Confucionismo.
www.https//rt.br. OS ANALECTOS – APÊNDICE
I B. Entenderam perceberam que ele partia porque Lu tinha falhado em observar
os ritos devidamente. De sua parte, Confúcio preferia estar ligeiramente em
falta ao partir do que partir sem razão alguma. As ações de um cavalheiro estão
naturalmente acima do entendimento do homem comum. (VI.B.6) Talvez a razão dada
em Os Analectos também não seja mais do que um pretexto. Há outra passagem em
Os Analectos que definitivamente pertence a esse período e que é de algum
interesse. O Mestre disse: “Concedam-me mais alguns anos para que eu possa
estudar o Livro das mutações até os cinquenta e então estarei livre de maiores
erros”. (VII.17) Foi no ano 503 a.C. que Confúcio chegou à idade de cinquenta
anos, e a data em que ele fez tal observação deve ter sido antes desse ano.
Essa passagem tem sido usada como evidência de que Confúcio fez um estudo
profundo do Livro das mutações. Mas para yi (mudança) há uma leitura
alternativa, yi, que é uma partícula gramatical. Se essa leitura é seguida,
então a tradução é: Concedam-me mais alguns anos para que eu possa estudar até
os cinquenta e então estarei livre de maiores erros. A tradição que liga
Confúcio com a autoria do assim chamado “Dez asas” no Livro das mutações não é,
de modo algum, firmada em evidência concreta. 6. Viagem para fora do reino
(497-484 a.C.) Depois de deixar Lu, Confúcio viajou pelo exterior, visitando
vários reinos, mas em nenhum lugar está registrado quando ele começou suas
viagens nem a ordem na qual ele visitou esses reinos. Entretanto, alguns
indícios podem ser tirados de Mencius. Quando Confúcio caiu em desfavor em Lu e
em Wei, houve o incidente de Huan Ssu-ma, de Sung, que estava prestes a emboscá-lo
e matá-lo, e ele teve que viajar pelo reino de Sung disfarçado. Naquela época,
Confúcio estava em apuros, e ele foi recebido por Ssu-ch’eng Chen-tzu e tomou
cargo com Chou, marquês de Ch’em. (Mencius, V.A.8) Isso pareceria indicar que
depois que ele deixou Lu, Confúcio primeiro foi para Wei e então de Wei para
Ch’en, por Sung. Agora Ch’en e Ts’ai são mencionados, tanto em Os analectos
como em Mencius. O Mestre disse: “Nenhum daqueles que estiveram comigo em Ch’en
e Ts’ai jamais foram além da minha porta”. (Os analectos, XI.2) Mêncio disse:
“O fato de o cavalheiro [isto é, Confúcio] ter estado em dificuldades na região
de Ch’en e Ts’ai foi porque ele não tinha amigos na corte”. (Mencius, VII.B.18)
Como Ts’ai é mencionada após Ch’en, a visita a Ts’ai muito provavelmente veio
depois que Confúcio assumiu um cargo em Ch’en. Isso é inteiramente razoável, já
que Ts’ai, como parte de Ch’u, ficava ao sudoeste de Ch’en, e Ch’en, por sua
vez, ficava ao sudoeste de Sung. Se lembrarmos que Confúcio passou por Sung
para chegar até Ch’en, então ele deve ter chegado até Ch’en antes que ele
pudesse ir para Ts’ai. Sobre a volta de Confúcio para Lu, temos mais sorte.
Sabemos quando e a partir de qual reino ele voltou. De acordo com Tso chuan
(duque Ai 11), em 484 a.C., quando consultado por K’ung Wen Tzu sobre questões
militares, Confúcio disse: “É o pássaro que deveria escolher a árvore. Como
poderia a árvore escolher o pássaro?”. Embora ele estivesse persuadido a não
deixar Wei, ele foi chamado pelos homens de Lu, e então regressou. [232] O Tso
chuan então registra que o líder da família Chi consultou Confúcio por meio de
Jan Yu sobre questões de impostos. [233] Isso significa que Confúcio estava
efetivamente de volta a Lu em fins de 484 a.C., no mais tardar. Agora que
estabelecemos um itinerário, podemos dar uma olhada nos acontecimentos que
ocorreram durante esses anos de viagem ao estrangeiro. a. Primeira visita a Wei
A primeira visita a Wei deve ter acontecido antes de 493 a.C., já que o duque
Ling morreu naquele ano e há conversas entre o duque e Confúcio registradas em
Os analectos. Em XIII.9 encontramos Quando o Mestre foi para Wei, Jan Yu
conduziu a carruagem para ele. O Mestre disse: “Que população florescente!”.
