Judaísmo. www.morasha.com.br. TEFILÁ, TZEDACÁ E
TESHUVÁ. Rabi Lazar dizia: “Três coisas anulam um decreto servo: Tefilá
(Oração). Tzedacá (Caridade) e Teshuvá (Arrependimento)”. Talmud Yerushalmi,
Taanit 9b. Um dos temas principais dos Asseret Yemei Teshuvá, os
Dez Dias de Arrependimento, que se iniciam em Rosh Hashaná e
terminam na conclusão do Yom Kipur – são as três coisas que
têm o poder de anular um decreto Celestial severo. E elas são: a Tefilá,
oração, a Tzedacá, caridade, e a Teshuvá,
arrependimento. O Talmud Yerushalmi (Taanit 9b), ensina que a
origem desse ensinamento é uma passagem do Livro de Crônicas (2 Crônicas,
7:14), que reconta a resposta de D’us às orações do Rei Salomão quando ele
inaugurou o Tempo Sagrado de Jerusalém. O rei pedira a D’us que fossem aceitas as
súplicas em prol do Templo Sagrado. D’us respondeu que se Ele viesse a decretar
uma escassez de alimentos, uma peste ou uma praga contra a Terra, Ele atenderia
às súplicas do povo e aliviaria o decreto, com a estipulação mencionada no
versículo: “E (se) Meu povo, sobre o qual Meu Nome é proclamado, humilhar-se, e
orar, e buscar a Minha face, e se eles se arrependerem de seus maus caminhos,
Eu os atenderei dos Céus, e perdoarei seus pecados e curarei sua terra”. O
Talmud Yerushalmi demonstra de que forma a oração, a caridade e o
arrependimento se originam de elementos desse versículo. Quando o versículo diz
“e orar”, obviamente se refere à oração. Quando diz “buscar a Minha face”,
refere-se à caridade, pois está escrito no Livro de Salmos (em 17:15): “Quanto
a mim, por minha justiça, contemplarei Tua face (…)”, que é interpretado como:
“pelo mérito de minha justiça (Tzedek) – por meio da caridade (Tzedacá)
que eu realizo – terei o mérito de contemplar a Tua face”. E quando o versículo
diz: “eles se arrependerem de seus maus caminhos”, isso claramente se refere ao
arrependimento. E conclui o Talmud Yerushalmi: “O que lá está escrito, na
continuação daquele versículo: ‘Eu os atenderei dos Céus, e perdoarei seus
pecados e curarei sua terra’”. Essa passagem do Talmud de Jerusalém – que
ensina que a oração, a caridade e o arrependimento podem anular um decreto
Celestial hostil – suscita muitas perguntas que constituem o cerne do Judaísmo.
Por exemplo, como pode a oração influenciar as decisões Divinas? Ou, qual o significado
do conceito de que por meio da caridade, da Tzedacá, pode-se
“contemplar a Face de D’us” – obviamente um conceito antropomórfico, uma vez
que os conceitos físicos não se aplicam ao Todo Poderoso? E ainda outra questão
fundamental: Qual o significado da Teshuvá? O propósito da
oração. TEFILÁ, oração, é um elemento essencial em todas as
religiões. A oração e a religião são interligadas. Não existe relacionamento se
não há comunicação e a oração é nossa forma de nos comunicarmos com D’us.
Qualquer um pode orar, em qualquer idioma, e da forma que melhor lhe aprouver.
Mesmo as crianças pequenas oram. É bem possível que a oração seja instintiva e
não apenas algo que tenhamos que aprender. Como a oração é um fenômeno tão
comum, muitas pessoas a aceitam como coisa natural, mas na verdade não é tão
simples assim. O próprio conceito da oração levanta muitas questões teológicas
e filosóficas. Por exemplo, se as decisões Divinas são decretadas por Sua
Divina Sabedoria e, assim, simbolizam a bondade, a verdade e a justiça, por que
a oração levaria D’us a mudar de opinião? Outra pergunta: se uma pessoa é um
ser humano íntegro e merecedor, por que D’us não haveria de favorecê-la mesmo
se ela não orasse? Por outro lado, se a pessoa não faz jus àquilo que pede em suas
orações, por que a oração deveria ajudá-la? Uma pergunta ainda mais
fundamental: Por que devemos orar, afinal? D’us Infinito, que é Onisciente,
certamente está ciente de nossos desejos e necessidades mesmo que nós não os
pronunciemos. Não há nada que possamos dizer-lhe que Ele ainda não saiba. D’us
sabe, melhor ainda do que nós, aquilo que desejamos, aquilo que nos falta e de
que carecemos. Ele certamente está ciente do que está em nosso coração e do que
se passa em nossa mente. Conhece nossas ambições e anseios, nossas
preocupações, problemas e aflições. Nada do que sabemos e sentimos é
desconhecido por D’us. Conhece-nos melhor do que nós nos conhecemos. O conceito
de que por meio da oração podemos mudar a mente de D’us é especialmente
desconcertante. Quando oramos e pedimos que D’us aja de determinada maneira,
estamos indicando saber melhor do que Ele como deveria agir? Se Lhe pedimos que
anule um decreto, estaríamos dizendo que Ele tomou uma decisão errada e deveria
reconsiderá-la? Ao que tudo indica, o conceito de oração parece ser um ato que
contradiz a noção de que D’us é onisciente e perfeito. E, mesmo assim, além de
termos permissão de orar, somos mesmo instruídos a fazê-lo. Segundo vários
legisladores da Torá, a oração é um mandamento bíblico. Na verdade, temos o
mandamento de servir a D’us diariamente, como determina a Torá: “(...). E
servireis ao Eterno, vosso D’us, e Ele abençoará o teu pão e a tua água (...).”
(Êxodo, 23:25). Apesar de podermos servir a D’us de várias formas, a principal
delas é por meio da oração, quando podemos comungar com D’us com nossos
pensamentos, emoções e pronunciamentos. A oração pode ter várias formas, desde
que forneça uma forte comunhão entre a pessoa e D’us. Pode consistir de uma
louvação a D’us, de um pedido a Ele para que realize nossas necessidades e
desejos ou de um agradecimento por benesses recebidas. Mesmo que a pessoa sinta
ter tudo o que precisa e deseja, sempre deve orar a D’us pedindo pelo futuro. É
claro que quando oramos, estamos rogando a D’us para que realize nossas
necessidades e desejos e geralmente Lhe pedimos que mude Seu decreto. Por que
D’us não apenas permite, mas nos ordena fazer algo que parece ser pretensioso e
mesmo um pouco ofensivo a Ele? Por que Ele espera que nós Lhe digamos aquilo
que Ele já sabe e lhe peçamos para que reverta ou anule Suas próprias
decisões? Há várias respostas a essas perguntas. Uma discussão rica e profunda
sobre a oração está muita além do escopo deste artigo. Mas tentaremos discutir
brevemente algumas respostas que o Judaísmo dá ao tema. Nossos Sábios ensinam
que D’us geralmente deposita bênçãos sobre uma pessoa na medida em que essa
pessoa seja um digno receptáculo das mesmas. Se a pessoa não o é, pode “perder”
uma bênção que lhe estava destinada, simplesmente porque deixou de se alinhar
com aquela bênção ao não se tornar digno da mesma. Isso pode ser comparado a um
agricultor que estava destinado a ter um ano próspero em suas terras, mas que
deixou de semeá-las e, portanto, não colheu nada. Assim, os problemas ou carências
de uma pessoa podem refletir um estado espiritual inadequado, e não
necessariamente o plano Divino para ela. Da mesma forma, quando a pessoa muda
sua realidade espiritual, ela pode mudar as circunstâncias de sua vida. Essa
mudança não ocorre porque ela mudou a ideia de D’us, mas porque, ao elevar seu
estado espiritual, ela se tornou digna do bem que D’us lhe havia reservado, a
priori. Uma das maneiras mais potentes e eficazes de se elevar o estado de
espírito é por meio da oração. De fato, esse é um dos principais propósitos da
oração. Quando a pessoa reza, especialmente quando o faz com intensidade e
sinceridade, está intensificando sua fé e confiança em D’us, pois, ao orar,
está reconhecendo a Infinita capacidade Divina, nossa dependência d’Ele e Seu
controle sobre tudo. O ato de orar aumenta a conscientização que essa pessoa
tem de D’us e de Sua Providência, tornando-a, assim, digna da bondade que D’us
lhe quer dedicar. A oração também deve levar a pessoa a se curvar perante D’us.
A humildade e o sentimento de que estamos totalmente dependentes de D’us nos
leva mais perto d’Ele – tornando aquele que ora mais apto a receber as bênçãos
Divinas. Isso explica melhor o porquê de D’us “desejar” as orações dos justos:
um justo pode ser digno de uma bênção, de qualquer modo, mas, ainda assim, D’us
deseja elevá-lo, ainda mais, motivando-o a orar e, assim, crescer
espiritualmente. A oração tem a capacidade de levar a pessoa aos mais altos
níveis de perfeição espiritual. Isso também explica por que devemos orar ainda
que D’us conheça nossos desejos e pedidos mais do que nós mesmos. Na oração,
devemos nos concentrar e nos entregar por completo, chegando, assim, muito mais
perto de D’us, pois voltamos toda a nossa atenção a Ele, conectando-nos com Ele
ao expressar nossas necessidades. Isso nos torna merecedores da benesse que
D’us reservou para nós. Por essa razão, a oração era a forma como os patriarcas
– Avraham (Abraão), Itzhak (Isaque) e Yaacov (Jacó) – bem como todos os grandes
homens e mulheres de Israel se ligavam a D’us. De fato, vemos na Torá que Moshé
(Moisés), o maior dos profetas, regularmente orava a D’us. É importante
observarmos que a oração tem o poder de efetuar uma mudança porque ela revela a
dedicação da pessoa a D’us também de outras maneiras. Por exemplo, quando
alguém se empenha em ir à sinagoga e se une aos demais, ela está santificando o
Nome de D’us de forma pública e disseminando sua fé em D’us. Assim sendo, a
oração não é uma questão de “informar” D’us acerca de nossas solicitações. É
uma forma muitíssimo poderosa de dedicação, de crescimento espiritual e de
união com D’us. Isso é o que a torna uma das funções mais fundamentais do homem
na vida, e um meio dos mais poderosos de se alcançar um favorecimento Divino.
Como o propósito da oração é rogar a D’us que introduza mudanças no mundo
físico, a oração serve para aperfeiçoar Seu relacionamento com o mundo e,
assim, unificar os planos espiritual e material. Esse é o significado do
ensinamento cabalístico de que a oração deve se elevar e penetrar todos os
mundos espirituais, de modo a fazer com que a bondade Divina flua para baixo,
unificando-os e nutrindo-os. Por essa razão, a oração é tão importante perante
D’us. O Talmud Bavli ensina que a oração é uma daquelas coisas que se colocam
nos reinos espirituais mais elevados, no entanto muitas pessoas a consideram de
forma leviana. Se elas soubessem quão poderosa pode ser a oração, certamente
orariam com mais frequência e muito mais concentração. Resumindo o que vimos
acima, a oração anula os decretos Celestiais hostis porque orando nos
aproximamos de D’us e, assim, removemos todas as barreiras que podem nos ter
impedido de receber as benesses que emanam d’Ele. A oração não muda a Sua
opinião. Mas muda nosso estado espiritual, tornando-nos, assim, mais aptos a
receber as bênçãos Divinas. Voltando à analogia mencionada acima, D’us pode
decretar que um determinado agricultor tenha uma boa safra, mas é necessário
semear adequadamente para que a colheita seja boa. Da mesma forma, o esforço
que uma pessoa despende na oração é, em geral, um pré-requisito para a
concretização de todas as benesses que D’us decretou para ela. O poder
da caridade. “E (se) Meu povo, sobre o qual Meu Nome é proclamado,
humilhar-se, e orar, e buscar a Minha face, e se eles se arrependerem de seus
maus caminhos, Eu os atenderei dos Céus, e perdoarei seus pecados e curarei sua
terra” (2 Crônicas, 7:14). O Talmud Yerushalmi cita esse versículo e ensina que
ao realizarmos atos de TZEDACÁ, “contemplamos a face” de D’us, e
que essa é uma das formas de anular um decreto Celestial hostil. D’us
obviamente não tem face; trata-se puramente de uma expressão antropomórfica, na
qual os atributos humanos são atribuídos a D’us para que o homem possa ter
alguma compreensão do Divino. Nossos Sábios ensinam que a “face” de D’us se
refere ao Seu Atributo de Misericórdia, pois denota estima e bondade
demonstradas à pessoa sobre a qual D’us irradia Seu Semblante, como vemos nos
versículos da Bênção Sacerdotal (Números, 6:25), “Faça o Eterno resplandecer o Seu
