte mortal e a imortal do
homem. Kama-Rupa é a forma subjetiva que o homem apresenta após a morte, criada
em conseqüência dos desejos e dos pensamentos relacionados com objetivos
materiais por todos os seres sencientes. 5. Manas: também chamado às vezes de
ego reencarnante e alma humana, é o veículo do princípio resultante da
conjugação de Atma e Buddhi (quinto e sexto princípios, ou Atma-Buddhi) Em
outras palavras, é a essência da Mente Universal (Mahat) encarnada no homem. É,
portanto, a faculdade mental, aquilo que pensa em nós; a consciência que
distingue o homem do animal e faz dele um ser moral e inteligente. Manas tem
dupla natureza. Uma parte, o Manas Inferior, está ligada inseparavelmente à
alma animal, e denomina-se kama-Manas, ou Ego Pessoal, a essa ligação. Esse é o
nível de consciência que prevalece na quase totalidade da humanidade atual, e
resulta na aplicação da inteligência na satisfação de desejos meramente
egoísticos e passionais, a exploração dos sentidos na busca de prazeres, que
pode ser bestial quando levada às últimas conseqüências. A outra parte é Manas
Superior, o aspecto mais nobre e sublime da mente, nela encontra-se o acervo da
memória de todas experiências vividas na Terra. Ao associar-se com Buddhi (o 6º
princípio), que por sua vez é veículo de Atma (o 7º princípio), forma o
conjunto buddhi-Manas, princípio dual e imortal da consciência que se reencarna
ciclicamente. Quando unido a Atma-Buddhi, Manas é chamado Ego Espiritual, que é
a verdadeira individualidade, o homem divino. É esse ego quem faz da forma
humana um homem ainda que este possa estar inconsciente da Mônada dual
(Atma-Buddhi); é ele quem domina o corpo em que se encarna e que é
responsabilizado por todos os atos, quer bons ou maus, perpetrados pelas personalidades
que assume, cada uma delas a efêmera fachada sob a qual ele se oculta numa
imensa sequência de renascimentos, que é consequência do carma. Assim,
associada aos princípios superiores, a Mônada individual, ou ego individual,
experencia uma série de vidas tomando a forma de diferentes entidades pessoais,
que consideradas no seu conjunto formam a individualidade. Como diz Blavatsky,
o verdadeiro homem é Manas Superior, e quando esse se une a Atma-Buddhi,
converte-se então em deus. 6. Buddhi: é o veículo de Atma, o sétimo princípio,
que é o Espírito (ou Mente) Universal que lhe dá alma, daí Buddhi ser chamado
de Alma Espiritual. É através de Buddhi que Atma, a sua síntese, toma
substância, sendo a combinação Atma-Buddhi um princípio eterno e imortal.
Buddhi é assim uma pura corporificação, ou melhor, emanação da Mente Universal,
Atma. No plano material, que é o estado de consciência em que normalmente
vivemos, Buddhi não é uma faculdade racional individualizada, antes é algo
indiferenciado e, de nossa perspectiva humana, pode ser considerado como
destituído de qualquer atributo, mas que se torna ativo quando recebe as
qualidades racionais que provêm de Manas. Ele individualiza-se ao atuar junto
com Manas. O conjunto Buddhi-Manas é, como já vimos, a consciência que conecta
Atma com cada personalidade, permitindo que ele habite na matéria. Esse
conjunto acumula em si o resultado das experiências vividas pelo ego, que se
tornam as causas (daí ser denominado também de corpo causal) que modelam as
vidas futuras. É por intermédio de Buddhi que alcançamos a percepção
espiritual, o discernimento intuitivo, imediato, que clarifica a realidade sem
o uso da razão. Por isso é que se diz que esse princípio está no plano
intuitivo, chamado quase sempre de plano intuicional. Blavatsky afirma que,
conhecendo-se o mistério de Buddhi, torna-se possível projetar o duplo etérico
conscientemente e à vontade, alertando que certamente esse é um poder muito
perigoso. 7. Atma: é o Espírito propriamente dito, isto é, a essência divina
