Budismo. Texto do yogi Kharishnanda Saraswati (1922-2001). IV. O EVANGELHO DO BUDA. O rei Bimbisara. Sidharta cortou a sua bela cabeleira e trocou as vestes reais pelo rústico hábito amarelo. Ordenou a Channa, o cocheiro, que regressasse a Kapilavastu com o nobre corcel (cavalo) Kanthaka e dissesse ao rei, seu pai, que ele havia abandonado o mundo. E o Tathágata (Budha) vagou pelas estradas mendigando de tigela na mão. Mas a pobreza do seu aspecto não podia encobrir a majestade do seu espírito. Seu porte nobre denunciava a sua origem real, e de seus olhos irradiava o fervoroso anseio pela Verdade. Sua beleza juvenil, aumentada pela santidade, iluminava a sua fronte. Todos os que o viam, contemplavam-no assombrados. Os mais apressados detinham os passos e se voltavam para olhá-lo, e todos lhe tributavam homenagens. Ao entrar na cidade de Rajagriha, o príncipe mendicante foi de casa em casa, esperando silenciosamente que alguém lhe desse esmola. Para onde quer que fosse o bem-aventurado, as pessoas lhe davam o que tinham, prostravam-se humildemente diante dele e lhe agradeciam por não desdenhar de aproximar-se de suas casas. Todos exclamavam comovidos: Eis aqui um nobre muni (asceta). Sua chegada é uma bênção. Que felicidade nos aguarda! E logo a sua tigela se enchia, porque todos os vizinhos gritavam: Toma do nosso alimento, Senhor. Toma do que é nosso. O rei Bimbisara, observando a comoção da cidade, indagou a causa, e averiguada, enviou um criado para identificar o forasteiro mendicante. O criado soube que o muni era um sákia de origem nobre, que tinha se retirado para as margens de um riacho do bosque e comia o que as pessoas lhe depositavam na tigela. Comovido, o rei vestiu seus régios ornamentos, colocou sua cruz de ouro, empunhou o cetro, e acompanhado de seus anciãos e sábios conselheiros, foi ao encontro do misterioso forasteiro. O rei encontrou o muni de raça sákia sentado à sombra de uma árvore, e admirando a tranquilidade de seu semblante e a distinção de seus gestos, saudou-o respeitosamente e lhe disse: Ó Samana! (um monge, um eremita ou um recluso). As suas mãos são feitas para manejar as rédeas de um império e não para segurar a tigela do mendigo. Se eu não adivinhasse que você era de origem real, não suplicaria que se associasse a mim para governar o meu reino e participar do meu poder. O desejo do mando fica bem para os temperamentos magnânimos, e a opulência não deve ser desprezada. Adquirir tesouros à custas da perda da religião não é coisa boa, porém excelso mestre é quem tem ao mesmo tempo o poder, a opulência e a religião e, com discrição e sabedoria, desfruta de todos esses bens. Sakiamuni olhou-o e respondeu-lhe: Ó rei! O senhor tem fama de liberal e religioso, e suas palavras são prudentes. O rico bondoso que emprega bem suas riquezas possui na verdade um tesouro inestimável; porém, nenhum proveito tirará de suas riquezas aquele que as guarda avaramente. A caridade é prolifera em proveitos. É a maior riqueza, pois quando a pessoa é pródiga não tem remorsos. Eu rompi todos os laços que me ligavam, porque busco a libertação. Como poderia voltar de novo ao mundo? Quem deseja a vida religiosa, que é o tesouro mais precioso, deve abandonar tudo quanto prende a sua personalidade e distrai a sua atenção. Deve libertar sua alma da luxúria, da avareza, da ambição e do poder. Aquele que cede à luxúria, mesmo que por um pouco, a verá crescer, e mesmo que domine o mundo, se sentirá infeliz. O fruto da santidade vale mais do que o poderio sobre a Terra, do que o descanso no céu, do que o império e o predomínio sobre os mundos. Um Buda reconhece que a riqueza é ilusória e não confunde o veneno com o alimento sadio. O peixe que se salvou do anzol terá afeição pela isca? Enamorar-se á o pássaro de sua gaiola? O enfermo febril anseia por um medicamento refrigerante. Daremos a ele outro que lhe aumente a febre? Apagaremos o fogo se lhe mudarmos o combustível? Rogo que o senhor não me perturbe. Fale aos que ambicionam os cuidados da realeza e as inquietudes da opulência, que desfrutam temerosos de perder suas riquezas, porque a qualquer momento podem perdê-las, e ao morrer não levarão consigo nem o ouro nem o régio diadema. Em quem mandará um rei morto? A lebre que escapou da boca de uma serpente voltará para que ela a devore? Aquele que queimou a mão numa tocha, vai erguê-la novamente depois de tê-la atirado ao chão? O cego que recuperou a visão desejará que lhe arranquem os olhos? Veja se consegue acertar as respostas. Meu coração não anela desejos vagos. Renunciei à coroa real e preferi livrar-me dos encargos das existências. Não quero, portanto, contrair novos deveres que me impeçam de prosseguir o trabalho iniciado. Sinto separar-me do senhor, porém, devo ir ao encontro dos yogis que poderão me ensinar a verdadeira religião e a encontrar a maneira de se evitar o mal. Desejo que o seu reino desfrute de paz e prosperidade, que a sabedoria resplandeça em seu governo como o sol meridiano em dia claro. Que o seu régio poder seja firme. Que a justiça seja o seu cetro. O rei uniu respeitosamente as mãos, e prostrando-se diante de Sakyamuni, disse lhe: Que você encontre o que está buscando, e quando o tiver encontrado, rogo que volte e me aceite por seu discípulo. O Tathágata separou-se amistosamente do rei, resolvido a cumprir o seu propósito. Capítulo seis. INDAGAÇÕES DO SENHOR BUDHA. Arada e Udraka eram os mais famosos mestres brâmanes, e ninguém os superava em sabedoria. O Tathágata sentou-se aos pés desses mestres e ouviu suas doutrinas sobre o Atman, ou espírito do homem, que preside todas as ações. Os mestres ensinaram-lhe a doutrina da reencarnação e a lei do Karma, e como as almas têm que sofrer ao nascerem em castas inferiores, ao passo que os purificados pelo sacrifício, oferendas e austeridade, chegam a ser reis, brâmanes e deuses, cada vez em grau mais adiantado da existência. Sidharta estudou os encantamentos, oferendas e métodos mais propícios para alcançar o estado de estase e livrar-se da escravidão da personalidade. Dizia Arada: Que é a personalidade que vê, ouve, cheira, gosta, toca, e que na visão, na audição, no olfato, no paladar e no tato tem as cinco raízes do espírito? Que é a personalidade que se move por meio das mãos e dos pés? A alma se manifesta por meio das expressões: Eu digo. Eu sei. Eu percebo. Eu venho. Eu vou. Eu fico. A sua alma não é seu corpo, nem seu olho, nem seu ouvido, nem seu nariz, nem sua língua, nem sua personalidade. O Eu percebe o tato no corpo, cheira com o nariz, vê com os olhos, ouve com os ouvidos, pensa com a mente. O seu Eu move suas mãos e seus pés. O seu Eu é sua alma. Irreligioso é duvidar da existência da alma, e quem não compreende essa verdade não está no caminho da salvação. O que pensa demais sobre essas coisas confunde a mente e se expõe à incredulidade, porém a purificação da alma conduz à libertação. Para alcançar a libertação é necessário afastar-se da multidão, levar vida eremítica e viver de esmolas. Se eliminarmos o desejo e reconhecermos a ilusão da matéria, encontraremos as condições da vida imaterial. Como a erva madja, despojada de lenhosa casca ou como a ave presa que escapa de seu cárcere, assim o Eu encontra repouso perfeito quando se livra de suas limitações. Essa é a verdadeira libertação, porém ela só é alcançada por aqueles que têm profunda fé. Como o Buda não ficou satisfeito com esses ensinamentos, ele replicou: As pessoas são escravas porque não abandonaram a ideia da personalidade. No nosso pensamento, as coisas e suas qualidades são diferentes, porém na realidade elas estão reunidas. No nosso pensamento o calor é distinto do fogo, porém na realidade não podem separar-se. O senhor diz que consegue abstrair a coisa de sua qualidade, porém se leva essa operação até o fim, verá que não é assim. O homem não é um composto de vários princípios? Não somos constituídos por diferentes escanda (resíduos, impressões, memórias do passado), como dizem os sábios? O homem é um composto de forma física, de sensações, de emoções, pensamentos, inclinações e mente. O que os homens chamam seu eu não é uma entidade distinta dos escandas. Muita confusão provém de se crer vaidosamente que a personalidade é o verdadeiro Eu e de lhe atribuir a grandeza e o mérito das ações. A ideia da personalidade se interpõe entre a sua natureza racional e a verdade. Elimine-a, e verá as coisas como elas são. Aquele que pensa sabiamente se desembaraçará da ignorância mediante a aquisição do conhecimento. Além disso, se a sua personalidade persiste, como poderá alcançar a libertação? Se o Eu está destinado a renascer em qualquer um dos três mundos, encontrará sempre a mesma espécie de existência, ficará sempre envolto no egoísmo e no pecado. Tudo o que separa está sujeito à desagregação. Uma vez que não podemos escapar da roda de mortes e renascimentos, a libertação final não será possível. Udraka dizia: Você não vê ao nosso redor o efeito do Karma? Por que os homens diferem quanto ao caráter, posição, riqueza e destino na vida terrena? É pelo seu Karma, que compreende o mérito e o demérito. A reencarnação da alma depende do Karma. Das vidas anteriores herdamos os resultados de nossas boas e más ações. Se assim não fosse, como poderia haver diferenças tão profundas entre os homens? O Tathágata meditou profundamente sobre os problemas da reencarnação e do Karma, e descobriu a verdade neles subjacente. Então disse: A doutrina do Karma é indiscutível, porque todo efeito tem sua causa. O homem colhe aquilo que semeia, e o que agora colhemos, devemos ter semeado em existências anteriores. Vejo que a alma reencarna porque está submetida a lei de causa e efeito e porque o homem cria o seu próprio destino, porém não vejo a reencarnação da personalidade. Essa minha individualidade não é composta de espírito e matéria? Não está constituída de qualidade que foram evoluindo gradualmente? Os cinco sentidos de percepção de meu organismo provêm dos antepassados que os tiveram. Minhas ideias provem em parte dos indivíduos que as conceberam, e por outra parte das combinações dessas ideias em minha mente. Se há um Atman, um espírito que percebe as sensações por meio dos sentidos, poderá ver, ouvir, cheirar, gostar e tocar muito melhor sem os olhos, nariz, ouvido, língua e tato do organismo corporal. Compreendo a reencarnação da alma numa personalidade e a justiça do Karma, porém não vejo o Atman que sua doutrina propõe como autor das ações humanas. Há de haver um renascimento sem personalidade, pois se a personalidade fosse real, seria imortal e, portanto, não poderíamos nos livrar dela. O temor do inferno não teria limites e a paz não existiria para os homens. Os males da vida não provêm da ignorância e do pecado, mas são inerentes à natureza da nossa existência. O Tathágata foi depois ver os sacerdotes que oficiavam nos templos, e seu ser compassivo estremeceu ao presenciar a inútil crueldade realizada ante os altares dos deuses. É apenas por ignorância que esses homens realizam festas ruidosas e convocam magnas assembleias para celebrar sacrifícios sangrentos. Vale mais adorar a Verdade do que o vão desejo de agradar os deuses com efusão de sangue. Que amor pode sentir o homem que supõe que a destruição de uma vida invalida as más ações? Seria possível que um crime expie outro crime? Pode apagar os pecados do mundo o sacrifício de uma vítima inocente? Isso equivale a praticar a religião com aviltamento da moral. Acalmem o ânimo e não matem mais. Essa é a verdadeira religião. Os ritos são ineficazes; as orações são fórmulas repetidas de maneira vã; os feitiços carecem de virtude favorável. O verdadeiro culto, o genuíno sacrifício consiste em desligar-se da concupiscência, da voluptuosidade e das más paixões, em não alimentar ódio nem malevolência. Capítulo sete. Penitência em Urivilva. Em busca de melhores conhecimentos, o Bodhisattva chegou a um lugar ermo onde estavam estabelecidos muitos eremitas que virtuosamente refreavam seus sentidos, reprimiam suas paixões e se submetiam a uma severa disciplina. Eram os Yogis, brahmacharis e bikkhus que viviam separados do mundo como um rebanho lúgubre e descarnado. Uns mantinham os braços para o alto noite e dia, até que, minados por enfermidades, exaustos e com articulações anquilosadas (imobilizada ou paralisada) e os membros rígidos, seus braços pareciam ramos de uma árvore morta. Outros tinham fechado as mãos tão fortemente e por tanto tempo, que as unhas haviam atravessado as palmas como agulhas, fazendo feridas. Alguns estavam calçados com sandálias cheias de pregos ou laceravam a fronte, o peito e os músculos com objetos cortantes, ou sacrificavam suas carnes com o fogo. Outros atravessavam suas carnes com pontas de ferro, dormiam sobre imundícies e cobriam-se com farrapos de cadáveres. Uns moravam em lugares impuros, onde as piras ardiam, em companhia de cadáveres, rodeados de corvos que soltavam agudos gritos ao redor dos despojos fúnebres. Outros repetiam em voz alta, quinhentas vezes ao dia, o nome de Shiva, com sibilantes cobras enroladas em seus quadris e os pés paralisados em buracos. Assim era aquela espantosa congregação. Os membros tinham a cabeça coberta de feridas por causa do tórrido calor; seus olhos eram lacrimosos, os nervos e os músculos tensos; o rosto deles era fundo e pálido como se fossem defuntos de cinco dias. Com muito cuidado e bom propósito, Sakyamuni se entregou à mortificação do corpo meditando sobre as verdades abstratas, e não tardou em superar em autoridade a todos os anacoretas, que o reconheceram como mestre. Durante alguns meses, o Budha mortificou pacientemente seu corpo e exercitou o seu espírito na mais rigorosa vida ascética. No final, fazia uma única refeição ao dia, com a intenção de vencer o grande oceano do nascimento e de morte e chegar à outra margem da libertação. Tão extenuado e consumido ficou, que parecia um enfermo. Porém, a fama de sua santidade se espalhou por toda a redondeza, e de lugares longínquos vinham pessoas vê-lo e receber a sua benção. No entanto, o Bem-aventurado não estava satisfeito, porque viu que a mortificação não extingue o desejo nem traz o êxtase da iluminação. Buscava o verdadeiro conhecimento e não o encontrava. Sentado sob uma árvore, considerou o estado do seu espírito e a consequência de sua mortificação. Então disse: Meu corpo se debilita cada dia mais com abstinências, e isso não me faz adiantar um passo na busca da libertação. Este não é o verdadeiro caminho. Será melhor fortalecer o meu corpo com o alimento e pôr o meu ânimo em disposição de possuir calma. Foi até o rio tomar um banho, mas quando quis sair da água, estava tão fraco que se agarrar aos ramos de uma árvore na margem para poder saltar em terra firme. Voltou então à congregação, e ao chegar ali, caiu desmaiado e os eremitas o acreditaram morto. Próximo dali morava um pastor, cuja filha, chamada Nanda, chegou até onde estava desmaiado o Buda que, ouvindo a voz da moça, voltou a si. Então ela lhe ofereceu arroz com leite, que ele aceitou com prazer. Com as forças recobradas pelo alimento, a sua mente clareou e se predispôs para receber a suprema iluminação. A partir de então o Buda voltou a alimentar-se normalmente. Os cinco eremitas que presenciaram essa cena com Nanda e observaram a mudança de conduta, acreditaram que seu fervor religioso diminuíra e que Sidharta, o tão venerado Mestre, se esquecera do seu magnífico fim. Porém Buda, fitando tristemente o maior desses infelizes, lhe disse: Há meses moro nestas montanhas buscando a verdade, e vejo meus irmãos, e também você, lamentavelmente torturado. Por que acrescentar males à vida, que por si já é tão má? O eremita respondeu-lhe: Está escrito que se um homem mortifica a sua carne até que a intensidade da dor só lhe deixe um sopro de vida e esperança da voluptuosa morte, os males que ele sofre limparão a imundície do pecado, e a alma purificada voará liberta da aflição para as gloriosas esferas de esplendor inconcebível. Budha respondeu-lhe: Esta nuvem que flutua no céu ao redor do trono do seu Deus ergueu-se de um mar agitado e voltará a cair em gotas semelhantes a lágrimas. Passará por caminhos ásperos e penosos, por vales e pântanos, por rios lamacentos até chegar ao Ganges – Índia, e voltar ao mar de onde partiu. Sabe, meu irmão, se não acontece o mesmo aos santos com toda a sua felicidade, depois de tantos sofrimentos? Porque o que sobe torna a cair, o que se compra se gasta, e se você compra o céu com o seu sangue no doloroso mercado do inferno, quando estiver concluído o negócio, o sofrimento recomeçará. O eremita respondeu-lhe suspirando: Ai, talvez recomece! Eu não sei nem estou seguro de alguma outra coisa; porém, atrás da noite vem o dia, e atrás da tormenta, a calma; e nós nos aborrecemos desta maldita carne que impede a alma de tomar o seu ansiado voo. Assim, pois, para a felicidade da alma, entregamos aos deuses nossas rápidas torturas para obter as alegrias duradouras. Sidharta respondeu: Porém, mesmo que essas alegrias durem milhões de anos, elas por fim se desvanecerão. Ou, então, diga-me: há em cima ou embaixo, ou ao redor de nós, alguma existência tão diferente da nossa que não se modifique? São eternos os seus deuses? Não; só o absoluto Brahman permanece. Os deuses nada mais fazem senão viver. Então o Senhor Buda exclamou: Você quer ser tão sábio quanto os santos e esforçado? Renuncie a esses jogos cruéis em que atira seus gemidos e lamentos para ganhar as apostas que talvez não passem de sonhos passageiros. Quer, por amor à sua alma, fazer sofrer a sua carne, afligi-la e mutilá-la de tal maneira que ela já não possa aprisionar o espírito, e buscando um refúgio, se rende no caminho antes de chegar a noite como cavalo dócil, porém exausto? Vocês querem, tristes ascetas, estragar e destruir esta bela moradia em que habitamos depois de um doloroso passado, e cujas janelas nos dão luz, ainda que escassa, para olharmos fora e sabermos se a aurora via surgir e qual será o melhor caminho? O eremita respondeu-lhe: Escolhemos este caminho e o seguiremos até o fim. Diga-nos se conhece outro melhor; se não, vá em paz. O Buda, ao ver os eremitas se afastarem dele, teve pena daquela falta de confiança, e não sentiu mais abandono em que vivia. Reprimiu seu desgosto e afastou-se. Os eremitas disseram: Sidharta nos abandonou. Ele procura um lugar mais agradável. Yogis, brahmacharis e bikkhus são os seguidores da Escola Yoga, ascetas brâmanes e discípulos mendicantes, respectivamente, que renunciaram aos deveres e regalias do mundo para se consagrarem exclusivamente à vida espiritual ou mística. Do Livro O Evangelho de Budha. Abraço. Davi.
quinta-feira, 31 de outubro de 2024
terça-feira, 29 de outubro de 2024
A RELIGIÃO DO ISLAM. Parte V
Islamismo. Livro Manual para
o Novo Muçulmano. Por Jamaal Zarabozo (1960 - ). A RELIGIÃO DO ISLAM. Parte V.
As características do Islam. O monoteísmo puro. Como já foi mencionado
anteriormente, este é o principal objetivo do Islam, além de uma de suas
características particulares. O Islam liberta o homem da servidão a todo e
qualquer elemento da criação. Sua vida se torna clara e fácil de ser seguida.
Há apenas um Senhor e um caminho a ser seguido. Nada é associado a Deus. Em
diversas passagens do Qur’an, Allah expõe as ramificações e os efeitos da fé
correta n’Ele com os efeitos das diferentes crenças incorretas. Na seguinte
passagem, Allah descreve os frutos da fé correta como também os resultados de
todas as falsas crenças. Disse Allah: “Não reparas em como Deus exemplifica?
Uma boa palavra é como uma árvore nobre, cuja raiz está profundamente firme, e
cujos ramos se elevam até ao céu. Frutifica em todas as estações com o
beneplácito do seu Senhor. Deus fala por parábolas aos humanos para que se
recordem. Por outra, há a parábola de uma palavra vil, comparada a uma árvore
vil, que foi desarraigada da terra e carece de estabilidade. Deus firmará os
fiéis com a palavra firme da vida terrena, tão bem como na outra vida; e
deixará que os iníquos se desviem, porque procede como Lhe apraz.” (14:24-27).
Foi narrado que Ibn Abbas disse: “a boa palavra é o testemunho que não existe
nada digno de louvor, exceto Allah.” Este versículo demonstra que o monoteísmo
puro ou a fé correta é o cimento sobre o qual se constrói todo o bem. É uma
base que continua dando suporte e seus resultados são elevados. Esse é o
caminho da fé verdadeira: beneficiar a pessoa, contínua e eternamente, nesta e
na próxima vida. Além disso, quanto mais fortes e melhor apoiadas sejam as
bases ou raízes, maiores serão os frutos. Por outro lado, as falsas crenças,
como associar companheiros a Deus, não têm nenhum fundamento sólido. De fato,
não são mais que uma ilusão no sentido de que nunca produzirão o que seus
seguidores crêem ou sustentam. Portanto, não é um segredo, muito menos uma
surpresa, que a primeira parte da missão do Profeta, segundo é provado pelas
revelações que recebeu em Makkah, foi concentrada na purificação da fé. Foi
dedicada a eliminar todas as formas de ignorância, superstição e falsas
crenças, pois a alma humana não pode descansar se está dispersa em várias
direções, perseguindo objetivos distintos. Allah descreveu, de uma bela
maneira, a semelhança entre quem não enxerga que sua alma só reconhece um
objeto de adoração e quem tem esta consciência: “Deus expõe, como exemplo, dois
homens: um está a serviço de sócios antagônicos e o outro a serviço de uma só
pessoa. Poderão ser equiparados? Louvado seja Deus! Porém, a maioria dos homens
ignora.” (39:29). De uma perspectiva islâmica, não existe forma de que uma
pessoa compraza a mais de um deus, pois, segundo a definição islâmica da
palavra “Deus”, Deus deve ser o primeiro e principal no coração do indivíduo.
Na realidade, quando a pessoa se dá conta de que tem apenas uma meta clara, o
efeito sobre sua alma é muito profundo. Já não precisa perseguir uma grande
quantidade de objetivos, sem nunca conseguir satisfazê-los ou alcançá-los
completamente. De fato, muitas vezes as metas das pessoas são contraditórias e
nunca todas podem ser alcançadas. Pode-se ter certeza que suas metas e caminhos
estarão desperdiçados. Suas energias não devem ser esgotadas buscando alcançar
um sem-fim de metas. Quando se tem apenas uma meta, pode-se determinar com
facilidade se avança até esta meta ou não. Pode-se empregar toda a sua energia
e sua mente em trabalhar por alcançar esta única meta. Pode-se ter a certeza de
que sua meta e seu caminho estarão definidos. Assim, não há razão para que se
tenha dúvidas ou confusões. Logo, à medida que se aproxima mais e mais à meta,
pode-se experimentar a verdadeira felicidade e gozo. Tudo isso é parte da
beleza e o legado quando os seres humanos reconhecem, recebem e aceitam o
verdadeiro monoteísmo, o único sistema de fé compatível com sua própria criação
e natureza. A religião de Allah O Islam não é uma filosofia ou uma religião
criada pelo homem. Seus ensinamentos vêm diretamente do Criador. É a orientação
que o Criador, por Sua misericórdia, outorgou à humanidade. Na verdade, Deus é
o único que sabe como quer ser adorado. Ele é o único que sabe que forma de
viver o agrada. Os filósofos e pensadores se perguntam que tipo de vida agrada
a Deus, mas na realidade os detalhes dessa vida estão além do alcance da
racionalidade e da experiência humana. O que os humanos declaram,
independentemente da revelação de Deus, como o melhor modo de adorar a Deus,
não necessariamente é o que mais agrada a Deus senão o que mais agrada à pessoa
que estabeleceu as regras. Assim, só Deus conhece, por exemplo, a maneira a
qual devemos rezar para Ele. Por haver apenas uma forma de vida que Deus
aprova, esta também será a única aceita por Ele no final. Dois versículos do
Qur’an foram escolhidos para assinalar esta conclusão: “Para Deus a religião é
o Islam. E os adeptos do Livro só discordaram por inveja, depois que a verdade
lhes foi revelada. Porém, quem nega os versículos de Deus, saiba que Deus é
Destro em ajustar contas.” (3:19). “E quem quer que almeje (impingir) outra
religião, que não seja o Islam, (aquela) jamais será aceita e, no outro mundo,
essa pessoa contar-se-á entre os desventurados.” (3:85). Deve-se insistir neste
ponto constantemente. A pergunta principal deve ser: O que é aceitável e
compraz a Allah? Ninguém pode afirmar seriamente com uma prova real que algum
caminho divergente ao que Allah estabeleceu com Sua orientação seja de Seu
agrado. Tal afirmação seria absurda e infundada. Integralidade O Islam é
integral de muitas maneiras. É completo no sentido de que se aplica a todos os
seres humanos e é aplicável por todos, sendo o local e época irrelevantes. O
Islam ou submissão a Deus é a verdadeira forma de vida desde os primeiros seres
humanos até o último que pise nesta terra. Além disso, o Islam é para todas as
classes de pessoas. O Islam é tão relevante para o cientista de renome quanto
para o beduíno mais analfabeto. Allah falou sobre o Profeta Muhammad (que a paz
e as bênçãos de Allah estejam com ele): “Dize: Ó humanos, sou o Mensageiro de
Deus, para todos vós” (7:158). “E não te enviamos, senão como universal
(Mensageiro), alvissareiro e admoestador para os humanos; porém, a maioria dos
humanos o ignora.” (34:28). Entre os seguidores do Profeta havia ricos e
pobres, nobres e humildes, letrados e analfabetos. Todos eles podiam aplicar o
Islam e assim, pela vontade de Allah, ganhar a complacência d’Ele. O Islam
também engloba esta vida e a próxima, não é uma religião que só se ocupa da
outra vida. O Islam também oferece uma orientação prática e completa para os
assuntos deste mundo. Como foi dito, uma das metas do Islam é estabelecer uma
sociedade sólida e correta nesta vida. E quanto à próxima vida, o benefício da
mesma depende completamente do Islam e de como foi trabalhado para chegar lá da
maneira correta. Allah pode dar a qualquer um alguns dos bens deste mundo, mas
reserva o bem da próxima vida apenas para aqueles que são crentes devotos. Allah
disse: “Quanto àqueles que preferem a vida terrena e seus encantos,
far-lhes-emos desfrutar de suas obras, durante ela, e sem diminuição. Serão
aqueles que não obterão na vida futura senão o fogo infernal; e tudo quanto
tiverem feito aqui tornar-se-á sem efeito e será vão tudo quanto fizerem.”
