Teosofia. A
CRENÇA NA PESSOALIDADE DO DIABO. Palavras de Helena P. Blavatsky (1831-1899),
no livro Isis Sem Véu volume IV, páginas 135-140. "Parece impossível, e
todavia esta é a triste realidade, que, entre todas as várias nações da
Antiguidade, não houve uma só que acreditasse num diabo pessoal mais do que os
cristãos liberais do século XIX. Nem os egípcios, que Porfírio chama de "a
mais erudita nação do mundo", nem os gregos, seus fiéis imitadores, caíram
em absurdo tão grande. Podemos acrescentar que nenhum deles, nem mesmo os
judeus antigos, acreditou no inferno ou numa condenação eterna mais do que no
diabo, embora nossas igrejas cristãs atribuem ao demônio tudo quanto se
relacione com os gentios. Em todo lugar em que a palavra "inferno"
ocorre nas traduções dos textos sagrados hebraicos, ela está distorcida. Os
hebreus ignoravam essa ideia, mas os Evangelhos contêm exemplos frequentes de
compreensões erradas. Assim, quando Jesus diz em Mateus 16:18 "( ... ) e
as portas do hades não prevalecerão contra ela", o texto original
apresenta "as portas da morte". Em nenhum lugar aparece a palavra
"inferno", aplicada com o significado de condenação, seja temporária
ou eterna, utilizada no Velho Testamento com o sentido que lhe deram os
forjadores desse dogma."Tophet" ou o "Vale do Hinon" não
tem esse significado. O termo grego "Gehenna" tem um sentido bastante
diferente e equivalente, na opinião de escritores competentes, ao Tártaro
homérico. O próprio Pedro nos dá prova desse fato. Em sua segunda Epístola 2:4
o apóstolo no texto original, diz, sobre os anjos pecadores, que Deus "os
lançou ao Tártaro". Essa expressão, que lembra muito inconveniente a
guerra entre Júpiter e os Titãs, foi alterada e agora, na versão bíblica
King James, apresenta "os lançou no inferno". No Velho Testamento as
expressões "portas da morte" e "câmaras da morte" aludem
simplesmente às "portas do túmulo", mencionadas especificamente nos
Salmos e nos Provérbios. O inferno e seu soberano são ambos invenções do
Cristianismo, contemporâneo do seu poder e do recurso à tirania. São
alucinações nascidas dos pesadelos dos Antônios do deserto. Antes da nossa era,
os sábios antigos conheciam o "Pai do Mal" e não o tratavam senão
como asno, o símbolo escolhido de Typhon, "o diabo". Triste degeneração
de cérebros humanos! Assim como Typhon era a sombra escura de seu irmão Osíris,
Python é o lado mau de Apolo, o brilhante deus das visões, o vidente e
adivinho. É morto por Python, mas mata-o por sua vez, redimindo a humanidade do
pecado. Foi em memória dessa façanha que as sacerdotisas do deus Sol se vestiam
com peles de serpente, típicas do fabuloso monstro. Sob sua poderosa
influência, a pele da serpente era considerada magnética, as sacerdotisas caíam
em transe magnéticos e "recebiam de Apolo as suas vozes", tornavam-se
proféticas e proferiam oráculos. Além disso, Apolo e Python são apenas um, e
moralmente andróginos (aquele que possui concomitantemente os dois sexos
masculino e feminino). As ideias do deus Sol são todas duais, sem exceção. O
calor benéfico do Sol traz o germe à existência, mas o calor excessivo mata a
planta. Quando toca a lira planetária de sete cordas, Apolo produz a harmonia,
mas, como outros deuses sóis, sob seu aspecto sombrio ele se torna o destruidor
Python. Sabe-se que São Jão viajou pela Ásia, uma região governada pelos magos
e imbuída de ideias zoroastrianas e, naqueles dias, repleta de missionários
budistas. Se ele não tivesse visitado esses lugares e entrado em contato com os
budistas, seria duvidoso acreditar que o Apocalipse pudesse ter sido escrito.
