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Escrito por Mirko Testa. A CORRUPÇÃO É PIOR QUE O PECADO. A corrupção é o mal
da nossa época, que se alimenta de aparência e aceitação social, cresce como
medida da ação moral e pode consumir a partir de dentro, em uma atitude de
"mundanidade espiritual", quando não "esclerose do
coração", até mesmo na própria Igreja. E se para o pecado existe perdão,
para a corrupção, não. Por isso, a corrupção precisa ser curada. Esta é a
crítica mordaz e impiedosa que emerge de algumas páginas escritas em 2005 por
Jorge Mario Bergoglio - Papa Francisco, Jorge Mário Bergoglio
(1936- ), quando era arcebispo de Buenos Aires, cujo texto foi agora
publicado em um livro, "A cura da corrupção", publicado pela primeira
vez em italiano (Editora Missionária Italiana). Pecado e corrupção. Em seu
afresco de cores fortes, Papa Francisco explica desde o início que a corrupção
está intimamente ligada ao pecado, mas é diferente dele. Na verdade, a
corrupção é "não um ato, mas um estado, um estado pessoal e social no qual
a pessoa se acostuma a viver", por meio de hábitos que vão deteriorando e
limitando a capacidade de amar. Papa Francisco resume as principais
características desta praga: 1) Imanência. A corrupção tende a gerar uma
"verdadeira cultura, com capacidade doutrinal, linguagem própria, jeito
próprio de agir", tornando-se uma "cultura de subtração". O
caminho que levou do pecado à corrupção é um processo de substituição de Deus
pelas próprias forças. A gênese pode ser atribuída a um "cansaço da
transcendência: frente a um Deus que não se cansa de perdoar, o corrupto se
levanta como autossuficiente na expressão de sua salvação: está cansado de
pedir perdão". 2) Boas Maneiras. Esta autossuficiência humana, que
reflete a atitude do coração com relação a um tesouro que o seduz, tranquiliza
e engana, é uma transcendência frívola. Na corrupção, de fato, prevalece uma
espécie de imprudência modesta; cria-se um culto às boas maneiras para encobrir
os maus hábitos. O corrupto é um acrobata da delicadeza, campeão das boas
maneiras. Enquanto "o pecador, reconhecido como tal, de alguma forma,
admite a falsidade do tesouro ao qual aderiu ou adere, o corrupto, no entanto,
submeteu seu vício a um curso intensivo de boas maneiras". 3) Medida
Moral. "O corrupto – escreve Papa Francisco – sempre tem necessidade de se
comparar com aqueles que parecem ser coerentes em suas vidas (mesmo quando se
trata da coerência do publicado que se confessa pecador)." Uma de suas
características é a forma como se justifica, apresentando as suas boas maneiras
como opostas a situações de pecado extremo ou fruto de caricatura, e assim se
levanta para julgar os outros, tornando-se medida de comportamento
moral. 4) Triunfalismo. "O triunfalismo é o terreno ideal para o
comportamento corrupto." A este respeito, o teólogo Henri de Lubac
(1896-1991) fala da ambição e da frivolidade que podem esconder-se na
"mundanidade espiritual", a tentação mais perversa, que concebe como
ideal moral o homem e seu aperfeiçoamento, e não a glória de Deus. Segundo Papa
Francisco, a mundanidade espiritual "nada mais é do que a vitória daqueles
que confiam no triunfalismo da capacidade humana; o humanismo pagão adaptado ao
bom senso cristão". 5) Cumplicidade. "O corrupto não conhece a
fraternidade ou a amizade, mas só a cumplicidade"; tende a arrastar todos
à sua própria medida moral. Os outros são cúmplices ou inimigos. "A
corrupção é o proselitista. Ela se disfarça de comportamento socialmente
aceitável", como Pilatos, "que faz de conta que o problema não lhe
diz respeito, e por isso lava as mãos, mesmo que no fundo seja para defender a
sua zona corrupta de adesão ao poder a qualquer preço". A corrupção do
religioso. Papa Francisco faz, então, uma análise muito lúcida do estado de corrupção
cotidiana que lentamente faz a vida religiosa encalhar. É uma espécie de
paralisia que ocorre quando uma alma se adapta a viver tranquilamente em
paz. No início, existe "o medo de que Deus nos conduza a caminhos que
não podemos controlar". Mas ao fazer isso, explica Papa Francisco,
"os horizontes se encolhem à medida da própria desolação ou quietismo. A
pessoa teme a ilusão e prefere o realismo do menos à promessa do mais".
Aqui se esconde o perigo, porque, "na preferência pelo menos, que parece
mais realista, já existe um processo sutil de corrupção: começa a mediocridade
e a tibieza (duas formas de corrupção espiritual)", um caminho inclinado
que leva ao desânimo da alma e a uma lenta, mas definitiva esclerose do
coração. É por isso que a alma se apega a todos os produtos que o
supermercado do consumismo religioso lhe oferece, tendendo talvez a interpretar
a vida consagrada como uma realização imanente de sua personalidade, buscando a
realização profissional ao se deliciar com a estima alheia, ou se dedicando a
uma intensa vida social. Daí o convite do então arcebispo de Buenos Aires –
Argentina: "A nossa indigência deve se esforçar um pouco para abrir espaço
à transcendência", porque "o Senhor nunca se cansa de chamar: não
tenha medo. Não ter medo de quê? Não ter medo da esperança, porque a esperança
não decepciona". www.catequisar.com.br. Abraço. Davi
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