domingo, 7 de agosto de 2022

A CRENÇA NA PESOALIDADE DO DIABO

 

Teosofia. A CRENÇA NA PESSOALIDADE DO DIABO. Palavras de Helena P. Blavatsky (1831-1899), no livro Isis Sem Véu volume IV, páginas 135-140. "Parece impossível, e todavia esta é a triste realidade, que, entre todas as várias nações da Antiguidade, não houve uma só que acreditasse num diabo pessoal mais do que os cristãos liberais do século XIX. Nem os egípcios, que Porfírio chama de "a mais erudita nação do mundo", nem os gregos, seus fiéis imitadores, caíram em absurdo tão grande. Podemos acrescentar que nenhum deles, nem mesmo os judeus antigos, acreditou no inferno ou numa condenação eterna mais do que no diabo, embora nossas igrejas cristãs atribuem ao demônio tudo quanto se relacione com os gentios. Em todo lugar em que a palavra "inferno" ocorre nas traduções dos textos sagrados hebraicos, ela está distorcida. Os hebreus ignoravam essa ideia, mas os Evangelhos contêm exemplos frequentes de compreensões erradas. Assim, quando Jesus diz em Mateus 16:18 "( ... ) e as portas do hades não prevalecerão contra ela", o texto original apresenta "as portas da morte". Em nenhum lugar aparece a palavra "inferno", aplicada com o significado de condenação, seja temporária ou eterna, utilizada no Velho Testamento com o sentido que lhe deram os forjadores desse dogma."Tophet" ou o "Vale do Hinon" não tem esse significado. O termo grego "Gehenna" tem um sentido bastante diferente e equivalente, na opinião de escritores competentes, ao Tártaro homérico. O próprio Pedro nos dá prova desse fato. Em sua segunda Epístola 2:4 o apóstolo no texto original, diz, sobre os anjos pecadores, que Deus "os lançou ao Tártaro". Essa expressão, que lembra muito inconveniente a guerra entre Júpiter e os Titãs, foi alterada e agora, na versão bíblica  King James, apresenta "os lançou no inferno". No Velho Testamento as expressões "portas da morte" e "câmaras da morte" aludem simplesmente às "portas do túmulo", mencionadas especificamente nos Salmos e nos Provérbios. O inferno e seu soberano são ambos invenções do Cristianismo, contemporâneo do seu poder e do recurso à tirania. São alucinações nascidas dos pesadelos dos Antônios do deserto. Antes da nossa era, os sábios antigos conheciam o "Pai do Mal" e não o tratavam senão como asno, o símbolo escolhido de Typhon, "o diabo". Triste degeneração de cérebros humanos! Assim como Typhon era a sombra escura de seu irmão Osíris, Python é o lado mau de Apolo, o brilhante deus das visões, o vidente e adivinho. É morto por Python, mas mata-o por sua vez, redimindo a humanidade do pecado. Foi em memória dessa façanha que as sacerdotisas do deus Sol se vestiam com peles de serpente, típicas do fabuloso monstro. Sob sua poderosa influência, a pele da serpente era considerada magnética, as sacerdotisas caíam em transe magnéticos e "recebiam de Apolo as suas vozes", tornavam-se proféticas e proferiam oráculos. Além disso, Apolo e Python são apenas um, e moralmente andróginos (aquele que possui concomitantemente os dois sexos masculino e feminino). As ideias do deus Sol são todas duais, sem exceção. O calor benéfico do Sol traz o germe à existência, mas o calor excessivo mata a planta. Quando toca a lira planetária de sete cordas, Apolo produz a harmonia, mas, como outros deuses sóis, sob seu aspecto sombrio ele se torna o destruidor Python. Sabe-se que São Jão viajou pela Ásia, uma região governada pelos magos e imbuída de ideias zoroastrianas e, naqueles dias, repleta de missionários budistas. Se ele não tivesse visitado esses lugares e entrado em contato com os budistas, seria duvidoso acreditar que o Apocalipse pudesse ter sido escrito. Além das suas ideias do dragão, dá narrativas proféticas inteiramente desconhecidas dos outros apóstolos e que, relativas ao segundo advento, fazem