terça-feira, 5 de setembro de 2017

II. A EXISTÊNCIA DOS MESTRES.

Teosofia. Texto de Charles Webster Leadbeater (1854-1934). Capítulo Um. A EXISTÊNCIA DOS MESTRES II.  A EVOLUÇÃO DA VIDA – Uma vez que, no curso de nosso desenvolvimento, nós nos tornamos capazes de nos comunicar com os Adeptos, naturalmente perguntamos a eles, com toda a reverência, como eles alcançaram aquele nível. Eles nos contam, cedendo ao nosso interesse, que não muito tempo atrás eles estavam exatamente onde nós estamos agora, e então se ergueram acima das fileiras da humanidade comum; que nós, no devido tempo, seremos como eles são agora; e que todo o sistema é uma evolução graduada da Vida por níveis se estendendo cada vez mais acima, além do que podemos acompanhar, até a própria Divindade. Percebemos que, assim como há estágios definidos na evolução inicial – o vegetal acima do mineral, o animal acima do vegetal, e o humano acima do animal – da mesma forma o reino humano tem um final definido, uma fronteira em que o homem passa a um reino distintamente mais elevado que ele próprio, que além do humano há o Super-humano. No estudo desse sistema de evolução, compreendemos que em cada homem há três grandes divisões: corpo, alma e espírito, e que cada uma delas comporta subdivisões adicionais. Esta foi a definição dada por São Paulo, o apóstolo cristão, dois mil anos atrás. O Espírito ou Mônada é o sopre de Deus, pois a palavra “espírito” significa “sopro”, do latim spiro; a centelha divina que é verdadeiramente o Homem, embora seja mais precisamente descrita como pairando sobre o homem como o conhecemos. O esquema de sua evolução consiste em que ela desça até a matéria, e por meio de sua descida, obtenha definição e acuidade nos aspectos materiais. Até onde podemos ver, essa Mônada (espírito), que é uma centelha do Fogo Divino, não pode descer até o nosso nível atual, não pode alcançar diretamente este plano físico em que estamos agora pensando e trabalhando – provavelmente porque as frequências de sua vibração e as da matéria física diferem largamente, de forma que seja necessário haver estados e condições intermediárias. Em que plano de Natureza aquele centelha divina originalmente existe, nós não sabemos, pois está muito acima de nosso alcance. Sua  manifestação mais baixa, que poderia ser chamada de seu reflexo, desce até o mais baixo dos Planos Cósmicos, como descrito em A Textbook of Theosophy (1). Habitualmente falamos de sete planos de existência, que são subdivisões ou sub planos do Plano Cósmico mais baixo, denominado em nossos livros de Prakriti (2), expressando o plano físico do Cosmos. A Mônada pode descer até o segundo desses sub planos (a que denominamos consequentemente de Plano Monádico), mas ela não parece ser capaz de penetrar mais baixo que isso. Para obter o imprescindível contato com a matéria ainda mais densa, ela lança parte de si mesma para baixo por dois planos inteiros; e esse fragmento é o que chamamos de Ego (3) ou alma. O Espírito Divino, muito acima de nós, apenas paira sobre nós; a alma, que é uma representação pequena e parcial dele (é como se a Mônada lançasse para baixo um dedo de fogo, e a extremidade desse dedo fosse a alma) não pode descer abaixo da porção superior do plano mental que é o quinto plano, contando de cima para baixo, sendo o físico o sétimo e o mais baixo. Para que ele alcance um nível ainda mais baixo, ele deve, por sua vez, lançar para baixo uma pequena porção de si mesmo, que corresponde à personalidade que conhecemos. Então, essa personalidade, que cada pessoa pensa comumente ser ela própria, é na verdade apenas o fragmento de um fragmento. Toda a evolução pelos reinos mais baixos é uma preparação para o desenvolvimento dessa constituição humana. Um animal, durante sua vida no plano físico (e por algum tempo depois disso, no mundo astral), tem uma alma tão individual e separada quanto a do homem; porém, quando o animal  chega ao final de sua vida astral, aquela alma não reencarna