sábado, 30 de setembro de 2017

A ATIVIDADE DO DESEJO

Espiritualidade. Texto de N. Sri Ram (1889-1973). A ATIVIDADE DO DESEJO. A SENSAÇÃO nasce do sentido do tato, que é a base de nossa relação com o mundo fenomenal. É um modo de resposta ao mundo externo e tem seu valor como meio de conhecimento, felicidade e crescimento, no seu lugar apropriado. Quando A SENSAÇÃO é psicologicamente elaborada, convertida em necessidade e indiscriminadamente misturada com o nosso processo pensante, é que o problema começa. Quando a SENSAÇÃO é agradável, MANAS ou mente - que é o instrumento de percepção - apega-se à SENSAÇÃO particular. O DESEJO de repetição da experiência surge como a forma ativa vitalizada desse apego. Toda repetição é essencialmente mecânica e pertence à natureza material: é, na verdade, uma forma de inércia. A MEMÓRIA é repetitiva. O DESEJO também é repetitivo. Ele tem seu ciclo de origem, crescimento, fim da satisfação, e renascimento imediato. A atividade do DESEJO É produzida pela MENTE. Mesmo nos animais, o DESEJO surge por causa de uma MENTE subliminar. MENTE e SENSAÇÃO juntas geram DESEJO, quando a MENTE trabalha arduamente para se tornar SENSAÇÃO. A SENSAÇÃO é mentalizada. É o modo como a MENTE identifica a SENSAÇÃO posteriormente, retendo-a como base do pensamento e como MEMÓRIA. A MENTE tem o seu pensamento colorido pela SENSAÇÃO de prazer ou dor, e a reação a esse prazer ou a essa dor penetra o pensamento e o condiciona. Não fosse este o caso, a SENSAÇÃO existiria apenas por um momento, quando existe o contato excitante, e não produziria DESEJO. O DESEJO é uma força que remete ao passado e aparece como um fantasma do passado influenciando o presente. É a MENTE que, em seu lado material (pois também está ligada ao princípio espiritual), une o passado ao presente, que associa uma coisa a outra por meio de observação e comparação. Ela rastreia a MEMÓRIA, cria teias de associação. O DESEJO, que é um impulso criado pelo impacto da MENTE sobre a SENSAÇÃO, invade a MENTE. Ele assim se perpetua e se expande. A SENSAÇÃO, com origem no passado, estende-se ao presente. Suas vibrações originais continuam diminuindo - a não ser que sejam intensificadas - como os tons de um diapasão (mus na escala geral dos sons, posição ocupada por uma voz ou instrumento) através do meio contínuo da MENTE. A MENTE relembra a SENSAÇÃO passada, e como a SENSAÇÃO está envolta em DESEJO, ela desfruta a SENSAÇÃO e se esforça pro prolongá-la e intensificá-la. Através das associações feitas pela MENTE, O DESEJO penetra os conteúdos mentais. Então toda associação torna-se maculada e excita o DESEJO. O DESEJO, se é DESEJO SEXUAL, atua sobre o sistema nervoso. Toda SENSAÇÃO é uma excitação dos nervos, isto é, de todo o corpo. Quando a MENTE relembra essa EXCITAÇÃO, quando se demora sobre ela na MEMÓRIA, o DESEJO sobe à cabeça e a EXCITAÇÃO aumenta até alcançar o CLÍMAX. A MENTE torna-se escrava dessa EXCITAÇÃO e não consegue funcionar separada dela. Ela se torna ativa e reúne os sentidos por meio de todo artifício possível, com o objetivo de aumentar o DESEJO e alimentá-lo. Vemos isso ilustrado num show erótico ou numa revista erótica. O produtor representa a MENTE. É a sua MENTE que elabora e desenha cada detalhe que atraí os espectadores ao atuar sobre as associações em suas MENTES, incita-lhes o DESEJO SEXUAL, que por sua vez intensifica as antigas associações e se espalha para SENSAÇÕES NOVAS. Cada detalhe torna-se uma corrente que aumenta o fluxo do DESEJO e da EXCITAÇÃO, resultando num estado de interação, um vicioso círculo de ação entre a MENTE, instigada pelo DESEJO e os NERVOS. Quanto maior a EXCITAÇÃO  DOS NERVOS, maior a vivificação do corpo e o desfrute da SENSAÇÃO corporal. Quanto maior o gozo, maior o APEGO ao gozo e ao anelo por sua repetição. A "arte" em qualquer romance ERÓTICO ou em qualquer tipo de apelo SEXUAL consiste igualmente na ênfase de associações. Assim, grande número de pessoas se deixa influenciar por uma LUXÚRIA intensificada e crescente que, eventualmente, as torna autômatos existindo para a SATISFAÇÃO DA LUXÚRIA, "monstros" a quem nada deterá sob sua TIRANIA INCESSANTE. Na ocasião oportuna a AUTOINDULGÊNCIA sufoca e destrói todo instinto ALTRUÍSTA. Pois a mente está entrincheirada na SENSAÇÃO. A LUXÚRIA torna-se CRUELDADE, SADISMO (perversão caracterizada pela obtenção de prazer sexual com a humilhação ou sofrimento físico do outro). Mesmo em sua forma débil, LUXÚRIA e INDULGÊNCIA (disposição para perdoar culpa ou erro: misericórdia, clemência) produzem indiferença para com os outros, DESTROEM O AMOR no único sentido verdadeiro, expansivo e belo do termo. É através da MENTE que o DESEJO pode ser controlado e dominado. O homem sábio é aquele que não diz; "EU DESEJO" pois é capaz de se separar do DESEJO. Logo ele aprende que sua MENTE é um amplo processo de pensar que ele contraiu. Quando o coração está PLENO DE AMOR que busca dar e não arrebatar ou desfrutar, que não busca intensificação do eu pela SENSAÇÃO ENRAIZADA no eu, todos os anelos devem morrer. Onde O SEXO É UM PROBLEMA, O AMOR É O ANTÍDOTO. Quando existe a SACRALIDADE DO AMOR puro, no qual existe ausência do eu - pode-se olhar, sem interesse - como através dos olhos de uma criança inocente, para todas as coisas que poderiam ser EXCITANTES a uma MENTE afetada pelo SEXO. Na vida moderna, "AMOR" está associado a POSSE E PRAZER. Mas seu verdadeiro relacionamento é com ausência de DESEJO sob qualquer forma, sutil ou grosseira. Livro O Interesse Humano. Abraço. Davi.

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