Teosofia.
Texto de Charles Webster Leadbeater (1854-1934). Capítulo Um. A EXISTÊNCIA DOS
MESTRES II. A EVOLUÇÃO DA VIDA – Uma vez
que, no curso de nosso desenvolvimento, nós nos tornamos capazes de nos
comunicar com os Adeptos, naturalmente perguntamos a eles, com toda a
reverência, como eles alcançaram aquele nível. Eles nos contam, cedendo ao
nosso interesse, que não muito tempo atrás eles estavam exatamente onde nós
estamos agora, e então se ergueram acima das fileiras da humanidade comum; que
nós, no devido tempo, seremos como eles são agora; e que todo o sistema é uma
evolução graduada da Vida por níveis se estendendo cada vez mais acima, além do
que podemos acompanhar, até a própria Divindade. Percebemos que, assim como há
estágios definidos na evolução inicial – o vegetal acima do mineral, o animal
acima do vegetal, e o humano acima do animal – da mesma forma o reino humano
tem um final definido, uma fronteira em que o homem passa a um reino
distintamente mais elevado que ele próprio, que além do humano há o
Super-humano. No estudo desse sistema de evolução, compreendemos que em cada
homem há três grandes divisões: corpo, alma e espírito, e que cada uma delas
comporta subdivisões adicionais. Esta foi a definição dada por São Paulo, o
apóstolo cristão, dois mil anos atrás. O Espírito ou Mônada é o sopre de Deus,
pois a palavra “espírito” significa “sopro”, do latim spiro; a centelha divina
que é verdadeiramente o Homem, embora seja mais precisamente descrita como
pairando sobre o homem como o conhecemos. O esquema de sua evolução consiste em
que ela desça até a matéria, e por meio de sua descida, obtenha definição e
acuidade nos aspectos materiais. Até onde podemos ver, essa Mônada (espírito),
que é uma centelha do Fogo Divino, não pode descer até o nosso nível atual, não
pode alcançar diretamente este plano físico em que estamos agora pensando e
trabalhando – provavelmente porque as frequências de sua vibração e as da
matéria física diferem largamente, de forma que seja necessário haver estados e
condições intermediárias. Em que plano de Natureza aquele centelha divina
originalmente existe, nós não sabemos, pois está muito acima de nosso alcance.
Sua manifestação mais baixa, que poderia
ser chamada de seu reflexo, desce até o mais baixo dos Planos Cósmicos, como
descrito em A Textbook of Theosophy (1). Habitualmente falamos de sete planos
de existência, que são subdivisões ou sub planos do Plano Cósmico mais baixo,
denominado em nossos livros de Prakriti (2), expressando o plano físico do
Cosmos. A Mônada pode descer até o segundo desses sub planos (a que denominamos
consequentemente de Plano Monádico), mas ela não parece ser capaz de penetrar
mais baixo que isso. Para obter o imprescindível contato com a matéria ainda
mais densa, ela lança parte de si mesma para baixo por dois planos inteiros; e
esse fragmento é o que chamamos de Ego (3) ou alma. O Espírito Divino, muito
acima de nós, apenas paira sobre nós; a alma, que é uma representação pequena e
parcial dele (é como se a Mônada lançasse para baixo um dedo de fogo, e a
extremidade desse dedo fosse a alma) não pode descer abaixo da porção superior
do plano mental que é o quinto plano, contando de cima para baixo, sendo o
físico o sétimo e o mais baixo. Para que ele alcance um nível ainda mais baixo,
ele deve, por sua vez, lançar para baixo uma pequena porção de si mesmo, que
corresponde à personalidade que conhecemos. Então, essa personalidade, que cada
pessoa pensa comumente ser ela própria, é na verdade apenas o fragmento de um
fragmento. Toda a evolução pelos reinos mais baixos é uma preparação para o
desenvolvimento dessa constituição humana. Um animal, durante sua vida no plano
físico (e por algum tempo depois disso, no mundo astral), tem uma alma tão
individual e separada quanto a do homem; porém, quando o animal chega ao final de sua vida astral, aquela
alma não reencarna novamente em um corpo separado, mas retorna para uma espécie
de reservatório de matéria-alma, chamado em nossos livros de alma-grupo. É como
se alma-grupo fosse um balde d’água, suprindo as necessidades de vários animais
do mesmo tipo – digamos, por exemplo, de vinte cavalos. Quando um cavalo está