não individualizada, portanto, indiferenciada, sem forma nem corpo, invisível e
imponderável, como um sol que brilha sobre todos. Costuma ser chamado de Eu
Superior e Mônada Divina, em que pese a expressão Mônada, em ocultismo,
significar quase sempre a Tríade Atma-Buddhi-Manas. Pode-se também entender
Atma como uma irradiação do Uno, que é o Absoluto, o Espírito Universal. Ele
está presente em todos os pontos do universo, não sendo propriamente, portanto,
um princípio humano, mas é para nós, individualmente, semelhante a um raio do
sol, que, apesar de aquecer-nos, continua ainda sendo luz daquele astro. Ele é
onisciente, mas atua apenas indiretamente na natureza humana e por intermédio
de irradiações luminosas no homem interno, pois se pudesse manifestar-se
continuamente não haveria homens na Terra, mas deuses. Atma e Buddhi só fazem
sentido para o corpo humano se houver uma consciência para assimilá-los, assim
como de nada adianta chover sobre o solo desértico se não houver uma planta ou
uma semente que se beneficie da chuva. Nenhum dos dois é alcançado pelo carma,
pois Atma é o aspecto superior do carma, o agente ativo de si mesmo, e Buddhi é
inconsciente no plano material. Em resumo, pode-se afirmar, que cada ego
pessoal, ou veículo pessoal, é uma combinação dos quatro princípios inferiores
e de Manas Inferior, enquanto a individualidade, a Mônada imortal, é uma
combinação de Manas Superior e dos sexto e sétimo princípios. O espírito
humano, ou individualidade, é uma entidade separada, distinta, uma individualização,
enquanto Buddhi, a alma espiritual é um alento preexistente, parte inconsciente
do Todo inteligente. A alma do homem apresenta-se sob três aspectos: a alma
animal, que deixa de existir algum tempo após a morte; a alma humana, Manas,
que é o princípio que o humaniza, mas que só tem preservada no post-mortem a
parte mais nobre (Manas Superior), que diz respeito a qualidades tais como
amor, misericórdia, altruísmo, abnegação etc; e a alma espiritual, que é divina
e imortal, embora só tome consciência de sua divindade com a assimilação de
Manas Superior. Portanto, o que reencarna é o ego espiritual pensante, o
princípio permanente no homem, que é o centro de Manas; não é Atma ou
Atma-Buddhi (Mônada dual), o homem divino, mas Manas, pois Atma é o todo
universal e torna-se o Eu Superior do homem apenas quando atua em conjunto com
Buddhi, seu veículo que o liga à individualidade. Apenas aquilo que está
indissoluvelmente ligado a Atma, ou seja, Buddhi-Manas é imortal e, portanto, a
alma terrestre, a personalidade, não é imortal, eterna ou divina. Não se pense
que os conceitos antes emitidos, derivados dos pensamentos de Blavatsky na obra
Chave Para A Teosofia, estão claramente definidos nas cartas em exame. Ao
contrário, é possível chegar-se à conclusão que o Mestre adotava classificação
um pouco diferente e que poderia também sem qualquer prejuízo ser adotada ao
longo deste trabalho, o que não faremos. Nessa classificação, o quinto
princípio seria Manas Inferior, ou mental concreto, ou ainda alma animal;
enquanto o sexto princípio seria Manas Superior, ou mental abstrato; e o
sétimo, Buddhi. Nessa linha de raciocínio, poder-se-ia dizer que a pura mônada
individual e espiritual, ou ego, seria formada pelo sexto e sétimo princípios
(Manas Superior e Buddhi). Essa Mônada, ao incorporar-se em diferentes
entidades pessoais, quando consideradas no seu conjunto, formaria, então, a
individualidade. O Ego Pessoal, ou veículo pessoal, seria agora a combinação
dos cinco princípios inferiores, que incluiria o mental inferior, enquanto a
‘individualidade’, ou alma espiritual seria a combinação do quinto, sexto e
sétimo princípios. Essa classificação aparece em alguns livros, mas não afeta
em nada o raciocínio posterior, é apenas uma questão de definição. A tradição oriental,
