quarta-feira, 17 de março de 2021

I. O SACERDÓCIO

 

Cristianismo. www.graodetrigo.com. Texto de David W. Dayer. I. O SACERDÓCIO. Quando, no século XVI, Martinho Lutero (1483-1546) pregou suas 95 teses na porta daquele templo, acabava de iniciar o movimento que hoje conhecemos por “a Reforma”. Sua intenção foi de expor os erros da Igreja Católica para trazê-la de volta a Deus. Naqueles dias, grande parte da revelação divina havia sido perdida. Muitos aspectos elementares da vida espiritual, tais como a salvação pela fé – hoje considerados certos e indiscutíveis – eram então desconhecidos. Deus, naquela época, usou Lutero para mostrar que o cristianismo seguia por um caminho errado, contrário à Sua vontade. No entanto, muitos enganos e desvios do cristianismo não chegaram a ser notados por esse irmão. Então, à medida que passaram os séculos, Deus continuou a revelar outras verdades esquecidas, tais como, o uso e função dos dons espirituais e o verdadeiro significado da adoração e da santificação. O que se pode notar é que, desde o tempo de Lutero, tem havido um contínuo aumento das revelações divinas para o Seu povo. Mas essa evolução ainda não terminou e prosseguirá até que Cristo venha em Sua glória. Por essa razão, devemos estar sempre prontos para receber a orientação de Deus e agir de acordo com o que Ele atualmente estiver nos revelando, hoje. Esta mensagem faz parte do que, segundo penso, Deus deseja restaurar nestes dias. Em verdade, não chega a ser algo “novo.” Tampouco é minha própria e independente revelação. São aspectos da vontade de Deus compreendidos por muitos cristãos sinceros por pelo menos um século. Não obstante, como veremos, as tendências naturais do homem tornam tais verdades difíceis de praticar e preservar. Desde o princípio, os desejos de Deus para o homem são os mesmos. Ele anseia continuamente andar conosco em intimidade e doce comunhão. Era esse o Seu propósito ao criar Adão e ao chamar para Si os filhos de Israel e, por certo, é o Seu desígnio hoje em relação à Igreja. Esse desejo amoroso tem em mira não só o “corpo de Cristo” como um todo, mas também cada um de nós individualmente. A intenção de Deus é estabelecer conosco um relacionamento íntimo, o qual transformará nossa natureza e caráter para serem como os Seus. No início, Deus trabalhou apenas com indivíduos, como Noé, Sete e Enoque. Posteriormente é nos apresentada a ideia de “povo de Deus”, ao lermos a respeito de Moisés e dos israelitas no deserto. Mas mesmo naquela época Ele não buscava apenas uma multidão de adeptos religiosos. Ao contrário, o que desejava ardentemente era um relacionamento pessoal e íntimo com cada um. Já no começo, cerca de três meses após a saída do Egito, Deus falou a Moisés com relação aos israelitas. Revelou Sua intenção original e mais sublime para com eles. Disse Ele: “(...) vós me sereis reino de sacerdotes (...).” (Êxodo 19:6). Essa declaração demonstra o tipo de relacionamento que Deus pretende ter com cada um de nós. Ele planejou uma intimidade que os qualificaria a estarem em pé em Sua presença e a desempenharem as funções sacerdotais. Entre elas, incluía-se o ministrar a Ele em adoração e intercessão e, a seguir, ministrar a outras pessoas, a partir do que fluísse de Sua presença durante aqueles momentos. Seu plano não era simplesmente que aprendessem algumas informações a Seu respeito e, depois, se envolvessem periodicamente com algumas atividades religiosas. Nosso Deus desejava intensamente que Seu povo O conhecesse e se relacionasse com Ele pessoal e intimamente. Entretanto, é claro que os filhos de Israel fracassaram, não entrando nesse relacionamento com Deus. Quando Ele começou a aproximar-Se e a revelar-lhes Sua santidade no monte Sinai, afastaram-se Dele e transferiram a incumbência a um único homem. Eles disseram a Moisés: “Fala-nos tu, e te ouviremos; porém não fale Deus conosco, para que não morramos” (Êxodo 20:19). “(...) O povo estava de longe em pé; Moisés, porém, se chegou à nuvem escura, onde Deus estava” (v. 21). O coração daquelas pessoas não estava correto para com Deus, e, por isso, quando Ele passou a falar-lhes, não puderam suportar. Exatamente naquele instante, abandonaram o nobre chamamento que Deus lhes fizera a ser sacerdotes Dele e ficaram satisfeitos em deixar que outro indivíduo se relacionasse com Deus em seu favor. Em vez de se arrependerem, depois de ouvirem as palavras sobre a justiça divina, e de permitirem que Deus os limpasse, decidiram aumentar ainda mais a distância entre eles e Deus. Eles acabaram colocando um mediador que ar-casse com toda a responsabilidade de intimidade com Deus em seu benefício. Esse afastamento do ideal divino logo produziu seus frutos. Enquanto Moisés gastava tempo na presença de Deus, o povo foi seduzido pelas próprias paixões. O relacionamento pessoal com o Criador era tão limitado, que logo estavam duvidando de Sua existência e de Sua capacidade para cumprir promessas feitas. A solução encontrada foi criar, para eles mesmos, um deus impessoal, profano e de fácil manipulação – um deus que não os amedrontasse e cuja presença não exigisse uma santidade que não conseguiam praticar. A essa ponto, Deus os abandonou quase totalmente e tornaram-se inaptos para andar de acordo com a Sua intenção original (Êxodo 32:9-10). É provável que, por não haver o coração do povo em geral correspondido à Sua vontade, tenha Ele designado um grupo especial de sacerdotes. Talvez a tribo de Levi tenha sido escolhida porque estava pronta para ouvi-Lo, ao menos até certo ponto, bem como para executar Seus julgamentos (Êxodo 32:28). Vemos, portanto, que com a ordenação de um sacerdócio especial, para se aproximar de Deus no lugar do povo, a maioria da assembleia perdeu o privilégio de se tornar aquilo que seu Criador desejava que fosse. O sacerdócio levítico transformou-se numa espécie de obstáculo ou barreira, destinado a fazer Deus parecer mais remoto, de modo que os outros se sentissem mais à vontade. Um evento semelhante é encontrada no livro de 1 Samuel, quando Deus permitiu ao povo ter um rei. Os filhos de Israel nunca haviam tido um rei até então. O pensamento de Deus era que fossem únicos entre os povos da terra: um povo governado exclusivamente pelo Deus poderoso e invisível. Eles, contudo, rebelaram-se contra tal proposta. Para se adaptarem a essa forma de governo que Deus desejava, era necessário que cada um deles mantivesse um relacionamento pessoal com Ele. Isso não era fácil, principalmente para o homem natural. Portanto, aquelas pessoas mais uma vez rejeitaram os objetivos divinos e insistiram em ter um rei terreno. Ansiavam por um líder palpável, um ser humano que pudessem enxergar; alguém que assumisse a responsabilidade de guiá-los; alguém que se colocasse entre eles e Deus. Samuel foi totalmente contrário a essa outra proposta. Mas Deus o confortou, dizendo: “Não te rejeitou a ti, mas a mim, para eu não reinar sobre ele” (1 Samuel 8:7). Esse episódio nos traz para a situação de hoje. Não é de se espantar que haja grandes semelhanças entre os cristãos e o povo de Deus do Velho Testamento. A história da Igreja informa que, logo após a partida dos apóstolos, os líderes das igrejas começaram a obter um destaque cada vez maior. Bispos passaram a estender sua autoridade para além de uma cidade, por fim “cobrindo” regiões inteiras. Mais e mais ênfase foi colocada em posições religiosas e sobre a necessidade de submissão àqueles que as ocupavam. Essa tendência continuou através dos séculos até atingir seu apogeu com o aparecimento