Teosofia. Texto de Charles Webster Leadbeater
(1854-1924). Capítulo Um. A EXISTÊNCIA DOS MESTRES I. CONSIDERAÇÕES GERAIS - A
existência de homens perfeitos é um dos mais importantes dos muitos novos fatos
que a Teosofia coloca diante de nós. Ele sucede logicamente aos outros grandes
ensinamentos teosóficos do karma e da evolução pela reencarnação. Quando
olhamos ao nosso redor, vemos claramente homens em todos os estágios de
evolução, muitos bastante abaixo de nós em desenvolvimento e outros que, de uma
forma ou de outra, estão distintamente à nossa frente. Dessa forma, deve haver
aqueles que estejam também muito adiante de nós. De fato, se o homem está
progressivamente se tornando cada vez melhor por uma longa série de vidas
sucessivas, visando um objetivo definido, certamente haverá alguns que já
tenham alcançado esse objetivo. Alguns de nós, nesse processo de
desenvolvimento, já tiveram sucesso em desdobrar alguns desses sentidos
superiores, que estão latentes em todos os homens e que são a herança de todos
no futuro. E, por meio desses sentidos, somos capazes de ver a escada evolutiva
se estendendo tanto bem acima de nós, como bastante abaixo de nós, e também
podemos ver que existem homens em todos os degraus dessa escada. Há uma
considerável quantidade de testemunhos diretos da existência desses Homens
Perfeitos, a quem chamamos de Mestres, mas acredito que o primeiro passo
que cada um de nos precisa dar é o de ter a certeza de que tais homens devem
existir. Então, como um passo seguinte, é que compreendemos que aqueles com os
quais tivemos contato pertencem a essa classe. Os registros históricos de todas
as nações estão cheios de feitos de homens de gênio em todos os campos da
atividade humana - homens que em suas linhas especiais de trabalho e habilidade
de mantiveram muito acima dos demais. Na verdade, às vezes (e provavelmente
mais corriqueiramente do que sabemos) seus ideais estiveram completamente além
da compreensão das pessoas, de forma que não apenas o trabalho que eles possam
ter feito foi perdido para a humanidade,mas nem mesmo seus nomes foram
preservados. É dito que a história de toda nação poderia ser escrita com a
biografia de alguns indivíduos e que são sempre uns poucos, elevando-se acima
dos demais, que iniciam os grandes passos à frente na arte, na música, na
literatura, na ciência, na filosofia, na filantropia, na administração pública
e na religião. Eles se elevam, algumas vezes, no amor de Deus e a seus
semelhantes como grandes santos e filantropos; outras vezes, na compreensão do
homem e da Natureza como grandes filósofos, sábios e cientistas; ou no trabalho
pela humanidade como grandes libertadores e reformistas. Ao olhar para esses
homens, percebendo o quão acima eles estão na humanidade, a que distância eles
estão na evolução humana, não é lógico dizer que não podemos ver as fronteiras
das realizações humanas? E também que deve ter havido, e mesmo agora deve
haver, homens muito mais desenvolvidos até mesmo que aqueles - grandes homens
em espiritualidade, assim como em conhecimento e poder artístico, homens
completos no que se refere às perfeições humanas, homens precisamente tais como
os Adeptos ou Super homens, que alguns de nós tiveram o inestimável privilégio
de encontrar? Essa galáxia de gênios humanos - que enriquece e embeleza as
páginas da história - é, ao mesmo tempo, a glória e a esperança de toda a
humanidade, pois sabemos que esses Grandes Seres são os precursores dos demais
e que eles brilham como faróis, como verdadeiros portadores de luz, para nos
mostrar a Senda que devemos trilhar se quisermos alcançar a glória que será
estão revela. Há muito tempo aceitamos a doutrina da evolução das formas nas
quais habita a Vida Divina; aqui está a ideia complementar e muito mais ampla
da evolução dessa mesma Vida, demonstrando que a própria razão desse
maravilhoso desenvolvimento de formas cada vez mais elevadas é que a Vida
sempre em expansão precisa dessas formas para se expressar. As formas nascem e
morrem; elas crescem, decaem e se desfazem; mas o Espírito evolui eternamente,
animando essas formas, desenvolvendo-se por intermédio das experiências
obtidas nas formas e através delas. Ao ter sua oportunidade de servir e se
tornado ultrapassada, aquela forma é posta de lado para que outra melhor tome o
seu lugar. Por trás da forma em evolução sempre germina a Vida Eterna, a Vida
Divina. Esta Vida de Deus permeia toda a Natureza que é tão somente os vários
mantos coloridos que Ele tem vestido. É Ele que vive na beleza da flor, na
força da árvore, na rapidez e na graça do animal, assim como no coração e na
alma do homem. A vontade de Deus é a evolução, e por isso toda vida progride e
ascende, e torna-se o fato mais natural do mundo a existência de Homens
Perfeitos na extremidade dessa linha de sempre crescente poder, sabedoria e
amor. Até mesmo mais adiante deles - além de nossa visão e compreensão - se
estende a perspectiva de uma glória ainda maior. Tentaremos posteriormente dar
alguma insinuação a respeito, mas é inútil falar dela agora. A consequência
lógica de tudo isso é que deve haver Homens Perfeitos, aparecendo em todas as
eras, claros sinais da existência de tais Homens, os quais, ao invés de
deixarem completamente o mundo para viver nos reinos divinos ou Super humano,
permaneceram em contato com a humanidade por amor a ela, para auxiliar sua
evolução em beleza, amor e verdade; para ajudar, por assim dizer, a cultivar o
Homem Perfeito - tal como encontramos um botânico que tem um amor especial
pelas plantas e se glorifica com a produção de uma laranja perfeita ou uma rosa
perfeita. O TESTEMUNHO DAS RELIGIÕES. Os registros de todas as grandes
religiões mostram a presença de tais Super humanos, tão plenos da Vida Divina
que, por repetidas vezes, eles têm sido tomados como sendo os próprios
representantes de Deus. Em toda religião, especialmente em sua fundação, manifestou-se
um desses Seres, e às vezes mais de um. Os hindus têm seus grandes Avatares ou
encarnações divinas, tais como Shri Krishna, Shri Shankaracharya e o Senhor
Gautama Budha, cuja religião se espalhou pelo Extremo Oriente, e uma grande
galáxia de Rishis, de santos, de Instrutores. Esses Grandes Seres se empenharam
não apenas em acordar a natureza espiritual dos homens, mas também em todos os
assuntos referentes a seu bem-estar na Terra. Todos que pertencem ao
mundo cristão conhecem bem ou deveriam conhecer, a grande sucessão de profetas,
instrutores e santos em suas próprias dispensações, e sabem que de alguma forma
(talvez não claramente entendida) seu Instrutor Supremo, o próprio Cristo, foi
e é Homem - assim como é Deus. Todas as religiões anteriores (decadentes, já
que algumas delas podem estar entre nações decadentes), inclusive as de tribos
primitivas de homens, mostram como aspecto marcante a existência de Super
homens, auxiliar em todos os sentidos das pessoas infantis com quem habitavam.
Fazer uma relação deles, mesmo sendo sobremaneira interessante e valiosa, nos
afastaria muito de nosso presente propósito, portanto, dou referência ao leitor
do excelente livro de W. Williamson, The Great Law - A Grande Lei. EVIDÊNCIAS
RECENTES. Há muitas evidências diretas e recentes da existência destes Grandes
Seres. Em minha juventude, nunca precisei de nenhuma dessas evidências - pois
estava totalmente convencido pelo resultado de meus estudos - de que devem
existir tais seres. Acreditar que havia tais Homens Perfeitos glorificados me
parecia perfeitamente natural, e o meu único desejo era encontrá-los face a
face. Porém, muitos, de forma bastante razoável, querem conhecer as evidências
existentes. Há uma quantidade considerável de testemunhos pessoais. Há uma quantidade
considerável de testemunhos pessoais. Madame Helena Petrovna Blavastsy
(1831-1891) e o coronel Henry Steel Olcott (1832-1907), os fundadores da
Sociedade Teosófica, doutora Annie Wood Besant (1847-1933), nossa atual
Presidente, e eu próprio (o autor do livro), todos nós vimos alguns desses
Grandes Seres, e muitos outros membros da Sociedade também tiveram o privilégio
de ver um ou dois deles. Há um amplo testemunho naquilo que todas essas pessoas
escreveram. Algumas vezes é sugerido que aqueles que os viram, ou imaginaram
tê-los visto, possam estar sonhando ou talvez enganados. A principal razão, eu
acredito, é que raramente vimos os Adeptos em uma ocasião em que tanto eles
quanto nós estivéssemos em nossos corpos físicos. Nos primeiros dias da Sociedade,
quando apenas Madame Blavatsky havia desenvolvido faculdades superiores, os
Mestres não raramente materializavam a si mesmos para que todos pudessem
vê-los, mostrando-se, assim, fisicamente em várias ocasiões. Muitos registros
de tais acontecimentos podem ser encontrados na história inicial da nossa
Sociedade. Obviamente, o Grande Ser que se apresentava não estava em seu corpo
físico, mas em uma forma materializada. Muitos de nós, habitual e
constantemente, os vemos durante o sono. Saímos em nossos corpos astrais (ou no
corpo mental, de acordo com nosso desenvolvimento), e os visitamos e vemos em
seus corpos físicos. Entretanto, nessa condição, não estamos em nosso corpo
físico, e por isso, no plano físico, as pessoas tendem a ser descrentes sobre tais
experiências. Os homens contestam: "Mas, nestes casos, vocês que os viram
estavam fora do corpo físico e podem ter sonhado ou se enganado, ou aqueles que
apareceram para vocês vieram em forma de fenômenos e despareceram em seguida;
então, como vocês sabem que eles eram quem vocês supõem que eles sejam?"