novamente em um corpo separado, mas retorna para uma espécie de reservatório de matéria-alma, chamado em nossos livros de alma-grupo. É como se alma-grupo fosse um balde d’água, suprindo as necessidades de vários animais do mesmo tipo – digamos, por exemplo, de vinte cavalos. Quando um cavalo está para nascer dessa alma-grupo, é como se alguém mergulhasse uma vasilha nesse balde e a trouxesse cheia de água. Durante a vida desse cavalo, todos os tipos de experiência – nas quais ele aprende lições – vêm até ele e modificam sua alma; e isso pode ser comparado a vários tipos de pigmentos lançados nessa vasilha de água. Quando o cavalo morre, a água na vasilha é derramada de volta no balde, e os pigmentos coloridos que ele adquiriu se espalham por todo o conteúdo do balde. Quando nasce outro cavalo da mesma alma-grupo, outra vasilha de água é retirada do balde; assim, é óbvio que será impossível tirar exatamente as mesmas gotas de água que constituíram a alma do cavalo anterior (4). Quando um animal tiver se desenvolvido o suficiente para se tornar humano, isso significa que, ao final de sua vida, sua alma não será mais colocada de volta na alma-grupo, mas permanecerá como uma entidade separada. Nesse momento, um destino muito curioso mas também muito bonito recai sobre ele. A matéria-alma, a água na vasilha, se torna um veículo para algo muito superior, e no lugar de atuar como uma lama, ela própria é animada. Não temos uma analogia mais exata no plano físico do que pensarmos em bombear ar na água sob alta pressão e obter, assim, água gaseificada. Se nós aceitarmos esse simbolismo, a água que era previamente a alma de um animal agora se torna o corpo causal de um homem; e o ar bombeado para dentro dela é o Ego ao qual me referi – aquela alma do homem que é apenas uma manifestação parcial do Espírito Divino. Essa descida do Ego é simbolizada na antiga mitologia grega na ideia do Krater (5) ou Cálice e na estória medieval do Santo Graal, pois o Graal ou o Cálice é o resultado perfeito de toda a evolução inferior, no qual é despejado o Vinho da Vida Divina para que a alma do homem possa nascer. Dessa forma, como havíamos dito, aquilo que previamente era a alma de um animal se torna, no caso do homem, o que é denominado corpo causal, na porção superior do plana mental – um veículo permanente ocupado pelo Ego ou alma humana; e tudo o que fora aprendido em sua evolução é transferido para esse novo centro de vida. A evolução dessa alma consiste em seu retorno gradual para o nível mais elevado no plano logo abaixo do Monádico, carregando consigo o resultado de sua descida na forma de experiências aproveitadas e qualidades adquiridas. O corpo físico em todos nós está totalmente desenvolvido, e por isso supostamente o conquistamos; porém ele deve estar inteiramente sob o controle da alma. Entre os homens mais desenvolvidos nos dias atuais, isso ocorre normalmente, embora as vezes ele possa “escapar” e se tornar selvagem. O corpo astral também já está totalmente desenvolvido, mas ainda está longe do controle perfeito. Mesmo entre as Raças às quais pertencemos, há muitas pessoas que são vítimas de suas próprias emoções. No lugar de serem capazes de governa-las integralmente, essas pessoas muitas vezes se deixam ser guiadas por elas. Permitem que suas emoções as conduzam desgovernadas, assim como um cavalo selvagem pode disparar com seu cavaleiro e leva-lo a lugares aos quais ele não deseja ir. Podemos considerar, então, que em todos os mais evoluídos homens no presente momento o corpo físico está totalmente desenvolvido e razoavelmente sob controle; o corpo astral também está totalmente desenvolvido, mas de forma alguma em perfeito controle. O corpo mental está em processo de desenvolvimento e seu crescimento está ainda muito longe de concluído. Quando esses três veículos, o físico, o astral e o mental, estiverem inteiramente subordinados a alma, o eu inferior terá sido absorvido pelo Ser superior, e o Ego, a alma, terá