Espiritismo.
Texto de Allan Kardec (1804-1869). O Livro dos Espíritos. Capítulo X. OCUPAÇÕES
E MISSÕES DOS ESPÍRITOS. Os Espíritos têm outra coisa a fazer a não ser
melhorarem-se, pessoalmente? “Eles concorrem para a harmonia do Universo,
executando as vontades de Deus, de quem são os ministros. A vida espiritual é
uma ocupação contínua, mas nada tem de penosa, como na Terra, porque não há
fadiga corporal, nem as angústias das necessidades.” Os Espíritos inferiores e
imperfeitos também desempenham um papel útil no Universo? “Todos têm deveres a
cumprir. Será que o último pedreiro não concorre, para construir o edifício,
tanto quanto o arquiteto?” Os Espíritos possuem, todos, atribuições especiais?
“Digamos que todos nós devemos habitar em toda a parte e adquirir o
conhecimento de todas as coisas, presidindo, sucessivamente, a todas as partes
do Universo. Porém, como é dito no Eclesiastes, há um tempo para tudo; assim,
este cumpre, hoje, o seu destino neste mundo, um outro o cumpriu, ou cumprirá,
numa outra época, na terra, na água, no ar, etc.” As funções que os Espíritos
desempenham, na ordem das coisas, são permanentes para cada um e estão nas
atribuições exclusivas de algumas classes? “Todos devem percorrer os diferentes
graus da escala, para se aperfeiçoarem. Deus, que é justo, não poderia ter
querido dar a uns a ciência sem trabalho, enquanto outros só a adquirem
penosamente.” Também, entre os homens, ninguém chega ao grau supremo de
habilidade numa arte qualquer, sem ter haurido os conhecimentos necessários na
prática das etapas básicas dessa arte. Os Espíritos da ordem mais elevada, nada
mais tendo que adquirir, encontram-se num repouso absoluto, ou também têm
ocupações? “Que querias que fizessem durante a eternidade? A ociosidade eterna
seria um suplício eterno.” Qual a natureza de suas ocupações? “Receber,
diretamente, as ordens de Deus, transmiti-las a todo o Universo e velar por sua
execução.” As ocupações dos Espíritos são incessantes? “Incessantes, sim, se
entendemos que o pensamento deles está sempre ativo, visto que vivem pelo
pensamento. Porém, é importante não comparar as ocupações dos Espíritos com as
ocupações materiais dos homens; essa mesma atividade constitui um prazer, pela
consciência que têm de ser úteis.” Isto se concebe com relação aos bons
Espíritos; mas, acontecerá o mesmo com os Espíritos inferiores? “Os Espíritos
inferiores têm ocupações apropriadas à sua natureza. Confiais ao trabalhador
braçal e ao ignorante os trabalhos do homem de inteligência?” Dentre os
Espíritos, haverá os que são ociosos, ou que não se ocupam com coisa alguma de
útil? “Sim, este estado, porém, é temporário e subordinado ao desenvolvimento
de sua inteligência. Certamente, há, como há entre os homens, os que só vivem
para si mesmos; mas, esta ociosidade lhes pesa e, cedo ou tarde, o desejo de
progredir os fará experimentar a necessidade da atividade e ficarão felizes por
poderem tornar-se úteis. Falamos dos Espíritos que chegaram ao ponto de ter a
consciência de si mesmos e do seu livre-arbítrio, já que, em sua origem, são
como crianças que acabam de nascer e que agem mais por instinto do que por uma
vontade determinada.” Os Espíritos examinam nossos trabalhos de arte e se
interessam por eles? “Examinam o que pode demonstrar a elevação dos Espíritos e
seu progresso.” Um Espírito que teve uma especialidade na Terra, um pintor, um
arquiteto, por exemplo, interessa-se, preferencialmente, pelos trabalhos que
constituíram o objeto de sua predileção, durante sua vida? “Tudo se confunde
num objetivo geral. Se ele for bom, interessa-se por eles, na medida em que
isso lhe permita auxiliar as almas a se elevarem para Deus. Além disso,
esqueceis que um Espírito que cultivou uma arte numa existência em que o
conhecestes, pode ter cultivado uma outra, em outra existência, pois é preciso
que saiba tudo, para ser perfeito; assim, conforme o seu grau de adiantamento,
pode não haver, para ele, uma especialidade; foi o que eu quis dizer, afirmando
que tudo isso se confunde num objetivo geral. Notai, ainda, o seguinte: o que é
sublime para vós, no vosso mundo atrasado, não passa de infantilidade,
comparado aos mundos mais adiantados. Como quereis que os Espíritos que habitam
esses mundos, onde existem artes desconhecidas para vós, admirem o que, para
eles, é apenas uma obra de colegial? Eu já disse: eles examinam o que pode
demonstrar o progresso.” Concebemos que deva ser assim, para Espíritos muito
adiantados; mas falamos dos Espíritos mais comuns e que ainda não se elevaram
acima das ideias terrestres (... ). “Para esses, é diferente; o ponto de vista
deles é mais limitado e podem admirar o que vós mesmos admirais.” Os
Espíritos se imiscuem (intrometer), algumas vezes, em nossas ocupações e
prazeres? “Os Espíritos comuns, como tu o dizes, sim; esses estão,
incessantemente, em torno de vós e tomam parte, algumas vezes, muito ativa, no
que fazeis, conforme sua natureza; e é preciso que seja assim, para impelir os
homens nos diversos caminhos da vida, para excitar ou moderar suas paixões.” Os
Espíritos se ocupam com as coisas deste mundo, em razão da elevação ou da
inferioridade deles. Os Espíritos superiores possuem, sem dúvida, a faculdade
de examiná-las nos mínimos detalhes, mas só o fazem na medida em que isso seja
útil ao progresso; somente os Espíritos inferiores dão a elas uma importância
relativa às lembranças que ainda estejam presentes em sua memória e às ideias
materiais que neles ainda não se tenham extinguido. Os Espíritos, que têm
missões a cumprir, as cumprem no estado errante, ou no estado de encarnação?
