Espiritualidade.
www.oshobrasil.com.br. Texto de Osho
(1931-1990). O QUE É O HOMEM EXATAMENTE ? "O homem é um mero talvez, uma
possibilidade, um potencial, um tornar-se, uma vontade. O homem não é, ainda. O
homem ainda tem que ser. Essa é a agonia do homem e o seu êxtase também. A
besta é, e nenhum crescimento lhe é possível. É um produto acabado. Na besta
não há qualquer possibilidade de procura, de busca, de ser. Nesse caso, não há
qualquer liberdade. A besta está em absoluta escravidão. A besta vive e morre
sem saber que ela vive e morre. A besta é, mas ela não sabe que ela é. O
homem é e sabe que ele é, mas não sabe quem ele é. O homem é um processo constante. Alguma coisa está
sempre acontecendo, está sempre na beira do acontecimento. O homem é uma
excitação, uma aventura, uma peregrinação. Nenhuma
besta pode sequer fugir de seu destino. Ele é sempre predeterminado. A besta
tem um destino absoluto. Nada acontecerá de outro jeito. A besta é
pré-programada. O homem não tem qualquer programa prévio, ele é simplesmente
uma abertura. Mil e uma coisas são possíveis. Por isso surge a ansiedade: 'Ser
isso ou ser aquilo? Ir para a direita ou para a esquerda? Viver desse jeito ou
viver daquele jeito? E o que é certo? E o que irá me satisfazer?' A cada momento o homem tem que decidir. E,
obviamente, quando você decide, você treme. Há sempre a possibilidade de você
escolher errado. Na verdade, as possibilidades de escolher errado são maiores.
Em mil e um caminhos, apenas um será o certo. Por isso uma grande tremedeira e
angústia: "Eu vou fazer isso? Sendo eu mesmo, eu serei bem sucedido? Ou
isso vai ser apenas um grande e inútil esforço e ao final terei só frustração e
fracasso? Eu serei capaz de conhecer vida abundante? Essa vida se tornará uma
base para uma vida ainda maior que virá? Ou isso nada mais é do que uma morte?
Existe apenas um túmulo no final, ou alguma coisa mais?' O homem é um ser aberto. Tudo é
possível, mas nada é certo. A besta é absolutamente certa. Ela
tem uma definição. O homem não tem definição. Assim quando você me
pergunta: O que é o homem exatamente? você está formulando
errado a pergunta. O homem não é algo exatamente. Ele é apenas uma vaga
vontade, um sonho muito muito vago de coisas que podem ser, de coisas que podem
ser possíveis, que podem não ser possíveis. O homem é uma hesitação. A cada
momento o homem é pego pela hesitação, porque um simples passo errado destruirá
toda a sua vida. O homem pode perder. Nenhuma besta pode sequer perder.
Mas porque o homem pode perder, ele pode ganhar também. Ambas as possibilidades
vêm juntas. O homem pode crescer, o homem é crescimento. O mero talvez pode se
tornar verdade. O potencial pode ser transformado em realidade. A semente pode
se tornar um florescimento. Aquilo que era apenas não-manifesto, pode se
manifestar e então acontece um grande esplendor, uma grande bênção. Buda é, sabe que ele é, e também sabe quem ele é.
Esses são os três estágios do crescimento: a besta, o homem e o Buda. A besta
tem apenas uma dimensão: ela é, ela existe, completamente inconsciente de que
ela existe. Por isso ela não pode pensar em morte. A morte não é um problema para
a besta. A morte somente pode se tornar um problema quando você sabe que você
é. Com esse conhecimento surge o medo de que um dia você pode deixar de ser.
Porque houve um tempo em que você não era e haverá de novo um tempo em que você
deixará de ser. A sua existência é momentânea. Você pode desaparecer a qualquer
momento. Você desaparecerá algum dia. A morte está por acontecer. É somente o
homem que sabe a respeito da morte. É por isso que o homem cria a
religião. Religião é a resposta do homem diante da possibilidade da morte. É o
esforço do homem para vencer a morte. Nenhum animal é religioso, não pode ser.
Sem a consciência da morte, não há possibilidade de religião. Mas antes que
você se torne consciente da morte, você terá que se tornar consciente de que
você é. Esse é o pré-requisito básico. Assim o homem sabe que ele é, e
também se torna consciente e apreensivo de que a qualquer momento ele deixará
de ser. O tempo é curto. Para a besta o tempo é não-existencial, o tempo não
existe. A besta vive num mundo sem tempo, vive a cada momento. Não pensa no
passado nem imagina acerca do futuro. O homem não consegue viver no
presente. Ele pensa no passado e em toda a sua nostalgia. Nos dias que foram
dourados e que não são mais. E pensa, imagina, fantasia a respeito do futuro,
de como os dias deveriam ser. O homem pensa no passado e no futuro. As
bestas vivem apenas no presente. Mas elas não estão conscientes de que isso é o
presente. Elas não conseguem ser conscientes do presente. Somente quem é consciente
do passado e do futuro, pode ser consciente do presente, porque o presente está
espremido entre o passado e o futuro. Os
animais não têm ansiedade. A memória não os perturba e as imaginações não
agitam seus corações. Eles são simples. A existência não tem qualquer
complexidade para eles. Quando eles vivem, eles vivem. Quando eles morrem, eles
morrem. Eles são inocentes. O tempo não chegou para corromper o ser deles.
Mas o homem vive no tempo. Ele é consciente de
que ele é, mas ele não é consciente de quem ele é. E isso se torna um grande
problema. Quem sou eu? Essa é a pergunta fundamental que homem algum consegue
responder. A partir dessa pergunta fundamental surge toda a filosofia, toda a
religião, toda a poesia, toda a arte. São diferentes maneiras de se levantar
essa pergunta 'Quem sou eu?' e diferentes maneiras de respondê-la. Mas a
pergunta é só uma: Quem sou eu? Se
você tentar compreender a vida do homem, você verá a persistência dessa simples
pergunta. Sim, o homem que é louco por dinheiro também está tentando responder
à pergunta 'Quem sou eu?'. Ele pensa que ao ter dinheiro ele saberá quem ele é,
ele saberá que ele é rico. Ele terá uma certa identidade. O homem que está
buscando o poder está basicamente tentando responder à pergunta 'Quem eu sou?'.
Ao se tornar o Primeiro Ministro de um país ele saberá que ele é o Primeiro
Ministro. Mas essas respostas são superficiais e não
irão satisfazê-lo realmente. Elas podem satisfazer apenas ao medíocre. Elas não
podem satisfazer a uma pessoa verdadeiramente inteligente. Mesmo quando você
tiver se tornado muito rico, a sua inteligência persistirá em perguntar 'Quem é
você? Sim, você tem dinheiro, mas quem é você? Você não é o dinheiro. Você não
pode ser aquilo que você possui. Quem é essa pessoa que possui? Sim, você se
tornou o Primeiro Ministro de um país, mas aquilo é só uma função, aquilo não é
o seu ser. Quem é você? Quem é essa pessoa que não era Primeiro Ministro e que
agora é um Primeiro Ministro, e que amanhã talvez possa não ser mais? Essa
função de Primeiro Ministro é só um episódio (...) na vida de quem?' A pergunta persiste. Ela não pode ser respondida por
esses empenhos e esforços superficiais. Mas basicamente o homem está tentando
fazer isso. Ele se torna um marido, se torna uma mãe, um pai, isso e aquilo
(...) mas o desejo básico é de alguma maneira ter uma identidade: 'eu sou a
esposa, eu sou o marido, eu sou o pai, eu sou a mãe.' Mas você ainda não teve a
pergunta respondida. Ser uma mãe ou um pai, é simplesmente acidental, é a
superfície. O seu centro mais interior permanece intocado. Essa não é a real identidade. Essa é uma identidade
falsa. A criança morrerá, então quem é você? Você já não será mais mãe. O
marido pode deixá-la, então quem é você? Você já não será mais uma esposa.
Essas identidades são muito frágeis e o homem
vive constantemente enfrentando crises de identidade. Ele tenta arduamente se
ajustar a alguma definição quanto a si mesmo, mas ela acaba escorregando de
suas mãos. Somente a pessoa religiosa formula realmente a pergunta, e a
formula na direção certa. O Buda existe
da mesma forma que a besta existe. O Buda sabe que ele é, da mesma forma que o
homem sabe. Mas uma terceira dimensão se abriu: ele sabe quem ele é, ele chegou
a ver o seu ser mais interior. Ele não procurou pela identidade no mundo
exterior, porque lá não pode estar qualquer identidade. Como ela pode estar no
mundo exterior? Você é a sua interioridade, você é o seu mundo interno, você é
a sua subjetividade. Como você pode conhecer isso através de objetos? Você pode ter uma bela casa, mas isso é o mundo
exterior. Você pode ter belas peças de arte, pinturas, antiguidades, mas elas
são o mundo exterior. Elas não podem definir você. Você permanece não-definido
por elas. Um dia a casa pega fogo e toda a sua identidade foi queimada, e você
está parado na rua, de novo confuso: 'quem sou eu?' É por isso que as pessoas cometem suicídio. Se elas
perderam o dinheiro, se elas faliram, elas cometem suicídio. Porque elas
cometem suicídio? Alguém pode pensar 'porque?' O dinheiro pode ser ganho
novamente (...). Mas olhe para dentro dessas pessoas. Aquela era a identidade
delas. Elas acreditaram por muito tempo que 'eu sou isso'. Agora, toda a minha
conta bancária se esgotou e de novo o problema surge: 'quem sou eu?' E elas
desperdiçaram toda a vida criando aquela conta bancária. Agora elas não estão
preparadas para começar todo aquele esforço de novo. Isso é demais. Elas
fracassaram completamente. Na verdade,
ao falirem, o suicídio já havia ocorrido. A identidade delas já havia ido. Elas
agora não sabem mais quem elas são. A sua face desapareceu. Como elas podem
viver sem uma face? A mulher que você tem amado morre e você comete suicídio,
ou começa a pensar em cometer suicídio, porque aquela mulher era a sua
identidade. Agora você foi deixado sozinho, vazio. E para reiniciar tudo de
novo, começar do nada, parece ser demais. É melhor terminar já com toda essa
história. Esses são os três estágios. E
quando eu digo a besta, existem muitos homens que são como as bestas. Eles não
estão nem mesmo conscientes de que eles são. Eles vivem mecanicamente. Existem
muitas pessoas que são homens, eles sabem que eles são, mas eles não sabem quem
eles são. E no meio deles, existem somente uns poucos, aquelas raras pessoas
que sabem quem elas são. Elas se tornam tridimensionais. O homem é uma
ponte entre a besta e o Buda. Lembre-se, o homem é uma ponte. Não construa a
sua casa sobre a ponte, a ponte não existe para isso. A ponte tem que ser
atravessada. Não permaneça um homem, senão você permanecerá na ansiedade e
angústia, porque o homem não é um lugar para se ficar e se acomodar. Ele é uma
passagem a ser ultrapassada. Ele é uma escada. Você não pode ficar estacionado
numa escada. Ela é apenas uma ligação de um ponto a outro ponto. A besta é
e está num certo estado de satisfação. Sem ansiedade, sem medo, sem morte, sem
ambição, sem buscas, completamente calma e quieta. Porém inconsciente. O Buda
está de novo no estado de satisfação, completamente em paz, à vontade, ele
chegou, a jornada terminou. Não há nenhum lugar para ir. Ele já alcançou. Entre
esses dois está o homem: meio-besta, meio-Buda. Daí surge a tensão: uma parte
se movendo para trás e a outra parte se movendo para a frente. O homem
está rasgado em pedaços. Deixe-me
repetir: o homem ainda não é um ser. O homem perdeu uma maneira de ser, o ser
de uma besta. E o homem ainda não alcançou a outra maneira de ser, o ser de um
Buda. E o homem está constantemente se movimentando entre esses dois seres,
entre essas duas margens. Você não pode
voltar, porque na existência não existe movimento de volta. Você não pode
voltar no tempo. O tempo só tem uma dimensão: ele flui em direção à frente.
Você só pode ir em direção à frente. Não perca tempo pensando que você também
pode ser uma besta e que pode viver como uma besta: comer, beber e se divertir.
Isso não é possível para um ser humano. Ele terá que pensar, ele terá que
ponderar. Ele não pode se dar ao luxo de não pensar. E é muito arriscado fazer
isso porque você ficará estagnado e se tornará uma poça de água suja. O seu
frescor e a sua vitalidade são possíveis apenas se você seguir num fluxo e
fluir até alcançar o oceano. Àquele oceano eu estou chamando de Buda. Buda, o
estado de consciência. O homem tem que se tornar um Buda, tem que criar
aquele desejo intenso, aquela vontade intensa de se tornar um Buda. Esteja numa
busca apaixonada por isso. Coloque toda a energia que você tiver. Torne-se
flamejante com essa vontade (...) e você pode se tornar um Buda. E no dia em que
você se tornar um Buda, você terá se tornado um ser novamente. Um ser num nível
mais alto, no mais elevado nível. Nada existe mais elevado que isso.
Você me pergunta: O que é o homem
exatamente? Enquanto homem, o homem não é algo exato, é apenas um fenômeno
vago, uma nuvem, um nevoeiro. O homem não é exato porque ele é uma multidão. O
homem é muitos homens, por isso ele é um nevoeiro. A unidade está faltando.
Você não tem o centro. O centro surge somente através da consciência. O homem
vive simplesmente como uma madeira boiando. É por isso que eu digo que o
homem é um mero talvez, um confuso paradoxo, um ser absurdo. Ele é e não é. Ele
está no meio. Ele é o único animal que pode enlouquecer a si mesmo. Nenhum
animal pode enlouquecer a si mesmo, somente o homem, porque o homem tem a
capacidade de se tornar sábio. Se você
não crescer em sabedoria, você irá se comportar como um louco. Isso é o que a
maioria das pessoas no mundo está fazendo. Se você observar a partir de um
ponto de vista isento, você ficará surpreso como as pessoas estão vivendo... em
tanta confusão, em tanta bagunça, em tanta loucura. Como elas estão se movendo?
Elas não estão se movendo em absoluto. Elas estão correndo sem sair do mesmo
lugar. E se observar o homem, você ficará surpreso pois é muito raro
cruzar com um homem sábio. Tolos e tolos (...). Tolos em abundância. Mas
lembre-se de que nenhum outro animal pode se comportar como um tolo. Você já
viu um cachorro comportando-se como um tolo? Nunca. Eles não podem ser tolos
porque eles não podem ser sábios. Ambas as possibilidades surgem simultaneamente.
Observe a si mesmo. Observe a suas tolices.
Esteja constantemente alerta em relação ao que você está fazendo com a sua
vida. Esta é uma vida preciosa. O valor que ela tem é tanto que não pode ser
medido, não pode ser avaliado. Mas porque ela lhe é dada como uma dádiva, você
não aprecia o seu valor. Porque ela tem sido uma bênção de Deus, você acha que
ela já está certa e garantida. Isso é tolice. Não a considere como certa e
garantida. Ela é uma oportunidade para o crescimento. E você terá que
responder a Deus pelo que fez com a sua vida. Você deixou a vida do mesmo jeito
que você a recebeu? Ou ainda pior? Pense a respeito disso, de que o homem um
dia terá que responder. E a não ser que você seja um Buda, você não será capaz
de responder. Porque ser um Buda é ser um Deus, e essa é a sua intrínseca
possibilidade. E a não ser que você seja um Deus, você não se sentirá
completo. E somente então você conhecerá exatamente o que você é. Agora,
neste momento, você não é nada, apenas um mero talvez. www.oshobrasil.com.br. Abraço. Davi
Nenhum comentário:
Postar um comentário