segunda-feira, 18 de setembro de 2017

IV. MAÇONARIA.

Maçonaria. Texto de Lourizaldo Peres Baçan. MAÇONARIA E SATANISMO. Capítulo Nove.. - Um milagre - respondi-; não vos compreendo, senhor cônego. - Sim, um milagre - repetia-, não importa qual, a fim de que possa dar testemunho... O milagre que queirais!... Que sei eu?... Toma, por exemplo..., está cadeira...; transformai-a em bastão, em guarda-chuva... Estava perplexo. Recusei docemente realizar semelhante prodígio. E meu cônego voltou a Friburgo dizendo que, se eu não fazia milagres, era por humildade. Alguns meses mais tarde me enviava um imenso queijo de Gruyere; sobre sua casca havia gravado, com uma faca, inscrições piedosas, hieróglifos de um misticismo descabelado; um excelente queijo, por outro lado, que jamais terminava e que comi com infinito respeito. Meus primeiros livros sobre a Maçonaria foram, pois, uma mescla de rituais com pequenos enxertos anódinos, com interpretações aparentemente insignificantes; cada vez que uma passagem era obscura, ilustrava-a de forma agradável para os católicos que viam no senhor Lúcifer o supremo Grão-Mestre dos franco-maçons. Mas isto era apenas sinalizado. Eu me limitava a preparar docemente o terreno, a trabalhá-lo em seguida e a jogar a semente mistificadora que devia germinar felizmente. Após dois anos deste trabalho preparatório, fui a Roma. Recebido primeiro pelo Cardeal Rampolla e o Cardeal Parocchi, tive a sorte de ouvi-los, a um e outro, dizerem-me que meus livros eram perfeitos. Ah, sim, revelavam exatamente o que se sabia muito bem no Vaticano e que era verdadeiramente uma sorte que um convertido publicasse seus famosos rituais! O Cardeal Rampolla me deu a chave do assunto. Como lamentava que eu não tivesse sido mais que um simples aprendiz em maçonaria! Mas, desde o momento que havia obtido os rituais, nada era mais legítimo que sua reprodução. Reconhecia tudo, inclusive o que, inventado por mim, tinha o mesmo valor que os tubarões de Marselha ou a vila sublacustre. Quanto ao Cardeal Parocchi, o que o interessava mais particularmente era a questão dos Irmãos Maçons; a ele também minhas preciosas revelações nada ensinavam. Tinha ido a Roma improvisadamente, ignorando que, para obter uma audiência particular do Soberano Pontífice, era necessário solicitá-la de antemão, com muito tempo, mas tive a agradável surpresa de não ter que esperar e o Santo Padre me recebeu durante três quartos de hora. Para ganhar essa nova partida, havia tomado minhas precauções com base na noite passada a sós com o cardeal Secretário de Estado. É evidente que este havia sido encarregado de estudar-me de antemão. Assim, pois, a impressão que tentei dar-lhe foi a de um cérebro um pouco exaltado, sem ir, não obstante, até o grau do bom cônego de Friburgo. O informe verbal que o Cardeal Rampolla fez ao Santo Padre me valeu a acolhida que desejava. Desde minha admissão sob o estandarte da Igreja, estava bem convencido de uma verdade: que não saberia ser um bom ator se não me metesse na pele do personagem que representava; se não acreditasse - ao menos de momento - que estava acontecendo. No teatro, se se representa uma cena de desespero, não se pode dissimular as lágrimas; o cômico enxuga com seu lenço olhos secos; o artista chora realmente. Por esta razão, durante toda a manhã que precedeu minha recepção, concentrei-me na situação de uma forma tão completa que estava pronto para tudo e era incapaz de dar um tropeço, apesar de toda surpresa. Quando o Papa me perguntou: - Filho meu, que desejais? - Respondi-lhe: - Santo Padre, morrer a vossos pés, agora, neste momento... Seria minha maior sorte... Leão XIII se dignou dizer-me, sorrindo, que minha vida era mais útil, todavia, para os combates da fé. E abordou a questão da Maçonaria. Tinha todas minhas novas obras em sua biblioteca particular; ele as havia lido de cabo a rabo e insistiu no direcionamento satânico da seita. Tendo sido somente Aprendiz, tinha um grande mérito de ter compreendido que "O diabo estava ali. "E o Soberano Pontífice insistia nesta palavra o diabo com uma entonação que me é fácil recordar. Parece-me que o ouço repetindo: "O diabo, o diabo!" Quando me despedi, tinha adquirido a certeza de que meu plano podia ser posto em execução até o fim. O importante era não me adiantar até que o fruto estivesse maduro. A árvore do luciferianismo contemporâneo começava a crescer. Eu a tinha cuidado com esmero durante alguns anos... Finalmente, refiz um de meus livros, introduzindo nele um ritual paládico, supostamente obtido secretamente e de minha total invenção, desde a primeira linha até a última. Desta feita, o Paladismo ou Alta Maçonaria Luciferiana havia nascido. O novo livro teve as mais entusiastas aprovações, compreendidas as de todas as revistas dirigidas pelo padres da Companhia de Jesus. Então havia chegado a hora de reforçar, sem o que a mais fantástica