“Podem tê-las num e noutro estado; para certos Espíritos errantes, é uma grande
ocupação.” Em que consistem as missões de que podem ser encarregados os
Espíritos errantes? “Elas são tão variadas que seria impossível descrevê-las;
aliás, há algumas que não podeis compreender. Os Espíritos executam as vontades
de Deus e não podeis penetrar em todos os seus desígnios.” As missões dos
Espíritos têm sempre o bem por objeto. Quer como Espíritos, quer como homens,
são encarregados de auxiliar o progresso da Humanidade, dos povos, ou dos
indivíduos, num círculo de ideias mais ou menos amplas, mais ou menos
especiais, de preparar os caminhos para determinados acontecimentos, de velar
para o cumprimento de certas coisas. Alguns têm missões mais restritas e, de
alguma forma, pessoais, ou inteiramente locais, como assistir os enfermos, os
agonizantes, os aflitos; velar por aqueles de quem se tornaram os guias e os
protetores, dirigi-los, através dos seus conselhos, ou através dos bons
pensamentos que lhes sugerem. Pode-se dizer que há tantos gêneros de missões,
quantas espécies de interesses a assegurar, tanto no mundo físico, quanto no
mundo moral. O Espírito se adianta, segundo a maneira pela qual cumpre sua
tarefa. Os Espíritos sempre percebem os desígnios que estão encarregados de
executar? “Não; há aqueles que são instrumentos cegos, outros, porém, sabem
muito bem com que objetivo agem.” Apenas os Espíritos elevados desempenham
missões? “A importância das missões corresponde às capacidades e à elevação do
Espírito. O estafeta que leva um telegrama também cumpre uma missão, mas que
não é como a do general.” A missão de um Espírito lhe é imposta, ou depende de
sua vontade? “Ele a pede e fica feliz por obtê-la.” A mesma missão pode ser
pedida por vários Espíritos? “Sim; há, frequentemente, vários candidatos, mas
nem todos são aceitos.” Em que consiste a missão dos Espíritos encarnados?
“Instruir os homens; auxiliando-os no progresso; melhorar suas instituições,
através de meios diretos e materiais; as missões, porém, são mais ou menos
gerais e importantes; aquele que cultiva a Terra cumpre uma missão, como aquele
que governa ou o que instrui. Tudo se encadeia na Natureza; ao mesmo tempo que
o Espírito se depura pela encarnação, concorre, dessa forma, para a execução
dos desígnios da Providência. Cada um tem sua missão neste mundo, porque cada
qual pode ser útil em alguma coisa.” Qual pode ser a missão das pessoas
voluntariamente inúteis, na Terra? “Há, efetivamente, pessoas que vivem apenas
para si mesmas e não sabem se tornar úteis em coisa alguma. São pobres seres
que devem ser olhados com piedade, pois expiarão, cruelmente, sua inutilidade
voluntária e seu castigo começa, com frequência, já neste mundo, pelo tédio e o
desgosto da vida.” Visto que tinham a escolha, por que preferiram uma vida que
não podia lhes trazer proveito algum? “Entre os Espíritos há também preguiçosos
que recuam diante de uma vida de trabalho. Deus os deixa agir assim; eles
compreenderão, mais tarde e às suas custas, os inconvenientes de sua
inutilidade e serão os primeiros a pedir para recuperar o tempo perdido. Pode
ser também que tenham escolhido uma vida mais útil, mas, uma vez diante da
obra, recuam e se deixam arrastar pelas sugestões dos Espíritos que os
encorajam na sua ociosidade.” As ocupações comuns nos parecem muito mais
deveres do que missões propriamente ditas. A missão, conforme o sentido dado a
esta palavra, tem um caráter de importância menos exclusivo e, principalmente,
menos pessoal. Deste ponto de vista, como se pode reconhecer que um homem tem
uma missão real, na Terra? “Pelas grandes coisas que executa, pelos progressos
que possibilita aos seus semelhantes.” Os homens que têm uma missão importante
a ela estão predestinados, antes de seu nascimento, e dela têm conhecimento?
“Algumas vezes, sim; porém, geralmente o ignoram. Vindo à Terra, apenas divisam
um vago objetivo; sua missão se delineia após o nascimento e de acordo com as
circunstâncias. Deus os conduz ao caminho onde devem cumprir seus desígnios.”
Quando um homem faz uma coisa útil, será sempre em virtude de uma missão
anterior e predestinada, ou pode receber uma missão não prevista? “Nem tudo o
que um homem faz é o resultado de uma missão predestinada; frequentemente, ele
é o instrumento de que um Espírito se serve para fazer que se execute algo que
ele considera útil. Por exemplo, um Espírito julga que seria bom escrever um
livro, que ele próprio escreveria, se estivesse encarnado; procura o escritor
mais apto a compreender e executar seu pensamento; dá-lhe a ideia e o dirige na
execução. Dessa forma, esse homem não veio absolutamente à Terra com a missão
de realizar essa obra. Acontece o mesmo com algumas obras de arte, ou com
descobertas. É preciso dizer, ainda, que, durante o sono de seu corpo, o
Espírito encarnado comunica-se diretamente com o Espírito errante e que se
entendem com relação à execução.” O Espírito pode falir na sua missão, por sua
própria culpa? “Sim, se não for um Espírito superior.” Quais são para ele as
consequências disso? “Terá que recomeçar sua tarefa: aí está sua punição; além
disso, sofrerá as consequências do mal que tiver causado.” Visto que o Espírito
recebe sua missão de Deus, como Deus pode confiar uma missão importante e de
interesse geral a um Espírito que nela poderia falir? “Deus não sabe se seu
general obterá a vitória ou se será vencido? Ele o sabe, ficai certos disso, e
seus planos, quando são importantes, não repousam, absolutamente, sobre aqueles
que devam abandonar sua obra pela metade. Toda a questão está, para vós, no
conhecimento que Deus possui do futuro, mas que a vós não é dado.” O Espírito
que encarna para cumprir uma missão experimenta apreensão idêntica à daquele
que o faz como prova? “Não; ele tem a experiência.” Os homens que são a luz do
gênero humano, que o iluminam com seu gênio, têm, certamente, uma missão;
dentre eles, porém, há aqueles que se enganam e que, ao lado de grandes
verdades, difundem grandes erros. Como se deve considerar a missão deles? “Como
falseada por eles próprios. Estão abaixo da tarefa que empreenderam.
Entretanto, é preciso levar em conta as circunstâncias; os homens de gênio têm
que falar de acordo com os tempos; um ensinamento que parece errôneo ou pueril
numa época adiantada, pode ter sido adequado para o seu século.” Pode-se
considerar a paternidade como uma missão? “É, sem contestação, uma missão; é,
ao mesmo tempo, um dever muito grande e que compromete o homem, mais do que ele
pensa, com relação à sua responsabilidade quanto ao futuro. Deus colocou a
criança sob a tutela de seus pais, para que estes o dirijam no caminho do bem,
e facilitou-lhes a tarefa, dando-lhe uma organização débil e delicada que o
torna acessível a todas as impressões; entretanto, há os que se preocupam mais
em aprumar as árvores de seu jardim e de fazê-las dar muitos bons frutos, do
que em endireitar o caráter de seu filho. Se este sucumbir, por culpa deles,
suportarão a dor, e os sofrimentos do filho na vida futura recairão sobre eles,
pois não terão feito o que deles dependia para o seu adiantamento no caminho do
bem.” Se um filho se desvia para o mal, apesar dos cuidados de seus pais, são
estes responsáveis por isso? “Não; porém, quanto maiores as disposições do
filho para o mal, mais pesada é a tarefa e maior será o mérito, se eles
conseguirem desviá-lo do mau caminho.” Se um filho se torna um homem de bem,
apesar da negligência ou dos maus exemplos de seus pais, estes retiram daí
algum proveito? “Deus é justo.” De que natureza pode ser a missão do
conquistador que apenas visa satisfazer sua ambição e que, para atingir esse
objetivo, não recua diante de nenhuma das calamidades que arrasta atrás de si?
“Em geral, ele não passa de um instrumento de que Deus se serve, para o
cumprimento de seus desígnios, e essas calamidades são, algumas vezes, um meio
de fazer um povo progredir mais rápido.” Aquele que é o instrumento dessas
calamidades passageiras é estranho ao bem que delas pode resultar, visto que
apenas se propusera um fim pessoal; entretanto, desse bem tirará ele algum
proveito? “Cada um é recompensado de acordo com suas obras, com o bem que quis fazer
e com a retidão de suas intenções.” Os Espíritos encarnados têm ocupações
inerentes à sua existência corporal. No estado de erraticidade, ou de
desmaterialização, essas ocupações são proporcionais ao grau de adiantamento
deles. Uns percorrem os mundos, se instruem e se preparam para uma nova
encarnação. Outros, mais adiantados, se ocupam com o progresso, dirigindo os
acontecimentos e sugerindo ideias propícias; assistem os homens de gênio que
concorrem para o adiantamento da Humanidade. Outros encarnam com uma missão de
progresso. Outros tomam sob sua tutela os indivíduos, as famílias, as reuniões,
as cidades e os povos, dos quais se constituem os anjos guardiães, os gênios
protetores e os Espíritos familiares. Outros, finalmente, presidem aos fenômenos
da Natureza, de que se constituem os agentes diretos. Os Espíritos comuns se
imiscuem em nossas ocupações e em nossas diversões. Os Espíritos impuros ou
imperfeitos aguardam, nos sofrimentos e nas angústias, o momento em que praza a
Deus proporcionar-lhes os meios de se adiantarem. Se fazem o mal, é pelo
despeito do bem de que ainda não podem gozar. Os TRÊS REINOS. I. OS MINERAIS E
AS PLANTAS. 2. OS ANIMAIS E O HOMEM. 3. METEMPSICOSE. I OS MINERAIS E AS
PLANTAS. Que pensais da divisão da Natureza em três reinos, ou melhor, em duas
classes: os seres orgânicos e os seres inorgânicos? Para alguns, a espécie
humana constitui uma quarta classe. Qual dessas divisões é preferível? “Todas
elas são boas, dependendo do ponto de vista. Do ponto de vista material, só há
seres orgânicos e inorgânicos; do ponto de vista moral, há, evidentemente,
quatro graus.” Esses quatro graus têm, efetivamente, caracteres determinados,
embora seus limites pareçam confundir-se: a matéria inerte, que constitui o
reino mineral, só tem em si uma força mecânica; as plantas, compostas de
matéria inerte, são dotadas de vitalidade; os animais, compostos de matéria
inerte, dotados de vitalidade, possuem, além disso, uma espécie de inteligência
instintiva, limitada, com a consciência de sua existência e de sua
individualidade. O homem, tendo tudo o que há nas plantas e nos animais, domina
todas as outras classes, através de uma inteligência especial, indefi nida, que
lhe dá a consciência de seu futuro, a percepção das coisas extra materiais e o
conhecimento de Deus. As plantas têm consciência de suas existências? “Não;
elas não pensam; só têm vida orgânica.” As plantas experimentam sensações?
Sofrem quando as mutilam? “As plantas recebem impressões físicas que agem sobre
a matéria, porém não têm percepções, por conseguinte, não têm a da dor.” A
força que atrai as plantas umas para as outras independe da vontade delas?
“Sim, já que não pensam. É uma força mecânica da matéria, que age sobre a
matéria: elas não poderiam opor-se a isso.” Algumas plantas, como a dormideira
e a dioneia, por exemplo, possuem movimentos que denotam uma grande
sensibilidade e, em certos casos, uma espécie de vontade, como a última, cujos
lóbulos apanham a mosca que pousa sobre ela, para sugá-la, parecendo fazer-lhe
uma armadilha, para, em seguida, matá-la. Essas plantas são dotadas da
faculdade de pensar? Têm uma vontade e formam uma classe intermediária, entre a
natureza vegetal e a natureza animal? Constituem uma transição de uma para a
outra? “Na Natureza, tudo é transição, pelo próprio fato de que nada é
semelhante e, entretanto, tudo se interliga. As plantas não pensam e, por
conseguinte, não têm vontade. Nem a ostra que se abre, nem os zoófitos pensam:
têm apenas um instinto cego e natural.” O organismo humano nos fornece exemplos
de movimentos análogos, sem a participação da vontade, como nas funções
digestivas e circulatórias; o piloro se contrai, ao contato de certos corpos,
para impedir-lhes a passagem. Deve dar-se o mesmo com a dormideira, cujos
movimentos, de forma alguma, implicam a necessidade de uma percepção e, menos
ainda, de uma vontade. Não haverá nas plantas, como nos animais, um instinto de
conservação que os leve a procurar o que lhes possa ser útil e a evitar o que
lhes possa ser nocivo? “Há, se o quiserdes, uma espécie de instinto dependendo
da extensão que se dê a esta palavra; mas ele é puramente mecânico. Quando, nas
operações da química, vedes dois corpos se reunirem, é que eles se convêm, isto
é, é que há, entre eles, afinidade; não chamais isso de instinto.” Nos mundos
superiores, as plantas são de uma natureza mais perfeita, como os outros seres?
“Tudo é mais perfeito; as plantas, porém, são sempre plantas, como os animais
são sempre animais e os homens sempre homens.” II. OS ANIMAIS E O HOMEM. Se comparamos
o homem e os animais, sob o ponto de vista da inteligência, parece difícil
estabelecer a linha de demarcação entre eles, pois certos animais têm, sob este
aspecto, uma superioridade notória sobre alguns homens. Esta linha de
demarcação pode ser estabelecida de maneira precisa? “Sobre este ponto, vossos
filósofos não estão absolutamente de acordo; uns querem que o homem seja um
animal e outros, que o animal seja um homem; estão todos enganados; o homem é
um ser à parte, que, algumas vezes, desce muito baixo, ou que pode elevar-se
muito alto. Pelo físico, o homem é como os animais e bem menos dotado do que
muitos deles; a Natureza lhes deu tudo o que o homem é obrigado a inventar com
a sua inteligência, para atender suas necessidades e sua conservação; seu corpo
se destrói, como o dos animais, é verdade, mas seu Espírito tem um destino que
só ele pode compreender, porque só ele é completamente livre. Pobres homens que
vos colocais abaixo do animal! Não sabeis vos distinguir dele? Reconhecei o
homem pela ideia de Deus.” Pode-se dizer que os animais só agem por instinto?
“Há ainda aí um sistema. É bem verdade que o instinto domina, na maioria dos
animais; mas, não vês que muitos deles agem com uma vontade determinada? Isto é
inteligência, porém, limitada.” Além do instinto, não se poderia negar, a
certos animais, atos combinados, que denotam uma vontade de agir, num sentido
determinado e de acordo com as circunstâncias. Há neles, portanto, uma espécie
de inteligência, cujo exercício está, entretanto, mais exclusivamente
concentrado nos meios de satisfazer suas necessidades físicas e de prover à
própria conservação. Nenhuma criação, nenhum melhoramento há neles; qualquer
que seja a arte que admiremos nos seus trabalhos, o que faziam outrora, eles o
fazem hoje, nem melhor, nem pior, segundo formas e proporções constantes e
invariáveis. O filhote, isolado dos de sua espécie, nem por isso deixa de
construir seu ninho de acordo com o mesmo modelo, sem ter recebido nenhum
ensino para isto. Se alguns são suscetíveis de uma certa educação, o
desenvolvimento intelectual deles, sempre encerrado em limites estreitos, é
devido à ação do homem sobre uma natureza flexível, pois nenhum progresso há
que lhes seja próprio; este progresso, porém, é efêmero e puramente individual,
pois o animal, entregue a si mesmo, não tarda a retornar aos limites traçados
pela Natureza. Os animais têm uma linguagem? “Se imaginais uma linguagem
formada de palavras e de sílabas, não; mas um meio de se comunicar entre si,
sim; dizem entre si muito mais coisas do que supondes; a linguagem deles,
porém, é limitada, como suas ideias, às suas necessidades.” Há animais que não
têm voz; esses parecem não ter linguagem (...). “Eles se compreendem, através
de outros meios. Vós outros, homens, só tendes a palavra para vos comunicar? E
os mudos, que dizeis deles? Os animais, sendo dotados da vida de relação,
possuem meios de se prevenir e de exprimir as sensações que experimentam.
Imaginais que os peixes não se entendem entre si? O homem não tem, portanto, o
privilégio exclusivo da linguagem; mas a dos animais é instintiva e limitada ao
círculo de suas necessidades e de suas ideias, enquanto que a do homem é
perfectível e se presta a todas as concepções de sua inteligência.” Os peixes
que, com efeito, emigram em massa, como as andorinhas que obedecem ao guia que
as conduz, devem ter meios de se advertir, de se entender e organizar. Talvez
disponham de uma vista mais penetrante que lhes permita distinguir os sinais
que fazem; talvez, ainda, encontrem na água um veículo que lhes transmita
certas vibrações. Como quer que seja, é incontestável que possuem um meio de se
entenderem, assim como todos os animais privados da voz e que realizam
trabalhos em comum. Diante disso, devemos nos espantar de que os Espíritos possam
se comunicar entre si, sem o auxílio da palavra articulada? Os animais possuem
o livre-arbítrio de seus atos? “Eles não são simples máquinas, como o
imaginais; a liberdade de ação deles, porém, é limitada às suas necessidades e
não pode se comparar à do homem. Sendo muitíssimo inferiores a ele, não têm os
mesmos deveres. A liberdade deles está restrita aos atos da vida material.” De
onde se origina a aptidão de certos animais para imitar a linguagem do homem e
por que essa aptidão se encontra muito mais nos pássaros do que no macaco, por
exemplo, cuja conformação tem mais analogia com a dele? “Conformação particular
dos órgãos vocais, auxiliada pelo instinto de imitação; o macaco imita os
gestos; alguns pássaros imitam a voz.” Visto que os animais possuem uma
inteligência que lhes dá uma certa liberdade de ação, haverá neles um princípio
independente da matéria? “Sim, e que sobrevive ao corpo.” Este princípio é uma
alma semelhante à do homem? “É também uma alma, se o quiserdes, dependendo do
sentido que se dê a esta palavra; ela é, porém, inferior à do homem. Há entre a
alma dos animais e a do homem distância igual àquela existente entre a alma do
homem e Deus.” A alma dos animais conserva, depois da morte, sua
individualidade e a consciência de si mesma? “Sua individualidade, sim; não,
porém, a consciência do seu eu. A vida inteligente permanece em estado
latente.” A alma dos animais tem a escolha de encarnar num animal de
preferência a num outro? “Não; ela não tem o livre-arbítrio.” A alma do animal,
sobrevivendo ao corpo, depois da morte, fica num estado errante, como a do
homem? “Fica numa espécie de erraticidade, já que não está unida a um corpo;
não é, porém, um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e age
por sua livre vontade; o dos animais não dispõe da mesma faculdade; a
consciência de si mesmo é o atributo principal do Espírito. O Espírito do
animal é classificado, depois da morte, pelos Espíritos incumbidos disso e,
quase imediatamente, utilizado; ele não tem tempo de se relacionar com outras
criaturas.” Os animais seguem uma lei progressiva, como os homens? “Sim, e é
por isso que, nos mundos superiores, onde os homens são mais adiantados, os
animais também o são, dispondo dos meios de comunicação mais desenvolvidos;
eles, porém, são sempre inferiores e submissos ao homem; são, para ele,
servidores inteligentes.” Nada de extraordinário há nisso; suponhamos nossos
animais mais inteligentes, o cão, o elefante, o cavalo, com uma conformação
apropriada para os trabalhos manuais; o que não poderiam fazer sob a direção do
homem? Os animais progridem, como o homem, por efeito da própria vontade ou
pela força das coisas? “Pela força das coisas; é por isso que não há para eles
a expiação.” Nos mundos superiores, os animais conhecem Deus? “Não; para eles,
o homem é um deus, como outrora os Espíritos foram deuses, para os homens.” Os
animais, mesmo os aperfeiçoados, nos mundos superiores, sendo sempre inferiores
ao homem, daí resulta que Deus teria criado seres intelectuais perpetuamente
destinados à inferioridade, o que parece em desacordo com a unidade de vistas e
de progresso que se observa em todas as suas obras? “Tudo se encadeia na
Natureza, por elos que não podeis ainda apreender e as coisas mais díspares,
aparentemente, têm pontos de contato que o homem nunca chegará a compreender,
no seu estado atual. Ele pode entrevê-los, por um esforço de sua inteligência,
mas, somente quando essa inteligência tiver adquirido todo o seu
desenvolvimento e estiver liberada dos preconceitos do orgulho e da ignorância,
é que ela poderá ver claramente na obra de Deus; até lá, suas ideias limitadas
fazem-no ver as coisas de um ponto de vista mesquinho e acanhado. Sabei bem que
Deus não pode se contradizer, e que tudo, na Natureza, se harmoniza, através
das leis gerais que nunca se afastam da sublime sabedoria do Criador.” A
inteligência é, então, uma propriedade comum, um ponto de contato, entre a alma
dos animais e a do homem? “Sim, mas os animais apenas possuem a inteligência da
vida material; no homem, a inteligência proporciona a vida moral.” Se
considerarmos todos os pontos de contato que existem entre o homem e os
animais, não se poderia pensar que o homem possui duas almas: a alma animal e a
alma espiritual, e que, se não tivesse esta última, ele poderia viver, mas como
o animal; ou melhor, que o animal é um ser semelhante ao homem, tendo a menos a
alma espiritual? Daí resultaria que os bons e os maus instintos do homem seriam
o efeito da predominância de uma dessas duas almas? “Não, o homem não tem duas almas;
o corpo, porém, tem seus instintos, que são o resultado da sensação dos órgãos.
Há nele apenas uma dupla natureza: a natureza animal e a natureza espiritual;
pelo seu corpo, ele participa da natureza dos animais e de seus instintos; pela
sua alma, ele participa da natureza dos Espíritos.” Assim, além de suas
próprias imperfeições das quais o Espírito deve se despojar, tem ainda que
lutar contra a influência da matéria? “Sim, quanto mais inferior ele for, mais
apertados serão os elos entre o Espírito e a matéria; não o vedes? Não, o homem
não tem duas almas; a alma é sempre única em cada ser. A alma do animal e a do
homem são distintas uma da outra, de tal forma que a alma de um, não pode
animar o corpo criado para o outro. Mas, se o homem não possui alma animal que
o coloque, pelas suas paixões, no nível dos animais, ele tem seu corpo que o
rebaixa, frequentemente, até o nível deles, pois seu corpo é um ser dotado de
vitalidade que possui instintos, porém, ininteligentes e limitados ao cuidado
de sua conservação.” O Espírito, ao encarnar no corpo do homem, traz-lhe o
princípio intelectual e moral que o torna superior aos animais. As duas
naturezas que no homem existem dão às suas paixões duas origens diferentes:
umas provenientes dos instintos da natureza animal, as outras, das impurezas do
Espírito de que ele é a encarnação e que simpatiza mais ou menos com a
grosseria dos apetites animais. O Espírito, purificando-se, liberta-se, pouco a
pouco, da influência da matéria; sob esta influência, ele se aproxima do
animal; desembaraçado dela, eleva-se à sua verdadeira destinação. De onde
retiram os animais o princípio inteligente que constitui a espécie particular
de alma de que eles são dotados? “Do elemento inteligente universal.” A
inteligência do homem e a dos animais emanam, portanto, de um princípio único?
