Judaísmo. www.morasha.com.br.
Essa temática tem como objetivo apresentar um dos mais importantes símbolos da
tradição judaica que é a ESTRELA DE DAVI. O texto é da Revista Morasha edição
nº 35 de dezembro de 2001. A ESTRELA DE DAVI como símbolo exclusivamente
judaico é um fato relativamente recente já que, na Antiguidade e mesmo durante
a Idade Média, várias civilizações além da nossa usavam o hexagrama – figura
representada por uma ESTRELA de seis pontas e formada por dois triângulos
equiláteros iguais e concêntricos, no qual os lados opostos em relação ao
centro são paralelos – como símbolo místico ou puramente decorativo. Todavia
desde o século XIX a ESTRELA DE DAVI tem sido o símbolo mais usado entre os
judeus de todas as partes do mundo. Usada por várias comunidades e instituições
de todas as tendências, este símbolo pode ser visto em fachadas de sinagogas,
assim como em seu interior, sobre o Hechal – Arca Sagrada – no Parochet –
cortinas que cobre a Arca – na lápide e inúmeros outros objetos religiosos.
Durante uma das épocas mais terríveis da história do povo de Israel, quando
praticamente toda a Europa estava sob o jugo nazista, estes obrigaram todos os
judeus a usar uma ESTRELA amarela nas vestes. Queriam transformar a ESTRELA DE
DAVI em um símbolo de vergonha e de morte, mas para os judeus tornou-se um
símbolo de sofrimento e heroísmo e da esperança e da esperança coletiva de todo
um povo. A criação do Estado de Israel fez com que o símbolo marcado pelo
sofrimento renascesse junto com a Nação Judaica. O Estado de Israel, o primeiro
Lar Nacional Judaico após 2.000 anos de diáspora – dispersão dos judeus pelo
mundo após a destruição do Templo em Jerusalém no ano 70 pelo Imperador Romano
Tito (30-81). Ostenta na parte central de sua bandeira uma ESTRELA DE DAVI de
cor azul. Para se traçar a origem da ESTRELA DE DAVI na história judaica
devem-se levar em consideração dois aspectos. Primeiro, a evolução histórica do
nome e do símbolo, que como veremos mais adiante, ao que tudo indica, em seus
primórdios não tinham ligação entre si. Segundo, a interpretação mística do
MAGUEN DAVI. EVOLUÇÃO HISTÓRICA. Desde a Idade do Bronze, utilizaram-se
estrelas de cinco e seis pontas com decoração ou como elemento mágico. Sendo
encontradas em ruínas de civilizações tão diferentes e tão distantes como a
Índia, a Mesopotâmia ou a Grã Bretanha. Na Índia, por exemplo, algumas datam de
cerca de 3.000 anos antes da era comum. Há, ainda, hexagramas em igrejas
medievais e bizantinas. No Islã era considerado um símbolo muito importante. A
estrela de seis pontas também fazia parte dos emblemas de várias nações e
atualmente pode ser vista na bandeira da Irlanda do Norte. Mas antes de
analisar sua evolução histórica, devemos ressaltar alguns aspectos importantes.