fraude dos tempos modernos fracassaria estrepitosamente. Pus-me a procurar o primeiro colaborador necessário. Era preciso alguém que tivesse viajado muito e pudesse contar com uma misteriosa informação sobre os Triângulos luciferianos, os antros desse Paladismo apresentando como dirigindo secretamente todas as Lojas e Trans lojas do mundo inteiro. Justamente, um antigo camarada de colégio, que reencontrei em Paris, havia sido médico da marinha. No início não opus a pardo segredo da mistificação. Eu o fiz ler diversos livros de autores que haviam se entusiasmado profundamente com minhas maravilhosas revelações. A mais extraordinária dessas obras é a de um bispo jesuíta, Monsenhor Meurin (1825-1895), bispo de Port Louis (Ilhas Maurício), que veio ver-me em Paris e me consultou. Podem pensar que foi bem informado!... Este excelente Monsenhor Meurin, erudito orientalista, não podia ser melhor comparado que com aquele arqueólogo polonês que havia distinguido tão bem os restos de uma estátua equestre no meio das ruínas de uma praça pública de minha vila sublacustre. Partindo dessa ideia fixa de que os maçons adoram o diabo e convencido da existência do Paladismo, Monsenhor descobriu as coisas mais extraordinárias no fundo de palavras hebreias que servem de palavras de passe etc. nos inumeráveis ritos maçônicos. Cordões, aventais, acessórios rituais, tudo foi examinado; examinou até os menores bordados que figuram no mais insignificante pedaço de pano que tenha pertencido a um maçom e, com a maior boa-fé do mundo, encontrou meu Paladismo em toda parte. Sempre me lembrarei, como uma das horas mais felizes de minha vida, aquela em que me leu seu manuscrito. Seu grande volume, A Franco maçonaria, Sinagoga de Satanás me serviu admiravelmente para convencer a meu amigo, o doutor, que existia, na verdade, um sentido secreto luciferiano em todo o simbolismo maçônico. No fundo, o doutor pretensamente se enganava. Mas havia realmente estudado o espiritismo, como aficionado curioso; sabia que existem no mundo alguns crentes em manifestações sobrenaturais, em fantasias, em aparições, em duendes etc. Sabia que, em grupos restritos de ocultistas, amáveis histriões fazem ver espectros à boa gente por demais esquecida de Robert Houdin (1805-1871). Mas ignorava que na Maçonaria se entregavam a semelhantes operações; ignorava que houvesse um rito especial de ocultismo luciferiano e maçônico; ignorava o Paladismo e seus Triângulos, os Magos Eleitos e as Mestras Templárias e toda essa estranha organização suprema que eu havia imaginado e que Monsenhor Meurin e outros confirmavam cientificamente. Em meu livro, As Mulheres na Franco-maçonaria? havia criado a personagem de uma Grã-mestre desse Paladismo, uma Sophia Sapho, de quem dera apenas a inicial do suposto nome: um W. A meu amigo e doutor dei o nome inteiro confidencialmente. Acreditou na existência de Sophia Walder. Entendamo-nos bem. Por causa de livros como o do Monsenhor Meurin, o doutor acreditou no Paladismo e em diversas personagens que já começavam a aparecer, heróis de minha mistificação. Mas não tentei por nada do mundo fazê-lo crer na realidade das manifestações que pretendia contar. Definitivamente, eis como recorri ao concurso do doutor meu amigo: - Queres colaborar com uma obra sobre o Paladismo?... Eu conheço a questão profundamente, mas publicar rituais não oferece o mesmo interesse que contar aventuras em qualidade de testemunho, sobretudo se essas aventuras são alucinantes... Ademais, para comover melhor aos céticos, é preciso que o narrador seja ele mesmo um herói; não um paladista convicto, mas um zeloso católico que adotou a máscara luciferiana para fazer essa tenebrosa pesquisa com perigo de sua vida... Eu te dou um pseudônimo, o autor não pode entregar seu nome à publicidade: por exemplo, se tens que fazer uma pesquisa entre os niilistas... Somente te darás a conhecer a um pequeno grupo de eclesiásticos; isso bastará... Vais organizar o itinerário de suas viagens e eu, segundo esse itinerário, te construirei uma tela onde só terás que bordar; ademais, recopiarei teu manuscrito, afim de corrigir, de endireitar e, sobretudo, acrescentar... A ti corresponde a parte médica, a descrição das cidades e um certo número de relatos. Quanto a mim, me encarregarei da parte técnica do Paladismo, das informações sobre todos os personagens que faremos desfilar, assim como de um grande número de episódios complementares... Em suma, tenho necessidade de tua colaboração por um total de trinta a quarenta fascículos... Agora fiques tranqüilo a propósito dos desmentidos... Como pudeste dar conta pelas obras que te dei para ler, os paladistas se compõem de dois elementos: de alguns desequilibrados que creem realmente que Lúcifer é o Deus Bom e que seu culto deve permanecer secreto durante um certo número de anos, e de intrigantes que se servem desses desequilíbrios, excelentes