dominado o homem. Embora o homem ainda não seja perfeito, os diferentes veículos estão suficientemente harmonizados de forma que eles possuem um objetivo único. Até o momento, a alma vem lentamente controlando os veículos da personalidade com a finalidade de que eles se tornem um com ela; mas agora a Mônada, por sua vez, começa a dominar a alma. E virá um tempo em que, assim como a personalidade e a alma se tornaram um, o Espírito e a alma se tornarão um por sua vez. Essa é a unificação do Ego com a Mônada. Quando isso for alcançado, o homem terá atingido o objetivo de sua descida à matéria – ele terá se tornado um Super-humano ou Adepto. VIDA SUPER-HUMANA – Somente agora, pela primeira vez, ele entra em sua vida real, pois a completude desse formidável processo evolutivo (por todos os reinos inferiores e depois pelo reino humano até a obtenção do Adeptado) é apenas uma preparação para essa verdadeira vida do Espírito, que se inicia somente quando o homem se torna mais que homem.  A humanidade é a última classe da escola do mundo; e quando um homem tiver sido treinado nela, ele passará para a vida real, a vida do Espírito glorificado, a vida do Cristo. Ainda sabemos pouco do que ela significa, apesar de vermos alguns daqueles que a compartilham. Essa vida tem uma glória e um esplendor que estão além de qualquer comparação, acima de nossa compreensão; e mesmo assim é um fato vivo e resplandecente. Essa realização por cada um de nós é uma certeza absoluta, da qual não podemos fugir mesmo se quisermos. Se agirmos de forma egoísta, se nos colocarmos contra a corrente de evolução, podemos atrasar o nosso progresso, mas definitivamente não conseguiremos impedi-lo. Ao concluir a vida humana, o Homem Perfeito geralmente solta seus vários corpos materiais, mas ele retém o poder de assumir qualquer um deles caso o necessite no decorrer de seu trabalho. Na maioria dos casos, aquele que alcança esse nível não mais precisa de um corpo físico. Ele não mais retém o corpo astral, mental ou até o causal, mas vive permanentemente em seu nível mais elevado. Sempre que, por qualquer propósito, ele precise lidar com um plano mais baixo, ele tomará um veículo temporário pertencente a esse plano, pois apenas por intermédio daquela matéria ele poderá entrar em contato com aqueles que habitam aquele plano. Se ele quiser falar com homens fisicamente, ele tomará um corpo físico; ele deverá ter ao menos uma materialização parcial, ou ele não poderá falar. Da mesma forma, se ele quiser impressionar nossas mentes, ele deverá atrair um corpo mental à sua volta. Sempre que ele precisar, em seu trabalho, tomar um veículo inferior, ele tem o poder de assim o fazer, mas ele o mantém apenas temporariamente. Há sete linhas de maior avanço ainda que um Homem Perfeito pode percorrer, das quais forneceremos uma listagem num capítulo mais adiante. A FRATERNIDADE DE ADEPTOS – O mundo é guiado e direcionado em grande medida por uma Fraternidade de Adeptos, à qual pertencem nossos Mestres. Os estudantes teosóficos cometem todos os tipos de engano sobre eles. Frequentemente os enxergam como uma grande comunidade monástica, todos vivendo conjuntamente em algum lugar secreto. Supunham algumas vezes que eles fossem Anjos; e muitos de nossos estudantes pensaram que eles eram todos indianos ou que todos morassem no Himalaia. Nenhuma dessas hipóteses é verdadeira. Há uma Grande Fraternidade, e seus Membros estão em constante comunicação um com o outro; mas essa comunicação ocorre em planos superiores, e eles não necessariamente vivem juntos. Como parte de seu trabalho, alguns desses Grandes Irmãos, que chamamos de Mestres da Sabedoria, estão dispostos  a tomar discípulos-aprendizes e instruí-los, mas eles formam apenas uma pequena seção do poderoso Corpo de Homens Perfeitos. Como será explicado mais tarde, há sete tipos de homens, pois todos pertencem a um dos sete Raios nos quais a grande onda de vida evolucionária está claramente dividida. Parece que um Adepto