Taoísmo.
Tao Te Ching. O Livro do Caminho e da Virtude. Tradução do Mestre Wu Jyn
Cherng. AGRADECIMENTO. Este trabalho é dedicado ao meu mestre Maa Ho Yang. Ao
qual sou muito grato por tudo que me ensinou. INTRODUÇÃO. O Tao Te Ching é um
texto profundo e ao mesmo tempo simples porque apresenta por meio da linguagem
aquilo que se experimenta na sua ausência. A profundidade é o próprio caminho
do mistério, a experiência do sagrado que corresponde à vivência espiritual. A
simplicidade, um dos três tesouros 1 dos ensinamentos de Lao Tse, conduz à
naturalidade que orienta o indivíduo no macrocosmo. Portanto, a leitura do Tao
Te Ching implica um desafio: esvaziar-se e ser natural como a água que flui no
vale. O desvendamento do texto deve fluir gradualmente, levando à contemplação
de suas palavras. Se estas não parecem suficientemente claras, isso se deve ao
fato de a sociedade contemporânea, na qual prolifera o pensamento, dificultar a
ampliação da consciência. Nesse contexto, a contemplação já é por si um ato
transgressor. Esta tradução do Tao Te Ching, diretamente do chinês para o
português, resgata a tradição taoísta e oferece a decifração necessária de
conceitos fundamentais, respeitando a estrutura original do texto em chinês
clássico em detrimento de frases mais convencionais em língua portuguesa. Desse
modo, o leitor pode estabelecer nexos, coordenar e reconstituir relações entre
os conceitos, traduzindo-os em experiências e proporcionando à leitura a suave
alegria da vivência de um ensinamento. Reverenciado como escritura sagrada
pelos mistérios que revela, o ensinamento contido neste livro corresponde a uma
tradição que integra filosofia, ciência e religião à experiência. O termo
taoísta é formado por dois ideogramas chineses: Tao que significa caminho,
exprimindo a idéia de origem de todas as coisas; e Diao que significa
ensinamento. Portanto, taoísmo corresponde à tradição que vem do passado, que
revela a origem. Por isso, o Caminho da Imortalidade, objetivo dos taoístas, é
denominado Via do Retorno, indicando a volta ao princípio. Nesse caminho, a
virtude se efetiva através da mediação de consciência e da compreensão dinâmica
do universo para resgatar a ordem natural da vida. A escola taoísta tem como
base o estudo de três obras, simbolizadas na imagem de uma árvore. A raiz é o I
Ching – O Livro das Mutações, o tronco é o Tao Te Ching – Livro do Caminho e da
Virtude e a flor é o Nan Hua Ching – O Livro da Flor do Sul. O Tao Te Ching é a
estrutura central do taoísmo. Lao Tse revela um ensinamento que abrange o tempo
infinito. Lao Tse corresponde à transmissão e conservação da tradição taoísta
na imagem do mestre, manifestação do absoluto. Segundo o cânon taoísta, Lao Tse
nasceu na província de Na Hue, na cidade de Guo Yang, no 25º dia da segunda lua
do ano Ken-Tzen da era Wu-Tin (no período entre 1324 – 1408 A.C.). As
circunstâncias do seu nascimento foram extraordinárias. De acordo com a
tradição, sua gestação demorou oitenta e um anos. Lao Tse foi concebido quando
sua mãe engoliu uma pérola de luz, transformação da Transparência Sublime 2 em
sopro, através da essência do Sol. Seu pai era um famoso alquimista da dinastia
San que ascencionou com mais de cem anos, envolvido pelos dragões celestiais.
Sua mãe era considerada a encarnação do Sopro Yin do Céu-Anterior, sendo ao
mesmo tempo sua mestra. Lao Tse nasceu do lado esquerdo das costelas da sagrada
mãe, no jardim da família sob uma árvore de nome Li (ameixeira), com cabelos
brancos e orelhas grandes. Por isso, recebeu o nome de Lao Tse (filho velho) e
Li Er (orelha grande da ameixeira). Lao Tse tem também sentido de Senhor do Fim
e do Princípio, já que velho representa o fim enquanto filho representa o
início. Sua juventude foi vivida no condado de K´u localizado entre Long San
(Monte Dragão) e Guo Sue (Rio Guo). Quando o imperador tirano Zhou assumiu o
poder, Lao Tse mudou-se para a região sul do Chi San, no território do Rei Wen,
fundador da dinastia Chou. Foi convidado pelo rei Wen para ser responsável pela
biblioteca real. Mais tarde, foi nomeado para o cargo de historiador real,
permanecendo como tal até o 19º dia da quinta lua do 25º ano da era do rei
Zhao, quando solicitou dispensa e retornou à sua terra natal, acompanhado do
escudeiro Shü Jia. No mesmo ano, Lao Tse iniciou sua grande viagem para o
ocidente, com intuito de chegar aos reinos da atual Índia, Afeganistão e
Itália. Durante a viagem, permaneceu algum tempo na fronteira de Yü Men e
aceitou o oficial-chefe da fronteira como discípulo. Ditou-lhe vários escritos,
entre eles o Tao Te Ching. Muitos anos depois, teve sua ascensão no deserto de
Gobi, durante a qual emanou raios de luz em cinco cores, transformando-se em corpo
de luz dourada e desaparecendo no céu. Após sua ascensão, Lao Tse habitou o Tai
Wei Gon (Palácio da Sublime Sutileza) do Céu-Anterior e dividiu seu corpo para
retornar novamente à terra, encarnado como filho único do senhor Li Po Yang da
província Shu. Na sua nova jornada veio acompanhado do dragão azul do Imperador
Celestial Chin Hua, transformado em carneiro azul. Depois de uma longa
peregrinação, seu discípulo Yi Shi, o oficial da fronteira, foi atraído por um
carneiro de pêlo azul dourado. Yi Shi encontrou, na aldeia da família Li, a
nova encarnação de Lao Tse. Diante de seu discípulo, a criança Lao Tse, de três
anos de idade, revelou sua verdadeira imagem. Seu corpo cresceu,
transformando-se em luz dourada branca. Cercado de inúmeros imortais celestiais,
Lao Tse pronunciou mais um ensinamento: o Tratado Maravilhoso do Princípio
Solar do Tesouro do Espírito (Ling Bao Yuan Yang Miao Ching). Após concluir seu
ensinamento, os duzentos membros da família Li ascencionaram seguidos por Lao
Tse e Yi Shi. Isso aconteceu no dia 28 de abril de 1118 A.C. Depois do segundo
nascimento e ascensão, Lao Tse ainda retornou inúmeras vezes para transmitir os
ensinamentos e para ordenar as novas tradições. Por isso, é chamado pelos
taoístas como Sublime Patriarca do Caminho. Lao Tse propõe a apreensão do
mistério: suas palavras superam a própria forma, o próprio texto. O
desvendamento gradual do ensinamento, aqui oferecido, tenta trazer a apreensão
daquilo que, para ele, constitui exatamente o indizível. Tao Te Ching. O Livro
do Caminho e da Virtude. Abraço. Davi.
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