matérias para suas experiências de espiritismo oculto... Nem um nem outro poderão protestar publicamente, posto que a primeira condição para pertencer ao Paladismo é o segredo mais rigoroso; por outro lado, se eles protestam, seus desmentidos ficarão sem efeito, visto que serão interessados. Meu amigo, o doutor, aceitou e afim de entretê-lo com o pensamento de que o Paladismo existia, apesar da simulação defeitos maravilhosos atribuídos por nós a seus Triângulos, eu o fiz receber algumas cartas de Sophia Walder; Sophia se indignava de que pretendessem conhecê-la. O doutor me trazia fielmente essas cartas. Na terceira ou quarta que recebeu, me disse: - Verdadeiramente, tenho medo que essa mulher nos faça um escândalo e demonstre por A mais B que o que vendemos em seu nome é pura fantasia. Respondi-lhe: - Tranquiliza-te. Ela protesta pró- orma; no fundo diverte-se lendo que ela tem o dom de passar através dos muros e que possui uma serpente que, com aponta de sua cauda, escreve profecias nos ombros dela. Entrei em contato com ela; fui apresentado a ela; é uma boa mulher. é uma paladista farsante; ri-se a gargalhadas de tudo isso... Queres que te a apresente? Como, pois?... Ah, era feliz de estabelecer contato com Sophia Walder!... Alguns dias depois enviei a meu amigo uma carta da Grã Mestre paladista; consentia em sua apresentação. Combinamos o encontro em minha casa; dali deveríamos ir ao encontro de Sophia Sapho que nos convidava para jantar... Meu amigo chegou vestido com etiqueta, como se tivesse sido convidado ao Elyseo. Mostrei-lhe a mesa servida em minha casa e, dessa vez, contei tudo... ou, ao menos, quase tudo. Sophia Walder, um mito!... O Paladismo, minha mais bela criação, só existia no papel e em alguns milhares de cérebros!... Não se convencia. Precisei dar-lhe provas... Quando se convenceu, concluiu que a mistificação era divertida e me ofereceu sua ajuda. Entre as coisas que me esqueci de dizer há uma que vão conhecer por esta conferência: porque lhe dei o pseudônimo de Dr. Bataille. Supostamente, era para melhor marcar o caráter de ataque, a guerra ao Paladismo. Mas a verdadeira razão para mim, a razão íntima do diletante histrião, era esta: um dos meus antigos amigos, hoje falecido, foi um histrião fora de série, o ilustre Sapeck, príncipe da fraude no bairro latino; eu o fazia reviver, em certo sentido, sem que dessem conta. Sapeck, com efeito, chamava-se realmente Bataille. Mas meu amigo o doutor não era suficiente para a realização de meu plano. O Diabo no Século XIX, em meu projeto, devia preparar a entrada em cena de uma Grã-mestre Luciferiana que se convertia. A obra que havia publicado apresentava Sophia Sapho, mas sob as cores mais negras. Eu me havia empenhado em fazê-la o mais simpática possível aos católicos: era o tipo perfeito da diaba encarnada, envolvida em sacrilégio, uma verdadeira satanizante, tal como se vê nas novelas de Huysmans. Sophia Sapho, ou a Senhorita Walder, só estava aí para servir de contraste frente a outra Luciferiana, mas esta simpática, uma criatura angelical que vivia nesse inferno paladista por azar de nascimento e que eu reservava para a obra assinada por Bataille o cuidado de fazê-la conhecida do público católico. Assim, pois, como esta Luciferiana excepcional devia converter-se em um dado momento, era preciso ter alguém de carne e osso, caso sua apresentação fosse indispensável. Pouco tempo antes de encontrar meu camarada de infância, o doutor, as necessidades de minha profissão me haviam feito buscar uma datilógrafa, que era representante na Europa de uma das grandes fábricas de máquinas de escrever dos Estados Unidos. Tive que dar-lhe para passar à máquina bom número de manuscritos naquela época. Ui que era uma mulher inteligente, ativa, que às vezes viajava por causa de seus negócios; ademais, era de um caráter alegre e de uma elegante simplicidade, como é geral em nossas famílias protestantes. É conhecido que os luteranos e calvinistas, apesar de proscreverem o luxo em sua toalete, fazem, não obstante, algumas concessões na moda. Sua família é francesa, pai e mãe franceses, mas falecidos; a origem americana se remonta ao bisavô. Apesar da semelhança do nome, não tem nenhum laço de parentesco com Ernest Vaughan (1841-1929), o ex-administrador do Intransigente. Na França não há muitos Vaughan; sem dúvida, na Inglaterra e Estados Unidos os Vaughan são inúmeros. Devo dizer isto, visto que hoje se poderia crer que o Senhor Ernest Vaughan tenha sido mais ou menos indiretamente cúmplice de minha mistificação. Importa, pois, impedir todo quiproquó; a Senhorita Diana Vaughan não tem nenhum grau de parentesco com ele; a homonímia é pura casualidade. Mas não podia acertar melhor. Nada, melhor que a Senhorita Vaughan, podia secundar-me. Toda a questão se resumia em se ela aceitaria ou não. Não lhe fiz a proposta à queima-roupa. Primeiro estudei-a. Pouco a