Budismo.
Livro Bondade, Amor e Compaixão do Dalai Lama. Palestra de Sua Santidade o
Dalai Lama. A NATUREZA LUMINOSA DA MENTE. Precisamos nos familiarizar com as
boas atitudes, mas o fato de estarmos habituados a emoções más, como o ódio,
cria um enorme obstáculo para isso. Precisamos detectar as diversas formas de
emoções perturbadoras e perniciosas. E combate-las de imediato. Se nos
acostumarmos gradualmente a controlar nossos maus hábitos, é possível que nos
tornemos calmos em alguns anos, mesmo que no momento costumemos nos zangar com
facilidade. Algumas pessoas tendem a achar que ficarão sujeitas a perder sua
independência se não permitirem que suas mentes vagueiem por onde desejarem, ou
seja, se tentarem controla-las. Não é verdade. Se nossa mente estiver
caminhando da maneira correta, já seremos independentes. Mas se estiver agindo
de modo errado, é necessário exercermos controle sobre ela. É possível eliminar
completamente as emoções perturbadoras, ou conseguiremos apenas reprimi-las ?
Do ponto de vista do budismo, a natureza convencional da mente é a de uma luz
clara. Desse modo, a corrupção não se encontra na própria natureza mental. As
deturpações são fortuitas e temporárias, e podem ser extirpadas. Do ponto de
vista supremo, a natureza da mente é o vazio de existência inerente. Se as
emoções perturbadoras, como o ódio, fizessem parte da verdade natureza da
mente, então, esta seria, por exemplo, sempre odiosa, pois tal seria sua
natureza. Contudo, isso evidentemente não é verdadeiro. Só ficamos zangados em
determinadas circunstâncias, e quando essas circunstâncias não se apresentam, a
raiva não é gerada. Isso mostra que a natureza
do ódio e a da mente são diferentes, mesmo que num sentido mais profundo ambas, sejam consciência,
possuindo assim uma natureza de luminosidade e de conhecimento. Quais as circunstâncias
que servem de base para gerar ódio ? Ele é gerado porque sobrepomos aos
fenômenos uma repulsa e uma maldade que vão além daquilo que existe. Baseado
nisso, nos zangamos com o que impede a realização de nossos desejos.
Consequentemente, o fundamento de uma mente envolvida com o ódio não é válido.
Contudo, uma mente amorosa possui um fundamento válido. Quando, por um longo
período de tempo, uma atitude destituída dele, aquela que o tem vencerá. Em
consequência, se adotarmos sem interrupção, por um longo período de tempo,
atitudes que possuam um fundamento válido,
as más atitudes, não fundamentadas nele, decrescerão gradualmente.
Quando treinamos salto em distância, por exemplo, a base do processo é o corpo
físico. Portanto existe um limite de quanto se pode saltar. Contudo, como a
mente é uma entidade de mera luminosidade e conhecimento, quando é ela a base
do treinamento, pode-se, através da familiarização gradual, desenvolver
atitudes saudáveis de modo ilimitado. Nós próprios sabemos que a mente é capaz
de se lembrar de muitos fatos. Ao colocarmos nela algo, depois algo mais, vemos
como é possível armazenar na memória inúmeras coisas. Nos nosso dias não
conseguimos reter grande quantidade de elementos, pois empregamos apenas os níveis
mais grosseiros da consciência. Se usássemos os mais sutis, poderíamos reter
uma extraordinária quantidade de elementos. As qualidades que dependem da mente
podem ser multiplicadas de modo ilimitado. Quanto mais introduzimos e
incrementamos as atitudes que se opõem as emoções perturbadoras, mais as
atitudes adversas diminuem, extinguindo-se, afinal, por completo. Assim,
considera-se que, por possuirmos uma mente cuja natureza é de mera luminosidade
e conhecimento, todos nós reunimos as substâncias básicas necessárias para
alcançarmos o estado de Buda. Um ponto budista fundamental é que tomando-se
como base que a mente é, essencialmente, uma entidade de luminosidade e
conhecimento, pode ser demonstrado que ela tem capacidade para conhecer tudo Isso,
sob um prisma filosófico, sustenta a afirmação de que as boas atitudes podem
ser incrementadas de modo ilimitado. Em termos da prática cotidiana, é bastante
útil detectar a natureza convencional da mente e nos concentrarmos nela. O
motivo pelo qual se torna difícil perceber a sua natureza e que ela está como
que encoberta sob nossas próprias concepções. Assim sendo, em primeiro lugar, é
necessário que deixemos de nos lembrar o que ocorreu no passado e cogitemos o
que poderá acontecer no futuro. Deixemos que a mente flua de modo espontâneo e
sem uma sobrecarga conceitual. Permitamos que ela descanse no seu estado
natural, e a partir daí, passemos a observá-la. De início, enquanto não
estivermos acostumados com essa prática, será difícil. Porém com o tempo, no
entanto, a mente surge como água cristalina. Então, devemos permanecer com essa
mente autêntica impedindo o surgimento de concepções. É conveniente realizarmos
essa meditação logo pela manhã, quando nossa mente acabou de despertar e já
está lúcida, enquanto nossos sentidos não estão completamente ativos. É bom não
termos comido muito na véspera e nem dormido demais. Isso torna a mente mais
leve e estável. A atenção e a memória ficarão mais claras. Observemos se essa
prática nos torna a mente mais alerta no decorrer do dia. O benefício mais
imediato será tranquilizar nossos pensamentos. A medida que nossa memória se
aperfeiçoar, poderemos desenvolver gradualmente a clarividência, o que decorre
do aumento da atenção. Um benefício a longo prazo, tendo em vista que nossa
mente tornou-se mais alerta e penetrante, é podermos usá-la em qualquer campo
que desejarmos. Seria de grande utilidade para nós, conseguirmos fazer
diariamente uma pequena meditação, concentrando nossa mente dispersa num objeto
interno. A capacidade de conceituação eu de modo incessante elabora imagens –
ora boas, ora más – conseguirá um descanso. Serão como que pequenas
férias, para nos fixarmos na não
conceituação e repousarmos. Livro Bondade, Amor e Compaixão. Abraço Davi
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