Jan Yu disse: “Quando a população floresce, que outro benefício pode-se
acrescentar?”. “Fazer as pessoas ricas.” “Quando as pessoas tornam-se ricas,
que outro benefício pode-se acrescentar?” “Educá-las.” Esse parece o tipo de
conversa que aconteceria em uma primeira visita. De acordo com Mencius, enquanto
estava em Wei Confúcio teve, como anfitrião, Yen Ch’ou-yu. Mêncio acrescentou A
esposa de Mi Tzu [234] era a irmã da mulher de Tzu-lu. Mi Tzu disse para
Tzu-lu: “Se Confúcio deixar eu servir de anfitriã para ele, o cargo de ministro
de Wei é dele, basta pedir”. Tzu-lu relatou isso a Confúcio, que disse: “Há o
Decreto”. Confúcio continuou agindo de acordo com os ritos e com o que era
correto e, sobre questões de sucesso ou fracasso, disse: “Há o Decreto”.
(V.A.8) Diz-se que, enquanto em Wei, Confúcio teve uma reunião com Nan Tzu, a
célebre esposa do duque Ling, de quem Tzu-lu não gostava. De acordo com Os Analectos, Confúcio teve de aplacá-lo. O Mestre foi ver Nan Tzu. Tzu-lu não
gostou. O Mestre jurou: “Se fiz algo inapropriado, que o castigo do Céu caia sobre
mim! Que o castigo do Céu caia sobre mim!”. (VI.28) Que o duque Ling de Wei não
era um homem particularmente bom é algo que pode ser visto na seguinte passagem
em Os analectos: Quando o Mestre falou sobre a absoluta falta de princípios
morais de parte do duque Ling de Wei, K’ang Tzu comentou: “Sendo esse o caso,
como é que ele não perdeu seu reino?”. Confúcio disse: “Chung-shu Yü era o
responsável pelos visitantes estrangeiros, o padre T’uo pelo templo ancestral,
e Wang-sun Chia pelas questões militares. Sendo esse o caso, que possibilidade
haveria de o duque perder o reino?” (XIV.19) Sendo o duque Ling o tipo de homem
que era, é fácil entender por que Mêncio descreve o fato de Confúcio assumir um
cargo subordinado a ele como algo feito por ter sido tratado com decência
(Mencius, V.B.4). Quanto à razão por que Confúcio deixou Wei depois da sua
primeira visita, há a seguinte passagem em Os analectos: O duque Ling de Wei
perguntou a Confúcio sobre táticas militares. Confúcio respondeu: “De fato, já
ouvir falar sobre o uso de embarcações sacrificiais, mas nunca estudei a
questão do comando de tropas”. No dia seguinte, foi embora do reino. (XV.1) É
coincidência demais que a primeira visita de Confúcio a Wei tenha terminado
quando o duque Ling lhe fez uma pergunta sobre questões militares, ao passo que
sua segunda visita ao mesmo reino quase terminou quando lhe foi feita a mesma
pergunta por K’ung Wen Tzu. [235] É possível que essas sejam visões diferentes
da mesma história. Se esse é o caso, temos que aceitar a versão de Os
analectos, preferencialmente à do Tso chuan. b. No reino de Sung Sobre a
passagem de Confúcio pelo reino de Sung, Mêncio disse: “Houve o incidente de
Huan Ssu-ma de Sung que estava prestes a emboscá-lo e matá-lo, e ele teve que
viajar pelo reino de Sung disfarçado”. (Mencius, V.A.8) Que houve tal incidente
é confirmado em Os analectos, em que Confúcio diz: “O Céu é o autor da virtude
que há em mim. O que pode Huan T’ui fazer comigo?”. (VII.23) O Huan Ssu-ma de
Mencius é o Huan T’ui em Os analectos. c. Em Ch’en e em Ts’ai De acordo com
Mêncio, Confúcio assumiu um cargo subordinado a Chou, o marquês de Ch’en. Há
também uma referência a esse período no Tso chuan (duque Ai 3). Em 492 a.C.,
houve um incêndio em Lu, e tanto os templos do duque Huan quanto os do duque
Hsi foram danificados. Diz-se que Confúcio, ao ficar sabendo das notícias sobre
o fogo, em Ch’en, proclamou que os templos de Huan e Hsi tinham sido
destruídos. [236] Esse é apenas o tipo de história mais provavelmente inventado
para mostrar a onisciência do sábio, e pouco crédito se deve dar a ela, mas ela
de fato mostra que Confúcio esteve em Ch’en. Mencius menciona a dificuldade que
os cavalheiros encontraram em Ch’en e em Ts’ai (VII.B.18). Mais sobre esse
incidente pode ser encontrado em Os analectos: Em Ch’en, quando as provisões
acabaram, os seguidores tinham se tornado tão fracos que nenhum deles conseguia
pôr-se em pé. Tzu-lu, com indignação pintada em todo o rosto, disse: “É
possível que haja momentos em que até mesmo os cavalheiros são levados a
circunstâncias tão extremas?”. O Mestre disse: “Não causa nenhuma surpresa ao
cavalheiro encontrar-se em circunstâncias extremas. O homem vulgar, ao
encontrarse em circunstâncias extremas, jogaria para cima qualquer escrúpulo”.