confirmada pelas experiências fora do corpo de pessoas que passaram pela morte
clínica e reviveram e que têm sido narradas por autores modernos, afirma que o
breve instante entre a última batida do coração e o momento em que a derradeira
centelha de energia animal deixa o corpo, o cérebro ainda pensa com perfeita
lucidez, mesmo o daqueles que eram insanos. Em poucos segundos, como num sonho
ou como se estivesse diante de uma tela de cinema, aquele homem que parece
estar morto rememora fielmente toda sua vida, na mais perfeita ordem
seqüencial. O Mestre orienta que essa deve ser uma ocasião de profundo respeito
ao moribundo, que não deve ser perturbado; os circunstantes devem permanecer
quietos após a morte e colocar as mãos do defunto sobre o corpo. Daquela
reflexão final do agonizante resulta um sentimento que é a tônica daquela vida
e que definirá o destino de sua futura existência no kama-loka (a região onde
passará a viver a seguir). Em outras palavras, a impressão ou pensamento mais
forte sobrevive enquanto o resto desvanece-se para reaparecer apenas no
devachan (espécie de paraíso), onde predominará do início ao fim como o tema
principal e recorrente de uma longa melodia. Os desejos, aspirações, esperanças
e sonhos relacionados com o sentimento principal, e que jamais se realizaram,
também têm seu lugar no Devachan e serão vividos como uma benfazeja realidade,
sem que o sonhador suspeite que toda essa fantasia seja o efeito de causas
mentais por ele mesmo criadas. Como o duplo etérico do morto não desaparece de
imediato, acontece às vezes dele adquirir objetividade e aparecer a alguém,
podendo até mesmo ser fotografado, mas será algo totalmente automático sem que
esteja implícito qualquer ato voluntário do morto (o ego remanescente).
Contudo, o cérebro de uma pessoa agonizante é capaz de projetar consciente ou
inconscientemente seu mayavi-rupa, que é um corpo não natural formado por
elementos mentais e astrais, que pode funcionar com independência no plano
astral e no mental, devido ao impulso do intenso desejo de ver alguém ou de
aparecer para ele. Com a morte, o quinto princípio torna-se inconsciente, e o
homem perde por completo a memória daquilo que vivenciou de forma objetiva e
subjetiva. Assim, não importa o tipo de morte ou em que fase da vida a pessoa
morreu, se era boa ou má, a consciência abandona-a total e subitamente, como um
apagar da luz que deixa o quarto na escuridão. Com a morte do cérebro e a
conseqüente extinção das faculdades perceptivas é impossível exercitar-se o
poder da vontade e a ação de pensar, ainda que volição e cogitação não sejam
propriedades da matéria orgânica. Kama LoKa básicos. A morte resulta,
assim, no rápido desaparecimento dos três primeiros princípios e total perda de
memória. Mas imediatamente após a morte, e antes de o falecido entrar no
Devachan, o Ego passa a dormir e sonhar na matéria sutil do kama-Loka (em
sânscrito, kama significa desejo, apetite, paixão, afã, sensualismo, prazer,
amor, apego à existência; enquanto loka denota um local circunscrito). Esse sonho
pode durar desde horas (raramente menos que isso) até vários anos, segundo
diversos fatores, como a qualidade do ser, o seu estado mental ou como se deu a
sua morte. No kama Loka, o ego sobrevive com o quaternário formado pelos seus
princípios remanescentes. Essa é a terra de verão, dos espíritas, que comumente
não descortinam os horizontes além dessas paisagens. Uma região semi material,
sem limite definido, não percebida por nossos sentidos físicos e, portanto,
subjetiva para nós, para onde vão as formas astrais (chamadas eidolons, ou
kama-rupa, isto é, as formas do plano astral) dos seres desencarnados,
inclusive animais, à espera da segunda morte. A segunda morte para os animais