A tradução literal do termo MAGUEN DAVI não é ESTRELA DE DAVI, mas sim ESCUDO
DE DAVI. O termo ESCUDO ou MAGUEN é muito usado nas orações e não se refere à
estrela de seis pontas, todavia é uma forma poética de referência a D’us, ou
seja, à Sua proteção onipotente. No Talmud, D’ us é chamado "ESCUDO DE
DAVI” – Pessachim 117 b). Ao afirmar que D’us é o ESCUDO DE DAVI, nós o
reconhecemos como sendo o único Protetor do rei Davi e, consequentemente,
também o nosso. Reconhecemos, assim que foi unicamente graças a proteção e
benção Divina que o rei Davi conseguiu suas grandes vitórias militares. A cada
Shabat – sábado, dia sagrado para os judeus – após a leitura da Haftará,
reiteramos este conceito ao dizer "Abençoado sejas Tu, meu D us, ESCUDO DE
DAVI". Não está muito claro, porém, como o conceito de D’us como ESCUDO
acabou entrelaçando-se com a ESTRELA de seis pontas. Há inúmeras suposições,
entre as quais uma que afirma que o ESCUDO DE DAVI era triangular e sobre ele
estava gravado o "Grande Nome Divino de 72 Letras" juntamente com as
letras hebraicas m, k, b e Y – as letras da palavra Macabi. Outra suposição é
que o símbolo tenha surgido na época de Simon Bar Kochba falecido no ano de
135; no período de (132-135) da era comum. Segundo esta teoria, os judeus que
lutavam contra as forças romanas adotaram ESCUDOS mais resistentes, em cujo
interior foram colocados dois triângulos entrelaçados. Alguns estudiosos, entre
os quais Rabi Moses Gaster (1856-1939) grão rabino sefaradita da Inglaterra, de
1887 a 1918, e líder sionista. Acreditavam que havia uma ESTRELA de seis pontas
gravada nas moedas cunhadas na época de Bar Kochba. Ainda no Talmud (Gittin 68
a) está escrito que o rei Salomão possuÍa um anel no qual estava gravado o
"Nome Divino de 72 Letras" e que este anel o protegia contra as
forças negativas. Porém, mais uma vez não é dada nenhuma descrição adicional.
Muitas vezes o pentagrama – a estrela de cinco pontas – chamado de "Selo
de Salomão". Termo usado tanto no islã como em algumas comunidades
judaicas, que era usado no lugar do MAGUEN DAVI. A estrela de cinco pontas
também era considerada um símbolo de proteção Divina, contudo no meio judaico
seu uso acabou sendo abandonado. O mais antigo artefato judaico com um
hexagrama de que se tem notícia é um SELO encontrado em Sidon – atual Líbano,
datado do século VII antes da era comum. Apesar de, na época do Segundo Templo
– 516 AC, os símbolos judaicos mais comuns são o Shofar, o Iulav e a Menorá. Neles
foram encontrados pentagramas e hexagramas em vários achados arqueológicos. Um
exemplo é o friso da sinagoga de Cafarnaum século II ou III, encontrado numa
lápide no ano 300, no sul da Itália. IDADE MÉDIA. O uso ornamental de ESTRELAS
tanto de cinco como de seis pontas estendeu-se durante a Idade Média aos países
muçulmanos e cristãos. Entre os muçulmanos o uso do SELO DE SALOMÃO, como
proteção, era muito difundido. Alguns reis, como o de Navarra – Península
Ibérica, usavam a estrela de seis pontas em seu selo. O hexagrama é encontrado
em igrejas e catedrais, assim como em sinagogas, como a de Hamein, Alemanha no
ano 1280 e a de Budweis – Boêmia, século XIV. Iluminuras de manuscritos
hebraicos medievais contêm hexagramas sem que lhes sejam atribuídos qualquer
nome. O mais antigo texto que faz menção ao MAGUEM DAVI como o escudo protetor
usado pelo rei David pode ser encontrado em um alfabeto místico que remonta ao
período gueônico e era utilizado pelos sábios asquenazitas do século XII. Mas,
neste caso, acreditava-se que o que estava gravado no escudo era o Grande Nome
Sagrado de 72 Letras. O termo MAGUEN DAVI ainda não estava ligado à estrela de
seis pontas e não está claro o que teria provocado a substituição do
"Grande Nome de 72 Letras" pela figura geométrica. Depois desta
época, o uso do MAGUEN DAVI tornou-se difundido em manuscritos medievais como
proteção. Também são da Idade Média os primeiros amuletos de proteção em que
aparece o hexagrama. Entre os séculos X e XIV, o termo MAGUEN DAVI não tinha ainda
