terça-feira, 19 de setembro de 2017

O RETO CUMPRIMENTO DA AÇÃO.

Bhagavad Gita. Capítulo Três. O RETO CUMPRIMENTO DA AÇÃO. Tudo o que o homem faz com motivos pessoais é sem valor para o Eterno. Para atingirmos a salvação e a união com Deus, havemos de agir sem motivos egoístas, sem tomar em consideração o nosso próprio Eu pessoal. Entregando-nos à Vontade Divina como um instrumento na mão de Deus e, assim, cumprindo o nosso dever por ser dever, sem pedir recompensas.

1. Falou Arjuna, o príncipe Pandava, a KRISHNA, o Senhor Bem-aventurado, dizendo: Oh Conferidor do Saber! Disseste-me que o conhecimento é até mais importante do que a ação; se assim é, por que me incitas à ação? Por que queres que eu entre nesta horrível batalha com meus parentes e amigos?

2. Tuas ambíguas palavras me trazem dúvidas e me confundem o entendimento. Dize-me, peço-te, em frases claras e certas, qual é o caminho que me conduzirá à Paz e à Satisfação?

3. Respondeu KRISHNA, o Divino: Como já te disse, ó nobre príncipe, há dois caminhos que vão a Perfeição. O primeiro é o caminho do Conhecimento (1), e o segundo o da Ação (2). Uns preferem o primeiro, e outros, o segundo desses dois caminhos; sabe, porém, que considerados do alto, ambos são um só caminho. Escuta! 
(1). Sankhya (2). Yoga.

4. Engana-se quem pensa que, esquivando-se das ações e persistindo na inatividade, escapa dos resultados da ação. Quem nada começa, não pode entrar no estado da Paz Eterna; a inatividade não conduz à Perfeição. E, na realidade, nem há coisas que se possam designar pela palavra inatividade; pois tudo, no Universo, está em atividade constante, e nada pode subtrair-se à lei geral.

5. Ninguém pode ficar inativo nem um instante; pois as leis de sua natureza o impelem constantemente a fazer alguma coisa, queira ele ou não; o seu corpo ou a sua mente, ou ambos, sempre estão ocupados.

6. Se alguém se assenta  para reter e dominar os seus sentidos e os órgãos de atividade, mas em sua mente, está apegado aos objetos dos sentidos, ilude-se e merece o nome de hipócrita.

7. Porém, é digno de ser chamado sábio e nobre aquele que sujeitou os seus sentidos a Deus, pelo amor ardente ao Altíssimo, e expressa o seu reto pensar em reta ação; ele cumpre o seu dever, sem esperar recompensas e, ocupando-se de objetos dos sentidos, não se deixa dominar por eles.

8. Faze bem o que te compete fazer no mundo; cumpre bem as tuas tarefas; ocupa-te da obra que encontras, para fazê-la o melhor possível: assim será muito bom para ti. Atividade é melhor do que ociosidade. A Atividade fortalece a mente e o corpo, e conduz a uma vida longa e normal; a ociosidade enfraquece tanto o corpo como a mente, e conduz a uma vida impotente e anormal, de duração incerta.

9. Os homens estão aferrados a este mundo, porque agem com o fim de obter recompensa e ganho; estão apegados aos objetos de seus desejos, e, por isso, cansam-se na escravidão dos sentidos. Para se libertarem, hão de agir com resignação, movidos pelo puro amor ao Bem. Faze, pois, ó Arjuna! a tua tarefa, para cumprires o dever que o Eu Real te impõe, e não por qualquer outro motivo.

10. Lembras-te das doutrinas antigas que narram a criação do mundo, e as palavras que o Criador disse aos homens que tinha criado! Ouve pois as repetirei: Pela adoração e pelo sacrifício mútuo, crescereis e vos multiplicareis. Pela resignação, obtereis a satisfação dos vossos desejos.

11. Lembrai-vos da Fonte de todas as coisas, do Distribuidor dos objetos desejados. Pensai no que é Divino, para que o Divino pense em vós.

