Teosofia.
Algumas ponderações do livro Ísis de Véu, volume IV, páginas 165-170 de Helena Petrovna Blavatsky (1831-1899) enfatizando as COMPARAÇÕES DOS
MINISTÉRIOS TERRENOS DE KRISHNA, BUDHA E JESUS DE NAZARÉ. "Esse credo não
decaiu, e sua filosofia oculta, tal como a entendem agora os hindus iniciados,
é exatamente a mesma há quase 10.000 anos. Mas podem nossos eruditos esperar
seriamente que aqueles a revelem ao primeiro pedido, ou esperam ainda eles
penetrar os mistérios da Religião Universal por seus ritos populares exotéricos
(exteriores)? Nenhum brâmane ou budista ortodoxo negaria o mistério da
encarnação cristã, mas eles a compreendem à sua própria maneira, e como
poderiam negá-la? A pedra fundamental de seu sistema religioso são as
encarnações periódicas da Divindade. Sempre que a Humanidade está prestes a
cair no materialismo e na degradação moral, um Espírito Supremo se encarna na
criatura selecionada para o propósito. O "Mensageiro do Superior"
liga-se à dualidade da matéria e da alma, e, completando-se assim a Tríade por meio
da união de sua Coroa, nasce um Salvador, que ajuda a Humanidade a retornar ao
caminho da verdade e da virtude. A igreja cristã primitiva, imbuída da
filosofia asiática, partilhava evidentemente da mesma crença – do contrário,
jamais teria erigido em artigo de fé o segundo advento, nem inventado a fábula
do Anti Cristo como uma precaução contra as possíveis
encarnações futuras. Nem teria imaginado que Melquisedeque foi um Avatar de Cristo. Eles só precisariam folhear a Bhagavad Gita para descobrir Krishna ou Bhagavat dizendo a Arjuna: "Aquele que me segue está salvo pela
sabedoria e também pelas obras, ( ... ). Assim que a virtude declina no mundo,
eu me torno manifesto para salvá-lo". Na verdade, é muito difícil não
partilhar essa doutrina das encarnações periódicas. Não tem o mundo
testemunhado, em raros intervalos, o advento de personagens tão grandiosos como Krishna, Sakyamuni Budha e Jesus? Como estes dois últimos caracteres, Krishna parece ter sido um ser real, deificado por
sua escola em algum tempo no alvorecer da história, e inserido no quadro do
venerando programa religioso. Comparai os dois Redentores, o hindu e o cristão,
separados no tempo por um espaço de alguns milhares de anos, colocai entre eles Sidharta Budha, que reflete Krishna e projeta na noite do futuro a sua própria
sombra luminosa, com cujos raios foram esboçadas as linhas gerais do mítico
Jesus, e de cujos ensinamentos derivaram os do Christos histórico, e descobrireis que sob uma mesma
capa idêntica de lenda poética viveram e respiraram três figuras humanas reais.
O mérito individual de cada uma delas ressalta do mesmo colorido mítico, pois
nenhum caráter indigno poderia ter sido selecionado para a deificação pelo
instinto popular, tão infalível e justo quando desimpedido. O brocardo Vox populi, vos Dei outrora verdadeiro, embora falso quando
aplicada à atual massa dominada pelo clero. Kapila, Orfeu, Pitágoras (570 AC 495), Platão (428 AC
347), Basílides (120-145), Marcion (85-160), Amônio Sacca (175-242) e Plotino (204-270) fundaram
escolas e semearam os germes de muitos e nobres pensamentos, e, ao
desaparecerem, deixaram atrás de si o brilho de semideuses. Mas as três
personalidades de Krishna, Gautama Budha e Jesus surgiram como deuses verdadeiros,
cada qual em sua época, e legaram à humanidade três religiões edificadas na
imperecível rocha dos séculos. O fato de que as três, especialmente a fé
cristã, tenham sido adulteradas com o tempo, e de que a última seja quase
irreconhecível, não se deve a nenhuma falha dos nobres reformadores. São os
clérigos que se intitulam de cultivadores da "vinha do Senhor" que
devem prestar contas à posteridade. Purificai os três sistemas da escória dos
dogmas humanos, e a pura essência permanecerá a mesma. Mesmo Paulo, o grande, o
honesto apóstolo, no ardor de seu entusiasmo, perverteu involuntariamente as
doutrinas de Jesus, ou então seus escritos foram desfigurados depois de
reconhecidos. O Talmude hebreu, o registro de um povo que, não obstante a sua
apostasia do Judaísmo, sentiu-se compelido a reconhecer a grandeza de Paulo
como filósofo e teólogo, diz a propósito de Aher (Paulo), no Yerushalmi, que "ele corrompeu a obra daquele homem” –
ou seja, Jesus. Entretanto, antes que essa fusão seja realizada pela ciência
honesta e pelas gerações futuras, lancemos uma vista de olhos ao quadro atual
das três legendárias religiões. As Lendas dos Três Salvadores. (1). Krishna. Época: Incerta. A ciência europeia teme
comprometer-se. Mas os cálculos bramânicos a fixam por volta de há 5.000 anos. Krishna descende de uma família real, mas é educado
por pastores, é chamado de deus pastor. Seu nascimento e sua ascendência divina
são mantidos em segredo de Kansa. Encarnação de Vishnu, a segunda pessoa da Trimúrti (Trindade). Krishna foi adorado em Maturã, no rio Jummna. Krishna é perseguido por Kansa, tirano de Madura, mas escapa miraculosamente. Na
esperança de destruir a criança, o rei mata milhares de varões inocente. A mão
de Krishna foi Devaki, uma virgem imaculada (porém que havia dado à luz
oito filhos antes de Krishna). Krishna é dotado de beleza, onisciência e
onipotência desde o nascimento. Produz milagres, cura os aleijados e cegos, e
expulsa demônios. Lava os pés dos brâmanes, e, descendo às regiões inferiores
(inferno), liberta os mortos, e retorna a Vaikuntha – o paraíso de Vishnu. Krishna era o próprio Deus Vishnu era o próprio deus Vishnu em forma humana. Krishna cria meninos de carneiros, e vice - versa.
Esmaga a cabeça da serpente. Krishna é unitário. Persegue o clero, acusa-o de
ambição e hipocrisia, divulga os grandes segredos do Santuário – a
Unidade de Deus e a imortalidade do nosso espírito. A tradição diz que ele caiu
vítima de sua vingança. Seu discípulo favorito, Arjuna, nunca o abandona. Há tradições fidedignas
segundo as quais ele morreu perto de uma árvore (ou cruz), sendo atingido no pé
por uma flecha. Os eruditos mais sérios concordam em que a Cruz irlandesa, em Tuam, erigida muito antes da era cristã, é asiática. Krishna sobe ao Svarga e torna-se Nirguna. (2). Gautama buddha (563 AC 469). Época: Segunda a ciência
europeia e os cálculos cingalese, há 2.540 anos. Guatama é o filho de um rei. Seus primeiros
discípulos são pastores e mendigos. Segundo alguns, uma encarnação de Vishnu, segundo outros, uma encarnação de um dos Budhas, e mesmo de Adi – Budhas, a Sabedoria Suprema. As lendas budistas estão
livres deste plágio, mas a lenda católica que o transforma em São Josafá mostra que seu pai, rei de Kapilavastu, matou inocentes jovens cristãos (ver a lenda
dourada). A mãe de Budha foi Maya ou Mayadevi, não obstante o seu casamento, manteve-se virgem
imaculada. Budha é dotado dos mesmos poderes e qualidades, e realiza
prodígios semelhantes. Passa sua vida com mendigos. Pretende-se que Gautama era
diferente de todos os outros Avatares, tendo todo o espírito de Budha em si, ao passo que os demais tinham apenas
uma parte da divindade. Gautama esmaga a cabeça da serpente, abole o culto de Naga por fetichismo, mas, como Jesus, faz da
serpente o emblema da sabedoria divina. Budha abole a idolatria, divulga os mistérios da
Unidade de Deus e o Nirvana, cujo verdadeiro significado era conhecido apenas
pelos sacerdotes. Perseguido e expulso do país, escapa da morte reunindo ao seu
redor algumas centenas de milhares de crentes em seu Budhado. Finalmente morre, cercado por uma hoste de
discípulos, com Ananda, seu primo e amado discípulo, o líder de todos eles. O Brien acredita que a Cruz irlandesa em Tuam diz respeito a Budha, mas Gautama jamais foi crucificado. Em muitos
templos ele é representado sentado sob uma árvore cruciforme, que é a
"Árvore da Vida". Em outra imagem, ele está sentado sobre Naga, o Raja das serpentes com uma cruz em seu peito. Budha sobe ao Nirvana. Jesus de Nazaré. Época:
Supõe-se que tenha sido há 1877 anos. Lembrando que o Livro Ísis Sem Véu foi primeiramente publicado em (1875
a 1877 – então Jesus nasceu a aproximadamente 2017 anos atrás). Seu nascimento
e sua ascendência real foram ocultados de Herodes, o tirano. Descende da
família real de Davi. É adorado por pastores em seu nascimento, e é chamado de
"Bom Pastor". Uma encarnação do Espírito Santo, portanto a segunda
pessoa da Trindade, agora a terceira. Mas a Trindade, agora a terceira. Mas a
trindade só foi inventada em 325 anos depois de seu nascimento. Foi a Matarea, Egito, e ai produziu os seus primeiros milagres.
Jesus é perseguido por Herodes, rei da Judéia, mas escapa para o Egito guiado
por um anjo. Para se assegurar de sua morte, Herodes ordena um massacre
de inocentes, e 40.000 crianças são mortas. A mãe de Jesus foi Maria, ou
Miriam, casou-se com seu marido José, mas manteve-se virgem imaculada, embora
tenha tido várias crianças além de Jesus. Jesus tem os mesmos dons que Budha e Krishna. Passa sua vida com pecadores e publicanos.
Expulsa igualmente os demônios. A única diferença notável entre os três é que
Jesus é acusado de expulsar os demônios pelo poder de Belzebu (maioral dos
demônios), ao passo que os outros não. Jesus lava os pés de seus discípulos,
morre, desce ao inferno, e sobe ao céu, depois de libertar os mortos. Conta-se
que Jesus esmagou a cabeça da serpente, de acordo com a revelação original do
Gênesis. Também transforma menino em cabritos e cabritos em meninos. Jesus rebela-se
contra a antiga lei judaica, denuncia os Escribas e Fariseus, e a sinagoga por
hipocrisia e intolerância dogmática. Quebra o Sabbath, e desafia a Lei. É
acusado pelos judeus de divulgar os segredos do Santuário. É condenado a morrer
numa cruz (uma árvore). Dos poucos discípulos que havia convertido, um o trai,
um o nega, e os outros desertam por fim, exceto João, o discípulo que ele
amava. Jesus, Krishna e Budha, os três salvadores, morrem sobre ou sob árvores,
e estão relacionados com cruzes que simbolizam os tríplices poderes da criação.
Jesus sobe ao Paraíso. Como resultado em meados do século XVIII, contavam essas
três religiões com os seguintes números de seguidores : De Krishna (Bramanistas) 60.000.000. De Budha (Budista) 450.000.000. De Jesus (Cristãos)
260.000.000. Tal é o estado atual dessas três religiões (isso no final do
século XIX). Cada uma das quais se reflete por sua vez em sua sucessora.
Tivessem os dogmatizadores cristãos parado aqui, os resultados não teriam sido
tão desastrosos, pois teria sido difícil, de fato, fazer um mau credo dos
sublimes ensinamentos de Gautama, ou de Krishna com Bhagavad. Mas eles foram adiante, e acrescentaram ao puro
Cristianismo primitivo as fábulas de Hércules, Orfeu e Baco. Assim como os
muçulmanos não admitem que seu Alcorão se baseia no substrato da Bíblia
Judaica, não confessam os cristãos que devem quase tudo às religiões hindus.
Mas os hindus têm a cronologia para prová-lo. Vemos os melhores e mais eruditos
de nossos escritores lutando inutilmente por mostrar que as extraordinárias
semelhanças – no que se refere à identidade – entre Krishna e Cristo se devem aos espúrios Evangelhos da
Infância e do de Santo Tomás de Aquino (1225-1274), fiel à política de
proselitismo que caracterizou os cristãos primitivos, ao encontrar no Malabar o
original do Cristo mítico em Krishna, tentou reunir os dois, e, adotando em seu
"evangelho" (do qual todos os demais foram copiados) os detalhes mais
importantes da história do Avatar hindu, enxertou a heresia cristã na religião
primitiva de Krishna. Para quem estiver familiarizado com o espírito do
Bramanismo, a ideia de os brâmanes aceitarem qualquer coisa de um estrangeiro é
simplesmente ridículo. Que eles, o povo mais fanático no que respeita aos
assuntos religiosos, que, durante séculos, não pôde ser compelido a adotar o
mais simples dos costumes europeus, sejam suspeitos de ter introduzido em seus
livros sagrados lendas não averiguadas sobre um Deus estrangeiro, eis algo tão
absurdamente ilógico que é realmente uma perda de tempo tentar contraditar a
ideia! Não examinaremos em profundidade as bem conhecidas semelhanças entre a
forma externa do culto budista – especialmente o Lamaísmo – e o catolicismo
romano, façanha pela qual pagou caro o pobre Huc – mas, tentaremos comparar os pontos mais
vitais. De todos os manuscritos originais que foram traduzidos das várias
línguas em que o Budismo está exposto, os mais extraordinários e interessantes
são o Dhammapada, ou O caminho da virtude, de Budha, traduzido do pali pelo Coronel Rogers, e A Roda da Lei, que
contém as observações de um Ministro de Estado siamês sobre a sua própria
religião e as outras, traduzida por Henry Alabaster (1836-1884). A leitura de ambos os livros, e
a descoberta neles de semelhanças de pensamentos e doutrina, habilitou o Dr. Inman a escrever muitas das passagens
profundamente verdadeiras constantes de uma de suas últimas obras, Ancient Faiths and Modern. "Falo com sóbria sinceridade", escreve
esse generoso e franco erudito, "quando digo que após quarenta anos de
experiência entre aqueles que professam o Cristianismo, e aqueles que proclamam
( ... ) mais ou menos em silêncio a sua discordância com ele, observei mais
virtude e moralidade entre os últimos do que entre os primeiros ( ... ).
Conheci pessoalmente muitas pessoas pias e boas cristãs, a quem honro, admiro e
talvez gostaria de imitar, mas elas merecem o elogio que assim lhes passo em
consequência de seu bom senso, pois ignoram a doutrina da fé de modo quase
total, e cultivam a prática das boas obras ( ... ). A meu juízo, os cristãos
mais louváveis que conheço são budistas reformados, embora provavelmente nenhum
deles jamais tenha ouvido falar de Sidharta Gautama. Entre os artigos de fé e as
cerimônias lamaíco – budista e católico – romanas há cinquenta e um pontos
que apresentam uma semelhança perfeita e surpreendente, e quatro pontos
diametralmente oposto. Como seria inútil enumerar as "semelhanças",
pois o leitor pode encontrá-las cuidadosamente anotadas na obra de Inman acima citada. Citaremos apenas as quatro
dessemelhanças, e deixaremos ao leitor a tarefa de tirar suas conclusões: (1).
Os budistas afirmam que nada que seja contraditado pela razão pode constituir
uma verdadeira doutrina de Budha. Os cristãos aceitarão qualquer absurdo,
desde que promulgado pela Igreja como um artigo de fé. (2). Os budistas não
adoram a mãe de Sakyamunni, embora a honrem como uma mulher santa, escolhida por suas
grandes virtudes para tal tarefa. Os romanos adoram a mãe de Jesus, e lhe pedem
ajuda e intercessão. O culto da Virgem enfraqueceu o de Cristo, e lançou por
completo na sombra o do Todo Poderoso. (3). Os budistas não tem sacramentos. Os
seguidores do papa têm sete que são: batismo, eucarística, matrimônio, crisma,
reconciliação ou penitência, unção dos enfermos, ordem religiosa. (4). Os
budistas não acreditam em qualquer perdão para os seus pecados, exceto depois
de uma adequada punição para toda má ação, e uma compensação proporcional às
partes injuriadas. Os cristãos estão certos de que, se apenas acreditam no
"precioso sangue de Cristo", esse sangue oferecido por Ele para a
expiação dos pecados de toda a humanidade (leia-se cristãos) reparará todos os
pecados mortais. Qual dessas teologias mais se recomenda ao pesquisador
sincero, eis uma questão que podemos deixar com segurança ao julgamento do
leitor. Uma oferece luz, a outra trevas. Reza A roda da Lei: "Os budistas
acreditam que todo ato, palavra ou pensamento tem a sua consequência, que
aparecerá mais cedo ou mais tarde no atual estado, ou nalgum futuro. Os atos
maus produzirão más consequências, prosperidade neste mundo, ou nascimentos no
céu ( ... ) em algum estado futuro". Essa é a justiça correta e imparcial.
Essa é a ideia de um Poder Supremo que não pode falhar e que, por conseguinte,
não pode ter nem ira nem misericórdia, mas deixa todas as causas, grandes ou
pequenas, exercerem seus efeitos invitáveis. "Com a medida com que
medirdes sereis medidos", tal sentença, nem pela expressão, nem pela
implicação assinala qualquer esperança de um futuro perdão ou salvação por
procuração. A crueldade e a misericórdia são sentimentos finitos. A Divindade
Suprema é infinita, portanto só pode ser JUSTA, e a justiça deve ser cega. Os
pagãos antigos tinham a esse respeito concepções mais filosóficas do que os
cristãos modernos, pois representam Têmis de olhos vendados. E o autor siamês da obra
em pauta dá mostras novamente de pensamentos: "Um budista poderia
acreditar na existência de um Deus Sublime acima de todas as qualidades e
atributos, um Deus Perfeito, acima do amor e do ódio, repousando calmamente
numa silente felicidade que nada pode perturbar, e de tal Deus nada de mal ele
poderia falar. Não pelo desejo de agradá-lo, ou pelo medo de ofendê-lo, mas
pela veneração natural. Mas ele não pode compreender um Deus com atributos
humanos e na qualidade dos homens, um Deus que ama e odeia e mostra raiva, uma
Divindade que, conforme a descrevem os missionários cristão, ou os maometanos,
os brâmanes e os judeus, cai sob o seu padrão na categoria de um bom homem
comum. Já nos temos surpreendido amiúde com as extraordinárias ideias de Deus e
Sua Justiça que parecem ser honestamente defendidas pelos cristãos que
cegamente confiam no clero quanto aos assuntos religiosos, e jamais em sua
própria razão. Quão estranhamente ilógica é essa doutrina da Expiação. Propomos
discuti-la com os cristãos do ponto de vista budista, e mostrar ao mesmo tempo
por quais séries de sofismas, dirigidas para o objetivo único de apertar
o jugo eclesiástico sobre o pescoço popular, sua aceitação, como um mandamento
divino, foi finalmente efetuada, queremos mostrar também que ela se revelou uma
das doutrinas mais perniciosas e desmoralizantes. Diz o clero: "Não
importa quão enormes sejam os nossos crimes contra as leis de Deus e do homem,
temos apenas que acreditar no auto sacrifício de Jesus para a salvação da
humanidade, e Seu sangue lavará todas as máculas. A misericórdia divina é
infinita e insondável. É impossível conceber um pecado humano tão abominável
que o preço pago em adiantado para a redenção do pecado não o elimine, sendo
ainda mil vezes pior. E, além disso, nunca é tarde demais para se arrepender.
Mesmo que o pecador espere até o último da hora extrema, do último dia de sua
vida mortal, depois de seus descoloridos lábios pronunciarem a confissão da fé,
ele estará pronto para ir ao Paraíso. O bom ladrão assim o fez, e assim poderão
fazê-lo outros da mesma espécie", tais são os pontos de vista da Igreja.
Mas se transpusermos o estrito círculo do credo e considerarmos o universo como
um todo equilibrado pelo primoroso ajustamento das partes, como se revoltará a
lógica sensata, o mais fraco senso de justiça contra essa Vicária Expiação! Se
o criminoso pecou apenas contra si mesmo, e causou mal apenas a si mesmo, se
pelo arrependimento sincero ele puder apagar os eventos passados, não apenas da
memória do homem, mas também desse registro imperecível, que nenhuma divindade,
nem mesmo a Suprema das Suprema, pode fazer desaparecer, então esse dogma não
seria incompreensível. Mas afirmar que alguém pode fazer mal a seu companheiro,
matar, perturbar o equilíbrio da sociedade, e a ordem natural das coisas, e
então, pela covardia, esperança, ou compulsão, não importa, ser esquecido por
acreditar que o sangue derramado de alguém lave o outro sangue derramado, isso
é ilógico e absurdo! Podem os resultados de um crime ser esquecidos ainda que o
crime seja perdoado? Os efeitos de uma causa nunca se limitam ao âmbito da
causa, nem podem os resultados de um crime ser confinados ao ofensor e à sua
vítima. Toda boa ação, assim como a má, tem seus efeitos, que são tão palpáveis
como a pedra que cai num lago de águas claras. A comparação é trivial, mas é a
melhor que podemos imaginar, e portanto a empregamos. Os círculos de
redemoinhos são maiores e mais rápidos, conforme seja o objeto perturbador
maior ou menor, mas o menor pedregulho, ou melhor, a partícula mais fina,
provoca suas ondas. E essa perturbação não é visível apenas na superfície.
Abaixo, em todas as direções, para fora e para baixo, de modo invisível, gota puxa
gota, até que os lados e o fundo sejam tocados pela força. Mais o ar acima da
água é agitado, e essa perturbação passa, como nos dizem os físicos, de estrato
a estrato no espaço para todo o sempre, um impulso é dado à matéria, e esse
nunca se perde, e não pode ser retomado! Ocorre o mesmo com o crime, e com o
seu oposto. A ação pode ser instantânea, os efeitos são eternos. Quando, depois
de a pedra ter caído no lago, pudermos chamá-la de volta à mão, recolher as
ondas, obliterar a força expandida, restaurar as ondas etéreas ao seu estado
anterior de não - ser, e apagar todos os traços do ato de atirar a pedra, de
modo que o registro do Tempo não possa mostrar o que aconteceu, então, então,
poderemos ouvir pacientemente os cristãos defenderem a eficácia dessa Expiação.
O times de Chicago - USA, publicou recentemente a lista de algozes da
primeira metade do presente ano (1877), uma longa e chocante lista de
assassinos e enforcamentos. Quase todos esses assassinos receberam a consolação
religiosa, e muitos anunciaram que haviam recebido o perdão de Deus através do
sangue de Jesus, e que estavam indo para o Céu! Sua conversão foi efetuada na
prisão. Observai quão ligeira é a balança da Justiça Cristã. Esses
sanguinolentos assassinos, incitados pelos demônios da luxúria, da vingança, da
cupidez, do fanatismo, ou pela mera sede brutal de sangue, mataram suas
vítimas, em muitos casos, sem lhes dar o tempo para se arrependerem, ou
chamarem a Jesus para lhes lavar o sangue. Morreram, talvez, em pecado, e,
naturalmente, de acordo com a lógica teológica, encontraram a recompensa para
as suas ofensas maiores ou menores. Mas o assassino, agarrado pela justiça
humana, é aprisionado, chorado pelo sentimentalistas, confessa, pronuncia as
encantadas palavras de conversão, e vai ao cadafalso uma redimida criança de
Jesus! Se não fosse pelo assassinato, ele não teria sido confessado, redimido,
perdoado. Então, esse homem fez bem em matar, pois assim ganhou a felicidade
eterna! E quanto à vítima, e sua família, seus parentes, dependentes, e amigos,
não tem a Justiça nenhuma recompensa para eles? Devem eles sofrer neste mundo e
no próximo, enquanto aquele que lhes fez mal se senta ao lado do "bom
ladrão" do e é para sempre abençoado? Sobre essa questão, o clero também mantém
um prudente silêncio. Redator do Mosaico. Agora é minha fala. Como viram o
texto é enfático, pois a senhora Blavatsky precisou salientar o ensino exotérico do
Budismo em relação a expiação da alma humana. Também há todo um contexto
histórico de dominação inglesa (séculos XVII a XIX) na Índia que não tenho
tempo de abordar, produzindo esse tom incisivo da autora em relação ao
cristianismo. Enquanto os budistas imprimem sua própria expiação pessoal
baseada na justíssima recompensa das virtudes e punições pelos pecados. Um
processo sistemático envolvendo ajustes e reparações carmicas (para cada ação há uma reação) que tem como
resultado a redenção completa do discípulo ao longo de futuras encarnações. O
cristianismo concebe outro pressuposto para a redenção, basta crer no
sacrifício efetuado por Jesus na cruz do calvário e terás todos os pecados e
vícios imediatamente cancelados. A filosofia oriental tem tradição
espiritualista de compreender os conceitos religiosos baseados na lógica e
racionalidade, assim não entendem argumentos dogmáticos que ressaltam a
autoridade das doutrinas como imposição de uma fé cega que não suporta ser
questionada ou colocada a prova. Isso era o que os missionários jesuítas
católicos e posteriormente os protestantes (século XVII e XIX) faziam ao tentar
converter os hindus sem argumentos plausível. Evidentemente eles resistiam a
essas investidas do colonizador europeu, não vendo razão para trocarem sua
maneira lógica de redenção por uma duvidosa, segundo eles, que os jesuítas e
protestantes não conseguiam explicar coerentemente, simplesmente diziam que
basta crer e ter fé pra ser salvo. Abraço. Davi.
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