pouco a fui interessando na demonologia, com o que ela se divertia muito. Disse a mim mesmo, ela é mais livre pensadora que protestante; por seu turno, ela estava de certo modo admirada de constatar que, neste século de progresso houvesse, no entanto, pessoas que acreditavam seriamente em todos os contos da Idade Média. Minha primeira avaliação da Senhorita Vaughan foi a propósito das cartas de Sophia Walder. Consentiu em fazê-las por meio de uma de suas amigas. Dessa forma tive aprova de que as mulheres são menos faladoras do que se diz e que se seu pequeno pecado é serem curiosas, em contrapartida pode-se contar com sua discrição. A amiga da Senhorita Vaughan jamais se vangloriou a ninguém de haver escrito ela as cartas de Sophia Walder. Ademais, essas cartas não foram numerosas. Finalmente, decidi que a Senhorita Vaughan converter-se-ia em minha cúmplice para o êxito final de minha mistificação. Fiz com ela um trato: 150 francos por mês, por conta da cópia dos manuscritos, assim como pelas cartas em primeira mão. Escuso-me de dizer que em caso de viagem indispensável seria custeada em todos os seus gastos; mas não aceitou jamais soma alguma a título de presente. Na realidade, divertia-se muito com esta alegre falsificação, havendo tomado gosto por manter correspondência com bispos, cardeais, receber cartas do secretário particular do Soberano Pontífice, contar-lhes contos capazes de fazer dormir em pé, informar ao Vaticano sobre negros complôs luciferianos; tudo isso dava-lhe uma alegria inenarrável; agradecia-me por tê-la associado a esta mistificação colossal e, se ela tivesse essa grande fortuna que lhe atribuímos para aumentar seu prestígio, não somente não teria aceitado jamais o preço combinado por sua colaboração, mas, inclusive, teria pago de bom grado todos os gastos. Ela que nos deu a conhecer, a fim de diminuir os gastos, a existência de agências privadas de correio. Tive a ocasião de recorrer a uma delas em Londres e nos indicou. Também me informou do Alibi Officce de Nova Iorque. O Diabo no Século XIX foi escrito principalmente para dar credibilidade a Miss Vaughan, a quem estava destinado, desde então, um grande papel na mistificação. Se ela se chamasse Campbell ou 7hompson, teríamos dado a nossa simpática Luciferiana o nome de Miss Campbell ou 7hompson. Nós nos limitamos a enterrá-la americana, apesar de seu acidental nascimento em Paris. Situamos sua família no Kentucky. Isto nos permitia fazer a nossa personagem o mais interessante possível ao multiplicar ao seu redor fenômenos extraordinários que ninguém podia controlar. Outro motivo era que tínhamos situado nos Estados Unidos, em Charleston, o centro do Paladismo, dando-lhe como fundador o defunto GeneralAlbert Pike, Grão-Mestre do rito escocês na Carolina do Sul. Este Maçom célebre, dotado de grande erudição, havia sido uma das altas luzes da Ordem; nós o convertemos no primeiro papa luciferiano, chefe supremo de todos os Franco-Maçons do globo, conferenciando regu larmente, toda sexta-feira, às três da tarde, com o Senhor Lúcifer em pessoa. O mais curioso do assunto é que há franco-maçons que subiram espontaneamente em meu barco, sem o menor convite; e este barco do Paladismo se tornou um verdadeiro encouraçado, frente ao rebocador que utilizei para meus fins na caça dos tubarões da baía de Marselha. Com o concurso do Doutor Bataille, o encouraçado se converteu em toda uma esquadra e, quando Miss Diana Vaughan passou a ser minha auxiliar, a esquadra se transformou em frota. Sim, temos visto jornais maçônicos, como a Renaissance Symbolique, avalizar uma circular dogmática no sentido do ocultismo luciferiano, uma circular de 14 de julho de 1889, escrita por mim em Paris e revelada como trazida de Charleston para a Europa por Miss Diana Vaughan, da parte de Albert Pike, seu autor. Quando eu nomeei Adriano Lemmi o segundo sucessor de Albert Pike ao soberano pontificado luciferiano - pois não foi no Palácio Borghese, mas em meu escritório, onde foi eleito papa dos francomaçons -, quando essa eleição imaginária foi conhecida, os maçons italianos, e entre eles um deputado do Parlamento, acreditaram que era verdade. Eles se sentiram menosprezados ao saber, pela imprensa profana, que Lemmi guardava segredo e que os tinha à margem desse famoso paladismo de que já se falava no mundo inteiro. Reuniram-se em um Congresso em Palermo, constituíram na Sicília, Nápoles e Florença três Supremos Conselhos independentes e nomearam a Miss Uaughan membro de honra e protetora de sua federação. Um auxiliar inesperado - mas de modo algum cúmplice, ainda que se diga o contrário - é o Senhor Margiotta, franco-maçom de Palmi, na Calábria. Envolveu-se como mistificado e foi mais que os outros; e o que resulta mais divertido é que nos contou que havia conhecido a Grã-Mestre paladista em uma de suas visitas à Itália. É verdade que o havia levado docemente a me