Cristianismo.
www.graodetrigo.com. Texto de David W.
Dayer. I. O SACERDÓCIO. Quando, no século XVI, Martinho Lutero (1483-1546)
pregou suas 95 teses na porta daquele templo, acabava de iniciar o movimento
que hoje conhecemos por “a Reforma”. Sua intenção foi de expor os erros da
Igreja Católica para trazê-la de volta a Deus. Naqueles dias, grande parte da
revelação divina havia sido perdida. Muitos aspectos elementares da vida
espiritual, tais como a salvação pela fé – hoje considerados certos e
indiscutíveis – eram então desconhecidos. Deus, naquela época, usou Lutero para
mostrar que o cristianismo seguia por um caminho errado, contrário à Sua
vontade. No entanto, muitos enganos e desvios do cristianismo não chegaram a
ser notados por esse irmão. Então, à medida que passaram os séculos, Deus
continuou a revelar outras verdades esquecidas, tais como, o uso e função dos
dons espirituais e o verdadeiro significado da adoração e da santificação. O
que se pode notar é que, desde o tempo de Lutero, tem havido um contínuo
aumento das revelações divinas para o Seu povo. Mas essa evolução ainda não
terminou e prosseguirá até que Cristo venha em Sua glória. Por essa razão,
devemos estar sempre prontos para receber a orientação de Deus e agir de acordo
com o que Ele atualmente estiver nos revelando, hoje. Esta mensagem faz parte
do que, segundo penso, Deus deseja restaurar nestes dias. Em verdade, não chega
a ser algo “novo.” Tampouco é minha própria e independente revelação. São
aspectos da vontade de Deus compreendidos por muitos cristãos sinceros por pelo
menos um século. Não obstante, como veremos, as tendências naturais do homem
tornam tais verdades difíceis de praticar e preservar. Desde o princípio, os
desejos de Deus para o homem são os mesmos. Ele anseia continuamente andar
conosco em intimidade e doce comunhão. Era esse o Seu propósito ao criar Adão e
ao chamar para Si os filhos de Israel e, por certo, é o Seu desígnio hoje em
relação à Igreja. Esse desejo amoroso tem em mira não só o “corpo de Cristo”
como um todo, mas também cada um de nós individualmente. A intenção de Deus é
estabelecer conosco um relacionamento íntimo, o qual transformará nossa
natureza e caráter para serem como os Seus. No início, Deus trabalhou apenas
com indivíduos, como Noé, Sete e Enoque. Posteriormente é nos apresentada a
ideia de “povo de Deus”, ao lermos a respeito de Moisés e dos israelitas no
deserto. Mas mesmo naquela época Ele não buscava apenas uma multidão de adeptos
religiosos. Ao contrário, o que desejava ardentemente era um relacionamento
pessoal e íntimo com cada um. Já no começo, cerca de três meses após a saída do
Egito, Deus falou a Moisés com relação aos israelitas. Revelou Sua intenção
original e mais sublime para com eles. Disse Ele: “(...) vós me sereis reino de
sacerdotes (...).” (Êxodo 19:6). Essa declaração demonstra o tipo de
relacionamento que Deus pretende ter com cada um de nós. Ele planejou uma
intimidade que os qualificaria a estarem em pé em Sua presença e a
desempenharem as funções sacerdotais. Entre elas, incluía-se o ministrar a Ele
em adoração e intercessão e, a seguir, ministrar a outras pessoas, a partir do
que fluísse de Sua presença durante aqueles momentos. Seu plano não era
simplesmente que aprendessem algumas informações a Seu respeito e, depois, se
envolvessem periodicamente com algumas atividades religiosas. Nosso Deus
desejava intensamente que Seu povo O conhecesse e se relacionasse com Ele
pessoal e intimamente. Entretanto, é claro que os filhos de Israel fracassaram,
não entrando nesse relacionamento com Deus. Quando Ele começou a aproximar-Se e
a revelar-lhes Sua santidade no monte Sinai, afastaram-se Dele e transferiram a
incumbência a um único homem. Eles disseram a Moisés: “Fala-nos tu, e te
ouviremos; porém não fale Deus conosco, para que não morramos” (Êxodo 20:19). “(...)
