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Texto de Rajneesh Chandra Mohan Jain – Osho (1931-1990). ABRA SEU CORAÇÃO. Osho
– Na maior parte da minha vida, eu me mantive à distância, separado e isolado,
e, assim, eu tenho estado protegido das pessoas e situações. O meu medo mais
íntimo sempre foi o de abrir meu coração totalmente. O vasto amor que eu sinto
poderia derramar-se com água de um poço transbordando e seria perdido, desviado
ou rejeitado. Minha essência é como uma flor delicada, e se ela florescesse num
terreno errado ela poderia com facilidade ser maldosamente machucada ou
destruída. Este é o meu medo. Seria este o tempo e o lugar para abrir o meu
coração totalmente? Tom Cassidy – Este é um dos medos mais básicos de todos os
seres humanos. Este é o medo que tem dado origem aos monges e às freiras. Todo
o passado da humanidade foi dominado por esse medo, como um câncer da
alma. Parece muito lógico que, se você compartilhar o seu amor, ele
será desperdiçado e logo você ficará infeliz. Essa é a lei comum da economia:
se você quiser ter mais dinheiro, não o compartilhe, seja miserável. Ganhe o
tanto que você conseguir e dê o mínimo possível. Somente assim você consegue
acumular e ficar rico. Isso é verdadeiro no que se refere ao mundo exterior,
mas é absolutamente falso quanto ao mundo interior; ali funciona uma lei
totalmente diferente. A lei interna é: se você não dá, você perde; se
você dá, você conserva. Quanto mais você dá, mais você tem. Quanto
menos você dá, menos você tem. Se você não der nada, nada terá; ficará
completamente vazio, um túmulo, e dentro do túmulo não há qualquer
possibilidade de uma flor desabrochar. As flores necessitam do sol, da chuva,
do vento, das estrelas, do céu, dos pássaros, da Terra. Por mais delicada que
ela seja, ela necessita abrir-se para a existência. Em tal abertura, a
fragrância é liberada, o esplendor que estava preso é liberado. Tom, você é
basicamente um monge. A palavra monge é significativa; ela quer dizer “aquele
que vive uma vida solitária”, aquele que vive uma vida sem relacionamentos, sem
relações, sem amar, sem compartilhar; aquele que vive uma vida sem janelas,
fechado por todos os lados, completamente fechado em si mesmo devido ao medo de
que, se abrir, quem sabe o que acontecerá com seu coração sensível, com seu
delicado ser interior? Ele tem medo de rejeição, medo de situações, medo do
desconhecido. Ele se agarra a si mesmo, mas esse agarrar só lhe traz “morte”.
Ele pode seguir arrastando-se por anos, mas isto não é vida, isto é suicídio
lento. A própria palavra monge quer dizer aquele que decidiu viver uma vida
solitária. Da mesma raiz vem monastério, onde as pessoas vivem solitariamente.
Da mesma palavra vêm outros como monopólio, monotonia, monogamia. Tentar viver
por si mesmo, desconectado dos outros, é a ideia mais perigosa que alguém pode
ter, e uma vez que ela começa a tomar um colorido religioso, fica muito difícil
livrar-se dela, pois ela satisfaz o seu ego, ela alimenta tudo o que é errado
em você e destrói tudo o que é belo em você. Dentro de um túmulo não há
qualquer possibilidade de rosas desabrocharem, mas existe a possibilidade de
cobras, escorpiões e aranhas; tudo o que é feio e venenoso. Se o túmulo está
completamente fechado, o seu próprio ar se torna venenoso. E milhões de pessoas
estão vivendo a vida de monges e freiras. Elas podem não ter ido para o
monastério, elas podem estar vivendo com suas esposas e filhos, mas estão
fechadas. Eles podem estar vivendo no mundo, mas se protegendo muito, sempre
cautelosas e calculando, para que suas vidas não tenham qualquer alegria, dança
ou canção. É preciso um pouco de coragem para fazer da vida uma celebração.
Você diz, Tom: Na maior parte da minha vida, eu me mantive à distância (...).
Você tem sido um suicida! Vida significa estar junto, com a existência, com as
árvores, com os rios, com as pedras, com as pessoas, com os animais, com tudo o
que é. A única maneira de tornar a sua vida rica é relacionar-se com ela .
Quanto mais você se relaciona, mais multidimensionalmente você é, mais rico
você é, mais você cresce e desabrocha. Ainda há tempo. Abandone esta ideia
estúpida de estar à distância, separado e isolado. Isto você pode fazer depois
de morrer! Então você terá tempo, mais do que suficiente. Pelo seu nome, parece
que você é um cristão. Então, até o dia do julgamento final, você terá tempo
mais do que suficiente. Você poderá viver como um monge em seu túmulo, e você
poderá guardar a bíblia e o rosário com você. Mas enquanto você estiver vivo,
enquanto está imensa oportunidade estiver sendo dada a você, viva-a, alegre-se
com ela. Jesus disse repetidas vezes aos seus discípulos: “alegrai-vos sempre
no Senhor, outra vez vos digo – alegrai-vos”, Filipenses 4,4. Jesus não era um
monge, ele era um homem vivo. Ele viveu com todo tipo de pessoas, os jogadores,
os bêbados, as prostitutas, os pecadores, os cobradores de impostos. Ele viveu
– e não com a ideia de que era “mais santo do que você”, ele viveu com grande
amizade. Ele gostava das festas que se prolongavam, das danças e da música. E,
acredite, ele não estava constantemente evangelizando, ela fazia especulações
também. E ele bebia, ele gostava de vinho – e ele compartilhava isso com seus
discípulos. O jejum não era o seu caminho, mas sim a festa. Não seja monacal
(hábito de reclusão, solidão). Ser um homem é uma oportunidade tão grande que
não há necessidade alguma de desperdiça-la. E lembre-se de uma coisa: as coisas
das quais você tem medo (...) de abrir meu coração totalmente. O vasto amor que
eu sinto poderia derramar-se como água de um poço transbordando (...). Por quem
você está sentindo este vasto amor? Só por você mesmo? Porque amar significa
ter uma direção, um objeto. O amor é sempre endereçado a alguém. A quem o seu
amor é endereçado? Você é como um envelope ainda não aberto: você nem mesmo leu
o que está escrito na carta, você nem sabe se existe uma carta dentro ou se
está simplesmente carregando um envelope vazio. A não ser que abra o envelope,
você nunca saberá. Abra-o! E lembre-se, o poço nunca se esgota porque no fundo
ele é conectado ao oceano. O oceano está continuamente alcançando-o em pequenas
nascentes. Na verdade, se você não tirar água do poço, ele morrerá, porque as
nascentes não serão mais necessárias e ficarão bloqueadas. Não sendo usadas,
elas perderão a sua função, e a velha água se tornará estragada e morta, talvez
venenosa. É bom para o poço que sua água seja tirada. Quanto mais água você
tirar, mais correntes de água fresca chegarão ao poço. O poço não está
desconectado da existência. Certamente o seu coração é um poço. Se ele for
mantido fechado, você não captará a energia do Universo fluindo para você.
Continue se esvaziando e você ficará surpreso; quanto mais se esvaziar, mais
cheio você ficará. Por isto é que Gautama, o Budha, enfatiza a palavra shunya,
zero. Torne-se um zero! Se quiser tornar-se cheio, a sua mensagem é,
simplesmente se torne vazio, um nada, só espaço, puro espaço, um espaço sem
limites contendo nada. Apenas esvazie-se totalmente e, você não será capaz de
acreditar, um milagre acontece. Quando você está totalmente vazio, a existência
toda entra em você. Todas as estrelas estão dentro de você, assim como o sol e
a lua. De repente você se vê tão vasto quanto o Universo. Ser nada é a única
maneira de ser tudo. Ser ninguém é a única maneira de ser divino. O vazio traz
o divino. E não se preocupe com seu amor ficando perdido; nada jamais é
perdido. O mundo sempre contém a mesma quantidade de tudo, nem mais nem menos.
Isso agora é um fato científico; não existe um simples átomo a menos ou a mais
do que o que sempre existiu. A quantidade do Universo permanece absolutamente a
mesma, pois de onde alguma coisa nova pode vir? A existência compreende tudo,
não existe “algum outro lugar”. E para que outro lugar qualquer coisa pode ir?
Não existe outro lugar para se ir, assim, nada jamais é perdido. Talvez possa
demorar um pouco mais para se alcançar a pessoa certa, mas sempre se alcança.
Cante a canção e não se preocupe! Ela alcançará a pessoa certa no tempo certo.
Se não for hoje, será amanhã, se não for nesta sua vida, então em algum outro
tempo. Mas ela alcançará, com certeza. Ela sempre encontra a pessoa certa que
pode absorvê-la. Simplesmente cante a canção. Não se preocupe com quem ela irá
alcançar; toda a sua preocupação deve ser: cantar com totalidade, e isso é
tudo. Mais do que isso, não é exigido de ninguém. Não lhe cabe saber se ela
será ouvida ou não. Quando uma flor nasce no meio de uma selva, ela não está
preocupada se alguém vai passar por ali, ela simplesmente libera a fragrância.