fazer esta confidência. Eu lhe havia metido na cabeça que esta viagem teve lugar; havia criado ao redor dele uma atmosfera de Paladismo; eu o havia feito encontrar-se em Roma com um camareiro de Leão XIII, que havia feito jantar com Miss Vaughan tempos atrás. Depois sugeri-lhe que Miss Vaughan, durante sua pretensa viagem de 1889, quando trouxe para a Europa a mencionada circular dogmática deAlbertPike, havia recebido, durante duas tardes, no Hotel Vitória de Nápoles, a numerosos grupos de maçons. Sabia que o Senhor Margiotta, que é poeta, havia dedicado a Bovio um volume de versos e havia tido cuidado de dizer que os franco-maçons apresentados a Miss Vaughan em 1889 o haviam sido por Bovio e por Cosma Panunzi. Acrescentei que esses irmãos, a quem ela tinha oferecido chá, eram tão numerosos que não se lembrava mais nem de seus nomes, nem de suas fisionomias. O Senhor Margiotta arriscou, pois, primeiro timidamente, algumas alusões a propósito desse antigo reencontro; depois, vendo que o tema dava a impressão de seguir adiante ao constatar que Miss Diana não o desmentia, foi mais longe com maior liberdade. Inclusive foi longe demais. Mais tarde, quando julgava que era preciso impedir que a mistificação, adivinhada na Alemanha, naufragasse no silêncio de uma Comissão; quando pus-me de acordo com o doutor para fazer soar o grito de vitória da loucura dos cardeais mistificados, quando Bataille e eu, sempre de acordo, simulamos que brigávamos, o Senhor Margiotta, tendo aberto finalmente os olhos, temeu o ridículo e preferiu declarar-se cúmplice ao invés de alistado cega e voluntariamente em nossa frota. Mas não convém que pareçamos mais numerosos do que éramos na realidade. Éramos três e já era o bastante. Mesmo os editores foram enganados nos diversos preços. Não têm, porém, de que se queixar; em primeiro lugar, nossas maravilhosas revelações lhes valeram as mais alentadoras felicitações episcopais, sem contar as de solenes teólogos que não estranharam que nosso crocodilo tocasse piano, nem das viagens de Miss Vaughan a diversos planetas; além do mais, porque esta tríplice colaboração permitiu-lhes dar ao público duas obras que podem rivalizar-se com As Mil e Uma Noites, que foram devoradas com prazer e que serão lidas durante muito tempo, não por convicção, quiçá, mas por curiosidade. Não é banal, com efeito, ter feito que, em nosso século XIX, fossem admitidas nossas maravilhosas histórias. Não obstante, pergunto-me até que ponto os eminentes aprovadores do Paladismo revelado tenham o direito de irritar-se hoje. Quando se sabe que foram enganados, o melhor será rir com a galeria. Sim, Senhor Abade Garnier, porque irritando-os vós, no entanto, dareis mais risada. Os mistificadores do Paladismo podem dividir-se em duas categorias: os que estiveram de boafé, totalmente de boa fé. Os que foram vítimas de sua ciência teológica e de seus estudos encarniçados contra tudo que se refere à Maçonaria. Necessitei mergulhar até o pescoço nessas duas ciências para imaginar tudo, completamente tudo, deforma que nem uns nem outros pudessem descobrir a fraude. Acaso, por exemplo, era fácil fazer crer no que não existe ao Senhor A. de la Rive, que é a pesquisa personificada, que investiga ao microscópio as mínimas coisas e que ganharia em pontos de nossos melhores juizes de instrução? Pode vangloriar-se de ter-me feito tanto mal!... Todo o meu Paladismo havia sido solidamente construído em relação à parte maçônica propriamente dita, posto que os Franco-Maçons - os "trinta e três", se os agrada mais! - não julgaram que o edifício era um milagre inexistente e pediram para entrar. A impossibilidade do Paladismo cega somente pelo sobrenatural de que o enchemos. Assim, pois, essas diabruras somente podiam pôr em guarda aos que não crêem nas ações do diabo contadas em outros livros; nos livros de devoção. Asmodeu transportando Miss Diana Vaughan ao paraíso terrestre é acaso mais extraordinário que o Senhor Satã transportando ao próprio Jesus Cristo a uma montanha de cujo cume lhe mostrou todo os reinos da terra?... Que é redonda! Ou se tem fé, ou não se tem. Mas, à parte dessa primeira categoria de mistificadores, há uma segunda; entre esses não houve mistificação absoluta. Os bons abades e religiosos que viram em Miss Diana Vaughan uma Irmã Maçom Luciferiana convertida têm o direito de crer que existem essas Maçons. Jamais as viram; jamais as encontraram; mas podem dizer que não existem em suas dioceses. Em Roma tampouco há; em Roma, todas as informações estão centralizadas; em Roma não podem ignorar que não há mais mulheres maçons além das esposas, filhas ou irmãos dos franco-maçons, admitidas nos banquetes, nas festas abertas, onde, inclusive, elas se reúnem separadamente, muito honestamente, em sociedades particulares unicamente compostas de elementos femininos, como ocorre nos Estados Unidos com as Irmãs da Estrela do Oriente