rosto sobre ti e te agracie”. No livro de Salmos, 17,15, há um versículo que
diz: “Quanto a mim, por minha justiça, contemplarei Tua face; e ao despertar
serei saciado por Tua visão”, expressando o anseio e a antecipação do Rei David
pelo Mundo Vindouro. Segundo ele, por meio de seus atos de caridade, ele
mereceria “contemplar a face de D’us”, ou seja, deleitar-se na radiante
Presença Divina. Vemos, portanto, que a “face de D’us” pode “ser vista” por
meio de atos de caridade. Assim, quando o versículo diz – “E (se) o Meu povo,
que é chamado pelo Meu Nome (...) buscar a Minha face” – a expressão “buscar a
Minha face” refere-se a atos de caridade. O Talmud Bavli (Bava Batra 10a)
ensina que Rabi Eliezer, baseando-se nesse versículo, tinha o costume de
dar TEZDACÁ antes de rezar. Como ao orar nos aproximamos de
D’us e buscamos Sua “face”, a forma de realizá-lo se dá mediante atos de
caridade. Por que a caridade é tão poderosa? Por que invoca o Atributo Divino
da Misericórdia? Porque para os Céus, a recompensa é dada de acordo com os
nossos atos. Em outras palavras, D’us nos trata da mesma maneira como tratamos
os demais. Se alguém é generoso com os outros, D’us é generoso com esse alguém.
Se a pessoa cuida das necessidades dos demais, D’us cuidará das suas. Se a
pessoa é misericordiosa e dá parte do que ganha para salvar os demais dos
muitos sofrimentos decorrentes da pobreza, D’us será misericordioso com ele e o
protegerá contra o sofrimento e a infelicidade. Fora isso, a caridade, assim
como a oração, eleva o estado de espírito da pessoa a alturas incríveis. E,
portanto, aquele que regularmente pratica a caridade se torna merecedor de
maravilhosas bênçãos Divinas. Nossos livros sagrados estão repletos de
ensinamentos acerca do poder imenso e das recompensas, materiais e espirituais,
da prática da TZEDACÁ. O Talmud Bavli (Bava Batra 9a)
afirma que “A TZEDACÁ é igual a todos os demais mandamentos
juntos”, e que “é maior do que todos os sacrifícios”. O Talmud Yerushalmi (Peah
1,1) o corrobora: “TZEDACÁ e atos de bondade são o equivalente a
todos os mandamentos da Torá”. O Midrash (Midrash Zuta, Cântico dos
Cânticos 1) ensina que “Se apenas as pessoas que viveram na geração do Dilúvio
(de Noach) e as pessoas de Sodoma tivessem feito TZEDACÁ, elas não
teriam perecido”. O Midrash também ensina que a existência do
mundo é baseada na prática da caridade: “Grande é a TZEDACÁ, pois
desde o dia em que o mundo foi criado até o dia de hoje, o mundo se equilibra
sobre T” (Midrash Tana d´Vei Eliyahu Zuta 1). O Talmud
Bavli vai além e diz que a caridade é tão poderosa que pode reverter o decreto
Celestial da morte – ou seja, pode prolongar a vida de uma pessoa. Pois está
escrito: “Rabi Yehudá costumava dizer: ‘Dez coisas fortes foram criadas no
mundo. A pedra é dura, mas o ferro a corta. O ferro é duro, mas o fogo o
amolece. O fogo é duro, mas a água o apaga. A água é forte, mas as nuvens a
carregam. As nuvens são fortes, mas o vento as dispersa. O vento é forte, mas o
corpo o suporta. O corpo é forte, mas o medo o esmaga. O medo é forte, mas o
vinho o expulsa. O vinho é forte, mas o sono o dissipa. A morte é a mais forte
de todos, e a caridade salva da morte, pois está escrito: ‘A TZEDACÁ livra
da morte’” (Provérbios, 10,2). Podemos concluir, com base nessa passagem
talmúdica, que a coisa mais poderosa na Terra, mais poderosa mesmo que a morte,
é a TZEDACÁ. Se a caridade é mais forte do que a morte, ela é
certamente forte o bastante para anular os decretos Celestiais negativos. O
significado do arrependimento. Há uma passagem no Livro de Jeremias
(2:35), na qual o profeta cita D’us como tendo dito: “Eis porém que te
julgarei, porquanto afirmas: ‘Não pequei’”. Isso implica que o julgamento
desfavorável dos Céus cairá sobre a negação dos pecados, não sobre os próprios
pecados. Se alguém deseja obter expiação por seus pecados, o primeiro passo
necessário é admiti-los. Aquele que nega ou justifica seus delitos não pode
arrepender-se e, portanto, torna-se muito difícil ser perdoado pelos mesmos.
Para curar uma enfermidade, é preciso identificá-la e depois diagnosticá-la
corretamente. Infelizmente, há muitos que se recusam a agir assim. Acreditam
que podem estabelecer seus próprios padrões de moralidade. Tentam viver segundo
suas próprias definições de bem e mal, sem recorrer à Revelação Divina. O que
essas pessoas estão fazendo é seguir um curso mal sucedido, percorrido por
geração após geração de filósofos. Após milhares de anos de experimentações, a
própria Filosofia chegou à conclusão de que, a menos que seja revelado por
algum Poder Superior, não existe nenhum padrão verdadeiramente objetivo do bem
e do mal. O Judaísmo, por outro lado, reconhece D’us como a autoridade suprema
de toda a moralidade. O bem e o mal são definidos e determinados por D’us. Ao
mesmo tempo, D’us, em Sua Onipotência, pode perdoar o pecado e erradicar
qualquer transgressão cometida pela pessoa, pois a mesma Autoridade que declara
o pecado de algo pode perdoá-lo. Se o pecado é uma enfermidade espiritual, o
arrependimento é sua cura. Portanto, um dos ensinamentos fundamentais do
Judaísmo é que quando uma pessoa se arrepende, seus pecados são perdoados. A
Torá assim o declara: “...E voltares... para o Eterno e ouvires a Sua voz,...
teu D’us aceitará teu arrependimento e Se compadecerá de ti...” (Deuteronômio,
30,2-3). O arrependimento é eficaz mesmo quando se trata de pecados graves.
Como ensinam nossos Sábios: “Nada pode se antepor ao arrependimento”. Ele é
eficaz não importa quantas vezes a pessoa tenha pecado. Mesmo se a pessoa tenha
vivido toda a vida negando e blasfemando contra D’us, ela pode ser perdoada. O
arrependimento é relevante para todos os seres humanos – até para os mais
perversos e os mais justos. Como D’us criou o homem como uma criatura falível,
com livre escolha e livre arbítrio, é inevitável que ele peque. Como
está escrito: “Não há homem na face da Terra que seja tão justo que só faça o
bem e não peque” (Eclesiastes, 7:20). Mas, para obter o perdão Divino, o
arrependimento tem que ser genuíno; não apenas dizer algo que não se sente, nem
fingir piedade. Arrependimento significa admitir as próprias fraquezas e erros
e fazer tudo o que for necessário para repará-los. Em seu sentido mais correto,
o arrependimento consiste de quatro elementos: mudar a forma de agir,
arrepender-se sinceramente, confessar-se a D’us e tomar a decisão de não
repetir o pecado. Nossos Sábios ensinam que há dois tipos de pecados que a
pessoa pode cometer. O primeiro é contra D’us. Quem desobedece às leis Divinas,
por omissão ou comissão, comete um pecado – porque de alguma forma danificou a
infraestrutura espiritual do universo (pecados de comissão) ou deixou de
contribuir para aperfeiçoá-lo (pecados de omissão). O verdadeiro arrependimento
é o remédio para quem não seguiu as leis de D’us. Mas, como ensinou o profeta
Jeremias, para se achegar a D’us em arrependimento, é preciso primeiro admitir
que se errou. Depois a pessoa tem que tentar melhorar – caminhar na direção
certa. Não se espera que a pessoa se torne um Tzadik – um ser
humano verdadeiramente justo – da noite para o dia. Mas se espera que a pessoa
melhore – passo a passo, um dia de cada vez. No entanto, há uma segunda
categoria de pecados, geralmente muito mais sérios – aqueles que são cometidos
contra outros seres humanos. D’us não perdoa uma pessoa por esse tipo de pecado
até que aquele contra quem o pecado foi feito verdadeiramente perdoe o pecador.