um vínculo com a estrela de seis pontas. Já que havia várias hipóteses sobre o
que estava gravado no escudo que o rei Davi usava nas batalhas. Por exemplo,
segundo a obra de Rabi Issac Ben Moshe Arama (1420-1494), Akedat Itzhak (século
XV), o que estava gravado no escudo do rei era o Salmo 67 disposto em forma de
menorá. Mas é no texto cabalístico Sefer Ha Guevul, de autoria de um neto de
Nachmânides ou Rebe Moshe Ben Nachman (1194-1270) século XIV, que podemos
encontrar o mais antigo testemunho do uso do termo em relação à estrela de seis
pontas. O hexagrama aparece duas vezes nesse texto, sendo chamado em ambas de
MAGUEN DAVI. Já a partir do século XIII, na Espanha e na Alemanha, são
encontrados manuscritos bíblicos nos quais partes da menorá – Tradição oral –
são escritas em micrografia, em forma de hexagrama. E até o século XVI, os
sábios cabalistas acreditavam que o Escudo de David não deveria ser desenhado
como simples linhas geométricas. Deveria ser composto com determinados Nomes
Sagrados e suas combinações, segundo o padrão dos manuscritos bíblicos, nos
quais as linhas eram compostas com textos da menorá. O USO OFICIAL. Foi no
século XIV, em Praga – República Tcheca, que o ESCUDO DE DAVI foi usado pela
primeira vez de forma oficial para representar uma comunidade judaica. No ano
1354, o rei Karel IV concedeu à comunidade judaica o privilégio de ter sua
própria bandeira. No fundo vermelho, foi colocado o hexagrama, a ESTRELA DE
DAVI, em ouro. Documentos referem-se a este símbolo como sendo "BANDEIRA
DO REI DAVI". Em Praga - atual República Tcheca, a estrela de seis pontas
- sempre chamada de MAGUEN DAVI passou a ser usada tanto em sinagogas, como no
selo oficial da comunidade e em livros impressos. O símbolo logo se difundiu e,
a partir do século XVII, tornou-se o emblema oficial de várias comunidades
judaicas e do judaísmo em geral. Em Viena – Áustria, em 1656, foi usado numa
pedra que marcava o limite entre os bairros judeus e cristãos, junto com uma
cruz. Ao serem expulsos de Viena, os judeus levaram o símbolo para outras
localidades para onde se transferiram, a Morávia – atual República Tcheca e
Amsterdã – Holanda. Em 1799, a ESTRELA DE DAVI foi usada para representar o
povo judeu numa gravura antissemita. Em 1822, ao ser agraciada com um título de
nobreza pelo imperador austríaco, a família Rothschild a usou em seu brasão.
Foi considerada, assim, um símbolo especificamente judaico no decorrer dos
séculos XVII e XIX na Europa Central e Oriental. Espalhando-se pelas
comunidades judaicas da Europa Ocidental e do Oriente Médio. Quase todas as
sinagogas exibiam a ESTRELA DE DAVI, algumas em sua fachada; outras
instituições, como as sociedades beneficentes, usavam o símbolo em seus
documentos. Segundo um dos grandes rabinos deste século o Rabi Moshe Feinstein
(1895-1986), o rei David usava o MAGUEN DAVI, o símbolo de seis pontas, para
que o Todo Poderoso o protegesse nas batalhas. O movimento sionista a adotou
como emblema de sua bandeira e do primeiro número do periódico sionista de
Theodor Herzl (1860-1904), Die Welt. Os fundadores de Rishon L Tzion também a
colocaram em sua bandeira, em 1855. A ESTRELA DE DAVI tornara-se o símbolo de
novas esperanças e de um novo futuro para o povo de Israel. Mas foram os
nazistas que lhe conferiram uma nova dimensão. Em 1933 Adolf Hitler (1889-1945)
ao decidir que os judeus deveriam usar uma marca em suas roupas para que
pudessem ser facilmente reconhecidos, escolheu a "ESTRELA JUDAÍCA"
como era chamado, em tom pejorativo pelos nazistas, o MAGUEN DAVI. Ao querer
fazer deste um distintivo da vergonha que acompanharia milhões em seu caminho
para a morte, tornou-o símbolo de um povo. Símbolo de sofrimento e morte,
todavia também de esperança. Quando o Estado de Israel escolheu como emblema do
novo Estado Judaico a menorá, manteve o MAGUEN DAVI na bandeira nacional.
Atualmente, a ESTRELA DE DAVI é o símbolo de uma nação independente. É o
símbolo de um lar nacional para todo e qualquer judeu. www.morasha.com.br.
abraço. Davi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário