Judaísmo. Por Rabino Isaac
Luria (1532-1572). Livro Portal das Reencarnações. INTRODUÇÃO I – PARTE III.
Com isso em mente, também é possível entender outro famoso conceito dos nossos
Sábios: o Rúach ou a Neshamá dos justos podem descer e serem gestados por uma
pessoa, de acordo com o segredo do que se chama Ibur, gravidez espiritual ou
gestação. E isso é feito para ajudar a pessoa no seu serviço ao Santíssimo.
Isso está conforme o que é escrito no Midrash Neelám, na versão manuscrita, de
que “Quando a pessoa vem se purificar, lhe ajudam”. O rabi Nathan disse: Isso
que dizer que as almas dos justos vêm e ajudam a pessoa. O mesmo tema aparece
na Introdução ao Zohar, sobre a Porção Semanal de Bereshit, quando o Rav
Hamnuna Saba aparece para o Rabi Elazar e o Rabi Aba na forma de um condutor de
jumentos. Mas, que não haja dúvidas: o Ruach e a Neshama dos justos estão
“amarrados” e guardados na Árvore da Vida, cada um na sua raiz respectiva,
juntamente com o Santíssimo, o Elohim deles, e eles não descem de lá de modo
algum. No entanto, os primeiros Ruchot, plural de Ruach destes Sábios, que
ficaram abaixo em todos os níveis e aspectos de Ietsirá e que, portanto, não
subiram, como dissemos anteriormente. São os que descem e entram por Ibur na
pessoa, para lhe ajudar. O nível mais alto de Ruach que uma pessoa adquiriu por
conta dos seus atos, que é o seu Ruach principal, fica ligado e amarado para
sempre na Árvore da Vida, sem se mover dali. Isso Também é válido para a
Neshamá, a Chaiá e a Iechidá. Como entendemos a partir do exposto, a Nefesh tem
de se elevar de um nível para o outro em Assiá, para não ficar abaixo, devido
ao perigo das Klipot e a possibilidade de pecar novamente. Este não é o caso
com os níveis de Ruach e os acima dele. Eles permanecem no nível relacionado
com a sua raiz, uma vez que não há perigo das Klipot no mundo de Ietsirá para
cima. Assim, Ruach ou Neshama original do Tsadic que está ligado a sua raiz,
seja no de Assia ou Ietsira, e que foram adquiridos através do mérito da sua
Nefesh em Assiá, não descem para passar pelo Ibur. Aqueles que de fato descem
são apenas os outros Ruchot ou Neshamot que não necessariamente pertencem a sua
raiz, mas que foram utilizados para ajudar na elevação da alma. Existe um
segundo motivo para Assiá ser diferente dos outros mundo. Como é sabido, todos
os mundos possuem dez Sefirot. Mas Assia, em sua totalidade, tem apenas uma
sefirá, que é Malchut. Sendo assim, a Nefesh que é dali só pode subir até Keter
de Assiá, pois tudo está em apenas uma Sefirá. No entanto, Ietsirá corresponde
a seis Sefirot: Chéssed Misericordia, Guevurá julgamento, Tiferet Beleza, Netsach
Vitória, Hod Glória e Iessód Fundação. Cada uma delas sendo um nível separado.
Portanto, se a raiz de alguém é de Machut de Ietsira e esta raiz é corrigida,
ela não pode subir e se tornar parte de Iessode de Ietsirá. Então esta Nefesh
deve permanecer abaixo e a pessoa adquirir um novo Ruach de Iessod de Ietsirá
se quiser subir mais através das suas boas ações. Isso é válido para o resto
das Seis Extremidades de Ietsirá. Saiba que, como foi explicado por nós, em
todos os mundos existem cinco Partsufim Arich Anpin, Aba, Ima Zachar, Zeir
Anpin e Nucvá. Correspondentes a eles, existem os cinco níveis da alma de uma
pessoa, que são – de baixo para cima – Nefesh, Ruach, Neshama, Chaia e Iechida.
A Nefesh é de Nucvá de Zeir Anpin, enquanto o Ruach é do próprio Zeir Anpin. A
Neshama é de Ima, e Chaiá é de Aba, que é chamado de Chochmá. Pois esta é a
fonte da vida, como o significado secreto do versículo: “O valor da Sabedoria,
Chochmá, preserva a vida de quem a possui”. Iechida é de Arich Anpin, chamado
de Keter, porque ele é um e único. Isolado do resto das Sefirot, pois ele não
tem sua contraparte feminina, como se sabe do versículo: “Vede, agora, que Eu
Sou, Eu mesmo, e que não há outro Elohim
Comigo, e conforme elucidado no Zohar, na Porção Semanal de Bereshit. O termo
“Eu”, que representa certo nível de consciência, não é fixo, ele tem vários
níveis. Quando ele aparece nos textos bíblicos e outras Escrituras Sagradas, o
nível de consciência do Eu muda de acordo com o que ele representa segundo o
que corresponde aos níveis específicos da alma. Há casos em que o “Eu”
representa o nível da consciência da Nefesh da Sefirá de Malchut, e em outros,
o da consciência do Ruach de Ietsirá. Uma característica muito particular que
distingue entre os níveis divinos e mundanos da existência é o aspecto da
dualidade e dos opostos, principalmente o do masculino e do feminino. Quanto
mais mundano, maior é a dualidade, e vice-versa. O nível da consciência humana,
mais próximo do divino, aparece no nível de Arich Anpin, onde não há dualidade
– não há Masculino ou Feminino, apenas um ser único onde os opostos estão
unidos. Neste caso, o “Eu” alude ao nível de consciência da luz de Iechidá –
Unidade. Saiba que se uma pessoa merece receber sua Nefesh, seu Ruach e sua
Neshamá e depois as macula através de um pecado, ela precisará voltar e
reencarnar pra retificar o estrago feito. Quando ela volta em uma encarnação, a
Nefesh entra na pessoa, e mesmo que ela já tenha corrigido sua Nefesh, o seu
Ruach não vem e não se une a ela, porque o Ruach ainda não foi corrigido e
continua maculado. Como ele poderia ficar sobre uma Nefesh que está sendo
corrigida? Portanto, este Ruach vai ser reencarnado em outra pessoa, se unindo
a Nefesh de um convertido. O mesmo se dará com a Neshama. E a Nefesh que ficou
corrigida totalmente receberá um Ruach corrigido, de um justo que se assimilava
a pessoa em algumas boas ações específicas que fazia. Na verdade, esse Ruach
recebido substituirá o próprio Ruach da pessoa. O assunto do prosélito ou do
convertido, em hebraico guer, é realmente um muito profundo. Nada acontece sem
motivo e orientação divina. Portanto, a Nefesh do convertido tem que ter alguma
ligação com o Ruach da outra pessoa que se junta a ela. Caso contrário, não
haveria nenhuma afinidade entre eles em relação ao seu Ticun para atrai-los a
ponto de estarem juntos. A conversão, do aspecto da reencarnação, está
relacionada com a essência de uma pessoa e não pode ser feito de modo
superficial, por motivos ou interesses externos. É sabido que uma pessoa que se
converte para a Nação Hebreia já teve uma Nefesh hebraica, mas essa Nefesh
estava “perdida” e agora está voltando a suas origens. A razão para a Nefesh
estar perdida tem a ver com um comportamento pecaminoso da pessoa em vidas
passadas, que podem ter feito com que uma pequena parte de sua consciência de
alma, ou seja, a Nefesh seja separada da maior parte da Nefesh e vague entre
outras nações. Ao todo há 70 nações. A conversão de uma nação para outra não se
aplica aqui. Cada nação tem o seu próprio Ticun coletivo. Os indivíduos de cada
uma das nações têm sua própria consciência de alma específica que pertence ao