(XV.2) Em 489 a.C. Wu invadiu Ch’en. É muito provável que Confúcio tenha
experimentado dificuldades enquanto viajava de Ch’en para Ts’ai, nessa época.
Isso explicaria o comentário que Mêncio fez sobre Confúcio estar em apuros “na
região de Ch’en e Ts’ai”. Deve ter sido em Ts’ai que Confúcio encontrou o
governador de She. De acordo com o Tso chuan (duque Ai 2), em 493 a.C., o reino
de Ts’ai mudou-se para Chou Lai. [237] Como isso era bem longe de Ch’en, era
improvável que Confúcio visitasse o lugar. Mas em 491 a.C, Chu Liang, o
governador de She, reuniu em Fu Han [238] antigos habitantes de Ts’ai que não
tinham ido para Chou Lai. Deve ter sido em Fu Han, em 489 a.C., que Confúcio
encontrou o governador de She, um homem de extraordinária habilidade por meio
de cujos esforços a insurreição de Ch’u liderada por Po Kung, em 479 a.C., foi
debelada. Em Os analectos, há duas passagens em que aparece o governador de
She. O governador de She perguntou sobre governo. O Mestre disse:
“Certifique-se sempre de que aqueles que estão perto estejam satisfeitos e de
que aqueles que estão longe sejam atraídos”. (XIII.16) O governador do She
perguntou a Tzu-lu sobre Confúcio. Tzu-lu não respondeu. O Mestre disse: “Por
que você não falou simplesmente o seguinte: ele é o tipo de homem que esquece
de comer quando está distraído com um problema, que é tão alegre que esquece
suas preocupações e que não percebe a aproximação da velhice?”. (VII.19) De
Ts’ai Confúcio deve ter voltado a Ch’en e foi em Ch’en que ele sentiu saudades
de Lu. Em Os analectos, encontramos Quando estava em Ch’en, o Mestre disse:
“Vamos para casa. Vamos para casa. Em casa, nossos jovens rapazes são
furiosamente ambiciosos e têm grandes talentos, mas não sabem usá-los”. (V.22)
Em Mencius, encontramos um dos discípulos de Mêncio fazendo uma pergunta sobre
isso. Wan Chang perguntou: “Quando Confúcio esteve em Ch’en, ele exclamou:
‘Vamos para casa. Os jovens da minha escola são selvagens e extravagantes,
seguindo adiante ao mesmo tempo em que não esquecem suas origens’. Se Confúcio
estava em Ch’en, o que o fez pensar nos selvagens cavalheiros de Lu?”.
(VII.B.37) d. Retorno a Wei Em 496 a.C., o príncipe K’uai K’ui, filho do duque
Ling de Wei, tentou matar Nan Tzu, a esposa do seu pai, porque estava
envergonhado pela fama dela, mas teve que fugir para Chin quando a tentativa se
mostrou frustrada. Em 493 a.C, o duque Ling morreu, e Che, o filho do príncipe
K’uai K’ui, o sucedeu. Com a ajuda do exército Chin, o príncipe K’uai K’ui
conseguiu instalar-se na cidade de Ch’i, nos limites de Wei, e esperou por uma
oportunidade de retomar o trono, derrubando seu filho. É nesse panorama
político que a seguinte conversa registrada em Os analectos deve ter
acontecido. Jan Yu disse: “O Mestre está do lado do senhor de Wei?”. Tzu-kung
disse: “Bem, vou perguntar a ele”. Ele entrou e disse: “Que tipo de homens eram
Po Yi e Shu Ch’i?”. “Eram excelentes anciãos.” “Tinham alguma queixa?”
“Procuravam a benevolência e a encontraram. Então, por que teriam qualquer
queixa?” Quando Tzu-kung saiu, ele disse: “O Mestre não está do lado dele”.
(VII.15) Na Antiguidade, Po Yi e Shu Ch’i eram os filhos do senhor de Ku Chu. O
pai queria que Shu Ch’i, o mais novo dos dois filhos, o sucedesse, mas, quando
morreu, nenhum dos filhos estava disposto a privar o outro da sucessão, e ambos
fugiram para as montanhas. Perguntando sobre Po Yi e Shu Ch’i, Tzu-kung pôde
interpretar que a resposta de Confúcio indicava seu desgosto pela luta
imprópria entre pai e filho. O príncipe K’uai K’ui acabou conseguindo depor o
filho em 480 a.C. Foi nessa ocasião que Tzu-lu, que estava então ao serviço de
K’ung K’ui, filho de K’ung Wen Tzu, morreu ao resistir a uma invasão, mas por
essa época Confúcio já havia deixado Wei. Há uma conversa entre Tzu-kung e
Confúcio sobre o título póstumo de K’ung Wen Tzu. Tzu-kung perguntou: “Por que
K’ung Wen Tzu foi chamado de wen?.” O Mestre disse: “Ele era rápido e ávido por
aprender: não teve vergonha de buscar o conselho daqueles que lhe eram
inferiores em posição. É por isso que ele é chamado wen”. (V.15) Já que, de
acordo com o Tso chuan, K’ung Wen Tzu deve ter morrido em algum momento entre
484 e 480 a.C., e já que Confúcio estava de volta em Lu no final do ano 484, no
mais tardar, é bem possível que essa conversa tenha acontecido em Wei, antes de
Confúcio regressar para seu próprio reino, embora seja mais provável que tenha
ocorrido em Lu, após o retorno de Confúcio. A seguinte passagem dos Analectos é
anterior a quando Confúcio deixou Wei: Tzu-lu disse: “Se o senhor de Wei
encarregasse você da administração (cheng) do reino, o que você faria
primeiro?”. O Mestre disse: “Se algo tem de ser feito primeiro, é, talvez, a
retificação (cheng) dos nomes”. Tzu-lu disse: “É mesmo? Que caminho indireto o
Mestre toma! Para que tratar da retificação?”. O Mestre disse: “Yu, como você é
atrapalhado. Espera-se que um cavalheiro não ofereça nenhuma opinião sobre
aquilo que desconhece. Quando os nomes não são corretos, o que é dito não soará
razoável; quando o que é dito não soa razoável, os negócios não culminarão em
sucesso e ritos e músicas não florescerão; quando ritos e música não
florescerem, a punição não encerrará os crimes; quando a punição não encerrar
os crimes, o povo ficará desanimado. Assim, quando o cavalheiro nomeia algo, o
nome com certeza terá uma função no seu discurso, e, quando ele disser algo,
com certeza será algo passível de ser colocado em prática. Um cavalheiro é tudo
menos casual quando se trata de linguagem”. (XIII.3) Talvez seja possível
detectar, nessa insistência quanto à necessidade de correção das palavras, uma
referência velada à disputa, na qual o pai não se comportou como pai, e o filho
não se comportou como filho. Em Mencius, é dito que Confúcio assumiu um cargo
subordinado ao duque Hsiao, de Wei, e Mêncio descreve isso como o caso de uma nomeação
que se deveu ao fato de que o príncipe queria ter pessoas boas na sua corte
(V.B.4). Não há duque Hsiao em Wei, tanto de acordo com Anais de Primavera e
Outono quanto com o Shih chi. Chu Hsi sugeriu que o duque Hsiao era na verdade
Che. [239] Ts’ui Shu apontou que era muito provável que Duque Despossuído (Ch’u
Kung) não fosse um título póstumo apropriado e que ele poderia muito bem ter
recebido o título de hsiao (filial) em vista da sua obediência aos desejos de
seu avô, ao resistir ao próprio pai. [240] 7. Retorno a Lu e últimos anos de
vida Já vimos que de Wei Confúcio regressou a Lu, por volta do final de 484
a.C., no mais tardar. O duque Ai de Lu subiu ao trono em 494 a.C., ao passo que
Chi K’ang Tzu sucedeu seu pai no poderoso cargo de ministro de Lu, em 493 a.C.
Confúcio, entretanto, havia deixado Lu em 497 a.C. Assim, todas as conversas
com duque Ai e Chi K’ang Tzu devem ter ocorrido após seu regresso a Lu, em 484
a.C. e antes da sua morte, em 479 a.C. As opiniões que Confúcio expressou nessas
conversas são particularmente importantes como opiniões que um filósofo
amadureceu no decurso de uma longa e atribulada vida. De acordo com Tso chuan,
conforme vimos, em 484 a.C. Chi K’ang Tzu consultou Confúcio, por intermédio
Jan Yu, sobre assuntos de impostos. Há uma passagem em Os analectos sobre Jan
Yu que talvez esteja ligada a este incidente: A riqueza da família Chi era
maior do que a do duque de Chou, e mesmo assim Ch’iu ajudou-a a enriquecer
ainda mais por meio do recolhimento de impostos. O Mestre disse: “Ele não é
discípulo meu. Vocês, meus jovens amigos, podem atacá-lo abertamente ao rufar
dos tambores”. (XI.17) Mêncio, citando as palavras de Confúcio, acrescentou um
comentário próprio: Enquanto ele era administrador da família Chi, Jan Ch’iu dobrou
a carga de impostos sem ter como melhorar a virtude deles. Confúcio disse:
“Ch’iu não é discípulo meu. Vocês, meus jovens amigos, podem atacá-lo
abertamente, ao rufar dos tambores”. A partir disso pode ser visto que Confúcio
rejeitava aqueles que enriquecem os governantes que não são dados à prática do
governo benevolente. (IV.A.14) [241] Em 481 a.C., Ch’en Heng assassinou o duque
Chien, de Ch’i. Esse acontecimento, referido no Tso chuan (duque Ai 14), [242]
é registrado em Os analectos. Ch’en Ch’eng Tzu matou o duque Chien. Depois de
lavar-se cuidadosamente, Confúcio foi à corte e reportou-se ao duque Ai,
dizendo: “Ch’en Heng matou seu próprio senhor. Posso pedir que um exército seja
enviado para puni-lo?”. O duque respondeu: “Diga isso aos Três Senhores”.
Confúcio disse: “Reportei-o ao senhor simplesmente porque tenho o dever de
fazê-lo, já que ocupo lugar junto aos ministros, mas mesmo assim o senhor diz:
‘Diga aos Três Senhores’”. Ele foi e reportou-se aos Três Senhores, e eles
recusaram seu pedido. Confúcio disse: “Reporto isso aos senhores simplesmente
porque tenho o dever de fazê-lo, já que ocupo um lugar junto aos ministros”.
(XIV.21) Isso parece indicar que, após ser chamado de volta a Lu, Confúcio foi
feito ministro de baixa hierarquia. No mesmo ano, de acordo com Tso chuan,
[243] um ch’i lin (unicórnio) foi pego numa caçada e Confúcio o identificou
como tal. Como o Ch’un ch’iu (Anais de Primavera e Outono) termina com a
captura do ch’i lin e a Confúcio é creditada a autoria dos anais (Mencius, III.B.9),
parece provável que tenham sido terminados em 481 a.C. Confúcio não apenas
preocupava-se muito com o Ch’un ch’iu, como também se preocupava profundamente
com a música e as Odes. Nos Analectos, encontramos: O Mestre disse: “Foi depois
da minha volta de Wei para Lu que a música voltou à ordem, com o ya e o sung
sendo designados para os devidos lugares”. (IX.15) Como o ya e o sung são duas
partes das Odes, isso pareceria sustentar a tradicional ideia de que Confúcio
editou as Odes, embora a crença, também tradicional, de que ele reduziu o
número de Odes de três mil para trezentas é quase que certamente um exagero. À
parte a única conversa com o duque Ai, citada anteriormente, que pode ser
datada com exatidão, há outras passagens em Os analectos nas quais figuram o
duque ou Chi K’ang Tzu cuja data não pode ser fixada com precisão. Aqui estão
as passagens nas quais o duque figura: O duque Ai perguntou: “O que devo fazer
para que o povo veja em mim um exemplo?”. Confúcio respondeu: “Promova os
homens corretos e coloque-os acima dos desonestos, e o povo o admirará. Promova
os homens desonestos e coloque-os acima dos homens corretos, e o povo não o
admirará”. (II.19) O duque Ai perguntou a Tsai Wo sobre o altar do deus da
terra. Tsai Wo respondeu: “Os Hsia usavam o pinho, os Yin usavam o cedro, e os
homens de Chou usavam castanheira (li), dizendo que fazia o povo tremer (li)”.
O Mestre, ouvindo a resposta, comentou: “Não se explica o que já está feito, e
não se discute sobre o que já foi realizado, e não se condena o que já passou”.
(III.21) Quando o duque Ai perguntou qual dos seus discípulos tinha sede de
aprender, Confúcio respondeu: “Havia um Yen Hui que tinha sede de aprender. Ele
não descarregava sua raiva em uma pessoa inocente, tampouco cometia o mesmo
erro duas vezes. Infelizmente, o tempo de vida que lhe coube era curto, e ele
morreu. Agora, não há ninguém. Ninguém com sede de aprender chegou ao meu
conhecimento”. (VI.3) Aqui estão as passagens nas quais Chi K’ang Tzu aparece:
Chi K’ang perguntou: “Como se pode inculcar no povo a virtude da reverência, de
dar o melhor de si e com entusiasmo?”. O Mestre disse: “Governe-o com dignidade
e o povo será reverente; trateo com bondade e o povo dará o melhor de si;
promova os homens bons e eduque os mais atrasados, e o povo ficará tomado de
entusiasmo”. (II.20) Chi K’ang Tzu perguntou: “Chung Yu é bom o suficiente para
que lhe seja oferecido um cargo oficial?”. O Mestre disse: “Yu é decidido. Que
dificuldades ele poderia encontrar ao assumir um cargo?”. “Ssu é bom o
suficiente para que lhe seja oferecido um cargo oficial?” “Ssu é um homem
inteligente. Que dificuldades ele poderia encontrar ao assumir um cargo?”
“Ch’iu é bom o suficiente para que lhe seja oferecido um cargo oficial?” “Ch’iu
é um homem completo. Que dificuldades ele poderia encontrar ao assumir um
cargo?” (VI.8) Quando K’ang Tzu mandou-lhe remédios de presente, [Confúcio]
curvou a cabeça até o chão antes de aceitá-los. Entretanto, disse: “Como não
conheço as propriedades destes remédios, não ouso prová-los”. (X.16) Chi K’ang
Tzu perguntou qual dos seus discípulos tinha sede de aprender. Confúcio
respondeu: “Havia um chamado Yen Hui que tinha sede de aprender, mas
infelizmente o tempo que lhe foi concedido era curto, e ele morreu. Agora, não
há ninguém”. (XI.7. Essa passagem é muito parecida com VI.3, citada
previamente.) Chi K’ang Tzu perguntou a Confúcio sobre governo. Confúcio
respondeu: “Governar é corrigir. Se você der exemplo ao ser correto, quem
ousaria continuar sendo incorreto?”. (XII.17) O grande número de ladrões na
região era uma fonte de preocupação para Chi K’ang Tzu, que pediu conselho a
Confúcio. Confúcio respondeu: “Se você não fosse um homem ganancioso, ninguém
roubaria, nem mesmo se oferecessem recompensas aos ladrões”. (XII.18) Chi K’ang
Tzu perguntou a Confúcio sobre o governo, dizendo: “O que o Mestre pensaria se,
para me aproximar daqueles que seguem o Caminho, eu matasse aqueles que não o
seguem?”. Confúcio respondeu: “Qual a necessidade de matar para administrar um
governo? Apenas deseje o bem, e o povo será bom. A virtude do cavalheiro é como
o vento; a virtude do homem comum é como grama. Que o vento sopre sobre a
grama, e esta com certeza se dobrará”. (XII.19) De acordo com o Tso chuan,
[244] Confúcio morreu no quarto mês do 16º ano do duque Ai (479 a.C.). Ideias
canônicas no Shih chi e em outras obras Os textos que dizem respeito a Confúcio
no Shih chi, a maioria dos quais podem ser encontrados em outros trabalhos,
dividem-se em duas categorias. A primeira consiste em histórias que mostram
Confúcio como um sábio, de alguma forma diferente dos mortais comuns. A segunda
categoria diz respeito à obtenção de altos cargos por Confúcio e o que ele fez
no cargo. Nenhuma das duas categorias merece muito crédito, mas pode ser
instrutivo examinar algumas dessas histórias. Da primeira categoria, já vimos
as histórias do Kuo yü designadas a mostrar que Confúcio tinha um conhecimento
extraordinário sobre criaturas e objetos raros. Todas elas estão incorporadas
na biografia de Shih chi. Outro tipo de história tenta mostrar que Confúcio era
diferente dos outros homens. Por exemplo, seu nascimento foi do tipo que se
poderia esperar para um sábio. O Shih chi diz: [Shu Liang] He e uma moça da
família Yen tiveram uma relação ilícita e Confúcio nasceu. [Ela] estava rezando
no monte Ni (Ni Ch’iu) e teve Confúcio. No 22º ano do duque Hsiang de Lu,
Confúcio nasceu. Ele nasceu com o topo da cabeça achatado. Assim ele foi
chamado Ch’iu [245] . Seu tzu era Chung-ni, e seu nome de família era K’ung.
(p. 1.905) Essa passagem pretende mostrar que Confúcio teve um nascimento
incomum, resultado de uma união ilícita entre Shu Liang e uma moça da família
Yen. Também mostra que Confúcio era fisicamente diferente dos homens comuns. O
topo da sua cabeça era afundado como um vale. Daí ele ser chamado Ch’iu. Aqui
Ssu-ma Ch’ien parece ter preservado duas correntes tradicionais diferentes. De
acordo com a primeira, Confúcio foi chamado de Ch’iu porque o topo da sua
cabeça era como um monte afundado no meio (ch’iu). De acordo com a segunda, seu
nome era Ch’iu e seu tzu era Chung-ni porque era para o monte Ni (Ni Ch’iu) que
sua mãe rezava. Há ainda outra história no Shih chi sobre as peculiaridades
físicas de Confúcio: Confúcio foi para Cheng e separou-se dos seus discípulos.
Ele ficou sozinho junto ao portão leste da muralha externa. Alguém de Cheng
disse a Tzukung: “Junto ao portão leste há um homem. A julgar pela cabeça ele
se parece com Yao, pelo pescoço, parece Kao Yao, pelos ombros, Tzu-ch’an, e da
cintura para baixo ele é três polegadas mais baixo que Yü. Ele parece abatido
como o cachorro de uma família que foi privada dos seus bens”. Tzu-kung contou
isso para Confúcio, que sorriu, alegre, e disse: “A aparência de uma pessoa não
tem a menor importância, mas dizer que pareço um cachorro de uma família
despossuída, de fato é assim, de fato é assim”. (p. 1.921-2) Isso deve ter tido
origem como uma história para ridicularizar a aparência deselegante de
Confúcio, embora pareça ter sido transformada pelas mãos de algum editor confuciano
em uma história que mostra, por meio da observação final, a displicência de
Confúcio para com aparências. Seja qual for o caso, é certamente fundada na
crença popular de que um sábio deveria parecer muito diferente dos homens
comuns. Há ainda outro tipo de história que foi inventada para mostrar que
muito cedo na vida Confúcio já dava mostras do sábio que viria a ser. Por
exemplo, no Shih chi aparece: Quando Confúcio, criança, brincava, ele lançava
navios sacrificiais e praticava os rituais devidos. (p. 1.966) O Shih chi
continua, dizendo: Quando Confúcio tinha dezessete anos, Meng Hsi Tzu disse
para seus filhos: “K’ung Ch’iu é descendente de um sábio que foi morto no reino
de Sung... Ouvi dizer que dentre os descendentes de um sábio, embora não necessariamente
de seus descendentes diretos, surgirá um homem que se distinguirá. Agora K’ung
Ch’iu é jovem e gosta dos ritos. Ele é provavelmente aquele que se distinguirá.
Se eu morrer, vocês devem fazer dele seu professor”. Quando Hsi Tzu morreu, Yi
Tzu e Nan-kung Chingshu, o homem de Lu, foram estudar os ritos com ele.
(p.1.908) Já vimos que Meng Hsi Tzu só morreu no 24º ano do duque Chao (518
a.C.), embora no Tso chuan a conversa seja registrada como tendo ocorrido sob o
sétimo ano do duque Chao (535 a.C.), porque foi seu fracasso ao realizar a
cerimônia naquele ano que provocou suas palavras moribundas. Ssu-ma Ch’ien,
aparentemente, leu errado o Tso chuan e tomou 535 a.C. como o ano da morte de
Meng Hsi. Ts’ui Shu apontou que em 535 “não apenas Confúcio era muito novo para
ser um professor, como nenhum dos dois filhos de Hsi Tzu era nascido”. [246] O
erro deve ter sido induzido, para começar, pela crença de que Confúcio muito
cedo mostrou-se uma promessa como professor de ritos. Nesse sentido vale a pena
dar uma olhada na história sobre Confúcio recebendo instruções de Lao Tzu.
Nan-kung Ching-shu de Lu disse para o senhor de Lu: “Dê permissão para o seu
serviçal ir a Chou com Confúcio”. O senhor de Lu deu-lhe uma carruagem e dois
cavalos, além de um serviçal, e ele foi [com Confúcio] para Chou, para
perguntar sobre os ritos. Foi provavelmente então que eles encontraram Lao Tzu.
Quando partiram, Lao Tzu despediu-se deles e disse: “Ouvi dizer que homens
ricos e com altos cargos dão dinheiro como presente, enquanto homens
benevolentes dão palavras. Não pude ganhar nem riqueza nem altos cargos, mas me
chamam, ainda que não mereça, de homem benevolente. Estas palavras são meu
presente de despedida: ‘Há homens com mentes inteligentes e penetrantes que
estão sempre perto da morte. Isso porque expõem as más ações dos outros. Nem um
filho nem um súdito deveria encarar a sua pessoa como sua própria’”. (Shih chi,
p. 1.909) Embora nenhuma data esteja relacionada a esse incidente, a passagem
obviamente dava continuidade à passagem contendo as últimas palavras de Meng
Hsi Tzu. Entre as duas aparecem duas outras passagens. A primeira registra a
morte de Chi Wu Tzu e sua sucessão, por P’ing Tzu. A segunda é um parágrafo que
resume toda a carreira de Confúcio, do tempo em que ele era um pequeno oficial
até quando voltou de suas viagens a Lu, em 484 a.C., quando ele tinha 68 anos.
Agora, se o relato do encontro entre Confúcio e Lao Tzu indica o ano 535 a.C.,
não pode dizer respeito a nenhuma época posterior a 522 a.C, já que a biografia
retoma sua ordem cronológica dessa passagem em diante e já que o próximo
acontecimento registrado é a visita a Lu do duque Ching de Ch’i no segundo ano
do duque Chao (522 a.C.). Mesmo em 522 a.C., Nan-kung Ching-shu não teria mais
do que dez anos. Teria sido absurdo um garoto daquela idade, cujo pai ainda
estava vivo, aproximar-se do senhor de Lu pedindo permissão para ir a Chou com
Confúcio. Isso mostra que a história de um encontro entre Confúcio e Lao Tzu,
tal qual é contada em Shih chi, é cheia de inconsistências. Como Confúcio era
muito interessado em música, naturalmente havia histórias sobre ele nesse
sentido. Uma dessas histórias, encontrada no Han shih wai chuan e no
reconstituído K’ung tzu chia yü, também pode ser encontrada no Shih chi.
Confúcio estava aprendendo a tocar uma peça musical com o mestre de música
Hsiang. Ele estava progredindo, até que, no final, ele viu a aparição de um
compositor. Ele descreveu o que estava vendo e disse: “Quem mais poderia ele
ser, senão King Wen?”. O mestre de música ficou surpreso com isso e confessou
que seu professor de fato dissera que a música era de King Wen (Shih chi, p.
1.925). A natureza fantástica dessa história dispensa comentários. Agora
podemos nos voltar às tradições sobre a carreira oficial de Confúcio. O Shih
chi diz: Em seguida, o duque Ting fez de Confúcio o administrador de Chung Tu.