12. Se nutrirdes, com o sacrifício de vós mesmo, os deuses, eles vos darão o desejado alimento espiritual. Quem recebe os dons dos deuses e não lhes mostra a gratidão, é como um ladrão.

13. Os bons homens que retêm para si só aquilo que resta depois de terem oferecido à Divindade tudo o que é divino, são livres de todos os pecados; porém, os maus que querem agir só para si mesmos, vivem em pecado.

14. Todas as criaturas, tanto as espirituais como as materiais, vivem, enquanto se alimentam. O alimento cresce com a chuva. A chuva é mau dada pelos deuses em resposta aos desejos, às preces e às súplicas dos homens. Os desejos, as preces e as súplicas dos homens são formas de ações; e as ações procedem da Vida Una que tudo penetra.

15. Sabe que toda ação tem sua origem em Brahma. Brahma é a revelação da indivisível Unidade. Por isso, Brahma, que tudo penetra, é sempre presente nas tuas açõesl

16. É vã e vergonhosa a vida do homem que, vivendo neste mundo de ação, tenta abster-se da ação; quem, gozando o fruto da ação do mundo ativo, não coopera, mas vive em ociosidade. Aquele que, aproveitando a volta da roda, em cada instante de sua vida, não quer pôr a mão à roda para ajudar a movê-la, é um para sita e um ladrão que toma, sem dar coisa alguma em troca.

17. Sábio é, porém, aquele que cumpre bem os seus deveres e executa as obras que são para fazer-se no mundo, renunciando a seus frutos e concentrado na ciência do Eu Real.

18. Tal homem, elevado acima dos mundos, não se inquieta por saber se alguma coisa no mundo acontece ou não acontece; achando em si mesmo tudo de que precisa, não tem necessidade de refugiar-se em nenhum ser criado, para nele achar apoio. Participando de tudo e agindo, em tudo, de acordo com os ditames do dever, de nada depende, porque a sua fé, esperança e ciência se fixam no Imperecível, que é o único apoio seguro.

19. Faze, pois, o que deve ser feito; porém, sem egoísmo e sem considerações pessoais. Quem age assim e cumpre o seu dever, livre de motivos egoístas, e sem depender de alguém, caminha, com passos firmes, diretamente à Consciência superior, ao plano espiritual.

20. Janaka e muitos outros atingiram o estado de perfeição por meio de boas obras e reta ação. Trabalha, pois, também tu por amor à humanidade.

21. Quando um nobre homem faz alguma coisa, os outros o imitam; o exemplo que ele dá é seguido pelo povo. Segue, portanto, os melhores de tua raça.

22. Toma-me por exemplo, ó príncipe. Nada há, no Universo dos Universos, que eu deseje ou que seja necessário que para mim não se faça; nem há coisa alguma atingível que eu não tenha já atingido. E, contudo, estou em constante ação e movimento, agindo sempre e incessantemente.

23. Os homens, ó Arjuna, seguem sempre o meu exemplo; por isso, se eu deixasse de ser ativo, estes Universos cairiam em ruína.

24. Se eu não agisse, começaria a reinar uma confusão universal, e a minha inatividade seria a causa da destruição do gênero Humano.

25. Como os que carecem ainda da Luz Espiritual fazem esforços para alcançar o que desejam, sendo a esperança de recompensa o estímulo de suas ações: assim deve o homem desenvolvido e iluminado agir abnegadamente, pela causa do bem comum e conforme a Lei Universal.

26. Mas não deves confundir, com estas ideias, as cabeças dos homens inexperientes, cujo coração ainda está apegado às obras. Deixa-os fazer o melhor que podem; mas tu e os outros sábios devem agir em harmonia comigo, animando os outros à atividade, e dando-lhes o exemplo.

27. Toda a atividade e todas as ações provêm dos movimentos das forças da Natureza. O insensato, que é iludido pela presunção e vaidade, pensa que ele é o ator e diz: Eu faço isto, eu fiz aquilo".