para nascer dessa alma-grupo, é como se alguém mergulhasse uma vasilha nesse
balde e a trouxesse cheia de água. Durante a vida desse cavalo, todos os tipos
de experiência – nas quais ele aprende lições – vêm até ele e modificam sua
alma; e isso pode ser comparado a vários tipos de pigmentos lançados nessa
vasilha de água. Quando o cavalo morre, a água na vasilha é derramada de volta
no balde, e os pigmentos coloridos que ele adquiriu se espalham por todo o
conteúdo do balde. Quando nasce outro cavalo da mesma alma-grupo, outra vasilha
de água é retirada do balde; assim, é óbvio que será impossível tirar
exatamente as mesmas gotas de água que constituíram a alma do cavalo anterior
(4). Quando um animal tiver se desenvolvido o suficiente para se tornar humano,
isso significa que, ao final de sua vida, sua alma não será mais colocada de
volta na alma-grupo, mas permanecerá como uma entidade separada. Nesse momento,
um destino muito curioso mas também muito bonito recai sobre ele. A
matéria-alma, a água na vasilha, se torna um veículo para algo muito superior,
e no lugar de atuar como uma lama, ela própria é animada. Não temos uma
analogia mais exata no plano físico do que pensarmos em bombear ar na água sob
alta pressão e obter, assim, água gaseificada. Se nós aceitarmos esse
simbolismo, a água que era previamente a alma de um animal agora se torna o
corpo causal de um homem; e o ar bombeado para dentro dela é o Ego ao qual me
referi – aquela alma do homem que é apenas uma manifestação parcial do Espírito
Divino. Essa descida do Ego é simbolizada na antiga mitologia grega na ideia do
Krater (5) ou Cálice e na estória medieval do Santo Graal, pois o Graal ou o
Cálice é o resultado perfeito de toda a evolução inferior, no qual é despejado
o Vinho da Vida Divina para que a alma do homem possa nascer. Dessa forma, como
havíamos dito, aquilo que previamente era a alma de um animal se torna, no caso
do homem, o que é denominado corpo causal, na porção superior do plana mental –
um veículo permanente ocupado pelo Ego ou alma humana; e tudo o que fora
aprendido em sua evolução é transferido para esse novo centro de vida. A
evolução dessa alma consiste em seu retorno gradual para o nível mais elevado
no plano logo abaixo do Monádico, carregando consigo o resultado de sua descida
na forma de experiências aproveitadas e qualidades adquiridas. O corpo físico
em todos nós está totalmente desenvolvido, e por isso supostamente o
conquistamos; porém ele deve estar inteiramente sob o controle da alma. Entre
os homens mais desenvolvidos nos dias atuais, isso ocorre normalmente, embora
as vezes ele possa “escapar” e se tornar selvagem. O corpo astral também já
está totalmente desenvolvido, mas ainda está longe do controle perfeito. Mesmo
entre as Raças às quais pertencemos, há muitas pessoas que são vítimas de suas
próprias emoções. No lugar de serem capazes de governa-las integralmente, essas
pessoas muitas vezes se deixam ser guiadas por elas. Permitem que suas emoções
as conduzam desgovernadas, assim como um cavalo selvagem pode disparar com seu
cavaleiro e leva-lo a lugares aos quais ele não deseja ir. Podemos considerar,
então, que em todos os mais evoluídos homens no presente momento o corpo físico
está totalmente desenvolvido e razoavelmente sob controle; o corpo astral também
está totalmente desenvolvido, mas de forma alguma em perfeito controle. O corpo
mental está em processo de desenvolvimento e seu crescimento está ainda muito
longe de concluído. Quando esses três veículos, o físico, o astral e o mental,
estiverem inteiramente subordinados a alma, o eu inferior terá sido absorvido
pelo Ser superior, e o Ego, a alma, terá dominado o homem. Embora o homem ainda
não seja perfeito, os diferentes veículos estão suficientemente harmonizados de
forma que eles possuem um objetivo único. Até o momento, a alma vem lentamente
controlando os veículos da personalidade com a finalidade de que eles se tornem
um com ela; mas agora a Mônada, por sua vez, começa a dominar a alma. E virá um
tempo em que, assim como a personalidade e a alma se tornaram um, o Espírito e
a alma se tornarão um por sua vez. Essa é a unificação do Ego com a Mônada.
Quando isso for alcançado, o homem terá atingido o objetivo de sua descida à
matéria – ele terá se tornado um Super-humano ou Adepto. VIDA SUPER-HUMANA – Somente
agora, pela primeira vez, ele entra em sua vida real, pois a completude desse
formidável processo evolutivo (por todos os reinos inferiores e depois pelo
reino humano até a obtenção do Adeptado) é apenas uma preparação para essa
verdadeira vida do Espírito, que se inicia somente quando o homem se torna mais
que homem. A humanidade é a última
classe da escola do mundo; e quando um homem tiver sido treinado nela, ele
passará para a vida real, a vida do Espírito glorificado, a vida do Cristo.
Ainda sabemos pouco do que ela significa, apesar de vermos alguns daqueles que
a compartilham. Essa vida tem uma glória e um esplendor que estão além de
qualquer comparação, acima de nossa compreensão; e mesmo assim é um fato vivo e
resplandecente. Essa realização por cada um de nós é uma certeza absoluta, da
qual não podemos fugir mesmo se quisermos. Se agirmos de forma egoísta, se nos
colocarmos contra a corrente de evolução, podemos atrasar o nosso progresso,
mas definitivamente não conseguiremos impedi-lo. Ao concluir a vida humana, o
Homem Perfeito geralmente solta seus vários corpos materiais, mas ele retém o
poder de assumir qualquer um deles caso o necessite no decorrer de seu
trabalho. Na maioria dos casos, aquele que alcança esse nível não mais precisa
de um corpo físico. Ele não mais retém o corpo astral, mental ou até o causal,
mas vive permanentemente em seu nível mais elevado. Sempre que, por qualquer
propósito, ele precise lidar com um plano mais baixo, ele tomará um veículo
temporário pertencente a esse plano, pois apenas por intermédio daquela matéria
ele poderá entrar em contato com aqueles que habitam aquele plano. Se ele
quiser falar com homens fisicamente, ele tomará um corpo físico; ele deverá ter
ao menos uma materialização parcial, ou ele não poderá falar. Da mesma forma,
se ele quiser impressionar nossas mentes, ele deverá atrair um corpo mental à
sua volta. Sempre que ele precisar, em seu trabalho, tomar um veículo inferior,
ele tem o poder de assim o fazer, mas ele o mantém apenas temporariamente. Há
sete linhas de maior avanço ainda que um Homem Perfeito pode percorrer, das
quais forneceremos uma listagem num capítulo mais adiante. A FRATERNIDADE DE
ADEPTOS – O mundo é guiado e direcionado em grande medida por uma Fraternidade
de Adeptos, à qual pertencem nossos Mestres. Os estudantes teosóficos cometem
todos os tipos de engano sobre eles. Frequentemente os enxergam como uma grande
comunidade monástica, todos vivendo conjuntamente em algum lugar secreto.
Supunham algumas vezes que eles fossem Anjos; e muitos de nossos estudantes
pensaram que eles eram todos indianos ou que todos morassem no Himalaia.