específico. Ticun coletivo da nação à qual aquele indivíduo pertence. Portanto,
a conversão neste caso realmente nãos serve para nada e não tem significado
espiritual. O termo hebraico Gói não se refere às 70 nações. Assim, no caso da
conversão hebraica, o Gói é uma pessoa cuja Nefesh não está ligada a qualquer
uma dessas nações. É por isso que um prosélito em “potencial”, ou seja, um Gói
se sentirá deslocado e como se não pertencesse à nação na qual nasceu. No caso
de conversão de volta para a nação hebraica, o Gói se torna um Guer, que merece
o nível do Ruach graças à sua conversão. O processo de conversão adequad
acelera a entrada do Ruach ou de Neshamá no mundo, já que a Nefesh do guer está
isenta de ter que ir se aperfeiçoando, passando pelo longo processo de
realização de Mitsvot. De qualquer modo, a pessoa convertida que ganhou o Ruach
tem que cumprir os preceitos, sendo esta uma obrigação do Ruach para se
aperfeiçoar. Outra vantagem é que como o Ruach imperfeito não pode se unir a
Nefesh aperfeiçoada, a pessoa tem que morrer imediatamente e reencarnar outra
vez a fim de permitir que o Ruach encarne. No caso da conversão, essa pessoa não
precisa morrer e pode continuar a viver, já que seu Ruach encarnou. E isso pode
explicar por que a Torá adverte em Êxodo 23,9: “E não oprimiras ao peregrino,
ou estrangeiro – guer, referindo-se ao convertido ou prosélito. Pois vós
conhecestes a alma do peregrino, guer. Porque fostes peregrino, Guerim, na
terra do Egito”. É obvio, que o guer serve como uma salvação para o Ruach. De
modo similar, se a pessoa corrigir o seu Ruach completamente, ela vai receber a
Neshamá de um justo, como dito acima. E essa Neshama vai atuar como sua própria
Neshama. Esse é o segredo do que os nossos Sábios, de abençoada memória,
disseram: “Os justos são maiores na sua morte do que na sua vida”. Assim,
depois que essa pessoa parte do mundo, sua Nefesh se vai juntamente com esse
Ruach do justo e através ele a Nefesh receberá a parte que lhe é de direito.
Quando o seu próprio Ruach, que se uniu com a Nefesh de outra pessoa, no corpo
de um convertido, ficar totalmente corrigido. A Nefesh da pessoa dirá: “Eu me
vou e retornarei ao meu primeiro marido”, referindo-se ao primeiro corpo, pois
ele ficou corrigido. Podemos questionar a justiça e equidade deste conceito,
mas a Torá, na Porção de Mishpatim – Êxodo 21,3 declara: “Se entrar sozinho,
sozinho sairá, se ele tinha mulher, sua mulher sairá com ele”. A Torá está
descrevendo as leis da escravidão e o Zohar nos ensina que todas essas leis, na
verdade, se aplicam à reencarnação. Neste caso, o escravo hebreu é o Ruach.
Portanto, se o Ruach veio a este mundo por conta própria ou em cima de um
Nefesh de outra raiz de alma. Então ele deve deixar este mundo sozinho. Mas se
ele teve uma mulher, referindo-se a Nefesh do prosélito, então ele deve partir
e deixar este mundo com ela. Deste modo, a Nefesh do prosélito é libertada e se
une ao seu marido, o Ruach, e continua a sua evolução espiritual. Assim, quando
o Ruach é aperfeiçoado e está pronto para ser libertado, e a Nefesh daquela
outra pessoa deseja se unir a ele, o Ruach não parte sem a sua Nefesh do
prosélito, e eles se tornam como vizinhos no Mundo vindouro. Isso funciona do
mesmo modo para a Neshamá com respeito ao Ruach depois que a pessoa morre,
quando eles voltam juntos em uma encarnação para se corrigirem juntos. Abraço.
Davi.
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