28. Mas quem conhece a verdade, sorri, porque detrás da personalidade, enxerga a fonte real da ação, a causa e o efeito.

29. Entretanto, os que conhecem a verdade inteira, devem acautelar-se para não ofuscarem com ela o fraco entendimento daqueles que ainda não estão preparados para conhecê-la, por que os doutrinas as doutrinas prematuras poderiam confundir e desviar estes da sua atividade.

30. Tu, porém, ó Arjuna, liberta-te de todos os cuidados, de todo medo e, igualmente, do egoísmo e das esperanças pessoais; em Meu nome (1), faze tudo o que hás de fazer, concentrando todos os teus pensamentos no Altíssimo! 
(1) Isto é, em nome de Deus. KRISHNA é a Encarnação Divina.

31. Os homens que, cheios de fé e confiança, seguirem estes meus ensinos e não tiverem dúvidas, alcançarão a liberdade também pelas obras e ações.

32. Porém, aqueles que rejeitam os ensinos da Verdade e agem contra eles, são insensatos e iludidos, e caem em confusão e inquietações.

33. Cada ser age em conformidade com a sua natureza; também o sábio procura o que se harmoniza com a sua própria natureza, de acordo com aquilo que é o mais alto no seu caráter.

34. Ninguém pode escapar às leis naturais. Os objetos sensuais são os senhores dos sentidos, e atraem ou repelem o coração dos homens, enchendo-o de afeição ou de aversão. Não te deixes dominar por nenhuma destas duas forças, porque ambas são obstáculos no caminho e o sábio as subjuga ambas.

35. Finalmente, lembra-te que é melhor cumprir a própria tarefa, ainda que seja humilde e insignificante do que querer fazer a tarefa de um outro, por mia nobre e excelente que seja. É melhor morrer no cumprimento do seu dever, do que viver negligenciando-o e querendo fazer o que a outros compete fazer.

36. Pergunta Arjuna: Mas dize-me, o Senhor, que força misteriosa é essa que, muitas vezes, parece obrigar o homem a praticar um mal, até contra a própria vontade? 

37. Explica KRISHNA: Esta tentação, ó príncipe, é a essência dos desejos que o homem em si acumulou (1). Ela é o seu maior inimigo, e chama-se Paixão; nasce da natureza carnal, cheia de pecado e de erro, e ataca o homem para o consumir. 
(1) Em sânscrito, dá-se-lhe o nome de Kama. Não confundir com Karma.

38. Como a fumaça envolve a chama, a ferrugem o metal, o útero a criança para nascer: assim o mundo é envolvido por este inimigo, chamada desejo.

39. O desejo impede o verdadeiro saber; ele é como um fogo devorador, difícil de extinguir-se.

40. Os sentidos e a mente são a sua sede; e, por meio deles, confunde o discernimento e obscurece o conhecimento da verdade.

41. Antes de tudo, deves, portanto, vencer esse inimigo de tua alma. Domina os teus sentidos e os seus órgãos, e afugenta de ti esse gerador do mal.

42. Os sentidos são grandes e poderosos; porém, maior e mais poderosa é a mente; maior do que esta é a Razão, e o mais forte é o Eu Real, a Luz da Divindade (1). 
(1) Os sentidos, que são a sede do desejo, designam-se, em sânscrito pelo termo Kama; a mente chama-se Manas; a Razão Iluminada, Budhi; o Eu Real, a Consciência da Divindade é Atman.


43. Reconhecendo, pois, o Eu Real como o Senhor mais poderoso, domina pelo seu poder o eu pessoal, e assim subjuga o monstro do desejo: esta tarefa é difícil, mas não impossível. Combate o desejo, domina-o pela força da Luz Divina do Eu Real; não o deixes ser teu Senhor, mas reduze-o a ser teu escravo". Livro Bhagavad Gita - A Mensagem do Mestre. Abraço. Davi. 

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