Além das suas ideias do dragão, dá narrativas proféticas inteiramente
desconhecidas dos outros apóstolos e que, relativas ao segundo advento, fazem
de Cristo uma cópia fiel de Vishnu. Assim, Ophios e Ophiomorphos, Apolo e Python,
Osíris e Typhon e Christos e a serpente são termos equivalentes. Todos eles são
Logos e um é ininteligível sem o outro, como não se poderia saber o que é dia,
se não se conhecesse a noite. Todos são regerneradores e salvadores, um num
sentido espiritual, o outro num sentido físico. Um assegura a imortalidade para
o Espírito Divino, o outro a concede através da regeneração da semente. O
Salvador da Humanidad tem de morrer, porque ele oculta à Humanidade o grande
segredo do ego imortal, a serpente do Gênesis é amaldiçoada porque disse à
matéria "não morrerás". No mundo do Paganismo, a contrapartida da
"serpente" é o segundo Hermes, a reencarnação de Hermes Trimegisto.
Hermes é o companheiro constante e o instrutor de Osíris e Ísis. É a sabedoria
personificada, como Caim, o filho do "senhor". Ambos construíram
cidades, civilizaram e instruíram a Humanidade nas artes. Já foi repetidamente
afirmado pelos missionários cristãos do Ceilão (atual Sri Lanka) e da Índia que
as pessoas estão saturadas de idolatria, que são adoradoras do diabo, no
sentido amplo da palavra. Sem qualquer, exagero, dizemos que elas não o são
mais do que as massas de cristãos incultos. Mas eram adoradores do (o que é
mais do que crentes no) diabo, embora haja uma grande diferença entre os
ensinamentos do seu clero sobre o tema de um diabo pessoal. E os dogmas dos
pregadores cristãos, e de muitos ministros protestante, também. Os sacerdotes
cristãos estão presos, e se limitam a impô-la às mentes de seu rebanho, à
existência do diabo, e as páginas inaugurais desse capítulo mostram a ração
desse procedimento. Mas os Upassampanna cingaleses, que pertencem a um
sacerdócio superior, não só não confessam acreditar num demônio pessoal, como
também os Sâmanera, candidatos e noviços, ririam dessa ideia. Tudo na adoração
externa dos budistas é alegórico e, por conseguinte, não é aceito, nem ensinado
pelos punghis (pânditas) cultos. Tem um certo fundamento a acusação de que eles
permitem e concordam permitem tacitamente em deixar o povo imerso nas mais
degradantes supertições, mas negamos veementemente que eles reforcem essas
superstições. E, nesse particular, eles parecem levar vantagem em relação ao
nosso clero cristão, que (pelo menos aqueles que não permitem que seu fanatismo
interfira em seus cérebros), sem acreditar numa só palavra disso, ainda prega a
existência do diabo, como inimigo pessoal de um Deus pessoal e o gênio mau da
Humanidade. O dragão de São Jorge, que figura com tanta evidência nas maiores
catedrais dos cristãos, não excede em beleza o rei das serpentes, o Nammadâ
Nârada budista, o grande dragão. Se a superstição popular dos cingales acredita
que o demônio zodiacal Râhu destrói a lua devorando-a e se o povo da China e da
Tartária sai às ruas batendo bombos, pratos e discos, com que fazem estrépito
para afugentar o monstro durante os eclipses, por que o clero da França
Meridional, ocasionalmente, no aparecimento de cometas, na ocorrência de
eclipses ou outros fenômenos celestiais? Em 1456, quando o cometa de Halley fez
sua aparição, "tão tremenda foi sua aparição", escreve Draper,
"que o próprio Papa teve de interferir. ele o exorcizou e o afugentou dos
céus. Foi lançado nos abismos do espaço, aterrorizado pelas maldições de
Calixto III (1378-1458) e não se atreveu a voltar antes de setenta e cinco
anos. Nunca ouvimos falar que um clérigo cristão ou o Papa houvessem tentado
convencer as mentes ignorantes de que a crença no diabo tivesse algo a ver com
eclipse e cometas, mas vemos um prelado budista dizendo a um oficial que lhe
atirava na cara essa superstição: "Nossos livros religiosos cingaleses
ensinam que os eclipses do sol e da lua denotam um ataque de Râhu, não de um