de Cristo uma cópia fiel de Vishnu. Assim, Ophios e Ophiomorphos, Apolo e Python, Osíris e Typhon e Christos e a serpente são termos equivalentes. Todos eles são Logos e um é ininteligível sem o outro, como não se poderia saber o que é dia, se não se conhecesse a noite. Todos são regerneradores e salvadores, um num sentido espiritual, o outro num sentido físico. Um assegura a imortalidade para o Espírito Divino, o outro a concede através da regeneração da semente. O Salvador da Humanidad tem de morrer, porque ele oculta à Humanidade o grande segredo do ego imortal, a serpente do Gênesis é amaldiçoada porque disse à matéria "não morrerás". No mundo do Paganismo, a contrapartida da "serpente" é o segundo Hermes, a reencarnação de Hermes Trimegisto. Hermes é o companheiro constante e o instrutor de Osíris e Ísis. É a sabedoria personificada, como Caim, o filho do "senhor". Ambos construíram cidades, civilizaram e instruíram a Humanidade nas artes. Já foi repetidamente afirmado pelos missionários cristãos do Ceilão (atual Sri Lanka) e da Índia que as pessoas estão saturadas de idolatria, que são adoradoras do diabo, no sentido amplo da palavra. Sem qualquer, exagero, dizemos que elas não o são mais do que as massas de cristãos incultos. Mas eram adoradores do (o que é mais do que crentes no) diabo, embora haja uma grande diferença entre os ensinamentos do seu clero sobre o tema de um diabo pessoal. E os dogmas dos pregadores cristãos, e de muitos ministros protestante, também. Os sacerdotes cristãos estão presos, e se limitam a impô-la às mentes de seu rebanho, à existência do diabo, e as páginas inaugurais desse capítulo mostram a ração desse procedimento. Mas os Upassampanna cingaleses, que pertencem a um sacerdócio superior, não só não confessam acreditar num demônio pessoal, como também os Sâmanera, candidatos e noviços, ririam dessa ideia. Tudo na adoração externa dos budistas é alegórico e, por conseguinte, não é aceito, nem ensinado pelos punghis (pânditas) cultos. Tem um certo fundamento a acusação de que eles permitem e concordam permitem tacitamente em deixar o povo imerso nas mais degradantes supertições, mas negamos veementemente que eles reforcem essas superstições. E, nesse particular, eles parecem levar vantagem em relação ao nosso clero cristão, que (pelo menos aqueles que não permitem que seu fanatismo interfira em seus cérebros), sem acreditar numa só palavra disso, ainda prega a existência do diabo, como inimigo pessoal de um Deus pessoal e o gênio mau da Humanidade. O dragão de São Jorge, que figura com tanta evidência nas maiores catedrais dos cristãos, não excede em beleza o rei das serpentes, o Nammadâ Nârada budista, o grande dragão. Se a superstição popular dos cingales acredita que o demônio zodiacal Râhu destrói a lua devorando-a e se o povo da China e da Tartária sai às ruas batendo bombos, pratos e discos, com que fazem estrépito para afugentar o monstro durante os eclipses, por que o clero da França Meridional, ocasionalmente, no aparecimento de cometas, na ocorrência de eclipses ou outros fenômenos celestiais? Em 1456, quando o cometa de Halley fez sua aparição, "tão tremenda foi sua aparição", escreve Draper, "que o próprio Papa teve de interferir. ele o exorcizou e o afugentou dos céus. Foi lançado nos abismos do espaço, aterrorizado pelas maldições de Calixto III (1378-1458) e não se atreveu a voltar antes de setenta e cinco anos. Nunca ouvimos falar que um clérigo cristão ou o Papa houvessem tentado convencer as mentes ignorantes de que a crença no diabo tivesse algo a ver com eclipse e cometas, mas vemos um prelado budista dizendo a um oficial que lhe atirava na cara essa superstição: "Nossos livros religiosos cingaleses ensinam que os eclipses do sol e da lua denotam um ataque de Râhu, não de um diabo. A origem do mito do "dragão", que ocupa um lugar importante no Apocalipse e na lenda dourada, e da fábula sobre Simão Estilita convertendo o dragão e inegavelmente budista e até mesmo pré budista. Foram as doutrinas puras de Sidarta Gautama, Buda  (563 AC 483) que atraíram para o budismo os cachemirianos (Caxemira - um sub continente disputado pela Índia e o Paquistão desde o fim da colonização britânica) cuja adoração primitiva era a ofita, ou a adoração da serpente. O olíbano e as flores substituíam os sacrifícios humanos e a crença em demônios pessoais. O Cristianismo herdou a degradante superstição de diabos investidos de poderes pestilentos e assassinos. O Mahavansa, o mais antigo dos livros cingaleses, relata a história do rei Covercapal (cibra de capelo), o deus serpente, que foi convertido para o budismo por um santo Rahat.e desta lenda derivou seguramente a de Simão Eslita e seu dragão, que faz parte da Lenda dourada. O Logos triunfa uma vez mais sobre o grande  dragão, Miguel o arcanjo luminoso, chefe dos Aeóns, vence Satã. É digno de menção o fato de que, enquanto o iniciado mantiver em segredo "o que sabe", ele estará perfeitamente seguro. Isso acontecia nos tempos antigos e acontece agora. tão logo o Deus dos cristãos, emanando do Silêncio, se manifestava como a Palavra ou Logos, este último se tornava a causa de sua morte. A serpente é o símbolo da sabedoria e da eloquência, mas é também o símbolo da destruição. "Ousar, conhecer, querer e calar" são os axiomas cardeais dos cabalistas. Como Apolo e outros deuses, Jesus é morto por seu Logos, ele se ergue novamente, mata-o por sua vez e se torna seu senhor. Será que esse velho símbolo tem, como as outras concepções filosóficas antigas, mais de um sentido alegórico e insuspeitado? As coincidências são estranhas demais para resultarem do mero acaso. E agora que mostramos essa identidade entre Miguel e Satã e os salvadores e dragões de outros povos, o que pode ser mais claro do que todas essas fábulas filosóficas originadas na Índia, que viveiro universal do misticismo metafísico? "O mundo", diz Rmatsariar em seus comentários sobre os Vedas, "começou com uma luta entre o Espírito de Deus e o Espírito do Mal, e em luta há de acabar. Após a destruição da matéria, o mal não mais existirá, deverá voltar ao nada". Na sua Apologia, Tertuliano (160-220) falsifica evidentemente toda doutrina e toda crença dos pagãos relativas aos oráculos e aos deuses. Chama-os, indiferentemente de domônios e de diabos, acusando estes últimos de possuírem até mesmo as aves do ar! Que cristão ousaria duvidar de tal autoridade? Não afirmou o salmista que "Todos os deuses das nações são ídolos" e não explicou o anjo das Escolas, Tomás de Aquino (1225-1274), com sua autoridade cabalística, a palavra ídolos por diabos? "Eles vêm até os homens", diz ele, "e os incitam a adorá-los, valendo-se de certas obras que parecem milagrosas". Os padres foram tão prudentes, quanto sábios em suas invenções. Para ser imparciais, após terem criado um diabo, começaram a criar santos apócrifos. Nomeamos vários eles em capítulos precedentes, mas não devemos nos esquecer de Caesar Baronius (1538-1607), que, ao ler uma obra de João Crisóstomo (347-407) sobre o santo Xynoris, palavra que significa par, casal, tomou-a pelo nome de um santo e criou com ela um mártir da Antioquia e chegou a dar uma biografia detalhada e autêntica do "mártir ferido". Outros teólogos fizeram de Apollyon, ou antes Apolouôn, o Anticristo. Apolouôn é o "banhador" de Platão (428 AC 348), o deus que purifica, que lava e nos livra do pecado, porém que foi transformado naquele "cujo nome na língua hebraica é Abadon, mas na língua grega tem o nomo de Apollyon, diabo! Apocalipse 9: 11. Max Muller (1849-1874) diz que a serpente do paraíso é uma concepção que deve ter brotada entre os judeus e "dificilmente parece convidar a uma comparação com as concepções mais grandiosas do poder terrível de Vritra e de Ahriman no Veda e no Avesta". Para os cabalistas, o diabo foi sempre um mito, o aspecto invertido de Deus ou do bem. O mago moderno Eliphas Lévi (1810-1875), chama o diabo de "l ivresse astrale" (uma palavra francesa que traduzido em português significa a intoxicação astral). É uma força cega como a eletricidade, diz ele; e, falando alegoricamente, como sempre fez. Jesus observou que ele "considerava Satã com se fosse um raio caído do céu". O clero insiste que Deus enviou o diabo para tentar a humanidade, o que seria antes uma maneira singular de mostrar seu amor infinito para com o gênero humano! Se o Supremo foi realmente culpado dessa traição incompatível com sua augusta paternidade, ele é digno, certamente, de adoração por parte de uma Igreja que canta o Te Deum depois do massacre de São Bartolomeu (morte de aproximadamente 25.000 protestantes por católicos franceses em Paris nos dias 23 e 24 de agosto de 1574) e de abençoar as espadas maometanas feitas para exterminar os cristãos gregos! Isto soa ao mesmo tempo lógico e legal, não diz uma máxima da jurisprudência que "Qui facit per alium, facit per se"? A grande dessemelhança que existe entre as várias concepções do diabo é verdadeiramente ridícula. Enquanto os beatos o enfeitam invariavelmente com chifres e rabos e o concebem numa figura repulsiva que inclui um cheiro humano pestilento, John Milton (1608-1674), Lord Byron (1788-1824), Johann Goethe (1749-1832). Mikhail Lermontov (1814-1841) e um exército de romancistas franceses ergueram seu louvor em poesia graciosa e em prosa emocionante. O Satã de Milton e até mesmo o Mefistóles (personagem do romance Fausto) de Goethe possuem um relevo mais vigoroso do que alguns dos anjos representados na prosa de beatos estáticos. Comparemos duas descrições. Premiemos em primeiro lugar o incomparavelmente sensacional des Mousseaux. Ele nos dá uma narrativa emocionante de um íncubo, nas palavras da própria penitente: "Certa vez, ela conta, "durante  todo o espaço de meia hora, ela viu claramente perto dela um indivíduo com um corpo preto, espantoso, horrível, cujas mãos, de um tamanho enorme, exibiam dedos agatanhados estranhamente encurvados. Os sentidos da visão, do tato e do olfato foram corroborados pelo da audição"! E, pelo espaço de muitos anos, a donzela foi arrastada por tal herói! Quão distante desse galante odorífero está a majestosa figura do Satã miltoniano! Que o leitor então imagine, se puder, essa quimera soberba, esse ideal do anjo rebelde tornado o Orgulho encarnado, e encerrado na pele do mais repulsivo dos animais? Muito embora o catecismo cristão nos ensine que Satã in própria persona tentou nossa primeira mãe, Eva, num paraíso real, e na forma de uma serpente, que de todos os animais era o mais insinuante e o mais fascinante!. "Deus ordena a ela, (a serpente no jardim do Éden), arrastar-se eternamente sobre seu ventre, e comer a poeira do chão. "Uma sentença", observa Eliphas Levi (1810-1875), "que em nada se parece às tradicionais chamas do inferno". Não levaram em consideração os autores dessa alegoria que a serpente zoológica real, criada antes de Adão e Eva, arrastava-se sobre seu ventre e comia a poeira do chão, antes que existisse qualquer pecado original. Por outro lado, não foi Ophion, o Daimôn ou diabo, como Deus, chamado Dominus? A palavra Deus (deidade0 deriva da palavra sânscrita Deva, e diabo provém do persa daêva, palavra substancialmente semelhantes. Hércules, filho de Jove e de Alcmena, um dos deuses sóis mais elevados e também o Logos manifesto, e, não obstante. representado numa natureza dupla, como todos os outros. O Agathodimôn, o daêmon beneficente, o mesmo que encontramos posteriormente entre os ofitas com a