Quando alguém peca contra outro ser humano, nenhuma oração, nenhum jejum, nem
mesmo em Yom Kipur, pode servir de expiação. O que é necessário
fazer é desculpar-se com a pessoa que foi prejudicada ou injuriada e fazer
todas as reparações necessárias. Somente depois de tê-lo feito, pode-se pedir
perdão a D’us por ter pecado contra um de Seus filhos. Apesar dos passos
iniciais do arrependimento consistirem em se afastar do pecado, aproximando-se
do remorso e da confissão, uma forma mais elevada de arrependimento envolve
praticar boas ações. Na verdade, as três coisas que anulam um decreto Celestial
negativo – oração, caridade e arrependimento – são interligadas: uma parte
essencial do arrependimento mais elevado é a oração, a caridade e os atos de
bondade com os demais, bem como o estudo da Torá. Como está escrito: “Pela
bondade (caridade) e pela verdade (Torá) é expiada a iniquidade” (Provérbios,
16,6). O arrependimento é tão poderoso que é uma das coisas principais que pode
romper as barreiras que impedem a Redenção Messiânica. O profeta nos diz: “E
virá um redentor a Tsión, a todos que se arrependerem das transgressões de
Yaacov – diz o Eterno” (Isaías, 59,20). Há uma tradição que conta que se cada
judeu se arrependesse e se voltasse a D’us por apenas um dia, a Redenção
Messiânica ocorreria imediatamente. A Torá assim diz: “E se voltares – tu e
teus filhos – para o Eterno, teu D’us, e ouvires a sua voz, seguindo tudo o que
eu te ordeno hoje..., D’us se compadecerá de ti e te fará voltar, juntando-te
dentre todas as nações para onde o Eterno, teu D’us, te espalhou (Deuteronômio,
30,2-3). Os Dez Dias de Arrependimento. TEFILÁ, TZEDACÁ e TESHUVÁ são
três pilares do Judaísmo que cada judeu deve se empenhar em praticar durante
todo o ano. Somos instruídos a orar diariamente, preferivelmente três vezes ao
dia - Shacharit (a oração da manhã), Minchá (a
oração da tarde) e Arvit(a oração da noite). A prática de caridade
é um mandamento que deve ser realizado diariamente, exceto nos dias em que não
podemos manusear dinheiro - Shabat e Yom Tov.
Quanto ao arrependimento – a retificação das transgressões e o esforço em
melhorar a nossa espiritualidade –, deveria ser uma preocupação diária de todo
judeu. Rabi Eliezer, um dos maiores Sábios do Talmud, que, como mencionamos
acima, fazia caridade antes de rezar, costumava dizer: “Arrependa-se na véspera
de morrer”. Quando seus alunos lhe perguntaram como era possível saber o dia de
nossa morte com antecedência, ele respondeu que era por isso que devíamos nos
arrepender diariamente. Apesar de podermos e devermos sempre nos arrepender de
nossos erros, D’us determinou que os dez dias entre Rosh Hashaná e Yom
Kipur fossem os Asseret Yemei TESHUVÁ – os Dez Dias
de Arrependimento. Portanto, é costume dizer preces de arrependimento durante
esse período, ser ainda mais generosos na caridade que fazemos habitualmente e
ser mais rígidos em nosso cumprimento da ética e da religião. Os Dez Dias de
Arrependimento se iniciam em Rosh Hashaná, cujo principal
mandamento é ouvir o som do Shofar. Um dos simbolismos do Shofar é
servir para despertar os corações das pessoas para D’us. Pois assim falou o
profeta: “Será ouvido em uma cidade o som do Shofar sem que
estremeçam seus moradores?” (Amós 3:6). Do mesmo modo, Yom Kipur,
que conclui os Dez Dias de Arrependimento, é o dia mais auspicioso do ano para
um judeu se arrepender. O chamado ao arrependimento foi uma das missões mais
importantes de todos os profetas. Junto com a oração e a caridade, o
arrependimento pode banir qualquer decreto maligno que possa ter sido decretado
sobre um indivíduo ou uma comunidade. Como a oração e a caridade, o
arrependimento tem o poder de interceder por uma pessoa, protegendo-a do mal e
mesmo prolongando sua vida. Assim sendo, durante os Asseret Yemei
TESHUVÁ, cabe a cada um de nós fortalecer-se no cumprimento das três coisas
que anulam os decretos Celestiais negativos. Fazendo-o, poderemos melhor atrair
as bênçãos Divinas para o ano vindouro – para nós e nossas famílias, para o
Povo Judeu e para toda a humanidade. www.morasha.com.br. Abraço. Davi.
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