de chefes supremos, “infalíveis”. Pouco depois, as Escrituras foram completamente arrancadas das mãos das pessoas e essa inclinação por um intermediário, sobre a qual estamos comentando, chegou à sua expressão mais intensa. Tal resultado não deveria nos surpreender. É a tendência natural do homem. A menos que não nos esforcemos juntos contra essa tendência, é natural que todos os movimentos cristãos se deixem levar para essa direção. Atualmente, embora o protestantismo tenha feito algum progresso, libertando-se da escravidão das trevas e da idolatria encontradas no sistema do qual saiu, infelizmente ainda conserva alguns de seus erros. Apesar das Escrituras ensinarem o sacerdócio de todos os cristãos (1 Pedro 2:5,9), a maior parte do moderno cristianismo o nega na prática. O que vemos em grande parte hoje nas igrejas é o ministério de apenas um ou, quem sabe, de uns poucos indivíduos escolhidos, ao passo que a maioria permanece como passiva observadora. Compreende-se perfeitamente o fato de geralmente não rotularem de “o sacerdote” a condição reinante entre os grupos cristãos. Seria um termo manifestamente anti-bíblico. Em substituição, temos outros títulos, tais como os de “pastor”, “reverendo,” “apóstolo” etc. Contudo, a função dessas pessoas é, normalmente, quase igual ao serviço desempenhado pelo sacerdote levita. São eles que “ouvem de Deus”, transmitem a maior parte dos ensinamentos e do aconselhamento, cuidam da organização etc. É lamentável, mas a verdade é que em muitos casos o “pastor” é obrigado a fazer quase tudo. Já que essa é a situação predominante nos grupos cristãos hoje em dia e, ao que parece, universalmente aceita, muitos, talvez, perguntarão o que haveria de errado em tudo isso. Para chegarmos à resposta, devemos, primeiramente, abandonar nosso gosto e concepções pessoais e ter uma reverência genuína pelos interesses e objetivos divinos. Se o homem fosse a única parte em jogo nessa situação, nossa discussão não precisaria ser levada tão a sério. Olha, acontece que estamos aqui procurando entender e satisfazer as exigências de Deus e, por essa razão, devemos abordar o assunto com reverência e temor. Mas isso não é tudo. Deveria estar patente para nós que Suas intenções visam, também, o nosso próprio bem. Em verdade, quanto mais enxergarmos a vontade de Deus, mais perceberemos que Suas diretrizes e exigências não objetivam apenas Sua própria conveniência, mas destinam-se, igualmente, ao nosso eterno benefício. O plano de Deus para a Igreja é duplo. Primeiro, Ele nos instruiu a levar as boas novas até os confins da terra. Em segundo lugar, quer que sejamos transformados à Sua imagem. Pois bem, se formos cumprir essas instruções total e eficazmente para atingir tais objetivos, precisaremos antes ser pessoas íntimas de Deus! Cada um de nós tem que entrar num relacionamento próximo e pessoal com o Criador e preservá-lo. Todos fomos convocados para ser sacerdotes. Desse relacionamento, então, brotará o ministério sacerdotal em nós, permitindo que os desígnios de Deus sejam atingidos. Jamais deveríamos depender de líderes ou de indivíduos dotados para darem conta de tudo. Não deveríamos apoiar-nos em organizações humanas, nem em animadas campanhas. Todos nós arcamos com uma parte dessa responsabilidade. A verdade é que se não estivermos ativamente engajados no trabalho de servir aos outros, quer pela pregação do evangelho, quer pelo exercício de nossos talentos espirituais, já caímos no erro. Deus espera que cada um de Seu povo esteja empenhado em Seu trabalho. Somos todos “ministros” e todos fomos chamados e ordenados por Ele para realizar um trabalho do serviço sacerdotal até a Sua volta (João 15:16). www.graodetrigo.com. Abraço. Davi

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