Nenhuma dessas hipóteses é verdadeira. Há uma Grande Fraternidade, e seus
Membros estão em constante comunicação um com o outro; mas essa comunicação
ocorre em planos superiores, e eles não necessariamente vivem juntos. Como
parte de seu trabalho, alguns desses Grandes Irmãos, que chamamos de Mestres da
Sabedoria, estão dispostos a tomar
discípulos-aprendizes e instruí-los, mas eles formam apenas uma pequena seção
do poderoso Corpo de Homens Perfeitos. Como será explicado mais tarde, há sete
tipos de homens, pois todos pertencem a um dos sete Raios nos quais a grande
onda de vida evolucionária está claramente dividida. Parece que um Adepto de
cada um dos Raios é designado para auxiliar no treinamento de iniciantes, e
todos aqueles que estão caminhando em seu Raio particular de evolução passam
por suas mãos. Ninguém abaixo do grau de Adepto tem permissão para assumir
total responsabilidade por um novato, embora aqueles que tenham sido chelas
(6), discípulo por bastante tempo sejam frequentemente empregados como
substitutos e recebam o privilégio de ajudar e aconselhar jovens aspirantes
promissores. Esses discípulos mais velhos são gradualmente treinados para o seu
futuro trabalho, quando eles, por sua vez, se tornarão Adeptos, aprendendo mais
e mais do trabalho de rotina e liberando as mãos de seu Mestres para que eles
possam ficar livres para tarefas mais elevadas, que só eles podem desempenhar.
A seleção preliminar de candidatos para o discipulado é deixada em grande
medida nas mãos desses trabalhadores mais velhos, e os candidatos são
temporariamente ligados a tais representantes, em vez de diretamente aos
grandes Adeptos. Porém, os discípulos e o Mestre são tão maravilhosamente um
que talvez essa seja quase “uma distinção sem diferença”. OS PODERES DO ADEPTO
– Os poderes do Adepto são realmente numerosos e maravilhosos, mas eles se
sucedem em um curso natural de faculdades que nós mesmos possuímos. O Adepto
apenas tais faculdades em um grau muito maior. Acredito que a característica
mais marcante de um Adepto, quando comparado conosco, é que ele tudo vê a
partir de um ponto de vista absolutamente diferente, pois nele não há nenhum
pensamento egoísta, tão proeminente na maioria dos homens. O Adepto eliminou o
eu inferior e vive não para si próprio, mas para todos, e ainda, de uma maneira
que apenas ele pode realmente entender, onde todos são, na verdade, também ele.
Ele atingiu aquele estágio em que não há defeito em seu caráter, nenhum
pensamento ou sentimento por um eu separado e pessoal. Sua única motivação é
ajudar o adiantamento da evolução, trabalhar em harmonia com o Logos que a
dirige. Talvez sua subsequente característica mais proeminente seja o seu
completo desenvolvimento. Todos nós somos imperfeitos, ninguém atingiu o nível
mais elevado em nenhuma linha; e mesmo o grande cientista ou o grande santo
usualmente atingiram a excelência em um aspecto apenas, restando outros lados
de sua natureza ainda não revelados. Todos nós possuímos algum embrião de todas
as diferentes características, que estão apenas parcialmente despertas, uma
mais que outra. Um Adepto, no entanto, é um Homem completo, um Homem em que a
devoção, o amor, a simpatia e a compaixão são perfeitos; ao mesmo tempo, seu
intelecto é algo muito mais grandioso ainda do que nós possamos perceber, e sua
espiritualidade é maravilhosa e divina. Ele se destaca acima de todos os homens
que conhecemos pelo fato de ele ser inteiramente desenvolvido. Referências: (1)
A Textbook of theosophy, de C. W. Leadbeater, editado pela Editora Pensamento
com o título Compêndio de teosofia, porém esgotado. (2). Prakti, sânscrito – a
Natureza em geral, a Matéria primordial e elemental em contraposição a Purusha
– a natureza espiritual, o Espírito – que juntos são os dois aspectos
primitivos da Divindade única. (3). Nesta edição, preferiu-se grafar o Ego ou
Eu Superior com inicial maiúscula, significando a “alma imortal” ou
individualidade que evoluiu através de sucessivas reencarnações reguladas pela
lei do Karma, para distingui-lo do ego psicológico ou eu inferior mortal, bem
como da Mônada ou Espírito Eterno, conforme o próprio autor define e aprofunda
no seu Capítulo denominado “O Ego”. (4). Para mais detalhes sobre esse
processo, veja A Textbook of Theosophy. (5). Krater – jarra redonda, em forma
de taça, na qual os gregos e romanos antigos misturavam vinho e água. (6).
Chela – discípulo de um guru ou sábio. No Oriente também se denomina chela o
discípulo já aceito para o estudo do Ocultismo. Livro Os Mestres e a Senda.
Abraço. Davi.
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