vem com a desintegração e completo desaparecimento de suas últimas partículas
astrais. Mas, para os eidolons humanos (o fantasma astral), começa quando a
tríade Atma-Buddhi-Manas (Manas aqui é o Superior) separa-se dos princípios
inferiores para iniciar seu período devacânico, e o fantasma kama-rúpico (alma
animal associada a manas inferior), denominado cascão, entra em colapso até
desaparecer. Isso ocorrerá com o cascão porque ele está despojado de manas
superior, o princípio pensante, que dá forma e luz à inteligência animal, e de
um cérebro físico para que possa atuar. Como veremos na seqüência, as vítimas
de acidentes ou assassinatos e os suicidas permanecem no kama-loka de um modo
um pouco diferente dos demais mortos. Habitantes do Kama Loka. É mencionada a
existência de sete lokas, ou regiões, do kama Loka, onde os egos localizam-se
segundo os estados mentais que apresentavam no momento da morte. Cada uma
dessas esferas, também divididas em sub-regiões, teria um guardião (Tathagata,
ou Dhyan Chohan) para protegê-la e vigiá-la sem, contudo, interferir nela.
Segundo o Mestre, os habitantes das diversas regiões do kama-Loka seriam:
Rupa-Devas, Arupa-Devas, Pisachas, Mara-Rupas, Asuras, bestas e Raksharas. As
duas primeiras categorias não devem ser confundidas com anjos, pois são os já
mencionados Dhyan Chohans, literalmente, senhores da luz, em sânscrito,
ex-homens que agora são espíritos planetários, ou inteligências divinas,
encarregados de supervisionar o Universo. (Os Dhyan Chohans de nossa Terra,
embora sejam os governantes de nosso mundo, não são os mais elevados na escala
cósmica). Os Rupa-Devas são aqueles que têm forma, enquanto os Arupa-Devas são
os Dhyan Chohans sem forma. Pisachas e Mara-Rupas são personalidades que
romperam sua conexão com o Ego. Esses elementares, ou espectros, em que faltam
os princípios superiores, estão destinados a desaparecer. Os Pisachas são os já
mencionados cascões, que possuem só o elemento emocional e rudimentos do
mental; enquanto os mara-rupas, além do mental concreto, mantêm algo do mental
abstrato. Asuras e bestas são elementais (espíritos da natureza). Os primeiros
têm forma humana, e os outros são elementais de segunda classe, com forma
animal. Ambos serão homens num futuro muito longínquo. Em Teosofia diz-se que
essas entidades subumanas evoluem nos quatro reinos (ou elementos) da natureza
(terra, ar, fogo e água), e eram conhecidas pelos ocultistas medievais como
gnomos, silfos, salamandras e ondinas. Como forças da natureza essas entidades
podem ser usadas pelos ocultistas para produzir efeitos físicos diversos, mas
quando empregadas por elementares (cascões) poderão enganar as pessoas
crédulas, através de domínio que exercem sobre os médiuns. Os Raksharas são
formas astrais de feiticeiros, homens que alcançaram a culminância do
conhecimento das artes proibidas, e que, mesmo mortos, têm defraudado a
natureza. Eles serão inevitavelmente aniquilados quando o planeta entrar em
Pralaya (um longo período de repouso, obscurecimento e dissolução). Estado de
gestação e cascão. A separação de princípios que precede a entrada no Devachan
é dita ser uma luta mortal, que se inicia logo após a entrada do Ego no mundo
das emoções, entre a dualidade superior (6º e 7º princípios) e a inferior (4º e
5º princípios), isto é, entre a tendência para espiritualidade e a atração para
paixões e desejos mais rudimentares de nossa natureza. Se a parte mais nobre do
quinto princípio (manas superior) agrega-se ao sexto, que atrai naturalmente o
que há de melhor e mais puro naquele, pois os princípios superiores são
incapazes de assimilar algo que não seja bom, o ego prossegue para o ‘estado de
gestação’ que antecede o Devachan, recobrando parcialmente a memória e a
autoconsciência e sem dar a mínima importância, ou estando inconsciente, dos
princípios e da personalidade que ficaram para trás, posto que está inteiramente
concentrado na individualidade que é ele mesmo. Enquanto isso, o 4º princípio,
agora associado apenas à parte remanescente do quinto, passa a formar o
mencionado cascão, que se dissolverá com o tempo. Enquanto viva, a
personalidade assumida pelo ego tinha completa identidade, mas na hora da morte
a consciência pessoal abandona a todos. O centro da memória, no entanto, será
restabelecido no cascão, mas só será ativado com o auxílio do cérebro de um ser
humano vivo, podendo ele então lembrar-se e falar de suas recordações. Assim,
pois, o cascão não passa de um simulacro da personalidade desencarnada. Ele
aparenta autoconsciência, quando na realidade desenvolve só uma espécie de vaga
consciência de si próprio, sendo apenas uma sombra, um reflexo fugidio, do que
foi a personalidade, pois tem memória, mas não tem faculdades perceptivas. O
cascão recupera sua memória, embora limitada às lembranças do homem físico,
muito lentamente e de forma bastante imperfeita. Essa entidade semiconsciente
tem vida autônoma, vagando no kama Loka, por certo tempo, como um
"elementar", ou "elementário", fantasma das paixões e
desejos humanos e animais, até desfazer-se completamente, como já dissemos,
face ao esgotamento dos impulsos mentais que a criaram. Por ser capaz de lembranças,
mas não podendo distinguir com precisão os fatos, o cascão age como um louco. É
como, por exemplo, um cão, que é capaz de lembrar a surra que levou de seu dono
quando este pega a vara, mas não lembra disso em qualquer outro momento. Ao
atuar na aura de um médium, perceberá claramente tudo o que recebe por meio dos
órgãos sensitivos deste e dos que estão em simpatia magnética com ele, sendo
capaz de reproduzir as impressões que assimila de suas consciências. Mas, se
alguma perturbação no círculo desviar o pensamento do médium, e o cascão for
deixado sozinho por uns instantes, começará a hesitar, podendo assumir outras
personalidades ali relembradas e, uma vez posto de lado, permanecerá
adormecido. Poderá ainda, com os resquícios de sua própria memória, fazer até
mesmo lindos discursos. Mas apenas repetirá como papagaio tudo aquilo que sabia
e pensava enquanto esteve vivo, sem acrescentar coisa alguma. Não distingue
nada além do que pode encontrar nas faculdades perceptivas e na memória das
pessoas que se acham no círculo espírita, daí as declarações altamente
inteligentes e o esquecimento de coisas corriqueiras apresentadas pelo mesmo
cascão. Se, por exemplo, é estimulado a rememorar a personalidade que já foi,
será capaz de lembrar-se das coisas de que gostava, num nível de detalhes que
pode causar grande admiração aos assistentes, aumentando-lhes a credulidade. O
tempo de sobrevivência do cascão depende diretamente do grau de cultura e da
capacidade intelectual da personalidade que o originou. Durará mais também o
cascão da pessoa que teve morte natural. Aos poucos ele vai se desintegrando, e
só depois de considerável período é que tem uma vaga consciência desse fato. No
entanto, frequentemente, os cascões de feiticeiros apenas parcialmente
bem-sucedidos e de pessoas más, quando excessivamente apegadas ao Eu, e, às
vezes, de certos suicidas sentem instintivamente que estão em processo de
desagregação, tornando-se, assim, um perigo, pois, para não serem aniquilados e
manter seu arremedo de vida, abrigam-se em organismos animais vivos, inclusive
seres humanos. No caso de magos negros e criminosos empedernidos e pertinazes
que se mantiveram assim ao longo de uma série de vidas e que não têm
possibilidade de redenção, rompe-se o cordão brilhante que liga o espírito à
alma pessoal desde o nascimento da criança, e a entidade superior sem corpo
separa-se da alma pessoal, sendo esta destruída sem deixar a mínima impressão
na primeira. Devachan e Avitchi. O ego purificado depois de passar pelo
período de gestação inconsciente renasce no devachan. Esse é um dos muitos
mundos que existem além do plano da objetividade onde vivemos. Região de
bem-aventurança e beleza indescritíveis, governada por seres altamente
realizados, ou dyan chohans. Local de repouso para onde vai a esmagadora
maioria dos que morrem. Para ele só não são atraídos aqueles que são
irrecuperáveis na prática de ações pecaminosas e bestiais ou os materialistas
empedernidos atraídos para o magnetismo grosseiro da Terra, todos esses serão
puxados para a 8ª esfera, ou planeta da morte, espécie de satélite físico e
mental da Terra. Ao renascer no devachan, o ego mantém, por certo tempo,
completa lembrança de sua vida na Terra. Mas lá, os egos estão momentaneamente
livres de sofrimentos e aflições, até que venham a reiniciar novo ciclo de vida
material, quando as consequências das ações ruins que praticaram recaem outra
vez sobre eles, pois os erros cometidos no plano objetivo só podem ser punidos
nesse mesmo plano. As pessoas que tenham sido muito más e viciosas, mas que
ainda retêm resquícios da natureza divina, não serão simplesmente aniquiladas,
pois a chispa espiritual remanescente será capaz de queimar aos poucos a
escória de suas personalidades, impedindo-as de caírem na 8ª esfera. Tais
pessoas irão para o Avitchi, que é um estado correspondente à antítese do
Devachan, mas onde se aplicam as mesmas leis. Céu ou inferno como lugares
objetivos não existem, embora prevaleçam condições mentais semelhantes as que
são passadas durante um sonho vívido que criam tais sensações. Portanto, o
Devachan, mais do que um local, é um estado de autêntica introspecção em que o
Ego recebe a paga de seus atos meritórios na Terra, subsistindo, então, por
período proporcional à sua vida anterior, numa espécie de sonho feliz com tudo
de puro e bom que pôde aproveitar durante sua última existência terrena com
seus entes queridos. O amor nessa paragem possui uma potência que é sentida
pelos encarnados. Blavatsky diz que ele se manifesta nos sonhos e, com
frequência, em vários acontecimentos, protegendo e salvando o ser amado,
funcionando como um escudo poderoso, não limitado a tempo e espaço. O amor
espiritual é imortal e faz com que, pela operação do carma, os seres que se
amaram reencarnem outra vez no mesmo grupo familiar. No entanto, não há
inter-relação entre egos no Devachan, cada um vive seu sonho particular
dissociado dos demais, posto que são entidades subjetivas que vivem
exclusivamente no reino das atividades psíquicas e emocionais, apesar de ainda
serem tridimensionais. A vida sonho no Devachan vai crescendo de intensidade
por um longo período, para depois arrefecer. Então, o ego entra num processo de
gradual inconsciência e letargia até o total esquecimento, ou morte (Blavatsky
diz-nos "que a imortalidade é a continuidade de consciência", para
posteriormente renascer em outra personalidade na Terra, dando início mais uma
vez a ações que geram cumulativamente outro conjunto de causas a serem
trabalhadas noutro Devachan, e assim sucessivamente. Essa cadeia de nascimentos
terminará, no entanto, ao final da sétima ronda ou até que o ser alcance a
sabedoria de um Arhat (aquele que ultrapassou a quarta e última iniciação) e
depois de um buddha (o grau mais elevado do conhecimento) antes mesmo da sétima
ronda, quando então terá aprendido a libertar-se do ciclo de renascimento e a
passar periodicamente ao paranirvana, estado de absoluta perfeição e de
integração no Todo, que a mônada humana alcança no fim do grande ciclo. Os
seres que se encontram no Devachan ou em Avitchi criam e destroem os objetos de
suas sensações, que não estão limitadas por tempo e espaço, não fazendo sentido
as avaliações que fazemos daqueles estados a partir de nossas limitadas
percepções terrenas. No devachan perde-se completamente a noção de tempo, à
semelhança de uma pessoa que vivencia momentos muito agradáveis, para quem uma
hora passa como um minuto. Os habitantes do avitchi também estão sujeitos ao
mesmo fenômeno, mas por motivos contrários, pois mesmo curtos instantes de
aflição parecem uma eternidade. A felicidade devachânica é muito individual e
depende do desenvolvimento dos sentidos espirituais de cada um, pois as
vivências de um mesmo fato são percebidas diferentemente segundo a
sensibilidade espiritual desenvolvida. Diz o Mestre que a “natureza não engana
o habitante do devachan mais do que engana o homem fisicamente vivo”, pois ela
dá-lhe muito mais bem aventurança verdadeira lá do que aqui, onde a felicidade
genuína é realmente uma impossibilidade devido às condições maléficas
prevalecentes. No Devachan a pessoa exerce diversas atividades, com continuas
mudanças, e ocupa-se de coisas agradáveis que conduzem ao êxtase. Aquilo que
era imaginação idealizada na vida terrena, as faculdades que aspirava possuir
quando viva, desde que relacionadas a coisas abstratas, tais como música,
pintura, poesia, têm continuidade e podem ser desenvolvidas no devachan, as
aspirações da vida concreta transformam-se em realidades da existência
subjetiva. Como não há contraste algum que possa criar a sensação de monotonia,
a bem-aventurança pode ser desfrutada por milhares de anos sem que apareça o
tédio, sendo as situações ali vividas variações infinitas de lances de
felicidade e experiências ideais passadas na vida terrena e que resultaram na
tônica essencial do que foi aquela pessoa. Esse estado venturoso muda segundo a
capacidade de cada ego de preencher o cenário de seus sonhos com coisas, fatos
e pessoas que justifiquem a sua existência e o seu desfrute. Mas o pano de
fundo é composto pela qualidade de vida construída na Terra: se a vida terrena
do ego foi marcante, o Devachan terá o mesmo vigor dessa personalidade, mas se
essa foi fraca e sem distinção a passagem pelo Devachan será medíocre. Por
isso, um materialista completo pode não ter Devachan e passar o período entre
duas vidas em total inconsciência, como se estivesse desmaiado. Os egos mais
grosseiros, porém, podem, inclusive, achar-se numa situação próxima a um
inferno (Avitchi), ao invés de um paraíso. Uma pessoa, por exemplo, que
construísse sua felicidade sobre a infelicidade de outra veria o remorso
conspurcar constantemente as cenas de felicidade revividas no Devachan. Assim
como o Devachan apresenta infinitas diferenciações com graus ascendentes de
espiritualidade que recebem nomes segundo o Loka (região) que os produzem, o
avitchi é também muitíssimo diversificado. Destarte, por exemplo, no Rupa-Loka
do Devachan, as sensações, percepções e ideações são menos subjetivas que em
Arupa Loka (o mais elevado estado do Devachan), onde as experiências vividas variam
em relação à forma, cor, substância e possibilidades formativas. Igualmente, a
mais sublime experiência no Devachan não se compara ao estado da mônada quando,
em sua condição perfeitamente subjetiva de pura espiritualidade, manifesta-se e
desce à matéria, retornando à condição anterior depois de completado o grande
ciclo. Esse assunto ainda não está totalmente esclarecido em minha mente, há
muitas dúvidas, e a compreensão é bastante superficial, mas achei interessante
reconhecer que meu estágio de conhecimento das ciências ocultas é bem
incipiente, assim, fui impossibilitado de alcançar os profundos enunciados aqui
abordados; mas sinto que preciso ter mais consagração e meditação espiritual,
para me desapegar da inveja e do egoísmo narcisista. Essa é uma gentileza do
Site: www. teosofialiberdade.org.br. Abraço. Davi.
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