Religião Afro-brasileira.
Umbanda. Livro Código de Umbanda. Por Rubens Saraceni (1951-2015). DESPERTANDO UMA CONSCIÊNCIA
RELIGIOSA. Capítulo I. A crendice popular, alimentada pela ignorância de muitos
e pela perfídia de outros, tem-se esmerado em relacionar os Orixás, sobretudo os
Orixás cósmicos que atuam na Umbanda, com histórias de medo e de terror
desenroladas em cenários de desolação e dor. Por outro lado, as próprias tendas
(que têm sido, para muitos, a única fonte de referências) contribuem para
alimentar esse clima entre os umbandistas. São incongruências como estas que às
vezes ofuscam os nossos amados Orixás. E, ainda que saibamos eu um certo
desconhecimento de causa levou muitos a difundirem essas versões sombrias, no
entanto, não deixamos de combatê-las, semeando um conhecimento verdadeiro que,
se colocado em prática pelos dirigentes umbandistas, só engrandecerá a própria
ritualística, a religiosidade e a caridade praticada por milhões de médiuns de
Umbanda. Eu costumo dizer que nos cultos africanos se cultuam os Orixás e na
Umbanda se “trabalha” para os Orixás. E acho que não estou longe da verdade,
pois um médium de Umbanda analisa sua religiosidade pelo trabalho que realiza
enquanto incorporado pelos seus guias. Espíritos que atuam sob a irradiação
direta dos Orixás e manifestadores humanos de suas qualidades divinas. Assim
sendo, um médium não se conforma só em frequentar seu centro: ele quer
trabalhar incorporado pelo seu guia. E se isso não acontecer em sua vida
religiosa, logo se desencantará e se afastará, muito triste, já que irá
julgar-se inútil. Porém, ele não atenta para um detalhe muito importante na
religião de Umbanda: desde que se integrou à corrente espiritual de um centro
de umbanda. Ele se tornou um beneficiário direto dos Orixás que a sustentam e
passou a receber suas irradiações diretas, que o ampararão e o direcionarão
dali em diante. E isso significa que, mesmo que sua mediunidade de incorporação
demore para aflorar (ou nunca aconteça), no entanto, sua fé o religa com os
Orixás e o torna importante para a corrente, que confiará a ele algum outro
tipo de trabalho dentro das atividades do centro. Afinal, se todos
incorporarem, quem auxiliará os trabalhos dos guias, quem orientará
assistência, quem cantara os pontos dos Orixás, quem tocará os atabaques etc.
Uma corrente não é formada só de médiuns de incorporação. E todos os membros de
uma corrente estão sob a irradiação direta dos Orixás. O fato de estar sob a
irradiação direta é fundamental para o médium umbandista poder cultuar todos os
Orixás dentro de seu templo, receber o amparo de todos eles e ativar seus
poderes e mistérios em benefício de sua corrente. Logo, um médium de Umbanda,
se esclarecido e ensinado, pode, e deve, estabelecer uma ligação mental direta
com todos os Orixás e recorrer aquele que sentir que resolverá mais facilmente
algum problema que se lhe apresente. Um médium não incorporador não pode e não
deve assumir a responsabilidade de solucionar uma demanda. Mas pode, e deve,
encaminhar alguém perturbado por uma demanda a um médium capacitado, ou mesmo
recomendar-lhe que vá até um ponto de forças que forma um campo magnético,
energético e vibratório com o Orixás que o reage. E nele deverá solicitar o
auxílio e o amparo para superar as dificuldades, perturbações e obsessões
espirituais que o estão desequilibrando advindas com a demanda. Por isso, o
conhecimento a respeito dos Orixás é importante e fundamental ao umbandista,
seja ele um médium de incorporação ou não. Médium significa “um meio”. E todos
podem ser mediadores entre os dois planos da vida, desde que tenham sido bem
instruídos e “apresentados” aos sagrados Orixás. Na instrução está a absorção
de conhecimentos, seus campos de atuação, suas qualidades, seus atributos e
suas atribuições. E isso não se consegue de uma hora para outra. É preciso
estudar e munir-se de muito bom senso, senão nunca se será um bom “médium”,
mesmo sendo incorporador. Já que todas as suas ações individuais ficarão
sujeitas ao guia, o qual terá de assumir pessoalmente todas as etapas da ajuda
a alguém necessitado do socorro espiritual. Mas, como um médium bem instruído,
algumas etapas de uma ação ou trabalho espiritual são resolvidas sem precisar
da incorporação do seu guia espiritual, que deixa ao médium a realização delas.
Já a apresentação aos Orixás é fundamental para quem deseja ser médium
beneficiário dos poderes e mistérios dos Orixás, pois eles só reconhecem alguém
como apto a encaminhar-lhes pessoas com problemas espirituais ou dificuldades
materiais. Se este alguém lhes foi apresentado, e corretamente, já que, quando
se procede de forma correta, estabelece-se uma ligação mental direta entre o
Orixás e o médium que se lhe está sendo apresentado. E que irá encaminhar-lhe
pedido de ajuda, socorro espiritual e amparo material a várias pessoas. Essas
apresentações têm sido realizadas de forma inconsciente pelos médiuns quando
seus guias ordenam que vão até uma cachoeira, mar, pedreira, cemitério etc. E
ali façam uma oferenda ao Orixá Regente daquele ponto de forças naturais.
Nesses casos (a maioria), o apresentante consciente é o guia do médium, que já
está ligado ao Orixá, e o médium é apresentado ou iniciado de uma forma
consciente. Pois dali em diante existirá uma ligação ente o médium e o Orixá
Regente daquele campo magístico, ao qual poderá recorrer sempre que precisar.
Mas a melhor apresentação é aquela que o pai ou mãe espiritual realiza para
seus filhos espirituais. Esse os conscientiza das ligações que se estabelecerão
e facilitarão, e muito, os trabalhos que o médium assumirá dali em diante sob a
orientação de seu guia chefe, que é o realizador deles e responsável pelas
ações de seu médium. O lado prático da Umbanda já está bem definido e dispensa
maiores comentários, que a espiritualidade tem suprido a carência de teoria ou
conhecimentos fundamentais dos médiuns de Umbanda. Logo, esses comentários
visam a suprir esta lacuna dentro do Ritual de Umbanda e a fornecer aos médiuns
todo um alicerce teórico que tanto facilitará o entendimento de sua religião
como o conhecimento verdadeiro a respeito dos Orixás. E facilitará seus
trabalhos práticos pois se, sem a teoria, já realizam um trabalho inestimável e
nome dos Orixás. Então com a teoria à mão mostrarão aos frequentadores de seus
templos o quanto é divino o universo religioso habitado e regido pelos sagrados
Orixás. Saibam todos que os Orixás não regem só os que “rasparam no Santo” ou
são médiuns. Isso seria um contrassenso em se tratando de divindades, o que bem
sabemos que alguém, para ser “cristão” e ser beneficiário do amparo divino de
Jesus Cristo, nosso amado pai, não precisa tornar-se padre. Se assim o fosse, o
cristianismo logo seria uma religião só de “pais”, mas sem filhos. Estéril,
religiosamente falando. Portanto, o contrassenso é eloquente no culto dos
Orixás. Falta desenvolverem a teoria que ensine aos pais e mães sacerdotes essa
consciência religiosa. Isso estimularia os frequentadores de seus templos para
que eles também desenvolvessem em seus íntimos a religiosidade que existe na
Umbanda. A qual encontra seus fundamentos nas suas divindades naturais: os
nossos amados Orixás, os senhores do alto do Altíssimo Olorum. Nós entendemos
que falta uma genuína “teologia de Umbanda” para que se ensine a teoria aos
frequentadores das tendas e os convertam à religião dos Orixás. A fim de que
todos assumam uma consciência religiosa que dará aos fiéis de Umbanda os
recursos teológicos para que deixem de ser tão dependentes dos guias
espirituais, dos médiuns e dos trabalhos práticos. Vivenciem suas
religiosidades como uma ligação contínua com os sagrados Orixás, que são, todos
eles, manifestadores de Olorum, O Senhor Nosso Criador. A Umbanda como um todo,
é uma via rápida de evolução e coloca seus fiéis em contato direto com o mundo
dos espíritos e com o universo dos Orixás – hierarquias divinas aceleradoras e
sustentadoras das evoluções. Mas quem é o fiel de Umbanda? Será que é correto
restringi-la apenas aos médiuns praticantes, ou devemos estender esses termos
aos frequentadores das tendas? É claro que devemos estender aos frequentadores
e desenvolver junto a eles uma consciência religiosa de Umbanda.
Franqueando-lhes todo um conhecimento teológico que os coloque em comunhão
direta com os sagrados Orixás. Com isso, criaremos, no plano material, uma
egrégora religiosa poderosíssima que irradiará sua luz sobre a casa e a vida de
todo fiel umbandista. Que manifestará em sua jornada carnal enquanto ele durar.
Também se estenderá a espiritual, que se iniciará após o desencarne, então, sua
consciência religiosa o direcionará, quando no mundo espiritual, às faixas vibratórias
celestiais reservadas a religião de Umbanda. Sim, porque toda religião que
surge na face da Terra atende a uma vontade do Divino Criador, que reserva no
plano espiritual faixas específicas que acolherão seus fiéis após o desencarne,
pois a religiosidade de um ser não deve sofrer descontinuidade. E, como os
fiéis de Umbanda assumindo conscientemente essa afinidade que têm com os
Orixás. Isto lhes facilitará no pós-morte todo um universo afim com a
religiosidade desenvolvida no universo religioso habitado por Orixás, caboclos,
pretos-velhos, crianças e exus. Logo, já é tempo de desenvolvermos uma teologia
umbandista de fácil assimilação pelos médiuns e de fácil transmissão aos
frequentadores das tendas de Umbanda. Temos de ensinar os Orixás de uma forma
simples e estimular aos fiéis de Umbanda a cultuá-los em seus lares. Contudo
mentalmente e com orações e cantos de fundo religioso em cerimônias fechadas
dedicadas apenas ao fortalecimento da fé no núcleo familiar. Só assim, com a
disseminação contínua do culto aos Orixás, esta egrégora religiosa sairá dos
templos de Umbanda, que é onde ela se manifesta atualmente. Espalhando-se por
todos os lares umbandistas, já em sintonia religiosa com as tendas que
frequentam semanalmente. Fundamentados nessa necessidade de preencher, e logo,
esta lacuna na religião umbandista, reunimos nestes comentários toda uma
teologia de Umbanda que fornecerá uma teoria afim com os trabalhos práticos já
realizados nas tendas de Umbanda. Tenham uma boa leitura e absorvam com amor e
fé os conhecimentos básicos e fundamentais à religiosidade regida pelos nossos
Orixás. Abraço. Davi
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