“Sem dúvida alguma, mas, no homem, ele recebeu uma elaboração que o eleva acima
daquele que anima o animal.” Foi dito que a alma do homem, em sua origem, está
no estado correspondente ao da infância, na vida corporal; que sua inteligência
apenas desabrocha e que se ensaia para a vida; onde o Espírito efetua esta
primeira fase? “Numa série de existências que precedem o período a que chamais
Humanidade.” Então, parece ter sido a alma o princípio inteligente dos seres
inferiores da criação? “Já não dissemos que tudo se encadeia na Natureza e
tende para a unidade? É nesses seres, cuja totalidade estais longe de conhecer,
que o princípio inteligente se elabora, se individualiza, pouco a pouco, e se
ensaia para a vida, como já vos dissemos. É, de alguma forma, um trabalho
preparatório, como o da germinação, em consequência do qual o princípio
inteligente experimenta uma transformação e se torna Espírito. É, então, que
começa para ele o período da humanidade e com ela a consciência de seu futuro,
a distinção do bem e do mal e a responsabilidade de seus atos; assim como,
depois do período da infância, vem o da adolescência, depois a juventude e,
finalmente, a idade madura. Aliás, nada há, nesta origem, que deva humilhar o
homem. Os grandes gênios sentem-se humilhados por terem sido fetos informes nas
entranhas de sua mãe? Se alguma coisa deve humilhá-lo, é sua inferioridade
diante de Deus e sua impotência para sondar a profundeza de seus desígnios e a
sabedoria das leis que regulam a harmonia do Universo. Reconhecei a grandeza de
Deus nessa admirável harmonia que faz com que tudo seja solidário na Natureza.
Acreditar que Deus tivesse podido fazer alguma coisa sem objetivo e criar seres
inteligentes sem futuro, seria blasfemar contra sua bondade, que se estende
sobre todas as suas criaturas.” Esse período de humanização começa na nossa
Terra? “A Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana; o
período da humanização começa, em geral, em mundos ainda mais inferiores; isto,
todavia, não é uma regra absoluta e poderia acontecer que um Espírito, desde o
seu início humano, estivesse apto a viver na Terra. Este caso não é frequente e
seria, antes, uma exceção.” O Espírito do homem, depois da morte, tem consciência
das existências que precederam, para ele, o período de humanidade? “Não, pois
não é senão deste período que começa para ele a sua vida de Espírito e é até
com dificuldade que se lembra de suas primeiras existências como homem,
absolutamente como o homem não se lembra mais dos primeiros tempos de sua
infância e menos ainda do tempo que passou no seio de sua mãe. É por isso que
os Espíritos vos dizem que não sabem como começaram.” O Espírito, uma vez tendo
entrado no período de humanidade, conserva traços do que era precedentemente,
isto é, do estado em que se achava, no período a que se poderia chamar de ante
humano? “Conforme a distância que separa os dois períodos e o progresso
efetuado. Durante algumas gerações, pode nele haver um reflexo mais ou menos
pronunciado do estado primitivo, pois nada na Natureza se faz por brusca
transição; há sempre anéis que ligam as extremidades da cadeia dos seres e dos
acontecimentos; porém, esses traços se apagam com o desenvolvimento do
livre-arbítrio. Os primeiros progressos lentamente se realizam, porque ainda
não foram secundados pela vontade; seguem uma progressão mais rápida, à medida
que o Espírito adquire uma consciência mais perfeita de si mesmo.” Então, os
Espíritos que disseram que o homem é um ser à parte na ordem da criação
enganaram-se? “Não, mas a questão não tinha sido desenvolvida e há, aliás,
coisas que não podem vir senão a seu tempo. O homem é, com efeito, um ser à
parte, pois possui faculdades que o distinguem de todos os outros e tem um
outro destino. A espécie humana é a que Deus escolheu para a encarnação dos
seres que podem conhecê-lo.” METEMPSICOSE. A origem comum dos seres vivos no
princípio inteligente não é a consagração da doutrina da metempsicose? “Duas
coisas podem ter uma mesma origem e não se assemelharem de maneira alguma, mais
tarde. Quem reconheceria a árvore, suas folhas, suas flores e seus frutos, no
gérmen informe contido na semente donde ela saiu? A partir do momento em que o
princípio inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e entrar no
período de humanidade, ele não guarda mais relação com seu estado primitivo e
não é a alma dos animais, assim como a árvore não é a semente. De animal, só há
no homem o corpo e as paixões que nascem da influência do corpo e do instinto de
conservação inerente à matéria. Não se pode, portanto, dizer que tal homem é a
encarnação do Espírito de tal animal e, por conseguinte, a metempsicose, tal
como a entendem, não é verdadeira.” O Espírito que animou o corpo de um homem
