www.G1.globo.com. A Faculdade de Direito da USP divulgou, em 26 de julho de 2022, uma CARTA EM DEFESA DA DEMOCRACIA E DO PROCESSO ELEITORAL. Com assinaturas de autoridades, ex-ministros do STF, artistas, acadêmicos e banqueiros. O documento, intitulado, "Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito!", foi lançado depois de seguidos ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral brasileiro.
Abaixo, veja a íntegra da carta.
"Em
agosto de 1977, em meio às comemorações do sesquicentenário de fundação dos
Cursos Jurídicos no País, o professor Goffredo da Silva Telles Junior, mestre
de todos nós, no território livre do Largo de São Francisco, leu a Carta aos
Brasileiros, na qual denunciava a ilegitimidade do então governo militar e o
estado de exceção em que vivíamos. Conclamava também o restabelecimento do
estado de direito e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.
A semente plantada rendeu frutos. O Brasil superou a ditadura militar. A Assembleia Nacional Constituinte resgatou a legitimidade de nossas instituições, restabelecendo o estado democrático de direito com a prevalência do respeito aos direitos fundamentais. Temos os poderes da República, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, todos independentes, autônomos e com o compromisso de respeitar e zelar pela observância do pacto maior, a Constituição Federal.
Sob o manto da Constituição Federal de 1988, prestes a completar seu 34º aniversário, passamos por eleições livres e periódicas, nas quais o debate político sobre os projetos para país sempre foi democrático, cabendo a decisão final à soberania popular. A lição de Goffredo está estampada em nossa Constituição “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Nossas eleições com o processo eletrônico de apuração têm servido de exemplo no mundo. Tivemos várias alternâncias de poder com respeito aos resultados das urnas e transição republicana de governo. As urnas eletrônicas revelaram-se seguras e confiáveis, assim como a Justiça Eleitoral.
Nossa democracia cresceu e
amadureceu, mas muito ainda há de ser feito. Vivemos em país de profundas
desigualdades sociais, com carências em serviços públicos essenciais, como
saúde, educação, habitação e segurança pública. Temos muito a caminhar no
desenvolvimento das nossas potencialidades econômicas de forma sustentável. O
Estado apresenta-se ineficiente diante dos seus inúmeros desafios. Pleitos por
maior respeito e igualdade de condições em matéria de raça, gênero e orientação
sexual ainda estão longe de ser atendidos com a devida plenitude.
Nos próximos dias, em meio a estes desafios, teremos o início da
campanha eleitoral para a renovação dos mandatos dos legislativos e executivos
estaduais e federais. Neste momento, deveríamos ter o ápice da democracia com a
disputa entre os vários projetos políticos visando convencer o eleitorado da
melhor proposta para os rumos do país nos próximos anos. Ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de
imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da
República e insinuações de desacato ao resultado das eleições.
Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura
do processo eleitoral e o estado democrático de direito tão duramente
conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais
poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da
ordem constitucional. Assistimos recentemente a
desvarios autoritários que puseram em risco a secular democracia
norte-americana. Lá as tentativas de desestabilizar a democracia e a confiança
do povo na lisura das eleições não tiveram êxito, aqui também não terão.
Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os
adversários da democracia. Sabemos deixar ao lado divergências menores em prol
de algo muito maior, a defesa da ordem democrática. Imbuídos do espírito cívico
que lastreou a Carta aos Brasileiros de 1977 e reunidos no mesmo território
livre do Largo de São Francisco, independentemente da preferência eleitoral ou
partidária de cada um, clamamos as brasileiras e brasileiros a ficarem alertas
na defesa da democracia e do respeito ao resultado das eleições. No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários.
Ditadura e tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da
sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das
eleições. Em vigília cívica contra as
tentativas de rupturas, bradamos de forma uníssona:
Estado Democrático de Direito Sempre !!!!"
Redator do Mosaico. O Mosaico Espiritual também assina essa Carta de Propósito pela permanência da democracia no Brasil. Divulgada em manifestações populares pela sociedade civil em 11/08/2022. Rejeitando veementemente qualquer intenção individual ou vontade coletiva de golpe de Estado, seja civil ou militar. Situação que provocaria uma derrocada em nosso sistema organizacional e destruição das instituições livres e soberanas. Impondo uma perversa subserviência civil da sociedade. Esmagando o livre arbítrio e determinação do povo brasileiro em escolher seus representantes constitucionais: federais, estaduais e municipais. Excluindo o Estado Democrático de Direito. Dando plenos poderes de julgar, legislar e executar ao ditador forçosamente instituído pelos revoltosos apoiadores diretos e simpatizantes seguidores. Um completo desmonte das conquistas civis e sociais que a Constitucional Federal de 1988 alcançou. Após o fim da ditadura militar em nosso país no intervalo de 1º de abril de 1964 a 15 de março de 1985. Mesmo que os militares tenham a época, conseguido controlar a inflação, num primeiro momento. Aumentar a produtividade na economia. Modernizar a máquina pública e o parque industrial. Não se justifica o retrocesso. Esses anos foram conhecidos como “anos de chumbo”. Quem vivenciou e lutou pela normalidade política e sociocultural nesse período, sabe como foi opressor esse regime. Prisões arbitrárias. Censuras culturais – filmes, músicas, peças de teatro, jornais. Desaparecimentos de pessoas que expressavam opiniões contrárias. Torturas, afogamentos, assassinatos de indígenas, sequestros e mortes de civis sem explicação. A violação dos direitos humanos era sistematicamente praticada. Ouve também a edição do Ato Institucional nº 5 em 13/12/1968. Decretou a permissão ao Presidente da República para ordenar: O fechamento do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores. Intervenção federal em Estados e Municípios. Cassação de mandatos políticos e a suspensão de direitos políticos. O Estado de Sítio e a apreensão de bens de cidadãos, dentre outras medidas. Esses foram alguns dos autoritarismos cometidos pelo regime imposto. Inaceitável qualquer intenção ou investida nesse sentido. Nossa democracia é inegociável. Nada, e nenhum interesse particular, seja na suspeita infundada da legitimidade das urnas eletrônicas. Que já foram exaustivamente analisadas e comprovada sua segurança e eficiência na contagem e apuração dos votos. O sistema certificado, inclusive por auditorias de cientistas da informação dos mais gabaritados do mundo. Até hackers foram usados para acessar o processo, todavia, sem nenhum êxito. Um discurso de perdedor do atual mandatário de nossa nação. Que desde 1996, a 26 anos, ocupa cargo público eletivo pela urna eletrônica sem reclama. Agora, e na eleição passada de 2018, tem duvidado desse processo. Hoje 02/08. O Presidente Bolsonaro persiste na saga de atacar os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a questionar o sistema eleitoral. Afirmou que o presidente do STF, Luiz Fux, está “equivocado”, e que deveria ser investigado no inquérito das fake News por ter defendido as urnas eletrônicas. O Presidente também atacou dois outros ministros da Corte, Luiz Roberto Barroso e Alexandre de Moraes. Quanto ao ministro Barroso chamou de “criminoso” por ter articulado junto a parlamentares a rejeição à proposta do voto impresso defendida pelo governo federal. Também sobre o ministro Moraes disse “tentar fazer de tudo para incriminá-lo e estar sofrendo uma perseguição implacável”. Nosso Chefe de Estado e de Governo falou quanto aos que subscrevem a Carta pela Democracia: ”Esse pessoal que assina esse manifesto “é cara de pau”, sem caráter, não vou falar outros adjetivos aqui porque sou uma pessoa educada”. Amigos e leitores do Mosaico. Não podemos permitir que esse retorno ao militarismo golpista volte a escravizar a nação brasileira. Todos pela democracia. Abraços. Davi.
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