Judaísmo. Texto de Avraham Cohen, rabino da
Sinagoga Beit Yaacov - São Paulo - Brasil. O DIA DO ANIVERSÁRIO. O nascimento
de uma criança, apesar de ser um acontecimento maravilhoso, é visto como
ocorrência normal, parte do ciclo da vida. Estamos acostumados ao fato de, dia
após dia, novos bebês virem ao mundo. O homem foi criado à imagem de D'us; isto
significa que ele tem a faculdade de emular seu Criador. Sobretudo, na
capacidade de criar vida, gerando filhos. Para trazer uma criança ao mundo não
é preciso ser um grande sábio, nem cursar universidade; tampouco requer muita
preparação ou grandes investimentos. Mesmo os animais conseguem se reproduzir
sem aprendizagem, seguindo apenas seus instintos. Mas, para o homem, o fato de
procriar é muito mais do que uma simples questão biológica de reprodução das
espécies; é algo muito mais sério. Quando o embrião é fecundado, os pais atraem
das Alturas uma alma pura - uma Centelha Divina - que irá insuflar seu espírito
e animar o corpo daquele ser cuja concepção foi iniciada. A definição de como
será o futuro dessa criança irá depender do grau de santidade que os pais
investirão na sua concepção. Por isso, é de extrema importância a
conscientização dos pais na hora da procriação. Na maioria das vezes, a criança
trazida ao mundo foi muito desejada. Porém, quando infelizmente este não é o
caso, seu nascimento não causa a alegria e a felicidade que se deve
experimentar em tal ocasião. De qualquer modo, a pequena criatura vem ao mundo
e se encontra diante de nós. Chora e exige toda a nossa atenção, reclamando com
ênfase desesperada os seus direitos e os cuidados que lhe são devidos. Assim é
a vida! Paremos um pouco para pensar. É verdade que, no decorrer dos séculos,
centenas de milhões de pessoas nasceram e morreram, este é o nosso mundo e
assim funciona a nossa existência terrena. Mas será que é tudo tão simples
quanto parece? Por favor, pare e medite antes de continuar sua leitura! Tendo,
agora, refletido sobre o surgimento da vida, concentremo-nos no dia do
nascimento. Ao vir ao mundo a criança é pequena, frágil, indefesa. Uma criatura
inocente, com órgãos minúsculos, mas que funcionam em perfeita harmonia.
Realmente fantástico, surpreendente e, ao mesmo tempo, encantador. Eu, também,
já fui este ser pequenino, assim como o foram cada um de vocês, leitores, e
toda a humanidade, também. O mais importante, porém, é que cada um de nós é
único e muito especial. Sim, cada um de nós é insubstituível; eu, você, todos
nós - porque cada alma é única e cada uma tem sua missão singular. O que você
realiza neste mundo, apenas você - e mais ninguém - poderá realizar. Homem
algum poderá cumprir o papel que lhe foi determinado e é seu. Imagino, caro
leitor, que você esteja duvidando destas afirmações. É bem verdade, o mundo
continua existindo e funcionando com ou sem determinados indivíduos. As
empresas vivem trocando de funcionários, de diretores, e nem por isso
interrompem suas atividades. Sempre há alguém para substituir a outrem. É por
isso mesmo que você chegou à conclusão de que, de fato, todos somos
dispensáveis. Seu raciocínio também está certo, mas apenas no plano coletivo e
social. Pois, no plano individual e ainda mais no espiritual tudo é muito
diferente. O ser humano é exclusivo. Cada pessoa nasce sob a influência de um
signo do zodíaco e tem inclinações para atuar de acordo com seu próprio Mazal-
sua sorte, seu destino. Cada um de nós tem um destino completamente diferente e
uma missão única e peculiar na vida. Cada um de nós foi presenteado com uma
energia excepcional que nos cabe ampliar e acionar. Nossos sábios nos ensinam
que a Torá nos foi entregue para sabermos como canalizar estas forças de
maneira positiva. Assim, poderemos tirar o máximo proveito delas para o
cumprimento de nossa missão na Terra. Usando a força da Torá, temos capacidade
de modificar o nosso destino e de transformar e melhorar os Decretos
Celestiais. A cada ano, no dia do aniversário judaico de um indivíduo, o seu
Mazal atinge o auge, favorecendo a pessoa com as benesses que contém. Toda a
energia e a vitalidade que lhe foram concedidas no dia em que nasceu se repetem
em seu aniversário, ano após ano, com intensidade maior e força redobrada. Isto
é muito semelhante com o conceito de Rosh Hashaná, quando começamos o ano novo
com intensas orações e com o toque de Shofar. Em outras palavras, o dia do
aniversário nada mais é do que o Rosh Hashaná individual de cada ser humano.
Consta no livro Tanya, de autoria de um dos grandes mestres chassídicos, que
todos os anos, em Rosh Hashaná, existe uma nova vitalidade que D'us manda ao
mundo, totalmente diferente da enviada no ano findo. O êxito em recebermos esta
energia depende do fervor e da seriedade das orações do povo de Israel nos dias
de Rosh Hashaná e de sua maior aproximação ao Todo Poderoso. Nenhum ano é igual
ao outro, assim como não há um ser idêntico a outro. Certa vez, um grande sábio
disse a seus discípulos: "Vou lhes mostrar algo totalmente novo, que nunca
esteve no mundo e jamais voltará a existir. Assim, mostrando uma maçã, disse:
'Esta maçã nunca esteve no mundo e, após ser consumida, nunca mais voltará a
existir' ". Se isto é verdade para qualquer criatura, mais válido ainda o
é em relação ao homem. Não só cada ser humano é distinto do outro, mas também
para cada indivíduo cada um dos anos é diferente. Esta diferença é mais
perceptível em certas datas específicas da nossa vida. Eis aqui um exemplo
clássico, a partir do qual, poderemos aplicar a regra a muitos outros casos. Os
dias do Bar e Bat-Mitzvá são, sem sombra de dúvida, datas muito especiais. Os
pais têm que se alegrar nesses dias como o fizeram no dia do nascimento de seus
filhos e como irão fazê-lo no dia de seu casamento. O significado desta alegria
está ligado diretamente com o que foi explicado acima, a respeito do dia do
aniversário. Pois estas datas, além de serem o dia do nascimento dos jovens,
possuem uma dupla dose de energia por serem datas muito significativas e de
grande elevação espiritual. Nelas, os jovens atingem a sua maioridade religiosa
e se tornam independentes e responsáveis por seus atos. E o mesmo acontece no
dia do casamento. Pois, de acordo com a nossa tradição, os jovens, em dia tão
solene, começam uma nova página em sua vida e são considerados como recém
nascidos, sem falhas, isentos de qualquer erro. É bem comum comemorar a data de
aniversário com uma reunião familiar e na proximidade de amigos; com bolo e
velas. Além de muito bonito, é motivo para fortalecer a união e fazer, assim,
pairar uma atmosfera amiga e de paz entre os presentes. Mas não é o bastante,
muito menos o mais importante. Precisamos transformar o dia de nosso
aniversário num dia muito especial. Devemos, acima de tudo, tomar decisões
positivas no que diz respeito ao nosso comportamento e procurar acrescentar
algo a mais de judaísmo em nossa vida e em nosso dia-a-dia. Somente assim
alcançaremos os verdadeiros objetivos para os quais cada um de nós foi criado.
Rabino Avraham Cohen é rabino da Sinagoga Beit
Yaacov, São Paulo
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