diabo. A origem do mito do "dragão", que ocupa um lugar importante no
Apocalipse e na lenda dourada, e da fábula sobre Simão Estilita convertendo o
dragão e inegavelmente budista e até mesmo pré budista. Foram as doutrinas
puras de Sidarta Gautama, Buda (563 AC 483) que atraíram para o budismo
os cachemirianos (Caxemira - um sub continente disputado pela Índia e o Paquistão
desde o fim da colonização britânica) cuja adoração primitiva era a ofita, ou a
adoração da serpente. O olíbano e as flores substituíam os sacrifícios humanos
e a crença em demônios pessoais. O Cristianismo herdou a degradante superstição
de diabos investidos de poderes pestilentos e assassinos. O Mahavansa, o mais
antigo dos livros cingaleses, relata a história do rei Covercapal (cibra de
capelo), o deus serpente, que foi convertido para o budismo por um santo
Rahat.e desta lenda derivou seguramente a de Simão Eslita e seu dragão, que faz
parte da Lenda dourada. O Logos triunfa uma vez mais sobre o grande
dragão, Miguel o arcanjo luminoso, chefe dos Aeóns, vence Satã. É digno de
menção o fato de que, enquanto o iniciado mantiver em segredo "o que sabe",
ele estará perfeitamente seguro. Isso acontecia nos tempos antigos e acontece
agora. tão logo o Deus dos cristãos, emanando do Silêncio, se manifestava como
a Palavra ou Logos, este último se tornava a causa de sua morte. A serpente é o
símbolo da sabedoria e da eloquência, mas é também o símbolo da destruição.
"Ousar, conhecer, querer e calar" são os axiomas cardeais dos
cabalistas. Como Apolo e outros deuses, Jesus é morto por seu Logos, ele se
ergue novamente, mata-o por sua vez e se torna seu senhor. Será que esse velho
símbolo tem, como as outras concepções filosóficas antigas, mais de um sentido
alegórico e insuspeitado? As coincidências são estranhas demais para resultarem
do mero acaso. E agora que mostramos essa identidade entre Miguel e Satã e os
salvadores e dragões de outros povos, o que pode ser mais claro do que todas
essas fábulas filosóficas originadas na Índia, que viveiro universal do
misticismo metafísico? "O mundo", diz Rmatsariar em seus comentários
sobre os Vedas, "começou com uma luta entre o Espírito de Deus e o
Espírito do Mal, e em luta há de acabar. Após a destruição da matéria, o mal
não mais existirá, deverá voltar ao nada". Na sua Apologia, Tertuliano
(160-220) falsifica evidentemente toda doutrina e toda crença dos pagãos relativas
aos oráculos e aos deuses. Chama-os, indiferentemente de domônios e de diabos,
acusando estes últimos de possuírem até mesmo as aves do ar! Que cristão
ousaria duvidar de tal autoridade? Não afirmou o salmista que "Todos os
deuses das nações são ídolos" e não explicou o anjo das Escolas, Tomás de
Aquino (1225-1274), com sua autoridade cabalística, a palavra ídolos por
diabos? "Eles vêm até os homens", diz ele, "e os incitam a
adorá-los, valendo-se de certas obras que parecem milagrosas". Os padres
foram tão prudentes, quanto sábios em suas invenções. Para ser imparciais, após
terem criado um diabo, começaram a criar santos apócrifos. Nomeamos vários eles
em capítulos precedentes, mas não devemos nos esquecer de Caesar Baronius
(1538-1607), que, ao ler uma obra de João Crisóstomo (347-407) sobre o santo
Xynoris, palavra que significa par, casal, tomou-a pelo nome de um santo e
criou com ela um mártir da Antioquia e chegou a dar uma biografia detalhada e
autêntica do "mártir ferido". Outros teólogos fizeram de Apollyon, ou
antes Apolouôn, o Anticristo. Apolouôn é o "banhador" de Platão (428
AC 348), o deus que purifica, que lava e nos livra do pecado, porém que foi
transformado naquele "cujo nome na língua hebraica é Abadon, mas na língua
grega tem o nomo de Apollyon, diabo! Apocalipse 9: 11. Max Muller (1849-1874)
diz que a serpente do paraíso é uma concepção que deve ter brotada entre os
judeus e "dificilmente parece convidar a uma comparação com as concepções
mais grandiosas do poder terrível de Vritra e de Ahriman no Veda e no
Avesta". Para os cabalistas, o diabo foi sempre um mito, o aspecto
invertido de Deus ou do bem. O mago moderno Eliphas Lévi (1810-1875), chama o
diabo de "l ivresse astrale" (uma palavra francesa que traduzido em português
significa a intoxicação astral). É uma força cega como a eletricidade, diz ele;
e, falando alegoricamente, como sempre fez. Jesus observou que ele
"considerava Satã com se fosse um raio caído do céu". O clero insiste
que Deus enviou o diabo para tentar a humanidade, o que seria antes uma maneira
singular de mostrar seu amor infinito para com o gênero humano! Se o Supremo
foi realmente culpado dessa traição incompatível com sua augusta paternidade,
ele é digno, certamente, de adoração por parte de uma Igreja que canta o Te
Deum depois do massacre de São Bartolomeu (morte de aproximadamente 25.000
protestantes por católicos franceses em Paris nos dias 23 e 24 de agosto de
1574) e de abençoar as espadas maometanas feitas para exterminar os cristãos
gregos! Isto soa ao mesmo tempo lógico e legal, não diz uma máxima da
jurisprudência que "Qui facit per alium, facit per se"? A grande
dessemelhança que existe entre as várias concepções do diabo é verdadeiramente
ridícula. Enquanto os beatos o enfeitam invariavelmente com chifres e rabos e o
concebem numa figura repulsiva que inclui um cheiro humano pestilento, John
Milton (1608-1674), Lord Byron (1788-1824), Johann Goethe (1749-1832). Mikhail
Lermontov (1814-1841) e um exército de romancistas franceses ergueram seu
louvor em poesia graciosa e em prosa emocionante. O Satã de Milton e até mesmo
o Mefistóles (personagem do romance Fausto) de Goethe possuem um relevo mais
vigoroso do que alguns dos anjos representados na prosa de beatos estáticos.
Comparemos duas descrições. Premiemos em primeiro lugar o incomparavelmente
sensacional des Mousseaux. Ele nos dá uma narrativa emocionante de um íncubo,
nas palavras da própria penitente: "Certa vez, ela conta,
"durante todo o espaço de meia hora, ela viu claramente perto dela
um indivíduo com um corpo preto, espantoso, horrível, cujas mãos, de um tamanho
enorme, exibiam dedos agatanhados estranhamente encurvados. Os sentidos da
visão, do tato e do olfato foram corroborados pelo da audição"! E, pelo
espaço de muitos anos, a donzela foi arrastada por tal herói! Quão distante
desse galante odorífero está a majestosa figura do Satã miltoniano! Que o
leitor então imagine, se puder, essa quimera soberba, esse ideal do anjo
rebelde tornado o Orgulho encarnado, e encerrado na pele do mais repulsivo dos
animais? Muito embora o catecismo cristão nos ensine que Satã in própria
persona tentou nossa primeira mãe, Eva, num paraíso real, e na forma de uma
serpente, que de todos os animais era o mais insinuante e o mais fascinante!.
"Deus ordena a ela, (a serpente no jardim do Éden), arrastar-se
eternamente sobre seu ventre, e comer a poeira do chão. "Uma
sentença", observa Eliphas Levi (1810-1875), "que em nada se parece
às tradicionais chamas do inferno". Não levaram em consideração os autores
dessa alegoria que a serpente zoológica real, criada antes de Adão e Eva,
arrastava-se sobre seu ventre e comia a poeira do chão, antes que existisse
qualquer pecado original. Por outro lado, não foi Ophion, o Daimôn ou diabo,
como Deus, chamado Dominus? A palavra Deus (deidade0 deriva da palavra
sânscrita Deva, e diabo provém do persa daêva, palavra substancialmente
semelhantes. Hércules, filho de Jove e de Alcmena, um dos deuses sóis mais
elevados e também o Logos manifesto, e, não obstante. representado numa natureza
dupla, como todos os outros. O Agathodimôn, o daêmon beneficente, o mesmo que
encontramos posteriormente entre os ofitas com a denominação de Logos, ou
sabedoria divina, era representado por uma serpente que se mantinha ereta sobre
uma vara, nos mistérios das bacanais. A serpente com cabeça de falção está
entre os emblemas egípcios mais antigos e representa a mente divina, diz Deane.
