Espiritualidade.
Texto de N. Sri Ram (1889-1973). A ATIVIDADE DO DESEJO. A SENSAÇÃO
nasce do sentido do tato, que é a base de nossa relação com o mundo fenomenal.
É um modo de resposta ao mundo externo e tem seu valor como meio de
conhecimento, felicidade e crescimento, no seu lugar apropriado. Quando A
SENSAÇÃO é psicologicamente elaborada, convertida em necessidade e
indiscriminadamente misturada com o nosso processo pensante, é que o problema
começa. Quando a SENSAÇÃO é agradável, MANAS ou mente - que é o instrumento de
percepção - apega-se à SENSAÇÃO particular. O DESEJO de repetição da
experiência surge como a forma ativa vitalizada desse apego. Toda repetição é
essencialmente mecânica e pertence à natureza material: é, na verdade, uma
forma de inércia. A MEMÓRIA é repetitiva. O DESEJO também é repetitivo. Ele tem
seu ciclo de origem, crescimento, fim da satisfação, e renascimento imediato. A
atividade do DESEJO É produzida pela MENTE. Mesmo nos animais, o DESEJO surge
por causa de uma MENTE subliminar. MENTE e SENSAÇÃO juntas geram DESEJO, quando
a MENTE trabalha arduamente para se tornar SENSAÇÃO. A SENSAÇÃO é mentalizada.
É o modo como a MENTE identifica a SENSAÇÃO posteriormente, retendo-a como base
do pensamento e como MEMÓRIA. A MENTE tem o seu pensamento colorido pela
SENSAÇÃO de prazer ou dor, e a reação a esse prazer ou a essa dor penetra o
pensamento e o condiciona. Não fosse este o caso, a SENSAÇÃO existiria apenas
por um momento, quando existe o contato excitante, e não produziria DESEJO. O
DESEJO é uma força que remete ao passado e aparece como um fantasma do passado
influenciando o presente. É a MENTE que, em seu lado material (pois também está
ligada ao princípio espiritual), une o passado ao presente, que associa uma
coisa a outra por meio de observação e comparação. Ela rastreia a
MEMÓRIA, cria teias de associação. O DESEJO, que é um impulso criado pelo
impacto da MENTE sobre a SENSAÇÃO, invade a MENTE. Ele assim se perpetua e se
expande. A SENSAÇÃO, com origem no passado, estende-se ao presente. Suas
vibrações originais continuam diminuindo - a não ser que sejam intensificadas -
como os tons de um diapasão (mus na escala geral dos sons, posição ocupada por
uma voz ou instrumento) através do meio contínuo da MENTE. A MENTE relembra a
SENSAÇÃO passada, e como a SENSAÇÃO está envolta em DESEJO, ela desfruta a
SENSAÇÃO e se esforça pro prolongá-la e intensificá-la. Através das associações
feitas pela MENTE, O DESEJO penetra os conteúdos mentais. Então toda associação
torna-se maculada e excita o DESEJO. O DESEJO, se é DESEJO SEXUAL, atua sobre o
sistema nervoso. Toda SENSAÇÃO é uma excitação dos nervos, isto é, de todo o
corpo. Quando a MENTE relembra essa EXCITAÇÃO, quando se demora sobre ela na
MEMÓRIA, o DESEJO sobe à cabeça e a EXCITAÇÃO aumenta até alcançar o CLÍMAX. A
MENTE torna-se escrava dessa EXCITAÇÃO e não consegue funcionar separada dela.
Ela se torna ativa e reúne os sentidos por meio de todo artifício possível, com
o objetivo de aumentar o DESEJO e alimentá-lo. Vemos isso ilustrado num show
erótico ou numa revista erótica. O produtor representa a MENTE. É a sua MENTE
que elabora e desenha cada detalhe que atraí os espectadores ao atuar sobre as
associações em suas MENTES, incita-lhes o DESEJO SEXUAL, que por sua vez
intensifica as antigas associações e se espalha para SENSAÇÕES NOVAS. Cada
detalhe torna-se uma corrente que aumenta o fluxo do DESEJO e da EXCITAÇÃO,
resultando num estado de interação, um vicioso círculo de ação entre a MENTE,
instigada pelo DESEJO e os NERVOS. Quanto maior a EXCITAÇÃO DOS NERVOS,
maior a vivificação do corpo e o desfrute da SENSAÇÃO corporal. Quanto maior o
gozo, maior o APEGO ao gozo e ao anelo por sua repetição. A "arte" em
qualquer romance ERÓTICO ou em qualquer tipo de apelo SEXUAL consiste
igualmente na ênfase de associações. Assim, grande número de pessoas se deixa
influenciar por uma LUXÚRIA intensificada e crescente que, eventualmente, as
torna autômatos existindo para a SATISFAÇÃO DA LUXÚRIA, "monstros" a
quem nada deterá sob sua TIRANIA INCESSANTE. Na ocasião oportuna a AUTOINDULGÊNCIA
sufoca e destrói todo instinto ALTRUÍSTA. Pois a mente está entrincheirada na
SENSAÇÃO. A LUXÚRIA torna-se CRUELDADE, SADISMO (perversão caracterizada pela
obtenção de prazer sexual com a humilhação ou sofrimento físico do outro).
Mesmo em sua forma débil, LUXÚRIA e INDULGÊNCIA (disposição para perdoar culpa
ou erro: misericórdia, clemência) produzem indiferença para com os outros,
DESTROEM O AMOR no único sentido verdadeiro, expansivo e belo do termo. É
através da MENTE que o DESEJO pode ser controlado e dominado. O homem sábio é
aquele que não diz; "EU DESEJO" pois é capaz de se separar do DESEJO.
Logo ele aprende que sua MENTE é um amplo processo de pensar que ele contraiu.
Quando o coração está PLENO DE AMOR que busca dar e não arrebatar ou desfrutar,
que não busca intensificação do eu pela SENSAÇÃO ENRAIZADA no eu, todos os
anelos devem morrer. Onde O SEXO É UM PROBLEMA, O AMOR É O ANTÍDOTO. Quando
existe a SACRALIDADE DO AMOR puro, no qual existe ausência do eu - pode-se
olhar, sem interesse - como através dos olhos de uma criança inocente, para
todas as coisas que poderiam ser EXCITANTES a uma MENTE afetada pelo SEXO. Na
vida moderna, "AMOR" está associado a POSSE E PRAZER. Mas seu
verdadeiro relacionamento é com ausência de DESEJO sob qualquer forma, sutil ou
grosseira. Livro O Interesse Humano. Abraço. Davi.
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