(11:15-16). “A quem quiser as coisas transitórias (deste mundo), atendê-lo-emos
ao inferno, em que entrará vituperado, rejeitado. Aqueles que anelarem a outra
vida e se esforçarem para obtê-la, e forem fiéis, terão os seus esforços
retribuídos. Tanto a estes como àqueles agraciamos com as dádivas do teu
Senhor; porque as dádivas do teu Senhor jamais foram negadas a alguém.”
(17:18-20). O Islam também se encarrega de todos os pormenores do ser humano.
Ocupase do espírito, intelecto, corpo, fé, ações e moral. Protege o ser humano
das enfermidades do coração como também das enfermidades do corpo e da
sociedade em sua totalidade. Assim, pode-se encontrar ajuda sobre a enfermidade
da arrogância, que aparece no coração; sobre como fazer com que os seres
humanos comam e bebam sem extravagâncias e como afastá-los da corrupção e
enfermidades sociais como adultério e outras. Na essência, o Islam orienta os
seres humanos a uma vida equilibrada, onde não se ignora nenhuma particularidade.
Pelo contrário, cada detalhe recebe toda a atenção que merece. O Islam também é
integral no sentido que envolve todos os aspectos da vida de uma pessoa, desde
os rituais de adoração ao comportamento moral, passando pelas relações
comerciais e governamentais. Nada, pela graça e misericórdia de Allah, tem sido
deixado de lado. Não há razão para que alguém se sinta perdido, em qualquer
área de sua vida. Não importa qual seja o assunto, encontrará algo que o guie.
O novo muçulmano deve aceitar o Islam em sua integralidade. Não está livre para escolher qual aspecto do Islam o favorece ou não. Com respeito a este comportamento, Allah disse: “Credes, acaso, em uma parte do Livro e negais a outra?” (2:85). Por exemplo, não se pode restringir seu Islam simplesmente a crer e realizar atos de adoração, rechaçando o que o Islam diz sobre o matrimonio, comércio, bebidas alcoólicas e drogas. Sim, é certo que não se pode esperar que uma pessoa se converta em um muçulmano perfeito da noite para o dia. Sem dúvidas, o assunto principal é a meta, a compreensão e a aceitação no coração da totalidade do Islam. A beleza e consistência da integralidade do Islam é outro sinal de que esta religião foi revelada por Allah. É impossível que os seres humanos, inclusive organizados em grupos, abranjam todos os detalhes desta criação de tal maneira que possam dar uma orientação integral para cada aspecto da vida. A esse respeito, Sayid Qutb escreveu: “Quando um ser humano tenta construir um conceito metafísico ou um sistema de vida através de seus próprios meios, este conceito ou sistema não pode ser integral. Só será válido parcialmente, para um momento e lugar, mas não para os outros momentos e lugares e será apropriado para certas circunstâncias, porém não para outras. Além disso, incluindo ao enfrentar um simples problema, é incapaz de abordá-lo de todos os pontos de vista possíveis e de considerar todas as conseqüências da solução proposta, pois, todo problema se estende no espaço e tempo e está conectado com precedentes e antecedentes que vão além do âmbito de observação e compreensão dos seres humanos. Portanto, concluímos que nenhuma filosofia ou sistema de vida produzido pelo pensamento humano pode ter as características da “integralidade”. Em suma, poderá cobrir um segmento da vida humana e ser válido por certo período. Devido a seu alcance limitado, sempre será deficiente em muitos aspectos e devido a seu caráter temporal, está destinado a causar problemas que requerem modificações e mudanças na filosofia ou sistema de vida original. Os povos e nações que baseiam seus sistemas econômicos, políticos e sociais em filosofias humanas se enfrentam constantemente em contradições e dialéticas. Ter em conta o bem-estar deste mundo e do próximo Como disse antes, o Islam não é uma religião que se ocupa somente da próxima vida ou do que habitualmente se conhece com o “lado espiritual” da vida. A mudança promove o bem-estar dos seres humanos tanto neste mundo como no próximo. Por isso, disse Allah: “A quem praticar o bem, seja homem ou mulher, e for fiel, concederemos uma vida agradável e premiaremos com uma recompensa, de acordo com a melhor das ações.” (16:97). Muitos sábios analisam a Lei Islâmica em sua totalidade e afirmam que a Lei está desenhada para alcançar metas específicas neste mundo (além dos objetivos óbvios da próxima vida). Pode-se dividir os “desejos” e “necessidades” deste mundo em três categorias: necessidades básicas, necessidades secundárias e comodidades. As necessidades básicas são aqueles elementos da vida que são requeridos para que se leve uma vida digna. Em outras palavras, sem elas nos sentiríamos miseráveis. Depois das necessidades básicas vêm as necessidades secundárias que tornam a vida mais suportável, ainda que seja possível viver sem elas. E então, vêm as comodidades que fazem a vida mais cômoda e desfrutável. A Lei Islâmica, vinda do Criador, identifica e enfatiza quais são as verdadeiras necessidades básicas da vida. Quando se estudam as leis do Islam e a sabedoria por trás das mesmas, descobre-se que foram criadas para estabelecer, proteger, reforçar e perpetuar estas necessidades básicas. Logo que isso tudo esteja realmente garantido e estabelecido, a lei busca satisfazer as necessidades secundárias da vida. E, depois de considerar as necessidades básicas e secundárias devidamente, então a lei procura brindar comodidades para fazer a vida mais fácil para a humanidade. Por razão de espaço, não se discutirão detalhadamente estas três categorias. Portanto, só daremos uma vista geral às cinco necessidades básicas da vida identificadas através da Lei Islâmica. As necessidades básicas segundo estabelecido na Lei Islâmica são: (1) a religião, (2) a vida, (3) os laços e relações familiares, (4) a saúde mental e a riqueza e as posses. Em uma eloquente passagem, o que é representativo do estilo do Qur’an, Allah cita todas as metas da Lei Islâmica: “Dize (ainda mais): Vinde, para que eu vos prescreva o que vosso Senhor vos vedou: Não Lhe atribuais parceiros; tratai com benevolência vossos pais; não sejais filicidas1 , por temor á miséria - Nós vos sustentaremos, tão bem quanto aos vossos filhos; não vos aproximeis das obscenidades, tanto pública, como privadamente, e não mateis, senão legitimamente, o que Deus proibiu matar. Eis o que Ele vos prescreve, para que raciocineis. Não disponhais do patrimônio do órfão senão da melhor forma possível, até que chegue á puberdade; sede leais na medida e no peso - jamais destinamos a ninguém carga maior á que pode suportar. Quando sentenciardes, sede justos, ainda que se trate de um parente carnal, e cumpri os vossos compromissos para com Deus. Eis aqui o que Ele vos prescreve, para que mediteis. E (o Senhor ordenou-vos, ao dizer): Esta é a Minha senda reta. Segui-a e não sigais as demais, para que estas não vos desviem da Sua. Eis o que Ele vos prescreve, para que O temais.” (6:151-153). A mais importante destas metas é a religião. De um ponto de vista islâmico, se as pessoas não têm religião e uma relação sólida com seu Senhor, não chegarão a ter uma vida sã. Portanto, espera-se que as pessoas se esforcem para levar uma vida sã, tanto individual quanto coletivamente, pondo Allah acima de seus próprios interesses e inclusive de seu próprio ser. De fato, disse Allah: “Pode, acaso, equiparar-se aquele que estava morto e o reanimamos á vida, guiando-o para a luz, para conduzir-se entre as pessoas, àquele que vagueia nas trevas, das quais não poderá sair? Assim foram abrilhantadas as ações aos incrédulos.” (6:122). Muitas das leis do Islam estão desenhadas, obviamente, para a conservação desta meta máxima. Por exemplo, o estabelecimento da oração em congregação e, após, a continuidade da vida normal. Assim, a lei de retribuição (lei de Talião) e a pena de morte são parte da legislação islâmica. Estas leis não estão ali simplesmente para castigar. Ditas leis, na realidade, têm como objetivo proteger a vida, como disse Allah: “Tendes, no talião, a segurança da vida, ó sensatos, para que vos refreeis.” (2:179). Com respeito aos laços familiares, foram mencionadas as leis sobre adultério, fornicação e calúnia. Quanto à proteção à riqueza, vemos que sob condições específicas, a mão do ladrão deve ser amputada. A proibição dos “resíduos” da riqueza, a extravagância e os juros, tem como finalidade conservá-la de maneira adequada. Sobre a proteção da capacidade mental, proibisse toda substância embriagante e foram estabelecidos severos castigos por se violar esta lei. - Facilidade e ausência de dificuldade na Lei Um dos aspectos mais claros da Lei Islâmica é o objetivo de trazer facilidades aos seres humanos e evitar a dificuldade, uma vez que os resultados são positivos para todos. Portanto, não é um objetivo independente das outras metas, como a piedade, a justiça, a equidade, o equilíbrio e outras. Próxima página 57. Abraço. Davi
sexta-feira, 25 de outubro de 2024
CAPÍTULO II. Parte I. DEUS VEM AO ENCONTRO DO HOMEM
Cristianismo. Livro Catecismo da Igreja Católica. CAPÍTULO II. Parte I. DEUS VEM AO ENCONTRO DO HOMEM. Mediante a razão natural, o homem pode, com certeza, conhecer a Deus a partir de suas obras. Existe, porém, outra ordem de conhecimento que o homem de modo algum pode atingir por suas próprias forças, a da revelação divina. Por uma decisão totalmente livre, Deus se revela e se doa ao homem. Faz isto revelando seu mistério, seu projeto benevolente, que, desde toda a eternidade, concebeu em Cristo, em favor de todos os homens. Revela plenamente seu projeto, enviando seu Filho bem-amado, nosso Senhor Jesus Cristo e o Espírito Santo. A Revelação de Deus. 1. Deus revela seu projeto benevolente. “Aprouve a Deus em sua bondade e sabedoria, revelar-se a si mesmo e tornar conhecido o mistério de sua vontade, pelo qual os homens, por intermédio de Cristo, Verbo feito carne, no Espírito Santo. Tem acesso ao Pai e se tornam participantes da natureza divina”. Deus, que “habita numa luz inacessível” I Timóteo 6,16, quer comunicar sua própria vida divina aos homens, criados livremente por ele, em seu Filho único, filhos adotivos. Ao revelar-se, Deus quer tornar os homens capazes de responder-lhe, de conhecê-lo e de amá-lo bem mais do que seriam capazes por si mesmos. O projeto divino da Revelação realiza-se ao mesmo tempo por ações e por palavras, intimamente ligadas entre si e que iluminam mutuamente. Este projeto comporta uma pedagogia divina peculiar. Deus comunica-se gradualmente com o home, o prepara, por etapas, para acolher a revelação sobrenatural que faz de si mesmo e que culmina na Pessoa e na missão do Verbo encarnado, Jesus Cristo. Santo Irineu de Lion (130 d.C.) fala, repetidas vezes, desta pedagogia divina sobre a imagem da familiaridade mútua entre Deus e o homem. “O Verbo de Deus (...) habitou no homem e se fez Filho do homem para acostumar o home a apreender a Deus e acostumar Deus a habitar no homem, segundo o consentimento da Pai”. 2. As etapas da revelação. Desde a origem, Deus se dá a conhecer. “Deus, criando e conservando todas as coisas pelo Verbo, oferece aos homens um testemunho perene de Si mesmo na criação, Romanos 1,1-20”. Além disso, decidindo abrir o caminho da salvação sobrenatural, manifestou-se a Si mesmo, desde o princípio, aos nossos primeiros pais. Depois da sua queda, com a promessa de redenção, deu-lhes a esperança da salvação, Gênesis 3,15, cuidando continuamente do gênero humano, para dar a vida eterna a todos aqueles que, perseverando na prática das boas obras, procuram a salvação Romanos 2,6-7. No devido tempo chamou a Abraão, para fazer dele pai de um grande povo, Gênesis 12,2 povo que, depois dos patriarcas, ele instruiu. Por meio de Moisés e dos profetas, para que o reconhecessem como único Deus vivo e verdadeiro, pai providente e juiz justo. Para que esperassem o Salvador prometido, assim preparou Deus através dos tempos o caminho ao Evangelho. Convidou-os a uma comunhão íntima consigo mesmo, revestindo-os de uma graça e de uma justiça resplandentes. Esta revelação não foi interrompida pelo pecado de nossos pais. Deus, com efeito, “após a queda deles (...) com a promessa da redenção, os consolou com a esperança da salvação e velou permanentemente pelo gênero humano. A fim de dar a vida eterna a todos aqueles que, pela perseverança na prática do bem, procuram a salvação. “Quando pela desobediência perderam vossa amizade, não os abandonastes ao poder da morte (...). Oferecestes, muitas vezes, aliança aos homens e às mulheres”. A Aliança com Noé. Desfeita a unidade do gênero humano pelo pecado. Deus procura, antes de tudo, salva a humanidade intervindo em cada uma de suas partes. A Aliança com Noé, depois do dilúvio, exprime o princípio da economia divina para com as nações, isto é, para com os homens agrupados “segundo seu país, língua, família e nação” Gênesis 10,5. Esta ordem cósmica, social e religiosa da pluralidade das nações destina-se a limitar o orgulho de uma humanidade decaída que, unânime em sua perversidade, gostaria de construir, por si mesma, sua unidade a maneira de Babel, Gênesis 11,4-6. Contudo, devido ao pecado, o politeísmo, assim como a idolatria da nação e de seu chefe, constitui uma contínua ameaça de perversão pagã para essa economia provisória. A Aliança com Noé permanece em vigor durante todo o tempo das nações, até a proclamação universal do Evangelho. A Bíblia venera algumas grandes figuras das nações, tais como Abel o justo, o rei sacerdote Melquisedeque, figura de Cristo, ou os justos Noé, Daniel e Jó. Assim, a Escritura exprime que grau elevado de santidade pode atingir os que vivem segundo a Aliança de Noé, na expectativa de que Cristo congregue na unidade “todos os filhos de Deus dispersos, João 11,52. Deus elege Abraão. Para congregar a humanidade dispersa, Deus elege Abraão. Para congregar a humanidade dispersa, Deus elege Abrão, o chamando. “Sai de tua terra, do meio de teus parentes, da casa de teu pai”, Gênesis 12,1. Para fazer dele Abraão, o pai de uma multidão de nações, Gênesis 17,5. “Em ti serão abençoadas todas as famílias da terra” Gênesis 12,3. O povo originado de Abraão será o depositário da promessa feita aos patriarcas, o povo escolhido, chamado a preparar, um dia, a unidade da Igreja de todos os filhos de Deus. Este povo será a raiz sobre a qual serão enxertados os descrentes tornados crentes. Os patriarcas e os profetas, bem como outras personalidades do Antigo Testamento, foram e serão sempre venerados como santos em todas as tradições litúrgicas da Igreja. Deus forma seu povo. Depois forma seu povo Israel. Depois dos patriarcas, Deus formou Israel como seu povo, o salvando da escravidão do Egito. Fez com ele a Aliança do Sinai e deu-lhe, por intermédio de Moisés, sua Lei, para que o reconhecesse e o servisse como o único Deus vivo e verdadeiro. Pai providente e juiz justo, para que esperasse o Salvador prometido. Israel é o povo sacerdotal de Deus, aquele sobre o qual é invocado o Nome do Senhor, Deuteronômio 28,10. É o povo daqueles aos quais Deus falou em primeiro lugar, o povo dos irmãos mais velhos da fé de Abraão. Por meio dos profetas, Deus forma seu povo na esperança da salvação, na expectativa de uma Aliança nova e eterna, destinada a todos os homens, e que será impressa nos corações. Os profetas anunciam uma redenção radical do Povo de Deus, a purificação de todas as suas infidelidades, uma salvação que incluirá todas as nações. Serão sobretudo os pobres e os humildes do Senhor os portadores desta esperança. As mulheres santas como Sara, Rebeca, Raquel, Miriam, Débora, Hulda, Ana, Judite e Ester mantiveram viva a esperança da salvação de Israel. Entre todas elas, a figura mais luminosa é Maria. Cristo Jesus “mediador e plenitude de toda a revelação. Deus tudo disse no seu Verbo. “Muitas vezes e de muitos modos, Deus falou outrora aos nossos país, pelos profetas. Nestes dias, que são os últimos, falou-nos por meio do Filho, Hebreu 1,1-2. Cristo, o Filho de Deus feito homem, é a Palavra única, perfeita e insuperável do Pai. Nele o Pai disse tudo, e não há outra palavra senão está. São João da Cruz (1542-1591), a exemplo de tantos outros, expressa isto de maneira brilhante, ao comentar Hebreus 1,1-2. “Porque em dar-nos, como nos deu, seu Filho, que é sua Palavra única, e não há outra, tudo nos falou de uma só vez nessa única Palavra, e nada mais tem a falar (...). De fato, aquilo que outrora falou parcialmente aos profetas, agora nos disse inteiramente em seu Filho, nos dando o todo que é seu próprio Filho. Portanto, se alguém ainda quisesse interrogar o Senhor e pedir-lhe visões ou revelações. Não só cometeria uma insensatez como ofenderia a Deus, por não fixar seu olhar unicamente em Cristo e buscar fora dele coisas diferentes ou novidades”. Não haverá outra revelação. A economia cristã, portanto, como Aliança nova e definitiva, jamais passará, e já não há que esperar nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Todavia, embora a Revelação esteja terminada, não está explicitada por completo. Cabe a fé cristã captar gradualmente, ao longo dos séculos, todo o seu alcance. No decurso dos séculos, houve revelações denominadas “privadas”, algumas delas reconhecidas pela autoridade da Igreja. Elas não pertencem, contudo, ao depósito da fé. A função delas não é “melhorar” nem “completar” a Revelação definitiva de Cristo. Todavia ajudar a viver dela, com mais plenitude, em determinada época da história. Guiado pelo Magistério da Igreja, o sendo dos fiéis sabe discernir e acolher o que nessas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou de seus santos à Igreja. A fé cristã não pode aceitar “revelações” que pretendam ultrapassar ou corrigir a Revelação da Qual Cristo é a perfeição. Este é o caso de certas religiões não cristãs e de certas seitas recentes que se fundamentam em tais “revelações”. Abraço. Davi
quarta-feira, 23 de outubro de 2024
JESUS. Parte VI
Judaísmo. Livro Judaísmo e Cristianismo – As Diferenças. Por Trude Weiss Rosmarin (1908-1989). JESUS. Capítulo 8. JESUS. Parte VI. A Bíblia Hebraica considera todos os seres humanos como irmãos por parte do Pai do Céu. Portanto, os profetas eram os mensageiros de Deus para toda a humanidade e não somente para seu próprio povo. Jesus, por outro lado, apresentou uma atitude definitivamente exclusivista ao enfatizar que fora enviado somente para “as ovelhas desgarradas do povo de Israel” Mateus 15,24. Esse aspecto é ainda mais enfatizado na recusa de Jesus em curar a filha de uma canaanita. A Bíblia Hebraica está repleta de exemplos de gestos de bondade dirigidos a não judeus. Para citar apenas um: quando Naamã, o general arameu acometido por lepra, dirigiu-se ao Rei de Israel pedindo ajuda, o profeta Eliseu prontamente ofereceu seus préstimos restabelecendo sua saúde devido à graça Divina, II Reis 5. O fato de Naamã não ser israelita não fez com que o profeta não o ajudasse. De modo semelhante, todos os códigos de lei e guias éticos judaicos enfatizam que o judeu não deve discriminar os não judeus. Mas auxiliá-los na adversidade, doença e tragédia, assim como ajudaria um judeu. A dura resposta de Jesus à canaanita não foi menos contrária à tradição judaica do que aos padrões éticos aceitos. Pois quando a mulher implorou: “Tenha piedade de mim, Senhor! Minha filha está terrivelmente possuída pelo demônio”, Jesus não a reconfortou e instruiu seus discípulos: “Mande-a embora pois fica implorando”, e acrescentou: “Fui enviado somente para as ovelhas desgarradas da casa de Israel”. Quando a mãe alterada continuou implorando, ele exclamou as cruéis palavras: “Não é certo tirar o pão das crianças e jogar aos cães”, querendo dizer com isso que os não judeus são cães e, consequentemente, não tem direito à misericórdia Divina. Somente quando a pobre mulher se humilhou, a ponto de aceitar o papel de um cão, dizendo: “Até os cães comem as migalhas que caem da mesa de seu dono”. É que Jesus considerou e prometeu ajudá-la “porque você possui grande fé”, Mateus 15,22-28. Mas, mesmo assim ao ajudá-la, ele o fez sem humanidade ou piedade, porém como retribuição à grande fé da mulher em sua pessoa. Assim como suas inconsistências e oposições a certos princípios da crença e ética judaicas colocaram Jesus em oposição ao judaísmo. Da mesma foram as interpretações arbitrárias de certas leis primordiais o desqualificaram como “rabino” ou “mestre”. Vimos que o reconhecimento de Jesus de que ele não veio para alterar a Lei foi anulado pela parábola de que um retalho novo não pode remendar uma roupa velha, nem um vinho novo pode ser mantido num barril envelhecido. Apesar de Jesus ter apregoado que nenhum pingo no i ou traço no t deveria ser retirado da Lei. Ele próprio desconsiderou e violou várias leis importantes. Já analisamos a ilegalidade da autorização a seus discípulos e apanharem as espigas de milho no Shabat. Pois estar faminto não se trata de emergência que justifique a transgressão do Shabat. Também vimos que ao enumerar os Dez Mandamentos, Jesus omitiu os quatro referentes aos deveres cerimoniais. Isto, entretanto, foi somente parte da desconsideração deliberada de Jesus pela Lei. Em várias ocasiões ele curou pessoas no Shabat que não estavam em situação emergencial, alegando que poderia fazê-lo em oposição aos rabinos que sustentavam que o Shabat pode (e deve, na verdade) ser transgredido somente com vistas a salvar e preservar uma vida. Contudo não para tratar de pessoas com enfermidades crônicas cujo estado se prolonga por anos e que, sem qualquer perigo de vida e saúde, podem aguardar algumas horas até o término do Shabat, ver Mateus 12,14-19. Lucas 13,10-16. A lei judaica aprova e recomenda o divórcio como meio de findar um matrimônio infeliz e insustentável. De fato, a Lei é notavelmente liberal, pois aceita como justificativa para o divórcio a incompatibilidade, o que não é admitido por várias religiões progressistas. O motivo subjacente, claro, é que é cruel e imoral forças duas pessoas que não mais se amam ou respeitam viverem sob o mesmo teto. A sensibilidade extremamente refinada do judeu para a santidade do vínculo do matrimônio pode ser vista pelo fato de que a lei judaica proíbe a intimidade conjugal se o marido odeia sua esposa “em seu coração”. O divórcio se constitui numa tragédia, ao que todos os mestres judeus prontamente admitem. Na verdade, é tão trágico que o próprio altar de Deus verte lágrimas quando um homem se divorcia da esposa que conheceu na sua juventude. Mas devido ao fato de a vida ser como é, o divórcio é necessário. Assim, a lei judaica aprova o divórcio e o Talmud devota um tratado inteiro para as implicações legais da dissolução do casamento – Guitim. “A eles (os judeus) foi dito: Aquele que repudiar sua mulher, dê-lhe uma carta de divórcio. Eu, porém, vos digo: Todo aquele que repudia sua mulher, a não ser por motivo de fornicação, faz com que ela adultere, e aquele que se casa com a repudiada, comete adultério”. Mateus 5,31 e seguintes: comparar com Mateus 19,3-9. Abraço. Davi
segunda-feira, 21 de outubro de 2024
MITOLOGIA E INFLUÊNCIA. Parte IV
Xintoísmo. bushidor.com. MITOLOGIA E
INFLUÊNCIA na formação da cultura e o caráter do povo japonês. Parte IV.
[...]. Os avós, pelas suas próprias virtudes durante a apagada existência, e
pelas propiciações que os vivos lhes tributam, no desempenho dos ritos
familiares, alcançam a bem-aventurança; e os seus espíritos agradecidos pagam
em afetuosa proteção os cuidados rituais que se lhes votaram, guiando os vivos
nos seus passos sobre a terra, aplanando as dificuldades, encaminhando os
também para a bem-aventurança esperada. Vive-se, pois, pode dizer-se, para
morrer; e morre-se para viver (MORAES, 1924, p. 82-83). À família imperial
cabe-lhe outros rituais como o Niinamesai, a comunicação da maioridade e
assunção do título de príncipe herdeiro. O imperador deve reportar
periodicamente à deusa Amaterasu, no santuário de Ise, os principais
acontecimentos do país (HERBERT, 1964, p. 250).
A maioria dos casamentos são celebrados no ritual xintoísta e as
cerimônias fúnebres, no budista. O jesuíta português Luís Almeida ao visitar o
Japão em 1565, observou: "os japoneses rezam aos kami (divindades) pedindo
longevidade, saúde, riqueza, fama e todos os outros benefícios terrenos, voltando-se,
no entanto, para Hotoke (Buda) para implorar a sua salvação religiosa
pessoal", característica da religiosidade desse povo que permanece ainda atualmente
(YUSA, 2002, p. 17). Poucos são os que
optam por enterrar seus mortos em cemitérios xintoístas, preferindo a cremação.
Enquanto o xintoísmo é otimista e está ligado a festivais, o budismo acabou
assumindo o papel de oficiante dos funerais. Isso deve-se à proibição da
presença de cadáveres nos santuários - local dedicado exclusivamente aos kami -
e a falta de hábito de ritos funerários dos monges xintoístas - também de
dedicação exclusiva aos kami - , devendo qualquer outro assunto ser tratado
fora do santuário (ONO, op. cit., p. 110). A dinastia Tokugawa (1603-1867), com
a perseguição aos cristãos, ordenou que os sepultamentos fossem realizados
apenas por monges budistas (idem). Tida como a religião da natureza, o
xintoísmo é a religião que comemora os fatos da vida, celebra e vivifica-os em
rituais de renovação: a colheita, as estações do ano, os festivais, adquirindo
por esse motivo o ar alegre e festivo das comemorações da comunidade, chamadas
matsuri. No Xintô a vida vivida em comunhão com a vontade divina está protegida
(ONO, op. cit., p. 50); por isso, o mundo é bom, uma dádiva dos deuses ao qual
o homem deve responder com gratidão à sua família, a seus ancestrais e ao kami,
assumindo "suas obrigações com a sociedade e contribuindo para o desenvolvimento
de tudo que lhe foi confiado" (ibidem p. 103). A vida quotidiana é
considerada como um serviço para o kami, isto é, o matsuri (idem). Intimamente
ligado à natureza, que se renova visivelmente a cada estação, a renovação se dá também na reconstrução dos
santuários no Parque de Ise, na província. É a mais importante cerimônia do
xintô que ocorre em 23 de novembro quando o imperador, como sacerdote supremo
do xintô, em nome do povo japonês, partilha arroz novo e saquê branco e preto
com a deusa Amaterasu. (HERBERT, 1964, p. 71) 20 .de Mie. Desde o ano 690 no
reinado da imperatriz Jito (686-697) os santuários são reconstruídos a cada 20
anos, poucas vezes interrompida por guerras ou dificuldades financeiras da
família imperial. (ibidem p. 28). Para essa reconstrução, chamada de sengu, são
utilizadas 130 mil árvores de hinoki (cipreste japonês) de 200 anos, (ibidem p.
29) para que "a deusa do sol, Amaterasu (a divina ancestral da casa
imperial) e a deusa da colheita, Toyouke, adquiram renovado vigor, garantindo a
vitalidade da linha imperial e da cultura do arroz, sem os quais seria
impossível a sobrevivência da nação"(LITTLETON, op. cit., p.62-63). As
peças dos santuários desconstruídos são utilizadas para construção de outros
santuários (idem). A última reconstrução se deu em 1993, o que indica este ano
de 2013 como a próxima reconstrução (idem).
A pureza no Xintô. Para o Xintô “a vida só tem sentido e só encontra o
seu verdadeiro estado na pureza, e a vida que perde a sua pureza não agrada às
divindades e transforma-se assim numa vida anti xintoísta cheia de pecados, de
manchas e de desgraças”(ROCHEDIEU, op. cit., p. 60). As cerimônias de início de
atividade – inaugurações em geral –
festivais populares ou torneios esportivos geralmente são precedidos por
ato de purificação. A purificação diz respeito não apenas ao corpo, mas também
ao espírito. Para os xintoístas, a purificação é o ato cerimonial mais
importante pois é o que aproxima nosso espírito do espírito puro dos deuses e
para alguns é o que permite atingir a Realidade Última, porém, esta união só se
dá na presença de um coração puro e claro (ROCHEDIEU, op. cit., p. 61). Para o
Xintô, os ritos e a liturgia são elementos secundários diante da importância
que assume a atitude de se manter claro e puro o coração (idem). Nos santuários
xintoístas está disposta invariavelmente uma pia com água corrente, servida por
uma concha de bambu para a higiene da boca e das mãos, antes de o fiel entrar
no santuário. Purifica-se o corpo externa e internamente antes de entrar na
presença dos deuses (LITTLETON, op. cit., p. 61-62). Para a purificação é
preciso que ocorra: (ROCHEDIEU, op. cit., p. 97-100)- a vontade e o poder
divino que purifica e- o esforço do homem que busca a purificação. A mancha
atrai os maus espíritos e faz o homem dependente destes. São ritos de
purificação: 1. O harai – destinado a limpar as manchas advindas do mal
cometido. 2. O misogi – destinado a remover as impurezas advindas de outros
males que não as de cunho moral como por exemplo, contato com coisas impurezas
como o cadáver. Usa-se em geral a água como elemento purificador. Mais do que o
rito de purificação, o misogi abrange “todo o processo de disciplina mental”.
3. O imi – refere-se a observância de condutas de purificação com evitar a
ingestão de certos alimentos, ações e contatos com o intuito de se preservar a
pureza total do culto. Neste estado de imi devem estar não apenas o oficiante,
mas também os encarregado da preparação da cerimônia. É proibido ainda como
atos preparatórios para o imi, ouvir música, ingestão de bebidas alcoólicas ou
de alimentos que não tenham sido cozidos em fogo puro e ocupar-se de atividades
que causem preocupação, fadiga ou sofrimento. Acredita-se que o homem receba
avisos do descontentamento dos deuses quanto à sua conduta, devendo então
empregar todos os seus esforços para recuperar seu estado normal de pureza. São
faltas ou más condutas: (SIEFFERT, op. cit., p. 12) 1. O tsumi – atitude em que
há vontade deliberada de praticar o mal. 2. O wazawai – é a desgraça, a
provação e a calamidade, cuja ocorrência independe da vontade; 3. O kegari – a
impureza, a mancha ocasionada pelos fatores já vistos. Apenas o tsumi é de
inteira responsabilidade individual, havendo, entretanto, responsabilidade na
conduta por negligência ou imprudência se formos abatidos por tsumi ou kegari.
De fato, mesmo inconscientemente, a invasão de território proibido, de domínio
do kami constitui tsumi, adverte Sieffert que, melhor esclarece o conceito de
tsumi, desconsiderando o que o Ocidente geralmente traduz por pecado ou falta:
é "a transgressão de certos limites nem sempre formalmente proibidos nem
definidos, mas carregados de um potencial mágico perigoso devido à simples
presença de um kami" (idem). Carregar no corpo ou na alma qualquer das
faltas, torna-nos inapropriados para entrar nos santuários, devendo o fiel,
antes, realizar a purificação da boca e das mãos com água corrente disposta na
entrada chamada temizuya (ONO, op. cit., p. 34). Na época dos samurais, antes
dos combates, alguns se purificavam com essa água, vertendo-a também na lâmina
de suas espadas. Entre os atos que chocam a sensibilidade e que não se aplicam
apenas às más ações, está o cortar a pele viva ou morta, do homem ou de
animais, daí serem considerados impuros o manejo do sangue e de seres
mortos, ou ainda infligir cortes e perfurações
na pele como as tatuagens ou piercings. O corpo, assim como as vestimentas,
deve ser puro, sem mácula (GRIFFIS, op. cit., p. 85). Nos banhos públicos há
avisos proibindo a entrada de pessoas alcoolizadas ou tatuadas. São impuros o
ofício do açougueiro ou do coveiro, geralmente executados por párias. O parto,
a doença, o moribundo e o doente terminal são considerados impuros. William
Elliot Griffis (1843-1928) relata que no Japão antigo eram construídas cabanas
para parturientes ou moribundos que eram depois queimadas, finalizadas o uso
(GRIFFIS, op. cit., p. 85). Perverso costume que penalizava a parturiente e o
doente, quando mais precisavam de cuidados e apoio. Esse costume permaneceu
ainda em algumas regiões do Japão até 1878 (idem). Nota-se o cuidado com a
limpeza em todos os lugares: nos locais públicos, nas casas, nas escolas, onde
desde pequenas as crianças aprendem a cuidar da limpeza da classe e das dependências
da escola. Discorrendo sobre o que via, o português Wenceslau de Moraes
escreve, surpreso, observando as ruas de um Japão ainda de vida pacata:
"muito limpas; são os moradores que as varrem, com escrúpulos de minúcia,
cada qual na parte que fica em frente à sua casa; o ofício de varredor
municipal é desconhecido no Japão" (MORAES, op. cit, p. 75). E em outro
trecho: "pode-se dizer que, na habitação japonesa, o principal luxo,
muitas vezes o único, é a limpeza; mas esta tão requintada, que embriaga!..."
(ibidem p. 77). Ainda nos dias de hoje, curiosamente o Japão não tem varredores
nem lixeiras nas ruas, mesmo nas grandes cidades como Tóquio. Sujar lugar
público é desrespeitar o próximo que também utiliza o espaço. Manchar ou ferir
nosso corpo, cortando, perfurando, ferindo ou ministrando-lhe drogas que
desvirtuem sua natureza, isto é, tudo que nos desvie de um comportamento bom,
respeitoso, contrário, segundo um teólogo xintoísta, “ao que foi desejado pelo
espírito divino” – significação de nossa vida terrestre - , significa ser
desrespeitoso com a divindade que em nós habita. Assim também, uma conduta que
ofenda nosso próximo por palavras, ações ou pensamentos, mostra a mácula do
espírito, o distanciamento do natural Caminho. O espírito ofensor está
duplamente em falta: consigo e com a divindade que está abrigada no próximo. É
mancha que lançamos ou permitimos que se lance sobre nós, obstando a volta ao
estado natural, vale dizer, de retornarmos ao estado de bons, de retornarmos ao
Caminho. Wenceslau relata-nos sua surpresa quanto à língua japonesa: Neste
momento, deixemos assomar, se nos apraz, aos lábios um sorriso, como único
comentário; mas sorriso benevolente, de simpatia por esta gramática japonesa, a
mais cortês de todas as gramáticas conhecidas. De fato, resulta pelo menos uma
vantagem evidente; na língua japonesa não existem palavras insultuosas,
obscenas; o termo mais rude que um japonês pode proferir é baka, imbecil. A
gramática nipônica faz-nos lembrar uma corte 23 .atarefada, meticulosa, na qual
os cortesãos em chusma - substantivos, adjetivos, advérbios, verbos,
posposições e todo o resto - palpitam, rodopiam incessantemente em mesuras, em
cortesias, em requebros, em reverências, seguindo regras de precedência da mais
complicada pragmática imaginável, ou antes inimaginável...[...] e a língua
japonesa é incontestavelmente uma das mais belas línguas hoje faladas, como
também uma das mais difíceis (ibidem p. 40-41). As ações do Xintô, os ritos de
purificação e as ideias de mácula procuram alcançar um ideal de pureza corporal
e espiritual, destacando-se o esforço ao retorno do “estado normal”, isto é,
estado divino, estado de bom. Corolário natural desta concepção, para o
xintoísmo não somos maus, apenas estamos mau. Estar nesse estado é estar
impuro, com o coração manchado, anuviado; é afastarmo-nos da nosso verdadeiro
Eu ou permitir que nos afastem. O homem não é responsável pelos males que se
abatem sobre sua vida, salvo aqueles produzidos por sua voluntária conduta, mas
é somente sua a responsabilidade de viver uma vida reta, honesta, ética e
clara, como é o desejo dos deuses. A
Natureza e o senso estético no Xintô Se observarmos as fases de desenvolvimento
por que passaram as religiões, é de indubitável conclusão o primitivismo do
Xintô, a fase ainda "das ideias infantis" dessa religião como afirma
Griffis (GRIFFIS, op. cit., p. 69). "Estagnado" nessa fase de
desenvolvimento, a Natureza - por força da crença de que os homens, a Natureza
e os deuses, provêm de um único ancestral - é objeto de profunda apreciação,
respeito e inúmeros festivais por todo o país. A comunhão com o divino e com a
própria Natureza se funde num único sentimento, assim descrito emocionadamente
por Rochedieu: [...] o Japão sabe conservar certos lugares unicamente pela
beleza, e é muitas vezes surpreendente e comovedor para o Ocidental ver nos
parques grandes templos, ou simplesmente presenciar num jardim público um pai
acompanhado do filho parar em silêncio ao pé de um lago, de uma pequena ponte,
de uma cascata ou das flores e ter uma atitude de recolhimento porque, para o
japonês, a comunhão com o divino obtém-se as mais das vezes através da união de
todo o seu ser com as belezas naturais, com obras de arte selecionadas, com a
harmonia que emana
de um monumento. Não é o valor ou a grandeza da matéria utilizada
que cria a
beleza, mas o amor
com que
o artista se debruça sobre a
sua obra, nela
trabalhando por vezes durante anos, mas incutindo desse modo, no objeto
que cinzela ou no quadro que pinta, algo da sua alma, algo de si próprio, e
esse algo que procura transmitir através da obra de arte é sempre aquilo que de
melhor há em si (ROCHEDIEU, op. cit., p.37). A beleza natural é fundamental
para a veneração dos kami nos santuários, independentemente do kami aí
cultuado. Segundo Ono, é esse refinado senso estético da beleza que enleva o
homem, conduzindo-o do mundo profano ao sagrado, que o faz 24 .experienciar o
viver em comunhão com "o alto e profundo mundo do divino" (ONO, op.
cit., p. 97). As leis xintoístas não provêm de um deus único, dado aos homens
por revelação como nas grandes religiões do Ocidente. São descobertas dentro da
Natureza onipresente, encantadora e ao mesmo tempo mística que se lhe mostra. A
Natureza não é hostil como na mitologia judaico-cristã que expulsa o homem do
Paraíso; pelo contrário, ela existe abençoada pelos deuses e se desenvolve com
harmonia e cooperação (ibidem p. 103). É, portanto, dádiva divina, presente dos
deuses para os homens. Página 25. Abraço. Davi
quinta-feira, 17 de outubro de 2024
A BATALHA ENTRE O BEM E O MAL. Parte I
Zoroastrismo. O Livro das
Religiões. Por Editora Globo. A BATALHA ENTRE O BEM E O MAL. Parte I. O triunfo
do bem sobre o mal depende da humanidade. Em contexto. Principais seguidores –
Zoroastristas. Quando e onde. 1400-1200 a.C. Irã, na Pérsia. Antes. A partir da
pré-história. Muitos sistemas de crenças caracterizam-se por um deus destrutivo
ou por espírito maligno contrário a uma divindade mais benevolente. Depois.
Século VI a.C. Os impérios persa e medo são unificados. O Zoroastrismo vira uma
das maiores religiões do mundo. Século IV a.C. Filósofos gregos clássicos,
entre eles Platão, estudam com sacerdotes zoroastristas. Diz-se que Aristóteles
considerava Platão a reencarnação de Zoroastro. Século X d.C. Os Zoroastristas
migram do Irã para a Índia, para evitar conversão ao islamismo. Dando origem
aos parsis, a maior comunidade zoroastrista atual. O criador é totalmente bom.
Contudo, tanto o bem quanto o mal podem ser vistos no mundo. O mal não tem como
vir do bem. Portanto, deve existir um ser totalmente mau, contrário ao criador.
Nós devemos escolher o bem, para ajudar o criador na luta contra o mal. O
Zoroastrismo, uma das religiões mais antigas ainda existentes e uma das
primeiras crenças monoteístas, foi fundado pelo profeta Zoroastro na antiga
Pérsia, o atual Irã. A religião de Zoroastro se desenvolveu a partir do antigo
sistema de deuses indo-iranianos, que incluía Ahura Mazda, “o senhor da
sabedoria”. No Zoroastrismo, Ahura Mazda, às vezes chamado de Ohrmazd, é
elevado à condição de deus único e supremo. O sábio criador, fonte de todo o
bem, que representa ordem e verdade, em contraposição a maldade e ao caos.
Ahura Mazda conta com a ajuda de suas criações, os Amesha Spenta, ou imortais
sagrados”, seis espíritos divinos. Um sétimo Spenta menos definível é o Spenta
Mainyu, visto como o próprio “espírito santo” de Mazda e agente de sua vontade.
De acordo com o zoroastrismo, o bondoso Ahura Mazda ficou preso numa luta
contra Ahriman, uma entidade malévola, também chamado de Angra Mainyu, ou
espírito destrutivo, desde o início dos tempos. Ahiman e Ahura Mazda sã visos
como espíritos gêmeos. No entanto, Ahriman é um espírito caído e não pode ser
considerado semelhante a Mazda. Ahura Mazda vive na luz, enquanto Ahriman se
esconde na escuridão. A batalha entre eles, na qual o mal está sempre tentando
acabar com o bem, constitui a base da mitologia zoroastrista. Ahura Mazda luta
com Ahriman utilizando a energia criativa de seu espírito. Spenta Mainyu. A
relação exata entre essas três entidades permanece como um aspecto indefinido
da religião. Os seres humanos, também criação de Mazda, tem um importante papel
na contenção da desordem e do mal, usando o livre-arbítrio para escolher o bem.
Pensamentos, palavras e ações positivas fortalecem o asha, a ordem fundamental
do universo. O asha encontra-se permanentemente em risco, por conta da força
contrária druj, ou caos, alimentada por pensamentos, palavras e ações
negativas. A disputa central é entre a criação e a des criação, com o mal
ameaçando o tempo todo a estrutura e a ordem do mundo. O nascimento de
Zoroastro, cuja missão é convocar a humanidade para a luta entre o bem e o mal,
desequilíbrio a balança a favor do bem. De acordo com o zoroastrismo, o bem
prevalecerá no final. Um mundo feito de bondade. O zoroastrismo diz que, quando
Ahura Mazda quis criar um mundo perfeito, ele criou os Amesha Spenta e um mundo
espiritual invisível, que incluía um ser perfeito. O propósito espiritual desse
mundo era derrotar Ahriman, que tenta ataca-lo de qualquer maneira. Ahura Mazda
derrota Ahriman recitando a oração mais sagrada do zoroastrismo, a Ahunavar,
que o lança de volta à escuridão. Ahura Mazda, então, da forma material a seu
mundo espiritual. Cria um animal primitivo, um touro, e transforma seu ser
espiritual perfeito num ser humano, conhecido com o símbolo do zoroastrismo. O
Faravahar, retrata um fravaschi, ou anjo da guarda, que protege a alma dos
indivíduos na luta contra o mal. Sacerdote do fogo. . Esses alimentam uma chama
sagrada. Eles usam um lenço branco no rosto, o padan, para evitar profanar o
fogo com respiração ou saliva. Gayomart, que significa vida mortal ou humana.
Pouco tempo depois, contudo, Ahriman se recupera e contra-ataca, cortando o céu
como um raio de fogo e trazendo fome, doença, dor, luxúria e morte para o
mundo. Ele também cria demônios próprios. Gayomart e o touro acabam morrendo,
mas o sêmen deles derrama-se no chão durante sua morte e é fertilizado pelo
sol. Ahura Mazda envia chuva, e da semente de Gayomart nascem a mãe e o pai da
humanidade. Mashya e Mashyol. Da semente do touro nascem todos os animais do
planeta. Como sua criação perfeita foi maculada pela destrutividade de Ahriman,
Ahura Mazda estabelece um limite para o
tempo, que antes era ilimitado. Zoroastro. Não se sabe ao certo quando o
profeta Zoroastro, também conhecido como Zaratustra viveu, mas é provável que
tenha sido entre 1400 a.C. – 1200 a.C. Embora seus ensinamentos se baseassem na
literatura hindu – textos como o Rig Veda. Zoroastro atribuía seus insights a
visões recebidas diretamente de Deus. Ele já era sacerdote entre os iranianos
seminômades do sul das estepes russas quando começou a pregar o culto de Ahura
Mazda. No início, teve poucos seguidores, mas acabou adquirindo soberania
local, transformando o zoroastrismo na religião oficial do povo avéstico. No
entanto, só no reinado de Ciro, o Grande, no século VI a.C. é que a religião se
espalhou pelo império persa. Obras-chaves. Século IV a.C. Os ensinamentos de
Zoroastro são compilados no Avestá, incluindo os Gathas, dezessete cânticos com
as próprias palavras de Zoroastro, conforme se acredita. Século IX d.C. A
natureza dualística da filosofia zoroastrista é detalhada em Analytical
treatise for the dispelling of doubts. Abraço. Davi.
terça-feira, 15 de outubro de 2024
A RELIGIÃO DO ISLAM. Parte V
Islamismo. Livro Manual para o Novo Muçulmano. Por Jamaal Zarabozo (1960 - ). A RELIGIÃO DO ISLAM. Parte V. A Justiça e a Proibição de Fazer Mal aos Outros A vida sobre a terra não pode florescer se não houver justiça. Por isso o chamado e a implementação da justiça são uma das características mais destacadas no Islam. Em diversas passagens do Qur’an, Allah ordena aos muçulmanos que cumpram as exigências da justiça, ainda quando estas estejam contra seus próprios interesses ou desejos. Por exemplo, Allah disse: “Deus manda restituir a seu dono o que vos está confiado; quando julgardes vossos semelhantes, fazei-o com equidade. Quão excelente é isso a que Deus vos exorta! Ele é Oniouvinte, Onividente.” (4:58). “Ó fiéis, sede firmes em observardes a justiça, atuando de testemunhas, por amor a Deus, ainda que o testemunho seja contra vós mesmos, contra os vossos pais ou contra os vossos parentes, seja contra vós mesmos, contra os vossos pais ou contra os vossos parentes, seja o acusado rico ou pobre, porque a Deus incumbe protegê-los. Portanto, não sigais os vossos caprichos, para não serdes injustos; e se falseardes o vosso testemunho ou vos recusardes a prestá-lo, sabei que Deus está bem inteirado de tudo quanto fazeis.” (4:135). ” Ó fiéis, sede perseverantes na causa de Deus e prestai testemunho, a bem da justiça; que o ódio aos demais não vos impulsione a serdes injustos para com eles. Sede justos, porque isso está mais próximo da piedade, e temei a Deus, porque Ele está bem inteirado de tudo quanto fazeis.” (5:8) . O Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) demonstrou que ninguém está acima da lei e da justiça no Islam. Uma vez Usamah, que era muito próximo e querido pelo Profeta, foi convencido a tentar interceder, junto ao Profeta, sobre um castigo prescrito, e o Profeta lhe disse: “Acaso, Usamah, intervéns para impedir um dos castigos prescritos por Allah? Por Allah, se Fátima, a filha do Profeta, roubasse, eu mesmo cortaria sua mão.” (Bukhari). Portanto, a justiça deve ser paliçada a todos: ricos, pobres, jovens, velhos, amigos, inimigos, muçulmanos, não muçulmanos, e assim sucessivamente. Na verdade, se não fosse assim e fosse utilizado algum tipo de intermédio, não seria uma justiça verdadeira. O muçulmano deve ser justo com todos, amigos ou inimigos, incluindo com sua própria alma. Não é permitido que sua alma lhe cause danos, pois isso não é “liberdade”, senão uma das piores formas de injustiça. Um verdadeiro muçulmano é ordenado a ser mais que justo, deve, também, ser benevolente e tolerante. Por isso, Allah disse: “Deus ordena a justiça, a caridade, o auxílio aos parentes, e veda a obscenidade, o ilícito e a iniqüidade. Ele vos exorta a que mediteis.” (16:90). A aplicação da justiça e trabalho em prol dela são algumas das grandes responsabilidades da comunidade islâmica, coletivamente. De certa maneira os muçulmanos são testemunhas, ante o resto da humanidade, do que se trata a verdadeira religião de Allah. A este respeito, Allah disse: “E, deste modo, (ó muçulmanos), contribuímos-vos em uma nação de centro, para que sejais, testemunhas da humanidade, assim como o Mensageiro será para vós...” (2:143). Um dos significados da palavra wasat (no versículo acima traduzido como “de centro”) é justo e equilibrado, que evita os extremos que acompanham sempre a exploração e a injustiça. Por último, existe uma relação muito importante entre a justiça e a obediência à revelação de Allah. Allah é o único com imparcialidade e justiça para determinar leis que não favorecem a uma classe em detrimento de outra (em particular, a dos poderosos sobre os fracos). É também o único com conhecimento total que Lhe permite estabelecer leis verdadeiramente justas. Pode-se ter intenções sinceras, entretanto, devido à necessidade do conhecimento racional perfeito e das interações sociais humanas, corre-se o risco de invocar leis que na realidade são injustas e parciais. Mais uma vez, se uma pessoa uma pessoa deseja uma justiça pura e intacta, não tem outra opção senão recorrer à revelação de Allah e Suas Leis. Ibn al Qaiim escreveu: “Allah enviou Seus mensageiros e revelou Seus Livros para que a gente pudesse viver com justiça. É a mesma justiça e o mesmo equilíbrio em que se baseiam os céus e a terra. Em todo lugar onde estejam visíveis e claros os sinais da verdadeira justiça, ali estará a Lei de Allah e Sua religião.” Afortunadamente, para toda a humanidade, o funcionamento do cosmos se dá segundo a justiça e a verdade de Allah e não se baseia em paixões dos seres humanos. Dessa forma Allah disse: “E se a verdade tivesse satisfeito os seus interesses, os céus e a terra, com tudo quanto encerram, transformar-se-iam num caos. Qual! Enviamos-lhes a Mensagem e assim mesmo a desdenharam.” (23:71). A justiça, que é tão essencial ao Islam, estende-se além desta vida. Em outras palavras, Allah julgará todas as pessoas da maneira mais justa e não prejudicará a ninguém, nem mesmo no mínimo que seja. Parte desta justiça inclui o fato de que nenhuma pessoa carregará o pecado de outra e ninguém será responsável pelo que esteja além de seu alcance. Sobre isso Allah disse: “Dize ainda: Como poderia eu adorar outro senhor que não fosse Deus, uma vez que Ele é o Senhor de todas as coisas? Nenhuma alma receberá outra recompensa que não for a merecida, e nenhum pecador arcará com culpas alheias, então, retornareis ao vosso Senhor, o Qual vos inteirará de vossas divergências.” (6:164). “Quem se encaminha, o faz em seu benefício; quem se desvia, o faz em seu prejuízo, e nenhum pecador arcará com a culpa alheia. Jamais castigamos (um povo), sem antes termos enviado um mensageiro.” (17:15). “Deus não impõe a nenhuma alma uma carga superior às suas forças. Beneficiar-se-á com o bem quem o tiver feito e sofrerá mal quem o tiver cometido...” (2:286). “Que o abastado retribua isso, segundo as suas posses; quanto àquele, cujos recursos forem parcos, que retribua com aquilo com que Deus lhe agraciou. Deus não impõe a ninguém obrigação superior ao que lhe concedeu; Deus trocará a dificuldade pela facilidade.” (65:7). A justiça não só tem um aspecto positivo (o cumprimento e a restituição dos direitos que haviam sido violados), mas também deve ter um componente “negativo”: a proibição de prejudicar o próximo. No Islam é muito evidente o impedimento de se prejudicar o próximo. O Profeta afirmou que Allah lhe disse: “Ó servos Meus, é proibida para Mim a injustiça e proibida para vós. Portanto, não vos prejudiquem uns aos outros.” (Muslim). Ibn Taimiyah sustenta que essa afirmação cobre toda a religião. Tudo o que Allah proibiu, de uma ou outra maneira, é um tipo de injustiça (dhulm), enquanto tudo o que foi ordenado é uma forma de justiça (adl). De fato, Allah disse: “Enviamos os Nossos mensageiros com as evidências: e enviamos, com eles, o Livro e a balança, para que os humanos observem a justiça; e criamos o ferro, que encerra grande poder (para a guerra), além de outros benefícios para os humanos, para que Deus Se certifique de quem O secunda intimamente, a Ele e aos Seus mensageiros; Sabei que Deus é Poderoso, Fortíssimo.” (57:25). Portanto, foram enviados mensageiros, livros foram revelados e alcançou-se um equilíbrio para que a humanidade pudesse se estabelecer e viver com justiça. Além disso, o ferro foi criado para que pudesse ser usado em nome da verdade e justiça. O Livro guia à justiça e a espada e o ferro o apoiam. Existe outra relação muito importante entre justiça e Islam. Para que os seres humanos possam ser realmente justos, necessitam de algum tipo de mecanismo interno que os impulsione a fazer algo correto. É muito fácil ser parcial quando está em jogo a riqueza, a família, a comunidade e a honra. Muitos sabem reconhecer a injustiça dos demais, mas não conseguem, ou mesmo se negam, a reconhecer a própria injustiça. Nesses casos as paixões não nos permitem reconhecer a verdade. Sem dúvidas, uma vez que a verdadeira fé entra no coração da pessoa, a situação muda por completo. A pessoa entende que Allah quer que ela atue com justiça. Ela também sabe que Allah está inteirado de todas as suas ações e intenções, até as mais pequenas. Allah exige justiça e proibiu todas as formas de injustiça. Então, o verdadeiro crente não dará preferência a seus desejos, sua riqueza, sua nação ou o que for, sobre o que Allah exige dele em forma de justiça. Sabe que se encontrará com Allah e que quererá fazê-lo com a consciência limpa. Assim, esforçar-se-á para alcançar a justiça e aceitar somente o que está determine. Muitos convertidos, hoje em dia, vêm de sociedades individualistas, onde, em muitas ocasiões, a justiça é passada para trás para servir aos interesses próprios. Isto não tem cabimento dentro do Islam. Novamente, ainda que vá contra nossos próprios interesses, um muçulmano deve sempre firmar-se e encorajar-se na verdade e justiça. - A Paz Verdadeira A luz e a orientação de Allah é o caminho para a paz verdadeira. Allah disse: “Ó adeptos do Livro, foi-vos apresentado o Nosso Mensageiro para mostrar-vos muito do que ocultáveis do Livro e perdoar-vos em muito. Já vos chegou de Deus uma Luz e um Livro lúcido, pelo qual Deus conduzirá aos caminhos da salvação aqueles que procurarem a Sua complacência e, por Sua vontade, tirá-los-á das trevas e os levará para a luz, encaminhando-os para a senda reta.” (5:15-16). De fato Allah chama os seres humanos à morada da paz eterna: “Onde sua prece será: Glorificado sejas, ó Deus! Aí sua mútua saudação será: Paz! E o fim de sua prece será: Louvado seja Deus, Senhor do Universo!” (10:25). A paz total e verdadeira só se pode ser alcançada quando as pessoas obtêm a paz interior. É a única forma de vida compatível com a natureza dos seres humanos. De fato, é o que podemos chamar “verdadeira vida”. Assim, disse Allah: “Ó fiéis, atendei a Deus e ao Mensageiro, quando ele vos convocar à salvação. E sabei que Deus intercede entre o homem e o seu coração, e que sereis congregados ante Ele.” (8:24). Conhecer a Allah é o que pode trazer a verdadeira felicidade da alma. Se a pessoa não conhece seu Criador, sua alma sempre estará sempre buscando algo que falta em sua vida. A menos que a alma e o coração estejam contentes, a pessoa nunca poderá alcançar a felicidade. O Profeta disse: “A verdadeira riqueza está na felicidade interna.” (Bukhari e Muslim). Também disse: “A verdadeira riqueza é a riqueza do coração. A verdadeira pobreza é a pobreza do coração.” Uma vez que o indivíduo está em paz consigo mesmo e livre de toda agitação interna, pode estabelecer relações verdadeiramente pacíficas com os demais. Isso começa com os mais próximos de sua família e se estende aos vizinhos e outras pessoas da comunidade, para eventualmente alcançar a humanidade em sua totalidade. Assim o Islam estabelece uma estrutura social baseada na interatividade entre as pessoas, de forma que geram uma coexistência pacífica. Os filhos reconhecem os direitos de seus pais sobre eles mesmos, por sua vez, os pais reconhecem as suas responsabilidades para com seus filhos. Os cônjuges se unem não como competidores, mas como companheiros que cooperam para criar um lugar cheio de paz e amor. De fato, Allah ressalta que esta relação - que Ele criou - como um grande sinal: “Entre os Seus sinais está o de haver-vos criado companheiras da vossa mesma espécie, para que com elas convivais; e colocou amor e piedade entre vós. Por certo que nisto há sinais para os sensatos.”(30:21). Allah estabelece leis estritas que protegem a santidade do lar, como as leis que dizem respeito ao adultério, fornicação e injúria. A razão para isso é que o lar é a verdadeira base de toda a sociedade. Dificilmente as pessoas que provêm de um lar conflitado e sem paz poderão se tornar membros positivos e pacíficos da sociedade. Posto que a orientação do Islam não só cobre o que se conhece tradicionalmente como “lei”, senão também o comportamento e a conduta ética; o Islam oferece uma orientação detalhada da maneira em que os membros da sociedade devem interagir entre si. Há uma grande ênfase no respeito mútuo, no que cada membro da sociedade é consciente de que é parte de uma unidade maior e que isso implica direitos e deveres. Este sentimento mútuo produz uma sociedade cheia de paz, na qual cada indivíduo cuida do bem-estar e das necessidades dos outros membros da sociedade. Portanto, quando se põe em prática o Islam, a pessoa encontra paz ao seu redor, tanto em si mesma, quanto na sociedade. Até mesmo a paz mundial só pode ser real através da justiça. Nos últimos anos, cada vez mais pessoas se dão conta disso e declaram que “não há paz sem justiça”. (A justiça geralmente é um lema utilizado em tempos de guerra, mas normalmente não é mais que isso, um lema.) Entretanto, não pode haver paz verdadeira ou justiça até que as pessoas consigam superar os interesses nacionalistas, étnicos, econômicos ou políticos. A verdadeira justiça só pode acontecer quando as pessoas se dedicam inteiramente a Allah, aplicando Sua orientação e eliminando seus egos e paixões em suas decisões. Na próxima vida, desde já afirmo, a paz eterna só poderá ser alcançada crendo em Allah e seguindo Sua orientação. Novamente, Allah deixa bem claro que esse é o destino o qual os seres humanos são convidados: “Deus convoca à morada da paz e encaminha à senda reta quem Lhe apraz.” (10:25). - Uma Última Consideração Não é exagero advertir que todos os objetivos do Islam estão fortemente interligados e isso é algo bastante lógico. Na verdade, todos surgem da base do monoteísmo verdadeiro. Quando uma pessoa se cerca pelos ensinamentos islâmicos, liberta-se da adoração a qualquer coisa ou objeto. Além disso, leva uma vida, neste mundo, de uma maneira que beneficia a sociedade e a civilização. Trabalha pela justiça e se assegura que nem ele, nem os outros provoquem algum tipo de dano. No fim encontra a verdadeira paz e pode transmiti-la aos demais. Entretanto, tudo isso deve começar com a verdadeira interiorização do monoteísmo puro, naquilo que a pessoa adora e se submete – Allah e a prática, com devoção, da religião de Allah em sua vida. Claramente, uma vez que a pessoa entende, aceita e aplica o verdadeiro conceito do monoteísmo islâmico em sua vida, alcança-se os outros aspectos como consequência desta meta principal. Por outro lado, sem um monoteísmo puro, não se pode alcançar os objetivos, inclusive a níveis superficiais. Por isso, é compreensível que, na essência, todo o Qur’an trate do tauhid, ou o monoteísmo puro; de fato, cada capítulo do Qur’an [trata sobre tauhid]. O Qur’an cita os nomes e atributos de Allah. Esse é o tauhid que se refere ao que deve ser conhecido e é reportado. O Qur’an convida a adorá-lo, sem associá-lo companheiros [nessa adoração] e abandonando todo ídolo que não seja Ele. Esse é o tauhid da intenção ou vontade. O Qur’an ordena, proíbe ou decreta a obediência para com Ele. São aspectos essenciais do tauhid e parte de sua totalidade. O Qur’an reporta como [Allah] honra àqueles que aderem ao tauhid, o que Ele faz por estes neste mundo e o que lhes é reservado na próxima vida. Essa é a recompensa por aderir ao tauhid. O Qur’an também reporta sobre os politeístas e de como são tratados neste mundo e que tipo de castigo receberão quando chegar o fim, esse é o castigo para aqueles que abandonam os aspectos do tauhid.” Abraço. Davi.
domingo, 13 de outubro de 2024
A DEIDADE
Teosofia. Livro Introdução a Teosofia. Por Charles W. Leadbeater (1854-1934). A DEIDADE. Quando declaramos a existência de Deus como o primeiro e o maior dos nossos princípios, torna-se necessário para nós definirmos o sentido no qual empregamos essa palavra desgastada e ainda assim poderosa. Nós tentamos redimi-la dos estreitos limites que são impostos pela ignorância dos homens não desenvolvidos, restaurando-a ao seu esplêndido conceito. Embora tão infinitamente aquém da realidade que lhe emprestam os fundadores das religiões. E nós distinguimos entre Deus com existência infinita, e a manifestação dessa suprema existência como um Deus revelado, evoluindo e guiando um universo. Somente a essa manifestação limitada deve o termo “Deus pessoal” ser aplicado. Em si mesmo, Deus está além dos limites da personalidade. Está em “tudo e através de tudo”. De fato, é tudo, e do infinito, do Absoluto, do Todo, podemos apenas dizer que “Ele é”. Para todos os propósitos e práticas, não precisamos ir além daquela sua manifestação maravilhosa e gloriosa. Que é um pouco mais compreensível do que o Absoluto, que está totalmente além da nossa compreensão. A grande força diretora ou Deidade de todo o nosso sistema solar a quem os filósofos têm chamado de Logos. Dele é verdadeiro tudo que já ouvimos afirmar de Deus, tudo que é bom, não as concepções blasfemas que lhe são as vezes imputadas, atribuindo-lhe vícios humanos. Mas tudo que já foi dito do amor, da sabedoria, do poder, da paciência, da compaixão, da onisciência, da onipresença. Tudo isso, e muito mais, é verdadeiro a respeito do Logos do nosso sistema. Verdadeiramente “nele vivemos, nos movemos e temos nosso ser”, Atos 17,28-29, não como uma expressão poética. Mas por mais estranho que possa parecer, como um fato científico definido. Assim, quando falamos da Deidade, nosso primeiro pensamento é naturalmente do Logos. Nós não temos uma vaga esperança de que Ele possa ser. Nem mesmo acreditamos como questão de fé que Ele seja. Nós simplesmente o sabemos, como conhecemos que o Sol brilha. Pois, para o investigador clarividente desenvolvido e treinado, essa poderosa existência é uma certeza definitiva. Não que qualquer simples desenvolvimento humano possa nos habilitar a vê-lo diretamente. Mas aquela inconfundível evidência de sua ação e de seu propósito nos envolve de todos os lados. À medida que estudamos a vida do mundo invisível, que é na realidade somente a parte mais elevada deste. Aqui encontramos a explicação de um dogma que é comum a maioria de todas as religiões, o dogma da Trindade. Por mais incompreensível que muitas das afirmações feitas sobre esse assunto em nossos credos possam parecer ao leitor. Tornam-se significativas e luminosas quando a verdade é revelada. Por exemplo, quando Ele aparece para nós em sua obra, o Logos Solar é indubitavelmente triplo. Três e ainda assim um, como as religiões nos têm dito há tanto tempo. Tanto da explanação desse aparente mistério, quanto o intelecto humano possa captar será encontrado nos livros que logo serão mencionados. Ele está dentro de nós assim como fora de nós. Em outras palavras, o homem em si mesmo é essencialmente divino. Essa é outra grande verdade que é uma certeza para o estudante do lado mais elevado da vida. Embora aqueles que estão cegos a tudo, exceto ao mundo menos elevado e mais exterior, possam ainda discutir a respeito. Da constituição da alma do homem e seus vários veículos falaremos sob a égide da segunda das verdades, basta, por enquanto, notar que a divindade inerente é um fato. Que nela reside a certeza do retorno último de todo ser humano no nível divino. O Esquema Divino. Talvez nenhum de nossos postulados apresente mais dificuldade à mente mediana que o primeiro corolário para essa primeira grande verdade. Olhando ao nosso redor, na vida do dia a dia, vemos tanto de tempestade e de estresse, de mágoa e de sofrimento, que o mal parece ter triunfado sobre o bem. É quase impossível supor que toda essa aparente confusão é, na realidade, parte de um progresso ordenado. Todavia, essa é a verdade, podendo ser vista como tal logo que escapemos da nuvem de poeira levantada peal contenda nesse mundo exterior. Olhemos para tudo isso a partir da posição vantajosa do conhecimento mais completo é da paz interior. Dessa forma, o real movimento da complexa maquinaria torna-se aparente. Então se vê que o que parecia ser a contracorrente do mal prevalecendo contra a corrente do progresso é meramente uma minúscula onde para a qual, pode-se desviar um pouco d’água. Ou um pequeno redemoinho na superfície, no qual parte da água parece momentaneamente estar retrocedendo. Mas o tempo todo o rio poderoso está fluindo firmemente em seu curso determinado, levando com ele os remoinhos superficiais. De modo semelhante, a grande corrente da evolução está se movendo uniformemente em seu curso, e o que nos parece uma terrível tempestade é o mero encrespar de sua superfície. Em verdade, como nos diz a nossa terceira grande verdade, a justiça absoluta é oferecida a todos. Assim, qualquer que seja a circunstância em que um homem se encontre, ele sabe que somente ele e nenhum outro a criou Mas também pode saber muito mais que isso. Ele pode ter a certeza de que, sob a ação da lei de evolução, as coisas são arranjadas de tal modo a propiciar-lhe a melhor oportunidade possível para o desenvolvimento. Em seu interior, daquelas qualidades de que mais necessita. As suas circunstâncias não são de modo algum necessariamente aquelas que ele teria escolhido para si mesmo. Porém são exatamente as que ele merece. Sujeitando apenas a essa consideração quanto às coisas que merece, que frequentemente impõem sérias limitações, são elas as que melhor se adaptam ao seu progresso. Elas podem trazer toda sorte de dificuldades, mas estas são oferecidas apenas para que ele possa aprender a superá-las e desenvolver dentro de si mesmo coragem, determinação, paciência, perseverança. Ou qualquer outra qualidade que possa não possuir. Os homens sempre falam como se as forças da natureza estivessem conspirando contra eles. Mas seria muito bom se pudessem compreender que, na realidade, tudo a respeito deles está cuidadosamente calculado para assisti-los no seu caminho ascendente. Já que existe um esquema divino, sendo dever do homem tentar compreendê-lo, é uma proposição que certamente não precisa de argumento. Mesmo que fosse apenas por motivos de interesse próprio, aqueles que têm de viver sob um certo conjunto de condições fariam bem em familiarizar-se com elas. Quando o objetivo do homem na vida é tornar-se altruísta. Faz-se ainda mais necessário para ele compreender, para poder ajudar mais efetivamente. Sem sombra de dúvida, faz parte desse plano de evolução que ele próprio deva cooperar diligentemente com o plano, logo que tenha desenvolvido inteligência suficiente para assimilá-lo e bons sentimentos suficientes para desejar ajudar. Todavia, de fato, esse esquema divino é maravilhoso e tão bel que, quando um homem o vê, anda mais lhe é possível senão lançar toda sua energia no esforço de tornar-se um trabalhador do esquema. Não importa quão humilde possa ser a parte que tenha de sustentar. Para informações mais completas sobre os assuntos deste capítulo, sugiro a leitura dos seguintes livros: Cristianismo Esotérico e A Sabedoria Antiga, ambos de Annie Besant (1847-1933). O Credo Cristão e a Gnose Cristã, de minha autoria. Muita luz é ainda lançada sobre esses conceitos a partir do ponto de vista grego em Orpheus, de G. R. S. Mead (1863-1933). Do ponto de vista gnóstico-cristão no seu Fragments of a Faith Forgottem. “Eu sei, à medida que minha vida envelhece. E que meus olhos adquirem uma visão mais clara. Que sob cada posição errada em algum lugar. Jaz a raiz da justiça. Que cada infortúnio tem o seu propósito. Pelo arrependimento do que não pode ser adivinhado. Que, tão certo quanto o Sol traz o amanhã. O que quer que seja, é melhor. Eu sei que cada ação pecaminosa. Tão certo quanto a noite traz a sombra. É em algum lugar, algum tempo, punida. Embora a hora possa muito demorar. Eu sei que a alma é auxiliada. Às vezes pelo desassossego do coração. E crescer significa muitas vezes sofrer. Mas o que quer que seja, é o melhor. Eu sei que não há erros. No grande plano eterno. E que todas as coisas se combinam. Para o bem final do homem. Eu sei que quando minha alma acelerar para adiante. Em sua grande e eterna ventura. Eu direi, enquanto olho de volta para a Terra. O que quer que seja é o melhor. Anon. Abraço. Davi
quinta-feira, 10 de outubro de 2024
OS MISTÉRIOS. Parte IV
Religião Afro-brasileira. Umbanda. Livro Código de Umbanda. Por Rubens Saraceni (1951-2015). OS MISTÉRIOS. Parte IV, Pessoas despreparadas, mas motivadas, ora pelo ego, ora pela vontade de ensinar, acabaram por bloquear um código aceitável que norteasse a nascente religião regida pelos mesmos Orixás. Cultuados pelos gregos, fenícios, egípcios, hindus, chineses, japoneses, indonésios etc. Que regem tanto o Candomblé como as religiões dos nossos irmãos da África. Se insistirmos no assunto “Mistério” é porque ele é importantíssimo para o entendimento da religiosidade. A Umbanda recorre em seu ritual prático a muitas divindades, umas opostas as outras quando estudamos os seus mistérios. Mas que se manifestam em um mesmo espaço dedicado as práticas religiosas. Se estudarmos o mistério “Ogum do Fogo”, descobrimos que o ar e o fogo são seus elementos básicos. No elemento ar, ele é ordenador da Lei, e no elemento fogo é aplicador da justiça. Contudo, se estudamos o mistério “Oxum das Cachoeiras”, descobrimos que o mineral, a água e o ar são seus elementos básicos. No elemento mineral, ela é energizadora, no elemento água, é geradora, no elemento ar é purificadora. Então, sabendo de tudo isso, perguntamo-nos por que as encantadas da Orixá Oxum das Cachoeiras formam, naturalmente, pares vibratórios com os encantados do Orixá Ogum do Fogo. Já que o fogo é diluidor da energia mineral, é antagônico a energia aquática e consome a energia ar, da qual se alimenta. O estudo dos mistérios nos mostra que todo Ogum é ar na sua essência original, e que o Ogum do Fogo usa dessa energia. Todavia a manipula conforme suas necessidades, já que tanto o alimenta quanto o enfraquece, sempre de acordo com as necessidades de seu mistério ordenador ou da Lei. Mostra-nos, que, justamente por ele não ser fogo, porém por controlá-lo naturalmente, então forma um par energético ideal com Oxum das Cachoeiras. Irradiando seu elemento básico (mineral) muito mais facilmente quando é “aquecido” pelo fogo. Irradiado na forma de calor por Ogum, e não como chamas que só Xangó consegue irradiar. O fogo do Ogum do Fogo chega a Oxum das Cachoeiras como o calor que ele irradia através de seu elemento básico ar. Este calor não altera o composto energético das irradiações da Oxum das Cachoeiras, porque aquece seu mineral, sua água e seu ar, dando-lhe maior mobilidade ou aumentando seu padrão vibratório. Sem alterar a energia composta que flui junto com suas irradiações. Adquirindo maior mobilidade, ela aumenta seu campo de ação e, aumentando sua vibração, ela realiza mais rapidamente o que seus fiéis lhe solicitam, energizando-os com muito mais intensidade. Já um Xangô tem como elemento básico o fogo, irradiando sua energia na forma de chamas, que chegam ao elemento básico mineral de Oxum por meio do elemento ar. Formando o composto energético irradiado por ela, mas por ele consumido, porque precisa dele para aumentar sua temperatura e tornar “líquido” o mineral. Que maleável, fluirá através do elemento água, junto com o mineral e o ar, formando a energia composta irradiada pelo seu mistério. O Ogum do Fogo dá mobilidade ao mineral de Oxum das Cachoeiras, aquecendo seu ar e sua água. Já Xangó do Fogo precisa consumir o ar dela para diluir seu mineral e aquecer sua água. Intensificando suas vibrações e acelerando suas irradiações energéticas. É dessa maneira que as lendas devem ser interpretadas, e não como querem alguns, que nada entenderam e dão as “ligações” elementais a interpretação de procedimentos humanos. Parece complicado, não? Pois saibam que é mesmo. E por isso a doutrina de Umbanda repele as codificações espúrias feitas ao sabor das vaidades dos médiuns dotados de pouco ou nenhum conhecimento a respeito da natureza elemental básica dos Orixás. Ou acerca dos seus mistérios e das energias puras ou compostas que eles irradiam. Divindades naturais, Orixás e mistérios de Deus são sinônimos. Não será fundamentado nas lendas e em um intelectualismo sofista que o Ritual de Umbanda Sagrada concretizará, no plano material, os conhecimentos fundamentais que sua doutrina precisa transmitir aos médiuns. Manipuladores dos mistérios dos Orixás, invocados nos trabalhos práticos por intermédio dos nomes simbólicos adotados pelo Ritual de Umbanda Sagrada. Quando um médium invoca um Orixá – Xangó, por exemplo – tanto pode chamar pelo Senhor da Justiça Divina, o Orixá maior, como pode invocar o regente de um dos mistérios da Justiça Divina, Xangó das Pedreiras, por exemplo. Logo, a hierarquia existe, é ativa e ocupa todos os níveis vibratórios das irradiações da Justiça Divina. Esse conhecimento não é visível por intermédio do estudo das lendas ou dos mitos, mas sim por meio da correta interpretação do mistério de Deus denominado “Justiça Divina”. Mas a doutrina de Umbanda estudou esse mistério e encontrou em cada um dos Orixás Xangós os manifestadores dos mistérios derivados do mistério “Justiça Divina”. Em que cada um atua como seu irradiador nas linhas regidas pelos outros senhores Orixás dos elementos. No elemento fogo é o Xangó do Fogo que atua. No elemento ar é o Xangó das Águas que atua. No elemento água é o Xangó das Águas que atua. No elemento terra é o Xangó da terra que atua. No elemento vegetal é o Xangó Vegetal que atua. No elemento mineral é o Xangó das Pedras que atua. No elemento cristalino é o Xangó do Tempo que atua. Cada um desses Xangós intermediários atua na irradiação desses elementos, que possuem vibrações próprias, pois são originados desses elementos, que possuem vibrações próprias, uma vez que são originados de essências diferentes. Eles também recebem nomes simbólicos pelos quais são invocados durante os trabalhos práticos realizados pelos médiuns. Cada um deles possui suas hierarquias intermediadoras que atuam na horizontal, ou nível terra. Onde nós nos localizamos juntamente com todos os espíritos. As vezes, os médiuns encontram dificuldades para interpretar corretamente os nomes simbólicos dos Orixás, já que lhes falta este conhecimento, que não está a disposição em livros que abordam os Orixás. Por isso, recomendamos estudarem com atenção os nomes simbólicos das linhas de caboclos e de exus. Eles são as chaves para os mistérios ocultados pelos nomes simbólicos dos Orixás. 1. Essência cristalina: irradiação dos mistérios da Fé. 2. Essência mineral: irradiação dos mistérios da Amor. 3. Essência vegetal: irradiação dos mistérios do Conhecimento. 4. Essência ígnea: irradiação dos mistérios da Justiça. 5. Essência eólica: irradiação dos mistérios da Lei. 6. Essência telúrica: irradiação dos mistérios da Evolução. 7. Essência aquática: irradiação dos mistérios da Geração. O Xangó ancestral é em si mesmo a irradiação da Justiça Divina, emitindo-a para as outras irradiações divinas por intermédio de seus Orixás Xangós intermediários. O Xangó do Fogo é o irradiador para a própria linha da justiça ou faixa vibratória por onde flui a irradiação pura ou elemental do fogo da Justiça Divina, purificador dos excessos. O Xangó do Tempo é o irradiador da Justiça Divina para a linha cristalina ou vibratória da Fé, regida por Oxalá e Oyá-Tempo. O Xangô das Pedras é o irradiador da Justiça Divina para a linha mineral ou vibratória do Amor e da Concepção, regida por Oxum e Oxumaré. O Xangô Vegetal é o irradiador da Justiça Divina para a linha vegetal ou vibratória do Conhecimento, regida por Oxóssi-Obá. O Xangô dos Raios é o irradiador da Justiça Divina para a linha do ar ou vibratória da Lei, regida por Ogum e Egunitá. O Xangô da Terra é o irradiador da Justiça Divina para a linha da terra ou vibratória da Evolução, regida por Obaluaiê e Nanã Buruquê. O Xangô da Água é o irradiador da Justiça Divina para a linha da água ou vibratória da Geração, regida por Iemanjá e Omolu. Esses sete Xangôs são divindades ou Orixás intermediários do mistério “Justiça Divina” regido pelo ancestral Orixá Xangô, um mistério de Deus em si mesmo. Eles irradiam os mistérios da Justiça Divina para as linhas de forças regidas por outros Orixás e nelas, com suas irradiações já incorporados, fluem naturalmente distribuindo a Justiça Divina. Isso significa que eles não aplicam “pessoalmente” a Justiça Divina, contudo sim que a irradiam e a fazem fluir junto com as vibrações dos Orixás Regentes das linhas de forças que irradiam outros mistérios de Deus. Um Orixá não entra pessoalmente na faixa vibratória dos outros, pois não é preciso. Ele é um mistério em si mesmo e irradia continuamente um padrão específico que interpreta todas as faixas, ainda que sejam de diferentes graus vibratórios. As faixas vibratórias localizam-se na horizontal e as irradiações divinas ou dos Orixás acontecem na vertical. Aqui só mostramos um pouco do conhecimento ainda não aberto a Umbanda praticada nas tendas, porém todo ele já codificado como noção fundamental do Ritual de Umbanda Sagrada e ensinado e ensinado nas escolas iniciáticas existentes no astral. O tempo possibilitará que esse conhecimento seja trazido para o plano material e assimilado pelos estudiosos dos mistérios. Automaticamente, as construções falaciosas surgidas de tempo em tempo cederão lugar a uma doutrina uniforme também no plano material, no entanto, ainda estamos no experimentalismo religioso. E se não adquirirem aqui, no plano material, certamente adquirirão no plano espiritual. Tudo é uma questão de tempo, e o primeiro passo foi dado quando se religaram as hierarquias de Umbanda. Abraço. Davi.