Azâzel é Moloch e Samuel, diz Movers, e Aaron, o irmão do grande legislador
Moisés, faz sacrifícios idênticos a Jeová e Azâzel. "E a Aarão deita
sortes sobre os dois bodes, uma para o Senhor (Toth no original) e outra para o
bode emissário (Azâzel). No Velho Testamento, Jeová exibe todos os atributos do
velho saturno, apesar de suas metamorfoses de Aoni em Elói e em Deus dos
deuses, Senhor dos senhores. Jesus é tentado na montanha pelo diabo, que lhe
promete reino e glória se se prostrasse e o adorasse (Mateus 4: 8,9), Buda (563
AC 483) é tentado pelo demônio Wasawartti-Mâra, que lhe diz, no momento em que
deixava o palácio de seu pai: "Fica, que possuíras as honras que estiverem
ao teu alcance. Não vás, não vás". E com a recusa de Gautama em aceitar
suas oferendas, rangeu seus dentes com raiva e prometeu vingar´se. Como Cristo,
buda triunfa sobre o diabo. Nos mistérios báquicos, um cálice consagrado,
chamado cálice de Agathodaimôn, passava de mão em mão entre os fiéis após o
jantar. O rito ofita de mesma descrição foi evidentemente tomado desses
mistérios. A comunhão, que consistia de pão e vinho, foi usada na adoração de quase
todas as divindades importantes. Em relação com o sacramento semi mítrico
adotado pelos marcosianos, uma outra seita gnóstica, totalmente cabalística e
teúrgica, há uma estranha história oferecida por Epifânio como uma ilustração
das artimanhas do diabo. Na celebração da sua Eucaristia, os marcosianos
traziam traziam três grandes vasos do cristal mais fino e mais claro para o
meio da congregação e os enchiam de vinho branco. No transcorrer da cerimônia,
à vista de todos, esse vinho era instantaneamente mudado para vermelho sangue,
para púrpura e depois para azul celeste. "Então o Mago", diz
Epifânio, "entrega um desses vasos para uma mulher da congregação e lhe
pede que o abençoe. Feito isso, o mago despeja o seu conteúdo num vaso de maior
capacidade, formulando o seguinte pedido: "Possa a graça de Deus, que está
acima de tudo, é inconcebível e inexplicável, preencher o teu interior e
aumentar o conhecimento daquele que está dentro de ti semeando o grão de
mostarda em terreno fértil, Depois disso o licor do vaso maior aumenta e
aumenta até chegar à borda. Em relação com muitas divindades pagâs que, após a
morte, e antes de sua ressurreição, descem ao inferno, seria útil comparar as
narrativas pré cristãs com as pós cristãs. Orfeu fez a sua viagem, e Cristo foi
o último desses viajantes subterrâneos. No Credo dos Apóstolos, que está
dividido em doze frases ou artigos, que foram inseridos cada um por um apóstolo
em particular, segundo Santo Agostinho (354-430), a frase "Desceu ao
inferno, no terceiro dia ressurgiu dos mortos" é atribuída a Tomé, talvez
como uma expiação da sua incredulidade. Seja como for, diz-se que a frase é uma
falsificação e não há evidencia "De que esse Credo tenha sido modelado
pelos apóstolos, ou pelo menos que existisse como credo em sua época. Trata-se
da adição mais importante que foi efetuada no Credo dos Apóstolos e data do ano
600. Esse artigo não era conhecido na época de Eusébio. O bispo J. Pearson diz
que ele não fazia parte dos credos antigos ou das regras de fé. Irineu de Lyon
(130-202), Orígenes de Alexandria (182-254) e Tertuliano (160-220) não parecem
conhecê-lo. Não é mencionado em nenhum dos Concílios realizados antes do século
VII. Theodoreto (393-457), Epifânio (310-403) e Sócrates (469-399) silenciam-se
a seu respeito. Difere do credo de Santo Agostinho. Rufino afirma que, em sua
época, ele não constava nem dos credos romanos nem dos orientais. Mas o
