Catolicismo. www.universocatolico.com.br. Escrito pelo Papa João Paulo II (1920-2005) Karol Jósef
Wojtyla. A INFLUÊNCIA DA VIRGEM MARIA NA VIDA DA IGREJA. 1. Depois de ter
refletido sobre a dimensão Mariana na vida eclesial, dispomo-nos agora a pôr
em evidência a imensa riqueza espiritual que Maria comunica à Igreja, com o seu
exemplo e a sua intercessão. Desejamos, antes de mais nada, deter-nos a
considerar brevemente alguns aspectos significativos da personalidade de Maria,
que oferecem a cada fiel indicações preciosas para acolher e realizar plenamente
a própria vocação. Maria precedeu-nos na via da fé: crendo na mensagem do anjo,
ela é a primeira a acolher, e de modo perfeito, o mistério da Encarnação (Redemptoris Mater, 13). O seu itinerário de crente inicia ainda antes do
princípio da maternidade divina e desenvolve-se e aprofunda-se durante toda a
sua experiência terrena. É audaz a sua fé, que na Anunciação crê no humanamente
impossível e em Caná da Galileia impele Jesus a realizar o primeiro milagre,
provocando a manifestação dos seus poderes messiânicos (cf. João 2,1-5). Maria
educa os cristãos a viverem a fé como caminho empenho envolvente, que, em todas
as épocas e situações da vida, requer audácia e perseverança constante. 2. A fé
de Maria está ligada à sua docilidade à vontade divina. Crendo na Palavra de
Deus, pôde acolhê-la plenamente na sua existência e, mostrando-se disponível ao
soberano desígnio divino, aceitou tudo o que lhe era requerido do Alto. A
presença da Virgem na Igreja encoraja assim os cristãos a porem-se cada dia à
escuta da Palavra do Senhor, para compreenderem o seu plano de amor nas
diversas vicissitudes quotidianas, cooperando com fidelidade para a sua
realização. 3. Desse modo, Maria educa a comunidade dos crentes para olhar rumo
ao futuro, com pleno abandono em Deus. Na experiência pessoal da Virgem, a
esperança enriquecesse de motivações sempre novas. Desde a Anunciação, Maria
concentra no Filho de Deus, encarnado no seu seio virginal, as expectativas do
antigo Israel. A sua esperança revigora-se nas fases sucessivas da vida de
Nazaré e do ministério público de Jesus. A sua grande fé na palavra de Cristo
que tinha anunciado a sua ressurreição ao terceiro dia, não a fez vacilar nem
sequer diante do drama da Cruz: ela conservou a esperança no cumprimento da obra
messiânica, esperando sem hesitações, depois das trevas da Sexta-Feira Santa, a
manhã da ressurreição. No seu difícil peregrinar na história, entre o “já” da
salvação recebida e o “não ainda” da sua plena realização, a comunidade dos
crentes sabe que pode contar com o auxílio da "Mãe da Esperança" que,
tendo experimentado a vitória de Cristo sobre as potências da morte, lhe
comunica uma capacidade sempre nova de espera do futuro de Deus e de abandono
às promessas do Senhor. 4. O exemplo de Maria faz com que a Igreja aprecie
melhor o valor do silêncio. O silêncio de Maria não é só sobriedade no falar,
mas sobretudo capacidade sapiencial de fazer memória e de acolher, num olhar de
fé, o mistério do Verbo feito homem e os eventos da sua existência terrena. É este
silencioso acolhimento da Palavra, esta capacidade de meditar no mistério de
Cristo, que Maria transmite ao povo crente. Em um mundo cheio de confusão e de
mensagens de todo o gênero, o seu testemunho faz apreciar um silêncio
espiritualmente rico e promove o espírito contemplativo. Maria testemunha o
valor de uma existência humilde e escondida. Normalmente todos exigem, e por
vezes pretendem, poder valorizar inteiramente a própria pessoa e as próprias
qualidades. Todos são sensíveis à estima e à honra. Os Evangelhos referem em
várias ocasiões que os Apóstolos ambicionavam os primeiros lugares no reino,