poderia encarnar num animal? “Isto seria retrogradar e o Espírito não
retrograda. O rio não retorna à sua nascente.” Por mais errônea que seja a
ideia ligada à metempsicose, não seria ela o resultado do sentimento intuitivo
das diferentes existências do homem? “Este sentimento intuitivo encontra-se
nesta crença, como em muitas outras; porém, como à maioria de suas ideias
intuitivas, o homem o desnaturou.” A metempsicose seria verdadeira, se se
entendesse por esta palavra a progressão da alma de um estado inferior a um
estado superior, onde adquirisse desenvolvimentos que transformassem sua
natureza; mas ela é falsa, no sentido de transmigração direta do animal para o
homem e reciprocamente, o que implicaria a ideia de uma retro gradação, ou de
fusão; ora, como esta fusão não pode dar-se entre os seres corporais das duas
espécies, isto é um indício de que elas estão em graus inassimiláveis e que
deve acontecer o mesmo com os Espíritos que as animam. Se o mesmo Espírito
pudesse animá-las, alternadamente, haveria, por conseguinte, uma identidade de
natureza que se traduziria pela possibilidade da reprodução material. A
reencarnação ensinada pelos Espíritos se funda, ao contrário, na marcha
ascendente da Natureza e na progressão do homem, dentro da sua própria espécie,
o que nada lhe tira de sua dignidade. O que o rebaixa é o mau uso que faz das
faculdades que Deus lhe deu, para o seu adiantamento. Seja como for, a
ancianidade e a universalidade da doutrina da metempsicose e os homens
eminentes que a professaram, provam que o princípio da reencarnação tem suas
raízes na própria Natureza; são, pois, argumentos muito mais a seu favor, do
que contrários a ele. O ponto de partida do Espírito é uma dessas questões que
se prendem ao princípio das coisas e que estão nos segredos de Deus. Não é dado
ao homem conhecê-las de maneira absoluta e, a esse respeito, só pode fazer
suposições, construir sistemas mais ou menos prováveis. Os próprios Espíritos
estão longe de tudo conhecer; e, acerca do que não sabem, eles também podem ter
opiniões pessoais, mais ou menos sensatas. É assim, por exemplo, que nem todos
pensam da mesma forma quanto às relações existentes entre o homem e os animais.
Segundo alguns, o Espírito não chega ao período humano senão depois de se ter
elaborado e individualizado, nos diferentes graus dos seres inferiores da
criação. Segundo outros, o Espírito do homem teria sempre pertencido à raça
humana, sem passar pela fieira animal. O primeiro desses sistemas tem a
vantagem de dar um objetivo ao futuro dos animais, que formariam, assim, os
primeiros anéis da corrente dos seres pensantes; o segundo é mais conforme à
dignidade do homem e pode se resumir da seguinte maneira: As diferentes
espécies de animais não procedem intelectualmente umas das outras pela via da
progressão; assim, o espírito da ostra não se torna, sucessivamente, o do
peixe, do pássaro, do quadrúpede e do quadrúmano; cada espécie é um tipo
absoluto, física e moralmente, cujos indivíduos haurem, na fonte universal, a
quantidade do princípio inteligente que lhes seja necessário, de acordo com a
perfeição de seus órgãos e com a obra que devam executar nos fenômenos da
Natureza e que, por ocasião de sua morte, restituem à massa. Os dos mundos mais
adiantados que o nosso, constituem igualmente raças distintas, apropriadas às
necessidades desses mundos e ao grau de adiantamento dos homens, dos quais são
os auxiliares, mas que, de modo algum, procedem dos da Terra, espiritualmente
falando. Não acontece o mesmo com o homem. Do ponto de vista físico, ele forma,
evidentemente, um elo da cadeia dos seres vivos; porém, do ponto de vista
moral, há, entre o animal e o homem, solução de continuidade; o homem possui,
como propriedade, a alma ou Espírito, centelha divina que lhe dá o senso moral
e um alcance intelectual que faltam aos animais; nele é o ser principal, que
preexiste e sobrevive ao corpo, conservando sua individualidade. Onde está seu
ponto de partida? Forma-se do princípio inteligente individualizado? Aí está um
mistério que seria inútil procurar devassar e sobre o qual, como dissemos, só é
possível construir sistemas. O que é constante, o que ressalta do raciocínio e
da experiência, é a sobrevivência do Espírito, a conservação de sua
individualidade depois da morte, sua faculdade progressiva, seu estado feliz ou
infeliz, proporcionais ao seu adiantamento no caminho do bem, e todas as
verdades morais que são a consequência deste princípio. Quanto às relações
misteriosas que existem entre o homem e os animais, aí está, repetimos, o
segredo de Deus, como muitas outras coisas, cujo conhecimento atual não importa
para o nosso progresso e sobre as quais seria inútil insistir. O Livro dos
Espíritos. Abraço. Davi.
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