problema se resolve quando lemos que séculos atrás Hermes falou da seguinte
maneira a Prometeu, acorrentado no rochedo árido do Cáucaso. "Teu tormento
não cessará até que Deus o substitua em tua aflição e desça ao lúgubre hades e
às profundezas sombrias do tártaro. Esse deus era Hérculaes, o
"Unigênito", e o salvador. E é ele que foi escolhido como modelo pelos
padres engenhosos. Hércules, chamado Alexikakos porque converteu os malvados à
virtude, Soter, ou Salvador, também chamado Neulos Eumélos, o Bom Pastor,
astrochitón, o vestido de estrelas, e o senhor do fogo. "Ele não sujeitou
as nações pela força, mas pela sabedoria divina e pela persuasão", diz
Luciano. "Hércules disseminou cultura e uma religião suave e destruiu a
doutrina da punição eterna expulsando Cérbero (demônio do poço - era um
monstruoso cão de múltiplas cabeças e pescoço, que guardava a entrada do
inferno - mundo inferior. O reino subterrâneo dos mortos, deixando as almas
entrarem, mas jamais saírem e despedaçando os mortais que por lá se
aventurassem). E, como vemos, foi também Hércules quem libertou Prometeu (o
Adão dos pagãos), pondo um fim à tortuta infligida a ele por suas
transgressões, descendo ao hades e ao tártaro. Como cristo, ele apareceu como
um substituto para as aflições da humanidade, oferecendo-se em sacríficio numa
pira funerária. "Sua imolação voluntária", diz Bart, "augurou o
novo nascimento etêreo dos homens, ( ... ). Com a libertação de Prometeu, e a
ereção de altares, vemos nele um mediador entre os credos antigos e os novos, (
... ). Ele aboliu o sacrifício humano onde quer que fosse praticado. Desceu ao
reino sombrio de Plutão, como uma sombra ( ... ) ascendeu como espírito a seu
pai, Zeus, no Olimpo. A antiguidade estava tão marcada pela lenda de Hércules,
que até mesmo os judeus monteístas daquela época, para não serem ultrapassados
pelos seus contemporâneos, utilizaram-na na manufatura das fábulas originais.
Hércules é acusado, em sua mito biografia, de uma tentativa de roubo do oráculo
de Delfos. No Sepher Toledoth Yeshu, os rabinos acusam Jesus de roubar do seu
santuário o Nome Inefável! Portanto, nada há de estranho em suas numerosas
aventuras, mundanas e religiosas, tão fielmente espelhadas na Descida do
Inferno. Por uma extraordinária ousadia de embuste e um plágio despudorado, o
Evangelho de Nicodemo, só agora proclamado apócrifo, ultrapassa tudo que já
lemos. Que o leitor julgue. No começo do capítulo XVI, Satã e o "Príncipe
do Inferno" são apresentados conversando, amigavelmente. De repente, ambos
são colhidos por "uma voz como de trovão" e pelo assalto dos ventos,
que lhes ordenam abrir as portas para que "O Rei da Glória possa entrar".
Logo após o Príncipe do Inferno ter ouvido esta ordem, "começa a discutir
com Satã por não ter sido prevenido para tomar as precauções necessárias contra
essa visita". A discussão termina como o príncipe lançando Satã "para
fora de seu inferno", ordenando ao mesmo tempo que seus oficiais
impiedosos "cerrassem as portas brônzeas da crueldade e as aferrolhassem
com barras de ferro e lutassem corajosamente para não sermos tomados como
prisioneiro". Mas "quando toda a companhia de santos( no inferno?) ouviu
isto, todos eles disseram com voz encolerizada ao príncipe do inferno
"Abre as portas, deixa O Rei da Glória entrar", provando que o
príncipe precisava de arautos. "E o profeta Davi gritou: "Acaso não
profetizei em verdade quando estava na terra?" Após isso, outro profeta,
chamado Isaías, falou da mesma: "Não profetizei eu em verdade?", etc.