Se ela alcançar alguém para cheirá-la, ótimo: se ela não alcançar, qual o
problema? A flor desabrochou, ela se ofereceu ao Universo. Agora fica por conta
do Universo fazer o que quiser com ela. Nada jamais é perdido, desviado ou
rejeitado. Mas as pessoas se sentem muitas vezes rejeitadas porque antes mesmo
delas darem algo, já existe a expectativa. Se sua expectativa não for
satisfeita, elas se sentem rejeitadas. É a expectativa que está criando
problema, não o amor. Dê o amor sem qualquer corda amarando-o. Dê o amor pelo
puro prazer de dar. Alegre-se dando-o. O pássaro cuco ao cantar distante, não
se preocupa se alguém está gostando ou não. A estrela distante – você pensa que
ela está preocupada se um poeta está escrevendo um belo poema sobre ela ou se um
Vincent van Gogh (1853-1890) está pintando-a, ou se um fotógrafo ou um
astrônomo estão preocupados com ela? A estrela não está interessada nisso. A
sua alegria está em continuar brilhando. Simplesmente abra o seu coração, Tom
Cassidy. E abra-o totalmente, sem quaisquer expectativas e condições. É certo
que ele alcançará o coração certo: isto sempre acontece. Quando eu comecei a
cantar a minha canção, não havia ninguém para ouvi-la. Depois as pessoas
começaram a chegar. Eu fiquei surpreso: como elas ouviram? Por que essas
pessoas continuam vindo? De todas as direções, de todo o mundo as pessoas
começaram a vir. Como você chegou aqui? E eu não estava esperando que alguém
viesse. Eu estava simplesmente cantando a minha canção, eu estava desfrutando
isso. Há poucos dias um sannyasin, perguntou: Osho, eu tive um sonho: eu estava
sentado sozinho no Budha Hall e então você chegou. Você sentou-se na cadeira e
eu fiquei muito intrigado porque eu estava só e não avia mais ninguém no Budha
Hall, todo ele estava vazio. E eu estava preocupado com o que você iria fazer.
Não precisa se preocupar, eu farei a minha parte. Eu não posso deixa-lo só. Eu
falarei para você por uma hora e meia continuamente. E você também não pode
escapar. Quando há muitas pessoas, umas poucas conseguem escapar, mas se você
está sozinho, para onde poderá ir? Eu seguirei você! Sem pessoa alguma, ainda
que você não esteja lá, eu estarei sozinho no Budha Hall, eu cantarei aminha
canção. Tente isso um dia! Eu ainda contarei minhas piadas e se não houver ninguém
para rir delas, eu mesmo rirei. Se não for de piada, porque eu já a conheço,
estarei rindo do fato de não ter ninguém lá e, ainda assim, eu estar contando
uma piada! Que ridículo! Tom, não se preocupe. Você diz: Minha essência é como
uma flor delicada (...). Então, permita que ela assim seja! Ela é bela, ela é
uma flor delicada. Permita que os outros também participem de sua fragrância,
permita que os outros também bebam de sua fonte. Logo a flor morrerá, à
tardinha ela já terá ido. Assim, não a esconda, pois mesmo se escondê-la, você
não conseguirá salvá-la. De manhã, a rosa abre suas pétalas, ao final da tarde
as pétalas definham e a rosa se vai. Antes que ela se vá, permita que ela seja
compartilhada, deixe que as crianças brinquem ao seu redor. Deixe todo mundo se
alegra! Do contrário, você estará morrendo sem estar realizado. Ela é uma flor
delicada, mas quanto mais delicada for, mais rapidamente ela tem que se abrir a
existência, ela não pode esperar pelo amanhã – talvez ela não esteja aqui amanhã.
E você está preocupado: se ela florescesse num terreno errado (...). Não há
terreno errado em lugar algum. Na verdade, se uma rosa consegue florescer num
deserto, aquele será o mais belo terreno e ela será uma rosa excepcional. Se
ela puder desabrochar entre pedras, então aquela rosa deve ser um Budha, não
menos do que isso; um Cristo, não menos do que isso. Num terreno adequado, num
jardim, as flores comuns desabrocham, mas as flores extraordinárias desabrocham
também entre as pedras e no deserto. Assim, não se preocupe com o terreno e não
se preocupe que ela poderia com facilidade ser maldosamente machucada ou
destruída. Tudo que nasce será destruído, por isso, antes que ela seja
destruída, permita que ela tenha a sua dança. E você está me perguntando: Seria
este o tempo e o lugar para abrir o meu coração totalmente? Todo tempo e todo
lugar é o lugar certo! E porque você está aqui neste momento, permita que este
seja o lugar. Onde você poderia encontrar um espaço melhor, com pessoas mais
bonitas, mais receptivas, mais amorosas do que estas que estão à sua volta
neste Budhafield? Tom Cassidy, você esperou tempo demais, não espere mais. Este
é o tempo. Nunca confie no momento seguinte; o amanhã nunca vem. É agora ou
nunca!. www.oshobrasil.com.br.
Abraço. Davi.
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