denominação de Logos, ou sabedoria divina, era representado por uma serpente que se mantinha ereta sobre uma vara, nos mistérios das bacanais. A serpente com cabeça de falção está entre os emblemas egípcios mais antigos e representa a mente divina, diz Deane. Azâzel é Moloch e Samuel, diz Movers, e Aaron, o irmão do grande legislador Moisés, faz sacrifícios idênticos a Jeová e Azâzel. "E a Aarão deita sortes sobre os dois bodes, uma para o Senhor (Toth no original) e outra para o bode emissário (Azâzel). No Velho Testamento, Jeová exibe todos os atributos do velho saturno, apesar de suas metamorfoses de Aoni em Elói e em Deus dos deuses, Senhor dos senhores. Jesus é tentado na montanha pelo diabo, que lhe promete reino e glória se se prostrasse e o adorasse (Mateus 4: 8,9), Buda (563 AC 483) é tentado pelo demônio Wasawartti-Mâra, que lhe diz, no momento em que deixava o palácio de seu pai: "Fica, que possuíras as honras que estiverem ao teu alcance. Não vás, não vás". E com a recusa de Gautama em aceitar suas oferendas, rangeu seus dentes com raiva e prometeu vingar´se. Como Cristo, buda triunfa sobre o diabo. Nos mistérios báquicos, um cálice consagrado, chamado cálice de Agathodaimôn, passava de mão em mão entre os fiéis após o jantar. O rito ofita de mesma descrição foi evidentemente tomado desses mistérios. A comunhão, que consistia de pão e vinho, foi usada na adoração de quase todas as divindades importantes. Em relação com o sacramento semi mítrico adotado pelos marcosianos, uma outra seita gnóstica, totalmente cabalística e teúrgica, há uma estranha história oferecida por Epifânio como uma ilustração das artimanhas do diabo. Na celebração da sua Eucaristia, os  marcosianos traziam traziam três grandes vasos do cristal mais fino e mais claro para o meio da congregação e os enchiam de vinho branco. No transcorrer da cerimônia, à vista de todos, esse vinho era instantaneamente mudado para vermelho sangue, para púrpura e depois para azul celeste. "Então o Mago", diz Epifânio, "entrega um desses vasos para uma mulher da congregação e lhe pede que o abençoe. Feito isso, o mago despeja o seu conteúdo num vaso de maior capacidade, formulando o seguinte pedido: "Possa a graça de Deus, que está acima de tudo, é inconcebível e inexplicável, preencher o teu interior e aumentar o conhecimento daquele que está dentro de ti semeando o grão de mostarda em terreno fértil, Depois disso o licor do vaso maior aumenta e aumenta até chegar à borda. Em relação com muitas divindades pagâs que, após a morte, e antes de sua ressurreição, descem ao inferno, seria útil comparar as narrativas pré cristãs com as pós cristãs. Orfeu fez a sua viagem, e Cristo foi o último desses viajantes subterrâneos. No Credo dos Apóstolos, que está dividido em doze frases ou artigos, que foram inseridos cada um por um apóstolo em particular, segundo Santo Agostinho (354-430), a frase "Desceu ao inferno, no terceiro dia ressurgiu dos mortos" é atribuída a Tomé, talvez como uma expiação da sua incredulidade. Seja como for, diz-se que a frase é uma falsificação e não há evidencia "De que esse Credo tenha sido modelado pelos apóstolos, ou pelo menos que existisse como credo em sua época. Trata-se da adição mais importante que foi efetuada no Credo dos Apóstolos e data do ano 600. Esse artigo não era conhecido na época de Eusébio. O bispo J. Pearson diz que ele não fazia parte dos credos antigos ou das regras de fé. Irineu de Lyon (130-202), Orígenes de Alexandria (182-254) e Tertuliano (160-220) não parecem conhecê-lo. Não é mencionado em nenhum dos Concílios realizados antes do século VII. Theodoreto (393-457), Epifânio (310-403) e Sócrates (469-399) silenciam-se a seu respeito. Difere do credo de Santo Agostinho. Rufino afirma que, em sua época, ele não constava nem dos credos romanos nem dos