O povo estava de longe em pé; Moisés, porém, se chegou à nuvem escura, onde
Deus estava” (v. 21). O coração daquelas pessoas não estava correto para com
Deus, e, por isso, quando Ele passou a falar-lhes, não puderam suportar.
Exatamente naquele instante, abandonaram o nobre chamamento que Deus lhes
fizera a ser sacerdotes Dele e ficaram satisfeitos em deixar que outro
indivíduo se relacionasse com Deus em seu favor. Em vez de se arrependerem,
depois de ouvirem as palavras sobre a justiça divina, e de permitirem que Deus
os limpasse, decidiram aumentar ainda mais a distância entre eles e Deus. Eles
acabaram colocando um mediador que ar-casse com toda a responsabilidade de
intimidade com Deus em seu benefício. Esse afastamento do ideal divino logo
produziu seus frutos. Enquanto Moisés gastava tempo na presença de Deus, o povo
foi seduzido pelas próprias paixões. O relacionamento pessoal com o Criador era
tão limitado, que logo estavam duvidando de Sua existência e de Sua capacidade
para cumprir promessas feitas. A solução encontrada foi criar, para eles
mesmos, um deus impessoal, profano e de fácil manipulação – um deus que não os
amedrontasse e cuja presença não exigisse uma santidade que não conseguiam
praticar. A essa ponto, Deus os abandonou quase totalmente e tornaram-se
inaptos para andar de acordo com a Sua intenção original (Êxodo 32:9-10). É
provável que, por não haver o coração do povo em geral correspondido à Sua
vontade, tenha Ele designado um grupo especial de sacerdotes. Talvez a tribo de
Levi tenha sido escolhida porque estava pronta para ouvi-Lo, ao menos até certo
ponto, bem como para executar Seus julgamentos (Êxodo 32:28). Vemos, portanto,
que com a ordenação de um sacerdócio especial, para se aproximar de Deus no
lugar do povo, a maioria da assembleia perdeu o privilégio de se tornar aquilo
que seu Criador desejava que fosse. O sacerdócio levítico transformou-se numa
espécie de obstáculo ou barreira, destinado a fazer Deus parecer mais remoto,
de modo que os outros se sentissem mais à vontade. Um evento semelhante é
encontrada no livro de 1 Samuel, quando Deus permitiu ao povo ter um rei. Os
filhos de Israel nunca haviam tido um rei até então. O pensamento de Deus era
que fossem únicos entre os povos da terra: um povo governado exclusivamente
pelo Deus poderoso e invisível. Eles, contudo, rebelaram-se contra tal
proposta. Para se adaptarem a essa forma de governo que Deus desejava, era
necessário que cada um deles mantivesse um relacionamento pessoal com Ele. Isso
não era fácil, principalmente para o homem natural. Portanto, aquelas pessoas
mais uma vez rejeitaram os objetivos divinos e insistiram em ter um rei
terreno. Ansiavam por um líder palpável, um ser humano que pudessem enxergar;
alguém que assumisse a responsabilidade de guiá-los; alguém que se colocasse
entre eles e Deus. Samuel foi totalmente contrário a essa outra proposta. Mas
Deus o confortou, dizendo: “Não te rejeitou a ti, mas a mim, para eu não reinar
sobre ele” (1 Samuel 8:7). Esse episódio nos traz para a situação de hoje. Não
é de se espantar que haja grandes semelhanças entre os cristãos e o povo de
Deus do Velho Testamento. A história da Igreja informa que, logo após a partida
dos apóstolos, os líderes das igrejas começaram a obter um destaque cada vez
maior. Bispos passaram a estender sua autoridade para além de uma cidade, por
fim “cobrindo” regiões inteiras. Mais e mais ênfase foi colocada em posições
religiosas e sobre a necessidade de submissão àqueles que as ocupavam. Essa
tendência continuou através dos séculos até atingir seu apogeu com o
aparecimento de chefes supremos, “infalíveis”. Pouco depois, as Escrituras
foram completamente arrancadas das mãos das pessoas e essa inclinação por um
intermediário, sobre a qual estamos comentando, chegou à sua expressão mais
intensa. Tal resultado não deveria nos surpreender. É a tendência natural do
homem. A menos que não nos esforcemos juntos contra essa tendência, é natural
que todos os movimentos cristãos se deixem levar para essa direção. Atualmente,
embora o protestantismo tenha feito algum progresso, libertando-se da
escravidão das trevas e da idolatria encontradas no sistema do qual saiu,
infelizmente ainda conserva alguns de seus erros. Apesar das Escrituras
ensinarem o sacerdócio de todos os cristãos (1 Pedro 2:5,9), a maior parte do
moderno cristianismo o nega na prática. O que vemos em grande parte hoje nas
igrejas é o ministério de apenas um ou, quem sabe, de uns poucos indivíduos
escolhidos, ao passo que a maioria permanece como passiva observadora.
Compreende-se perfeitamente o fato de geralmente não rotularem de “o sacerdote”
a condição reinante entre os grupos cristãos. Seria um termo manifestamente
anti-bíblico. Em substituição, temos outros títulos, tais como os de “pastor”,
“reverendo,” “apóstolo” etc. Contudo, a função dessas pessoas é, normalmente,
quase igual ao serviço desempenhado pelo sacerdote levita. São eles que “ouvem
de Deus”, transmitem a maior parte dos ensinamentos e do aconselhamento, cuidam
da organização etc. É lamentável, mas a verdade é que em muitos casos o
“pastor” é obrigado a fazer quase tudo. Já que essa é a situação predominante
nos grupos cristãos hoje em dia e, ao que parece, universalmente aceita,
muitos, talvez, perguntarão o que haveria de errado em tudo isso. Para
chegarmos à resposta, devemos, primeiramente, abandonar nosso gosto e
concepções pessoais e ter uma reverência genuína pelos interesses e objetivos
divinos. Se o homem fosse a única parte em jogo nessa situação, nossa discussão
não precisaria ser levada tão a sério. Olha, acontece que estamos aqui
procurando entender e satisfazer as exigências de Deus e, por essa razão,
devemos abordar o assunto com reverência e temor. Mas isso não é tudo. Deveria
estar patente para nós que Suas intenções visam, também, o nosso próprio bem.
Em verdade, quanto mais enxergarmos a vontade de Deus, mais perceberemos que
Suas diretrizes e exigências não objetivam apenas Sua própria conveniência, mas
destinam-se, igualmente, ao nosso eterno benefício. O plano de Deus para a
Igreja é duplo. Primeiro, Ele nos instruiu a levar as boas novas até os confins
da terra. Em segundo lugar, quer que sejamos transformados à Sua imagem. Pois
bem, se formos cumprir essas instruções total e eficazmente para atingir tais
objetivos, precisaremos antes ser pessoas íntimas de Deus! Cada um de nós tem
que entrar num relacionamento próximo e pessoal com o Criador e preservá-lo.
Todos fomos convocados para ser sacerdotes. Desse relacionamento, então,
brotará o ministério sacerdotal em nós, permitindo que os desígnios de Deus
sejam atingidos. Jamais deveríamos depender de líderes ou de indivíduos dotados
para darem conta de tudo. Não deveríamos apoiar-nos em organizações humanas,
nem em animadas campanhas. Todos nós arcamos com uma parte dessa
responsabilidade. A verdade é que se não estivermos ativamente engajados no trabalho
de servir aos outros, quer pela pregação do evangelho, quer pelo exercício de
nossos talentos espirituais, já caímos no erro. Deus espera que cada um de Seu
povo esteja empenhado em Seu trabalho. Somos todos “ministros” e todos fomos
chamados e ordenados por Ele para realizar um trabalho do serviço sacerdotal
até a Sua volta (João 15:16). www.graodetrigo.com.
Abraço. Davi
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