ou as Damas da Revolução. Com um pouco de reflexão, é fácil compreender que, se existissem Irmãs Maçons tal como os anti maçons as imaginam, teriam havido conversões e confissões há tempo. A rapidez com que se acolheu em Roma a pretensa conversão de Miss Vaughan é significativo. Pensai que Monsenhor Lazzareschi, delegado da Santa Sé ante o Comitê Central da União Antimaçônica, fez celebrar um Tríduo de Ação de Graças na igreja do Sagrado Coração de Roma! O Hino à Joana D’Arc (1412-1431), composto supostamente por Miss Diana, letra e música, foi executado nas festas antimaçônicas do Comitê romano; esta música, quase convertida em música sacra, tem sido ouvida com grande solenidade nas basílicas de Cidade Santa. É a melodia da Seringa Filarmônica, paródia musical de um dos meus amigos, compositor e chefe da orquestra do Sultão Abd-ul-Aziz, composta para as diversões do serralho. Este entusiasmo romano deve fazer refletir. Recordarei dois fatos característicos. Sob a assinatura do "Doutor Bataille" contei e sob a assinatura de `Miss Vaughan" confirmei, que o templo maçônico de Charleston contém um labirinto em cujo centro está a capela de Lúcifer... (Interrupções). Sou eu o que contou que, no templo maçônico de Charleston, uma das salas de forma triangular, chamada Sanctum Regnum, tem por adorno principal a monstruosa estátua de Baphomet, a quem os Altos Maçons prestam culto; que uma outra sala possui uma estátua de Eva, que se anima quando uma Mestra Templária é particularmente agradável ao mestre Satã e que essa estátua se converte, então, no demônio Astarté, vivo por um momento, para dar um beijo na Mestra Templária privilegiada. Publiquei a planta imaginária desse imóvel maçônico; planta essa desenhada por mim mesmo. Então Monsenhor Northrop, bispo católico de Charleston, fez uma viagem a Roma com o objetivo único de certificar ao Soberano Pontífice que esses relatos eram a mais pura fantasia. Essa viagem teria passado desapercebida se Monsenhor Northrop não se deixasse entrevistar durante o caminho. Ali disse: "é falso, absolutamente falso, que os franco-maçons de Charleston sejam os chefes de um rito supremo luciferiano. Conheço muito particularmente aos principais deles: são protestantes imbuídos das melhores intenções; nem um só sonha entregar-se a práticas de ocultismo. Visitei seu templo; não se encontra nenhuma dessas salas indicadas pelo Doutor Bataille e Miss Vaughan. Essa planta é uma farsa." Monsenhor Northrop, ao regressar de Roma, já não protestou; daí em diante guardou silêncio. Miss Diana Vaughan, pelo contrário, replicou a entrevista de Monsenhor Northrop; ela disse que o bispo de Charleston era franco-maçom e ela havia recebido a benção do Papa. Segundo fato. Sob as assinaturas de Bataille e Vaughan contei e confirmei que em Gibraltar, no subsolo da fortaleza inglesa, encontravam-se imensas oficinas secretas onde homens monstruosos fabricavam todos os instrumentos usados nas cerimônias do Paladismo; Miss Diana Vaughan, interrogada sobre isso por altos dignitários eclesiásticos de Roma, divertiu-se respondendo-lhes, com sua mais formosa erudição, que nada era mais certo e que as forjas dessas misteriosas oficinas de Gibraltar eram alimentadas pelo próprio fogo do inferno. Monsenhor Vigário Apostólico de Gibraltar escreveu, por outro lado, que ele confirmava, ele, que se vira na necessidade de declarar a diversas pessoas, o seguinte: que a história dessas oficinas secretas era uma audaz invenção, que não tinha fundamento e que estava indignado que ver acreditarem em tais lendas. O Vaticano não publicou a carta do Vigário Apostólico de Gibraltar e Miss Vaughan recebeu a benção do Papa. "É preciso recordar algumas outras cartas de aprovação que Miss Vaughan recebeu!" (Interrupções) "Como! Atreveis-vos a negá-lo! Pois bem, eis uma carta de aprovação e é de valor!... É do Cardeal Parocchi, Vigário de Sua Santidade; está datada de 16 de dezembro de 1895: Senhorita e querida Filha em N. S.: Com uma viva e mui doce emoção, recebi vossa querida carta de 29 de novembro, com o exemplar da Novena Eucarística... Sua Santidade encarregou-me de enviar-vos, de sua parte, uma benção muito especial... Há tempos, minhas simpatias são para vós. Vossa conversão é um dos mais magníficos triunfos da graça que eu conheço... Neste momento estou lendo vossas Memórias, que são de um interesse palpitante... Entretanto, crede que não vos olvidarei em minhas orações e especialmente no Santo Sacrifício. De vosso lado, não cessai de agradecer a Nosso Senhor Jesus Cristo a grande misericórdia que Ele usou convosco; assim como do testemunho admirável de amor que vos deu. Agora, aceitai minha benção e crede-me Todo vosso no Coração de Jesus L. M. Cardeal Vigário."' Eis outra carta, em papel oficial do Conselho Diretor Geral da União Antimaçônica, quer dizer, do mais alto comitê de ação contra a Franco Maçonaria, comitê