orientais. Mas o problema se resolve quando lemos que séculos atrás Hermes falou da seguinte maneira a Prometeu, acorrentado no rochedo árido do Cáucaso. "Teu tormento não cessará até que Deus o substitua em tua aflição e desça ao lúgubre hades e às profundezas sombrias do tártaro. Esse deus era Hérculaes, o "Unigênito", e o salvador. E é ele que foi escolhido como modelo pelos padres engenhosos. Hércules, chamado Alexikakos porque converteu os malvados à virtude, Soter, ou Salvador, também chamado Neulos Eumélos, o Bom Pastor, astrochitón, o vestido de estrelas, e o senhor do fogo. "Ele não sujeitou as nações pela força, mas pela sabedoria divina e pela persuasão", diz Luciano. "Hércules disseminou cultura e uma religião suave e destruiu a doutrina da punição eterna expulsando Cérbero (demônio do poço - era um monstruoso cão de múltiplas cabeças e pescoço, que guardava a entrada do inferno - mundo inferior. O reino subterrâneo dos mortos, deixando as almas entrarem, mas jamais saírem e despedaçando os mortais que por lá se aventurassem). E, como vemos, foi também Hércules quem libertou Prometeu (o Adão dos pagãos), pondo um fim à tortuta infligida a ele por suas transgressões, descendo ao hades e ao tártaro. Como cristo, ele apareceu como um substituto para as aflições da humanidade, oferecendo-se em sacríficio numa pira funerária. "Sua imolação voluntária", diz Bart, "augurou o novo nascimento etêreo dos homens, ( ... ). Com a libertação de Prometeu, e a ereção de altares, vemos nele um mediador entre os credos antigos e os novos, ( ... ). Ele aboliu o sacrifício humano onde quer que fosse praticado. Desceu ao reino sombrio de Plutão, como uma sombra ( ... ) ascendeu como espírito a seu pai, Zeus, no Olimpo. A antiguidade estava tão marcada pela lenda de Hércules, que até mesmo os judeus monteístas daquela época, para não serem ultrapassados pelos seus contemporâneos, utilizaram-na na manufatura das fábulas originais. Hércules é acusado, em sua mito biografia, de uma tentativa de roubo do oráculo de Delfos. No Sepher Toledoth Yeshu, os rabinos acusam Jesus de roubar do seu santuário o Nome Inefável! Portanto, nada há de estranho em suas numerosas aventuras, mundanas e religiosas, tão fielmente espelhadas na Descida do Inferno. Por uma extraordinária ousadia de embuste e um plágio despudorado, o Evangelho de Nicodemo, só agora proclamado apócrifo, ultrapassa tudo que já lemos. Que o leitor julgue. No começo do capítulo XVI, Satã e o "Príncipe do Inferno" são apresentados conversando, amigavelmente. De repente, ambos são colhidos por "uma voz como de trovão" e pelo assalto dos ventos, que lhes ordenam abrir as portas para que "O Rei da Glória possa entrar". Logo após o Príncipe do Inferno ter ouvido esta ordem, "começa a discutir com Satã por não ter sido prevenido para tomar as precauções necessárias contra essa visita". A discussão termina como o príncipe lançando Satã "para fora de seu inferno", ordenando ao mesmo tempo que seus oficiais impiedosos "cerrassem as portas brônzeas da crueldade e as aferrolhassem com barras de ferro e lutassem corajosamente para não sermos tomados como prisioneiro". Mas "quando toda a companhia de santos( no inferno?) ouviu isto, todos eles disseram com voz encolerizada ao príncipe do inferno "Abre as portas, deixa O Rei da Glória entrar", provando que o príncipe precisava de arautos. "E o profeta Davi gritou: "Acaso não profetizei em verdade quando estava na terra?" Após isso, outro profeta, chamado Isaías, falou da mesma: "Não profetizei eu em verdade?", etc. Então, a companhia dos santos e profetas, deposi de se jactar por um capítulo inteiro e de comparar as notas de suas profecias, iniciou um tumulto, o que fez o príncipe do inferno, observar que "os mortos nunca se comportaram tão insolentemente, fingindo ignorar sobre