discutiam entre si quem era o maior e que Jesus lhes teve de dar, quanto a
isto, lições sobre a necessidade da humildade e do serviço (Mateus 18,1-5;
20, 20-28; Marcos 9,33-37; 10,35-45; Lucas 9,46´48; 22,24-27). Maria, ao
contrário, jamais desejou as honras e vantagens de uma posição privilegiada;
procurou sempre cumprir a vontade divina, levando uma existência segundo o
plano salvador do Pai. A quantos não raro sentem o peso duma existência
aparentemente insignificante, Maria manifesta quanto pode ser preciosa a vida,
se é vivida por amor de Cristo e dos irmãos. 5. Maria, além disso, testemunha o
valor duma vida pura e repleta de ternura por todos os homens. A beleza da sua
alma, totalmente doada ao Senhor, é objeto de admiração para o povo cristão. Em
Maria a comunidade viu sempre um ideal de mulher, cheia de amor e de ternura,
porque viveu na pureza do coração e da carne. Perante o cinismo duma certa cultura
contemporânea que, muitas vezes, parece não reconhecer o valor da castidade e
banaliza a sexualidade, separando a da dignidade da pessoa e do projeto de
Deus, a Virgem Maria propõe o testemunho duma pureza que ilumina a consciência
e conduz a um amor maior pelas criaturas e pelo Senhor. 6. E ainda: aos
cristãos de todos os tempos, Maria mostra-se como aquela que prova uma viva
compaixão pelos sofrimentos da humanidade. Essa compaixão não consiste somente
numa participação afetiva, mas traduz-se numa ajuda eficaz e concreta diante
das misérias materiais e morais da humanidade. A Igreja, seguindo Maria, é
chamada a assumir uma atitude idêntica para com os pobres e todos os sofredores
da terra. A atenção materna da Mãe do Senhor às lágrimas, às dores e às
dificuldades dos homens e das mulheres de todos os tempos, deve estimular os
cristãos, de modo particular ao aproximar-se do terceiro milênio, a multiplicar
os sinais concretos e visíveis dum amor que faça os humildes e os sofredores de
hoje participarem nas promessas e esperanças do mundo novo, que nasce da
Páscoa. 7. O afeto e a devoção dos homens para com a Mãe de Jesus ultrapassam
os confins visíveis da Igreja e impelem os ânimos a sentimentos de
reconciliação. Como uma Mãe, Maria quer a união de todos os seus filhos. A sua
presença na Igreja constitui um convite a conservar a unanimidade de coração,
que reinava na primeira comunidade (cf. Atos 1,14) e, por conseguinte, a
procurar também as vias da unidade e da paz entre todos os homens e todas as mulheres
de boa vontade. Na sua intercessão junto do Filho, Maria pede a graça da
unidade do gênero humano, em vista da construção da civilização do amor,
superando as tendências à divisão, às tentações da vingança e do ódio, e à
fascinação perversa da violência. 8. O sorriso materno da Virgem, reproduzido
em boa parte na iconografia mariana, manifesta uma plenitude de graça e de paz
que quer comunicar-se. Essa manifestação de serenidade do espírito contribui de
modo eficaz para conferir um rosto jubiloso à Igreja. Acolhendo na Anunciação o
convite do anjo a alegrar-se (Káire=alegra-te: Lucas 1,28), Maria é a primeira
a participar na alegria messiânica, já predita pelos profetas para a
"filha de Sião" (cf. Isaías 12,6; Sofonias 3,14-15; Zacarias 9,8), e
transmite a à humanidade de todos os tempos. O povo cristão, invocando-a como
“causa nostrae laetitiae”, descobre nela a capacidade de comunicar a alegria
que nasce da esperança mesmo no meio das provas da vida e de guiar quem a ela
se confia para a alegria que não terá fim. "Observatore Romano, Ed. Port.
n.47, 25/11/95, pag. 12 (576) DO Livro: A VIRGEM MARIA. Catequeses do Papa João Paulo II". www.universocatolico.com.br. Abraço. Davi
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