Há poucos casos em que ambos, o Adepto e a pessoa que o viu, estavam em corpos
físicos. Isso aconteceu com Madame Blavatsky. Eu a ouvi dar o testemunho de ter
vivido por algum tempo em um monastério no Nepal, onde ela constantemente via
três de nossos Mestres em seus veículos físicos. Alguns deles desceram mais de
uma vez de seus retiros nas montanhas até a Índia em seus corpos físicos. O
coronel Olcott relatou sobre ter visto dois deles em tais ocasiões; ele
conheceu o Mestre Morya e também o Mestre Kuthumi. Damodar K. Mavalankar
(1857-1885), que conheci em 1884, encontrou-se com o Mestre Kuthumi em seu
corpo físico. Houve o caso de S. Ramaswani Iyer, um cavalheiro que conheci
também àquela época, que teve a experiência de encontrar fisicamente o Mestre
Morya e escreveu um relato desse encontro, que citarei mais tarde. Também o
caso de senhor W. T. Brown da Loja de Londres, igualmente privilegiado por
encontrar um dos Grandes Seres em condições similares. Há ainda uma vasta
quantidade de testemunhos indianos, que nunca foram coletados e selecionados
principalmente porque aqueles com os quais essas experiências ocorreram estavam
tão persuadidos da existência de Super Humanos e da possibilidade de
encontrá-los não registraram nenhum caso individual com digno. EXPERIÊNCIA
PESSOAL. Eu mesmo posso relatar duas ocasiões em que encontrei um Mestre, ambos
estando em nossos veículos físicos. Um deles foi o Adepto a quem foi designado
o nome de Júpiter no livro As Vidas de Alcyone, que muito auxiliou na redação
de partes do famoso livro de Madame Blavatsky, Ísis sem Véu, quando ele estava
sendo escrito na Filadélfia e em Nova Iorque - Estados Unidos. Quando eu estava
vivendo em Adyar - Índia, ele foi muito generoso em requisitar ao meu
reverenciado instrutor Swami T. Subba Row (1856-1890), para me levar até ele.
Obedecendo à sua convocação, viajamos até sua casa e fomos muito afavelmente
recebidos por ele. Após uma longa conversa do mais profundo interesse, tivemos
a honra de jantar com ele, mesmo ele sendo uma brâmane, e passamos a noite e
parte do dia seguinte sob seu teto. Neste caso, admite-se que não poderia haver
nenhuma questão de ilusão. O outro Adepto que eu tive o privilégio de encontrar
fisicamente foi o Mestre Conde de Saint Germain (1712-1784), chamado às vezes
de Príncipe Rakoczy. Eu o conheci sob circunstâncias bem usuais (sem nenhum
agendamento prévio, como se fosse coincidência), caminhando na Via del Corso,
em Roma - Itália, vestido como qualquer cavalheiro italiano se veste. Ele me
levou até os jardins do Monte Pincio, e conversamos por mais de uma hora sobre
a Sociedade e seu trabalho, ou talvez eu deva dizer que ele falava e eu ouvia,
embora eu tenha respondido quando me fez perguntas. Tenho visto outros membros
da Fraternidade em várias circunstâncias. Meu primeiro encontro com um deles
ocorreu em um hotel no Cairo - Egito. Eu estava a caminho da Índia com Madame
Blavatsky e alguns outros, e ficamos nessa cidade por um tempo. Costumávamos
nos reunir nos aposentos de Madame Blavatsky para trabalhar. Eu estava sentado
no chão, recortando e organizando para ela alguns artigos de jornal que ela
queria, quando ela sentou-se em uma mesa próxima. Na verdade meu braço esquerdo
estava mesmo tocando o vestido dela. A porta do quarto estava completamente à
vista e com certeza não foi aberta; mas, de repente, sem nenhuma preparação,
havia um homem de pé quase entre mim e Madame Blavatsky, ao alcance de ambos.