quem estava pedindo admissão". Paramos por aqui quanto a transcrição do livro Ísis Sem Véu. Lembrando aos leitores que devem fazer seus juízos particulares dentro de suas perspectivas religiosas e espirituais. Não tenho a pretensão de formar opiniões com meus argumentos e nem influenciar nenhum de vocês. Considero-os corajosos por lerem alguns artigos do Mosaico, como esse, que desmistifica alguns dogmas milenares impostos pela Igreja para em muitos casos oficializar e fundamentar doutrinas baseadas em superstições e crendices. Aos amigos de outros países, no Brasil temos enormes problemas com esse tema específico, pois vemos em Igrejas Cristãs Protestante, shows com a invocação de espírito dos mundos inferiores. Onde eles se manifestam e criam um ambiente de engano e subordinação de todos os participantes, desde os líderes (pastores) que supostamente praticam o exorcismo, até os simples do povo que vão em busca de curas, alívio para suas dores, bençãos materiais e felicidade eterna. Assim, podemos tristemente assistir esses espetáculos na TV, nos cultos presenciais, e, campanhas missionárias organizadas por Igrejas Neo Pentecostais que usam mais esse tipo de artifício para atrair multidões necessitadas de refrigério para seus sofrimentos. O que é dito no texto com outras palavras "o diabo toma o lugar de Deus" é verdadeiro quando observamos os rituais de expulsão de demônios nesses ambientes carregados de emocionalismos e sensacionalismos exacerbados. Outro aspecto da demonização é culpar o demônio por todas as coisas negativas que nos acontecem, e creditar a Deus os sucessos que obtivemos em nossas convivências sociais, profissionais e espirituais. Isso representa nossa covardia e pulsilanimidade, pois não querendo assumir nossas escolhas certas ou erradas e nossas decisões em igual valor, jogamos a culpa no demônio que não tem nada haver com nossa maneira desidiosa de expressar nosso comportamento estereotipado. Assim descumprimos as Escrituras quando dizem: "O reino de Deus não é comida e nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo". Essas coisa são sutil e precisamos da intuição vinda dO Inefável para abarcarmos seu sentido completo. Não tendo medo de encarar de frente a questão e dando um basta nesse codinome, disfarçado de santo, com a essência e substância de demônio dos mundos inferiores. A pessoalidade desses seres (vulgarmente chamados de demônios) que habitam os mundos inferiores, divididos em hierarquias são representações de nosso inconsciente, vindas das correntes dos mundos das ideias e pensamentos. Tomo esse argumento da filosofia de Platão (428 AC 347) que baseia-se no mundo ideal e real. O real é esse mundo físico, material, grosseiro, enquanto que o mundo ideal é justamente o mundo dos pensamentos, das ideias, das coisas abstratas. Para Platão o corpo é o cárcere da alma que precisa se libertar para alcançar seu "eu" ideal, de modo a possuir seu verdadeiro conhecimento. Então, enquanto estivermos presos ao corpo (mundo real, físico) veremos demônios agindo por todos os lados e supostamente influenciando nossa vida, pois em uma condição corrupta seremos tendentes a negociar nossa culpa e ressentimento, como os demônios ou outros seres que nos iludam com suas dissimulações. Precisamos transcender  para o mundo ideal, dos pensamentos com nossa alma migrando das coisas fúteis e ilusórias da vida para uma dimensão de fraternidade e amor ao próximo.  Assim seremos nós mesmos no mundo, evoluindo com o que temos e somos. Às vezes involuindo devido aos vícios e deméritos, mas conscientes que o processo de desenvolvimento da divindade em nosso ser é nossa total responsabilidade e somos o auto fiador desse sistema de completude cósmica. Livro Isis Sem Véu. Volume IV. Abraço. Davi.

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