Então, a companhia dos santos e profetas, deposi de se jactar por um capítulo
inteiro e de comparar as notas de suas profecias, iniciou um tumulto, o que fez
o príncipe do inferno, observar que "os mortos nunca se comportaram tão
insolentemente, fingindo ignorar sobre quem estava pedindo admissão".
Paramos por aqui quanto a transcrição do livro Ísis Sem Véu. Lembrando aos
leitores que devem fazer seus juízos particulares dentro de suas perspectivas
religiosas e espirituais. Não tenho a pretensão de formar opiniões com meus
argumentos e nem influenciar nenhum de vocês. Considero-os corajosos por lerem
alguns artigos do Mosaico, como esse, que desmistifica alguns dogmas milenares
impostos pela Igreja para em muitos casos oficializar e fundamentar doutrinas
baseadas em superstições e crendices. Aos amigos de outros países, no Brasil
temos enormes problemas com esse tema específico, pois vemos em Igrejas Cristãs
Protestante, shows com a invocação de espírito dos mundos inferiores. Onde eles
se manifestam e criam um ambiente de engano e subordinação de todos os
participantes, desde os líderes (pastores) que supostamente praticam o
exorcismo, até os simples do povo que vão em busca de curas, alívio para suas
dores, bençãos materiais e felicidade eterna. Assim, podemos tristemente
assistir esses espetáculos na TV, nos cultos presenciais, e, campanhas
missionárias organizadas por Igrejas Neo Pentecostais que usam mais esse tipo
de artifício para atrair multidões necessitadas de refrigério para seus
sofrimentos. O que é dito no texto com outras palavras "o diabo toma o
lugar de Deus" é verdadeiro quando observamos os rituais de expulsão de
demônios nesses ambientes carregados de emocionalismos e sensacionalismos
exacerbados. Outro aspecto da demonização é culpar o demônio por todas as
coisas negativas que nos acontecem, e creditar a Deus os sucessos que obtivemos
em nossas convivências sociais, profissionais e espirituais. Isso representa
nossa covardia e pulsilanimidade, pois não querendo assumir nossas escolhas
certas ou erradas e nossas decisões em igual valor, jogamos a culpa no demônio
que não tem nada haver com nossa maneira desidiosa de expressar nosso
comportamento estereotipado. Assim descumprimos as Escrituras quando dizem:
"O reino de Deus não é comida e nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria
no Espírito Santo". Essas coisa são sutil e precisamos da intuição vinda
dO Inefável para abarcarmos seu sentido completo. Não tendo medo de encarar de
frente a questão e dando um basta nesse codinome, disfarçado de santo, com a
essência e substância de demônio dos mundos inferiores. A pessoalidade desses
seres (vulgarmente chamados de demônios) que habitam os mundos inferiores, divididos
em hierarquias são representações de nosso inconsciente, vindas das correntes
dos mundos das ideias e pensamentos. Tomo esse argumento da filosofia de Platão
(428 AC 347) que baseia-se no mundo ideal e real. O real é esse mundo físico,
material, grosseiro, enquanto que o mundo ideal é justamente o mundo dos
pensamentos, das ideias, das coisas abstratas. Para Platão o corpo é o cárcere
da alma que precisa se libertar para alcançar seu "eu" ideal, de modo
a possuir seu verdadeiro conhecimento. Então, enquanto estivermos presos ao
corpo (mundo real, físico) veremos demônios agindo por todos os lados e
supostamente influenciando nossa vida, pois em uma condição corrupta seremos
tendentes a negociar nossa culpa e ressentimento, como os demônios ou outros seres
que nos iludam com suas dissimulações. Precisamos transcender para o
mundo ideal, dos pensamentos com nossa alma migrando das coisas fúteis e
ilusórias da vida para uma dimensão de fraternidade e amor ao próximo.
Assim seremos nós mesmos no mundo, evoluindo com o que temos e somos. Às vezes
involuindo devido aos vícios e deméritos, mas conscientes que o processo de
desenvolvimento da divindade em nosso ser é nossa total responsabilidade e
somos o auto fiador desse sistema de completude cósmica. Livro Isis Sem Véu.
Volume IV. Abraço. Davi.
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