consultado pelo próprio Papa; comitê que tem em sua cabeça um representante oficial da Santa Sé, Monsenhor Lazzareschi. Escutai: "Roma, 17 de março de 1896 Senhorita: Monsenhor Vinzenzo Sardi, que é um dos secretários particulares do Santo Padre, encarregou-me de escrever-vos, por ordem expressa de Sua Santidade. Devo dizer-vos também que Sua Santidade leu com grande prazer vossa Novena Eucarística. O Senhor Comendador Alliata teve uma entrevista com o Cardeal Vigário sobre a veracidade de vossa conversão. Sua Eminência está convencido; mas manifestou a nosso Presidente que não o pode testemunhar publicamente. Não posso trair os segredos do Santo Oficio, É o que Sua Eminência respondeu ao Sr. Comendador Alliata. Sou todo seu, mui afetuosíssimo em Nosso Senhor. Rodolfo Verzichi Secretário Geral." O secretário particular de Leão XIX, o próprio Monsenhor Vincenzo Sardi, que acaba de ser mencionado, escreveu, por seu turno, entre outras coisas: "Roma, 11 de julho de 1896 Senhorita: Apresso-me a expressar-vos os agradecimentos que vos são devidos pelo envio de vosso último volume sobre Crispi... Trata-se de um livro em que, sob o nome de Miss Diana Uaughan, conta que Crispi tinha um pacto com um diabo chamado Haborym; que Crispi havia assistido, em 1885, a uma sessão paládica na qual um diabo chamado Bitru, apresentado por Sophia Walder a um certo número de homens políticos italianos, havia-lhes anunciado que a citada Sophia daria ao mundo, em 19 de setembro de 1896, uma filha que seria a avó do Anticristo. Tinha enviado esse livro ao Vaticano. O secretário particular do Papa o agradecia e acrescentava: Continuai, senhorita, continuai escrevendo e desmascarando a iníqua seita! A Providência permitiu, por isso mesmo, que tenhais pertencido a ela durante tanto tempo... Recomendo-me de todo coração a vossas orações e com uma perfeita estima declaro-me mui afetuosíssimo Monsenhor Vincenzo Sardi." A Civilta Cattolica, a mais importante de todas as revistas católicas do mundo, o órgão oficial do Geral dos jesuítas, revista publicada em Roma, compilava estas linhas em seu número 1.110, de setembro de 1896. "Queremos ter, ao menos uma vez, o prazer de abençoar publicamente os nomes dos valorosos campeões que entraram primeiro no glorioso anfiteatro, entre os quais a nobre Miss Diana Vaughan. Miss Diana Vaughan, chamada das profundezas das trevas para a luz de Deus, preparada pela Providência divina, armada com ciência e experiência pessoal, volta-se para a Igreja para servi-la e parece inesgotável em suas preciosas publicações, que não têm comparação pela exatidão e utilidade." Não só se considerava a Miss Uaughan como uma heróica polemista entre os que rodeavam o Soberano Pontífice; punham-na na mesma altura dos santos. Quando começou a ser atacada, o secretário do Cardeal Parocchi escreveu-lhe de Roma, em 19 de outubro de 1896.• "Continuai, senhorita, com vossa pena e vossa devoção, apesar dos es f orços do inf erno, f ornecendo as armas para esmagar o inimigo do gênero humano. Todos os santos viram suas obras combatidas; não é, pois, estranho que a vossa não seja perdoada... Rogo-vos que aceiteis, senhorita, meus mais vivos sentimentos de admiração e respeito. A. Villard Prelado da Casa de Sua Santidade Secretário de S. E. o Cardeal Parocchi." Estas cartas, sabeis bem, senhores jornalistas católicos, que foram enviadas realmente à Senhorita Vaughan. É possível que sejam nocivos hoje; mas são documentos históricos; não foram fabricados; elas e seus eminentes autores não o renegarão. E não somente eles patrocinavam esta mistificação, mas incitavam seu correspondente, acreditando que fosse um exaltado, a entrar no jogo para a preparação de seus milagres. Falta-me tempo hoje; não obstante, quero dar-vos a conhecer um fato nesta ordem de idéias. Todo mundo sabe que, segundo a lenda católica, quando Joana DArc foi queimada, o verdugo ficou estupefato ao constatar que somente o coração da heroína não havia sido consumido; em vão jogou, então, piche ardente e enxofre; o coração não pôde arder. Então, por ordem formal dos que ordenavam o suplício, o coração de Joana foi jogado no Sena. Agora, o clero francês pede a canonização de Joana DArc, mas é Roma a que canoniza e Roma está na Itália. O clero francês encontrou já uma relíquia da que foi executada: é uma costela carbonizada. Na Itália preparam-se para ter algo melhor. Uma desconhecida teve a idéia extraordinária de que ela encontrará o coração de Joana DArc; um anjo o trará, sem dúvida. Esta desconhecida ultra mística escreveu para Miss Vaughan e é o mesmo secretário do Cardeal Vicário quem recomendou a Miss Vaughan que mantenha correspondência com essa piedosa pessoa; que intercambie com ela suas impressões sobe os feitos sobre naturais relativos a Joana DArc, é fácil compreender o que isto quer dizer. Estai certos: um dia, um anjo trará o coração, não à França, mas à