de cada um dos Raios é designado para auxiliar no treinamento de iniciantes, e todos aqueles que estão caminhando em seu Raio particular de evolução passam por suas mãos. Ninguém abaixo do grau de Adepto tem permissão para assumir total responsabilidade por um novato, embora aqueles que tenham sido chelas (6), discípulo por bastante tempo sejam frequentemente empregados como substitutos e recebam o privilégio de ajudar e aconselhar jovens aspirantes promissores. Esses discípulos mais velhos são gradualmente treinados para o seu futuro trabalho, quando eles, por sua vez, se tornarão Adeptos, aprendendo mais e mais do trabalho de rotina e liberando as mãos de seu Mestres para que eles possam ficar livres para tarefas mais elevadas, que só eles podem desempenhar. A seleção preliminar de candidatos para o discipulado é deixada em grande medida nas mãos desses trabalhadores mais velhos, e os candidatos são temporariamente ligados a tais representantes, em vez de diretamente aos grandes Adeptos. Porém, os discípulos e o Mestre são tão maravilhosamente um que talvez essa seja quase “uma distinção sem diferença”. OS PODERES DO ADEPTO – Os poderes do Adepto são realmente numerosos e maravilhosos, mas eles se sucedem em um curso natural de faculdades que nós mesmos possuímos. O Adepto apenas tais faculdades em um grau muito maior. Acredito que a característica mais marcante de um Adepto, quando comparado conosco, é que ele tudo vê a partir de um ponto de vista absolutamente diferente, pois nele não há nenhum pensamento egoísta, tão proeminente na maioria dos homens. O Adepto eliminou o eu inferior e vive não para si próprio, mas para todos, e ainda, de uma maneira que apenas ele pode realmente entender, onde todos são, na verdade, também ele. Ele atingiu aquele estágio em que não há defeito em seu caráter, nenhum pensamento ou sentimento por um eu separado e pessoal. Sua única motivação é ajudar o adiantamento da evolução, trabalhar em harmonia com o Logos que a dirige. Talvez sua subsequente característica mais proeminente seja o seu completo desenvolvimento. Todos nós somos imperfeitos, ninguém atingiu o nível mais elevado em nenhuma linha; e mesmo o grande cientista ou o grande santo usualmente atingiram a excelência em um aspecto apenas, restando outros lados de sua natureza ainda não revelados. Todos nós possuímos algum embrião de todas as diferentes características, que estão apenas parcialmente despertas, uma mais que outra. Um Adepto, no entanto, é um Homem completo, um Homem em que a devoção, o amor, a simpatia e a compaixão são perfeitos; ao mesmo tempo, seu intelecto é algo muito mais grandioso ainda do que nós possamos perceber, e sua espiritualidade é maravilhosa e divina. Ele se destaca acima de todos os homens que conhecemos pelo fato de ele ser inteiramente desenvolvido. Referências: (1) A Textbook of theosophy, de C. W. Leadbeater, editado pela Editora Pensamento com o título Compêndio de teosofia, porém esgotado. (2). Prakti, sânscrito – a Natureza em geral, a Matéria primordial e elemental em contraposição a Purusha – a natureza espiritual, o Espírito – que juntos são os dois aspectos primitivos da Divindade única. (3). Nesta edição, preferiu-se grafar o Ego ou Eu Superior com inicial maiúscula, significando a “alma imortal” ou individualidade que evoluiu através de sucessivas reencarnações reguladas pela lei do Karma, para distingui-lo do ego psicológico ou eu inferior mortal, bem como da Mônada ou Espírito Eterno, conforme o próprio autor define e aprofunda no seu Capítulo denominado “O Ego”. (4). Para mais detalhes sobre esse processo, veja A Textbook of Theosophy. (5). Krater – jarra redonda, em forma de taça, na qual os gregos e romanos antigos misturavam vinho e água. (6). Chela – discípulo de um guru ou sábio. No Oriente também se denomina chela o discípulo já aceito para o estudo do Ocultismo. Livro Os Mestres e a Senda. Abraço. Davi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário