Budismo. www.bodisatva.com.br.
MEDITAÇÃO CRISTÃ: SILÊNCIO E ORAÇÃO. A oração contemplativa, divulgada pelo
monge beneditino Laurence Freeman (1951- ), é praticada hoje em grupos no
Brasil. “Eu sou porque não sou”. A frase que poderia soar comum a qualquer
ensinamento budista foi extraída do livro “Jesus, o mestre interior”, do monge
beneditino Laurence Freeman, o maior divulgador da prática da meditação entre
os católicos, chamada também de oração contemplativa. A mesma frase encerra um
dos vários textos lidos semanalmente pelos praticantes da meditação cristã no
mundo todo. A Bodisatva acompanhou algumas
seções desta prática meditativa na bela e aconchegante capela de São José, um
lugar de silêncio e recolhimento, nos fundos da Igreja São Luís, que fica na
barulhenta e agitada avenida Paulista, em São Paulo. Um pequeno grupo de
católicos se reúne toda segunda-feira à noite para orar e silenciar em conjunto
neste endereço. As pessoas que chegam ao local
são acolhidas por Lucilene Ferreira da Silva, uma católica que pratica a meditação
há cinco anos e facilita a prática há cerca de um ano. Antes de começar, os
presentes leem um texto indicado por Freeman e rezam um pai nosso. Para quem chega pela primeira vez são dadas as
instruções. A prática tem como base a recitação de um mantra ou palavra de
oração, que pode ser desde o próprio nome de Jesus Cristo a Maranatha – palavra
aramaica que significa “vem, Senhor”. Como explica o folheto de
introdução, “no tempo de meditação você não deverá pensar no significado da
palavra – isto seria uma distração. Se quaisquer pensamentos disputarem sua
atenção, simplesmente retorne à recitação simples e fiel da palavra”.
A meditação dura vinte e cinco minutos. A
concentração e o ambiente acolhedor e impregnado de religiosidade, sem dúvida,
garantem uma sensação de paz que pode ser levada para fora da igreja e para os
relacionamentos. Nas seções que a Bodisatva participou, vários meditadores
relataram este mesmo sentimento. Como todos são incentivados a também fazer a
prática em casa, uma das participantes, que comemorava um ano de frequência no
grupo, contou com alegria nos olhos que, após começar a meditar em casa, havia
garantido mais serenidade para resolver os problemas e conflitos do dia-a-dia.
A própria Lucilene, que é cabeleireira, atesta os benefícios. “Eu era muito
ansiosa. Hoje sou mais tolerante, mais tranquila e ouço mais as pessoas”, diz a
praticante, que define a capela como “um cantinho do céu”. O grupo da Igreja São Luís foi fundado há
cerca de seis anos pela tradutora Cristiana Ferraz Coimbra, que descobriu a
prática há mais 15 anos e, atualmente, traduz textos de Laurence Freeman, além
de acompanhar algumas de suas visitas ao Brasil como intérprete. Participante
da Renovação Carismática, Cristiana era uma leitora voraz da doutrina católica
e deparou-se com textos do padre franciscano Inácio Larrañaga (1928-2013) que
pregava a oração pura, sem palavras. Em um final de semana no mosteiro de São
Bento, em Vinhedo (SP), onde a tradutora costumava passar temporadas para se
recolher e descansar, ouviu pela primeira sobre a oração contemplativa. A
partir daí não parou mais. Além de acompanhar os ensinamentos de
Laurence Freeman, Cristiana chegou a morar numa casa da Comunidade Mundial
para a Meditação Cristã em Londres, onde se aprofundou e foi encorajada a
montar um grupo. “Todo este movimento, que apenas cresce, dá oportunidade ao
leigo de experienciar uma forma de oração, que complementa as outras práticas
cristãs”, detalha a tradutora que nunca deixou de frequentar as missas, nem de
se aprofundar na leitura da Bíblia. Atualmente, católicos de cerca de 120
países têm praticado a meditação sob a orientação do frei Freeman. Para saber
onde praticar e conhecer mais sobre o assunto, clique aqui: wccm.com.br.
“Sabemos que não é um movimento de massa, já que depende de disciplina e há
ainda certos setores da igreja que têm preconceito”, detalha Cristiana. Talvez
por isso, esta prática que data dos primeiros séculos da era cristã tenha
ficado restrita aos mosteiros e conventos por um longo tempo. Dos padres do
deserto a John Main (1926-1982). Os primeiros meditadores cristãos que de que
se tem notícia surgiram no século II e são conhecidos como padres do deserto.
Inspirados pelos ensinamentos de Jesus Cristo, vários ascetas, monges e freiras
seguiram para o deserto do Egito, optando por uma vida de contemplação. O mais
conhecido deles foi Santo Antão (251-356), que acabou sendo seguido por várias
outras pessoas, criando diversas comunidades nas áridas regiões egípcias. Mais
de um século depois, São João Cassiano (360-435) tornou-se um importante
divulgador da prática e seus escritos tornaram-se fonte para o resgate da
tradição. Com a ascensão das ideias de
Santo Agostinho (354-430), que se caracterizavam por uma religiosidade mais
analítica; a oração contemplativa na Igreja Católica foi, por séculos, restrita
a mosteiros e conventos, especialmente entre os beneditinos, os agostinianos
recoletos, as clarissas e as carmelitas, ou seja, ordens caracterizadas pela
clausura e o recolhimento. A abertura contemporânea da oração contemplativa para o leigo
católico apareceu nos anos de 1970 por iniciativa do monge beneditino John
Main. Nascido em Londres, no seio de uma família de irlandeses católicos, Main
oscilou entre a vida leiga como especialista em direito e a vida estritamente
religiosa. Foi durante os anos que atuou na área de direito internacional,
prestando serviços para estrangeiros britânicos, que Main viajou para a
Malásia, onde conheceu o swami Satyananda (1923-2009) ao visitar um orfanato em
Kuala Lampur. O mestre hindu apresentou-lhe uma simples forma de meditação a
partir de mantras. Voltando ao Ocidente, Main se dedicou à vida religiosa e ao
estudo de escrituras. E, ao se aprofundar nos textos de São João Cassiano e dos
primeiros monges cristãos, descobriu a conexão entre a “oração pura” da
tradição monástica cristã e a meditação oriental que ele tinha praticado no
Oriente. O que os orientais chamam de mantra, Cassiano denominava fórmula e os
primeiros cristãos, oração monológica. Após fundar um pequeno mosteiro beneditino, em Montreal, no
Canadá, ele percebeu uma busca moderna por interioridade que cabia em sua
prática, começando, então, a sugerir a disciplina de dois períodos diários de
meia hora de meditação para todos os católicos. Laurence Freeman foi aluno e
amigo de Main, que faleceu em 1981, levando hoje seus ensinamentos para
diversas partes do mundo. Os apoiadores da meditação cristã fazem questão ainda de lembrar
que este método está presente na Bíblia, mais especificamente no Novo
Testamento, quando Jesus Cristo proferiu o famoso sermão da montanha. Segundo
Matheus, antes de ensinar o Pai Nosso, a principal oração do cristianismo,
Cristo disse “quando orares, entra no teu aposento e, fechada a porta, ora ao
teu Pai secretamente. E teu Pai, que vê o que é oculto, dar-te-á a recompensa.
E quando orardes, não faleis muito, como os gentios; pois julgam que pelo seu
muito falar serão ouvidos.” E dessa forma serena, muitos católicos têm se voltado para a
prática silenciosa. www.bodisatva.com.br.
Abraço. Davi
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