Itália, da mesma forma que uns anjos levaram a Loreto a Casa de Nazaré. Joana DArc será canonizada e todos os peregrinos franceses que irão à Itália não deixarão de visitar o convento italiano, possuidor do coração milagrosamente encontrado; e estas visitas serão frutuosas, não é assim? Miss Vaughan viu, pois, choverem os favores dos príncipes da Igreja. Os maçons da França, da Itália, da Inglaterra riam disfarçadamente e tinham razão. Pelo contrário, um maçom alemão, Findei, encolerizou-se e lançou um folheto muito bem feito. Grande emoção. Esse folheto foi como uma pedra em um charco de rãs. Tratava-se de tomar uma resolução enérgica. Findei comprometia o êxito final de minha mistificação: seu grande erro foi crer que era um golpe inventado pelos jesuítas. Pobres jesuítas! Havia-lhes enviado um fragmento da cauda de Moloch, como peça de confirmação do Paladismo! Houve inquietação no Vaticano. Passou-se de um extremo a outro; enlouqueceram. Perguntaram-se se não estariam na presença de uma fraude que explodiria contra a Igreja, em lugar de servi-la. Nomeou-se uma Comissão de Inquérito, que funcionou em segredo, para saber a que ater-se. A partir desse momento, o perigo tornava-se grande; minha obra estava em perigo e eu não queria encalhar no porto. O perigo estava no silêncio; seria o estrangulamento da mistificação nos calabouços da Comissão romana; seria a proibição aos jornais católicos de dizer uma só palavra. Meu amigo, o doutor, foi à Alemanha; de lá fez-me conhecer a situação. E eu parti para o Congresso de Trento prevenido, bem prevenido. No meu regresso, a primeira pessoa que vi foi meu amigo. Eu o fiz partícipe de meus temores de um estrangulamento pelo silêncio. Então combinamos tudo o que foi escrito efeito. Se os redatores do Universo duvidam, posso dizer-lhes quais são as passagens que foram suprimidas nas cartas do Doutor Bataille. Fui eu quem, desta forma, aticei o fogo, pois era preciso que a imprensa do mundo in teiro fosse posta a par desta grande e extravagante aventura. E era necessário um bom lapso de tempo para que o alvoroço dos católicos furiosos e a polêmica com os partidários de Miss Diana Vaughan pudesse atrair a atenção da grande imprensa, da imprensa que marcha com o progresso e que conta com milhões de leitores. Antes de terminar, devo uma saudação a um palhaço desconhecido, a um perspicaz confrade americano. Entre palhaços, um se entende com o outro de um extremo a outro do mundo, sem ter necessidade de trocar cartas, sem recorrer, sequer, ao telefone. Saudações, pois, ao querido cidadão de Kentucky que teve a amável idéia de ajudar-nos sem nenhum acordo prévio, que confirmou ao Courrier Journal, de Louisville as revelações de Miss Diana Vaughan, que certificou, a quem quis ouví-lo, que ele havia conhecido à querida Miss intimamente durante sete ou oito anos e que a havia encontrado frequentemente em diversas sociedades secretas da Europa e América... onde ela jamais pôs os pés. Senhoras, senhores: Eu lhes havia anunciado que o Paladismo seria afundado hoje. Melhor que isso; foi afogado; já não mais existe. Em minha confissão geral ao padre jesuíta de Clamart, eu me havia acusado de um assassinato imaginário. Bem, ante vós, confesso me de outro crime. Cometi um infanticídio. O Paladismo agora está mudo e bem morto. Seu pai acaba de assassiná-lo. O tumulto que se seguiu à revelação de Taxil foi inenarrável. Risos, assobios, ameaças, gritos de raiva... Já no começo da conferência, houve muitos protestos e duas ou três pessoas foram embora, entre elas um jornalista da imprensa católica que declarou aos sacerdotes ali presentes que não deviam agüentar um minuto a mais. Mas foi precisamente o Abade Garnier - o que Taxil acusa diretamente várias vezes em sua conferência - quem gritou: "Tenhamos a coragem de permanecer!" E todos os sacerdotes presentes ficaram, protagonizando uma situação nada fácil nem agradável. O Abade Garnier interrompia constantemente para apostrofar Taxil de canalha, velhaco imundo, e pensar que nos recolheram as bengalas na entrada!... Efetivamente, por precaução, os guarda-chuvas e as bengalas haviam sido confiscados na entrada e estava previsto um serviço de segurança. Ao final da conferência, o Abade Garnier, no alto de uma cadeira, quis arengar a assistência..., mas os amigos de Taxil gritaram mais que ele e não poucos assistentes entoaram a canção cômica de Meusy, "Oh, Sagrado Coração de Jesus!" Podia-se, no entanto, ouvir como o Abade Garnier tentava justificar-se: "Eu bem que podia acreditar nesta história extraordinária, posto que o Papa acreditava nela." A polícia teve que proteger a saída de Leo Taxil. Desapareceu e não se voltou a falar dele. Sua morte, em Sceaux, em 31 de março de 1907, aos cinquenta e três anos, passou praticamente desapercebida. O Livro Secreto da Maçonaria. Abraço. Davi.

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