Causou-me um enorme susto, e eu saltei meio atordoado. Madame Blavatsky achou
graça e disse: "Se você não conhece o bastante para não se sobressaltar
por algo tão irrisório, você não vai longe nesse trabalho oculto". Eu fui
apresentado ao visitante, que não era ainda um Adepto, mas um Arhat, que corresponde
a um grau abaixo daquele estágio. Ele então se tornara o Mestre Djwal Kul.
Alguns meses depois disso, o Mestre Morya veio até nós um dia, parecendo
exatamente como se estivesse em um corpo físico. Ele caminhou pela sala em que
eu estava para falar com Madame Blavatsky, que estava no quarto dela. Essa foi
a primeira vez que eu o vi plena e claramente, pois eu ainda não havia
desenvolvido meus sentidos latentes o suficiente para ter presente o que eu
vira no corpo sutil. Eu vi o Mestre Kuthumi em condições semelhantes, sobre o
teto de nossa sede em Adyar. Ele estava em pé num parapeito como se tivesse
acabado de se materializar ao ar livrre do outro lado. Eu vi também o Mestre
Djwal Kul repetidas vezes naquele telhado, da mesma forma. Isso seria
considerado, eu suponho, como uma evidência menos incontestável, uma vez que os
Adeptos vieram como aparições, mas como eu aprendi, desde então, a usar meus
veículos superiores livremente e a visitar esses Grandes Seres dessa forma,
posso testemunhar que aqueles que vieram nos primeiros anos da Sociedade e se
materializaram para nós são os mesmos Homens que tenho visto frequentemente de
lá para cá, vivendo em suas próprias casas. As pessoas têm sugerido que eu e
outros que tivemos a mesma experiência podemos estar sonhando, já que essas
visitas se dão durante o sono. Eu só posso responder que é um sonho
marcantemente consistente, se estendendo, no meu caso, por quarenta anos, e que
tem sido sonhado simultaneamente por um grande número de pessoas. Aqueles que
desejam coletar evidências sobre tais assuntos (e é bem razoável que eles
desejem fazê-lo) devem se voltar à literatura mais antiga da Sociedade. Eles
poderiam saber da doutora Besant quantos dos Grandes Seres ela vira em
diferentes ocasiões; e há vários de nossos membros que irão, sem hesitação, dar
testemunho de que viram um Mestre. Pode ser que em meditação eles tenham visto
sua face e, posteriormente, tenham tido provas definitivas de se tratar de um
ser real. Muitas evidências podem ser encontradas no livro Old Diary Leaves
(Folhas de um Velho Diário), do coronel Olcott; e há um interessante tratado
chamado Do Tehe Brothers Exist? (Os Irmãos Existem?), escrito pelo senhor
A.O.Home, que era um anglo-indiano cético com uma mente racional, entrou no
questionamento sobre a existência dos Irmãos (como também são chamados os
Mestres, porque eles pertencem a uma grande Fraternidade e também porque eles
são os Irmãos mais Velhos da Humanidade) e, mesmo prematuramente, decidiu que
tinha testemunhos esmagadores de que eles realmente existiam. Muito mais
evidência tem sido coletada desde que esse livro foi publicado. A posse de
visão estendida - e de muitas outras faculdades resultantes do desdobramento de
nossos poderes latentes - tem também trazido para a nossa constante experiência
o fato de que há outras ordens de seres além da humana, algumas das quais estão
numa categoria paralela à dos Adeptos, em um grau de existência superior à
nossa. Encontramos alguns daqueles a que chamamos de Devas ou Anjos e outros
que percebemos estarem muito além de nós em todos os sentidos. Livro Os Mestres
e a Senda. Abraço. Davi.
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