Yoga.
LIVRO A CIÊNCIA DO YOGA – SAMADHI PADA IV. Consideremos agora os cinco tipos de
modificações, individualmente, um a um. Pratyaksanumanagamah pramanani. I.7. Os
fatos de conhecimento correto são baseados em cognição direta, inferência ou
testemunho. Pramana, que pode ser traduzido, aproximadamente, por conhecimento
correto ou conhecimento relacionado a fatos, abrange todas as experiências em
que a mente está em contato direto ou indireto com o objeto dos sentidos no
tempo, e a percepção mental corresponde aos objetos. Embora sejam três as
fontes de conhecimento correto mencionadas no sutra, e somente em uma,
pratyaksa, haja contado direto com o objeto, isto não quer dizer que não haja
contato nas outras duas. O contato com o objeto nestes dois casos é indireto,
através de algum outro objeto ou pessoa. Um exemplo simples esclarecerá esse
ponto. Suponha que você vê seu carro vindo na direção de sua porta. Você o
reconhece imediatamente. Este conhecimento é, certamente, pratyaksa. Agora, se
você está sentado em seu quarto e ouve o som familiar de seu carro em frente à
sua casa, você o reconhece logo como sendo de seu carro. Aqui, seu conhecimento
é baseado no contato como o objeto. Mas o contato é indireto e envolve o
elemento inferência. Suponha, agora, que você não vê nem ouve o carro, mas seu
empregado vem e diz que seu carro está em sua porta. Aqui também o contato com
o objeto é indireto, mas seu conhecimento é baseado em testemunho. Em todos os
três casos a imagem que nasce em seu cérebro corresponde a um fato e, assim, a
citta-vrtti classifica-se como Pramana ou conhecimento correto. Caso contrário,
por exemplo, se sua inferência em relação à presença de seu carro estiver
equivocada, ou o empregado fizer um relato incorreto. Seu conhecimento estará errado
e pertencerá à segunda categoria, isto é, viparyaya. O conhecimento do tipo
pramana pode ser baseado parcialmente em uma e parcialmente em outra das três
fontes, mas se corresponder aos fatos, pertencerá a este tipo. Viparyayo
mithya-jnanam atad-rupa-pratistham. I-8. Conhecimento errôneo é uma concepção
falsa de uma coisa, cuja forma real não corresponde a tal concepção errada. O
segundo tipo de vrtti, chamado viparyaya é baseado também em algum tipo de
contato com um objeto externo, mas a imagem mental não corresponde ao objeto.
Os exemplos usualmente dados para ilustrar esta classe de vrtti. Tais como uma
miragem no deserto, podem dar a impressão de que ele é um fenômeno muito raro,
mas não é verdade. Casos de viparyaya são muito frequentes. Sempre que houver
falta de correspondência entre nossa concepção de uma coisa e a coisa em si.
Temos realmente um exemplo de viparyaya. Mas deve-se lembrar que um viparyaya
não nos preocupa a correção ou a precisão de nossas impressões mentais, mas
apenas a correspondência entre o objeto e a imagem mental formada em nossa
mente. Numa escuridão parcial, nossa impressão de um objeto pode ser pouco
nítida, mas, se corresponde ao objeto, não é um caso de viparyaya. Sabda
jnanamupati vastu sunyo vikalpah. I.9. Uma imagem evocada por palavras, sem
base em nenhuma substância é fantasia. As duas primeiras categorias de
modificações mentais exaurem todos os tipos de experiência em que há alguma
espécie de contato com um objeto fora da mente. Portanto, esses tipos podem ser
chamados de objetivos em sua natureza. Chegamos agora a outros dois tipos de
vrttis, em que não existe tal contato e a imagem mental é uma pura criação da
mente. Mais uma vez temos aqui duas subdivisões. Se a modificação mental é
baseada em experiência anterior e meramente é reproduzida, temos um caso de
memória. Se não é baseada em verdadeira experiência no passado ou se nada tem
que corresponda ao campo da experiência verdadeira, mas é pura criação da
mente. Trata-se de fantasia ou imaginação. Quando, mentalmente, revemos os
acontecimentos de nossa vida passada, tais modificações mentais pertencem ao
domínio da fantasia. É claro que, mesmo no caso da fantasia, verificar-se-á que
as imagens mentais, quando analisadas. São derivadas essencialmente das percepções
sensoriais que realmente experimentamos, em uma ou outra ocasião, mas as
combinações são novas e não correspondem a qualquer experiência verdadeira.
Podemos imaginar um cavalo com a cabeça de um homem. No caso, a cabeça de um
homem e o corpo de um cavalo foram percebidos separadamente e pertencem ao
campo da memória. Mas a combinação dos dois em uma imagem composta, que não
corresponde a uma verdadeira experiência, transforma a imagem mental em um caso
de vikalpa. As duas categorias de memória e fantasia, devido à ausência de
qualquer contato com um objeto externo que estimule a imagem mental, podem ser
consideradas “subjetivas” em sua natureza. Abhava pratyayalambana vrttir nidra.
I.10. A modificação da mente baseada na ausência de qualquer conteúdo é sono.
Este é um sutra importante e precisa ser estudado com atenção. Naturalmente, o
significado literal do sutra é óbvio. Mesmo essa modificação da mente, na qual
a mente está vazia de conteúdo é classificada como vrtti sendo chamada nidra. E
por uma ótima razão. Durante o tempo em que uma pessoa se encontra neste
estado, sua mente é, por assim dizer, um espaço em branco ou um vazio. Não há
pratyaya no campo da consciência. Este estado parece externamente ser o mesmo
que citta vrtti nirodha, no qual há também completa supressão das modificações
mentais. Como, então, este estado difere da condição de nirbi já samadhi, já
que os dois são polos à parte? A diferença está no fato de que no estado de
nidra, ou soo profundo, a atividade mental não para de forma alguma, somente o
cérebro é desligado da mente e, assim, não registra as atividades que estão
ocorrendo na mente. Quando a pessoa acorda e o contato é restabelecido, o
cérebro volta a ser a sede da atividade mental, como antes. Quando um automóvel
é desembreado, o motor não para, somente desaparece o efeito de sua atuação
sobre o movimento do carro e, portanto, o carro não é impulsionado. Da mesma
maneira, no sono profundo, embora não haja pratyaya no cérebro, a atividade
mental é transferida para um veículo mais sutil, e continua como antes. Somente
o cérebro foi desembreado. Experiências em hipnotismo e mesmerismo corroboram
em parte essa observação. No Yoga, a atividade da mente ou citta é que é
suprimida e para isso é necessário parar as vibrações do corpo mental inferior,
enquanto em estado de vigília. No estado de vigília, o cérebro está ligado a
mente inferior e, pelo controle da atividade da mente no cérebro, podemos
controlar sua própria atividade. Quando o motor de um carro está embreado, por
regulagem ou por paralisação do movimento do carro, podemos regular ou parar o
movimento do próprio motor. Pode-se ver, assim, que o estado de sono profundo e
o estado de citta vrtti nirodha, embora superficialmente pareçam semelhantes,
são completamente diferentes. Anubhuta visayasampramosah smrtih. I.11. Memória
é não permitir a fuga de um objeto que foi experimentado. O processo mental
empregado em recordar uma experiência passa é peculiar e a razão por que a
memória é considerada um tipo de citta vrtti já foi discutida quando foi
abordada em I-9. A memória é aqui definida como a retenção, na mente, de
experiências passadas. Mas deve ser notado que essas experiências são retidas
na mente como meras impressões (samskara) e, enquanto estiverem presentes em
sua forma potencial. Como meras impressões, não poderão ser consideradas como
citta vrtti. Somente quando as impressões potenciais são convertidas em seu
estado ativo, sob a forma de imagens mentais. É que podem ser consideradas,
propriamente, como uma citta vrtti. Abhyasa vairagyabhyam tan nirodhah. I.12. A
sua supressão é obtida pela prática persistente e pelo despego. Após
classificar e explicar as diversas formas que as modificações da mente podem
assumir, o autor dá, neste sutra, os dois meios usuais de se conseguir a
supressão destas modificações. Os meios são: prática e desapego. Duas palavras
aparentemente simples, mas que significam um enorme esforço de vontade humana e
grande variedade de práticas. As duas palavras foram definidas nos sutras
subsequentes. Porém, seu pleno sentido só pode ser compreendido depois de
estudado por completo, o livro. Livro A Ciência do Yoga. Abraço. Davi.
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