Depois de um ano, todos o tomaram como modelo. De administrador de Chung Tu ele
se tornou ssu k’ung e de ssu k’ung ele se tornou ssu k’ou. (p. 1.915) Tudo isso
supostamente aconteceu no período de um ano, o nono ano do duque Ting (501
a.C.). É possível que Confúcio tenha realmente ocupado o cargo de administrador
de Chung Tu, conforme é sustentado pelo capítulo T’an kung de Li chi [247] ,
mas como ser administrador de Chung Tu era, presumivelmente, uma posição
modesta, é difícil entender como ele pode ter sido feito ssu k’ung
imediatamente após, e então ta ssu k’ou. E há outros problemas. A posição de
ssu k’ung, um cargo encarregado do trabalho de construção em Lu, era, de acordo
com o Tso chuan, de nível ministerial e sempre foi ocupado, sem nenhuma
interrupção, pela família Meng; portanto, é difícil entender como Confúcio pode
ter sido designado para o posto. Que ele tenha sido ta ssu k’ou também é algo
problemático. Tanto Tso chuan quanto Mêncio apenas registraram que Confúcio era
ssu k’ou, não ta ssu k’ou. [248] É possível que a pessoa que fabricou a
história sobre Confúcio ter sido feito ta ssu k’ou estivesse vagamente a par
que ssu k’ou era um cargo de status moderado, digamos o de ministro de baixa
patente, e que a transferência da posição de ssu k’ung para ssu k’ou seria, na
verdade um rebaixamento – e que seria contrário à proposta da história, que era
conceder a Confúcio uma posição de maior importância –, e então acrescentou o
epíteto ta – grande – ao título ssu k’ou. Isso é, claro, mera conjuntura, mas
seja qual for o caso, a rápida ascensão de Confúcio como um oficial é mais
provavelmente um feito de seus admiradores do que do duque Ting. A promoção de
Confúcio no Shih chi não termina com o ta ssu k’ou. Continua para dizer que: No
14º ano do duque Ting [496 a.C.], quando Confúcio tinha 56 anos, de ta ssu k’ou
ele [seguiu para] cumprir as funções de primeiro-ministro. (p. 1917) Embora
aqui se diga que Confúcio “cumpria as funções de primeiroministro”, em todos os
outros lugares de Shih chi essa expressão redundante é dispensada, e ele é
simplesmente descrito como “primeiro-ministro de Lu”. [249] É instrutivo traçar
a mudança nas palavras com as quais a posição oficial de Confúcio é descrita.
Começamos com o Tso chuan (duque Ting 10) que simplesmente diz: “No verão o
duque encontrou o marquês de Ch’i em Chu Ch’i, em outras palavras, em Chia Ku.
K’ung Ch’iu realizou [a cerimônia] (hsiang)”. [250] A biografia do Shih chi, ao
recordar o mesmo acontecimento, diz: “Confúcio cumpriu as funções de realizar
[a cerimônia] (she hsiang shih)” (p. 1.915). A palavra hsiang é expandida à
frase she hsiang shih, mas por causa do contexto, o significado não mudou
muito. Mais além na biografia, encontramos: No 14º ano do duque Ting, quando
Confúcio tinha 56 anos, de ta ssu k’ou ele [seguiu] para cumprir as funções de
primeiro-ministro (hsing she hsiang shih). (p. 1.917) Mas ainda aqui outra
palavra, hsing, é acrescentada e, por causa do contexto, o significado da
palavra hsiang transforma-se imperceptivelmente de “realizar” para
“primeiro-ministro”, e a frase muito naturalmente passa a significar “cumprir
funções de primeiro-ministro”. A transformação é completa quando, conforme
vimos, em qualquer outra passagem do Shih chi, Confúcio é simplesmente descrito
como primeiro-ministro de Lu (hsiang Lu). De ter estado presente, certa vez, na
cerimônia durante um encontro do duque de Lu e do duque de Ch’i, a posição de
Confúcio foi gradualmente inflada até que ele se tornou primeiro-ministro de
Lu. Parece que, quanto mais tardia a tradição, mais exaltada é a posição de
Confúcio. Há, entretanto, empecilhos para a teoria de que Confúcio tenha sido,
algum dia, primeiro-ministro. Primeiro, como Ts’ui Shu apontou, [251] no
período ch’un ch’iu a palavra hsiang ainda não era usada para
primeiro-ministro. Em segundo lugar, por volta de 496 a.C., Confúcio já não
estava mais em Lu. Temos a autoridade de Mêncio, que disse: “Confúcio era ssu
k’ou, mas seus conselhos não eram seguidos. Ele tomou parte em um sacrifício,
mas depois não lhe foi dada uma parte da carne do animal sacrificado. Ele
deixou o reino sem sequer esperar para tirar seu chapéu cerimonial” (VI.B.6).
De acordo com isso, não apenas Confúcio partiu antes de 496 a.C., como quando
foi embora ele era apenas um ssu k’ou. Também o Lü shih ch’un ch’iu diz que
Confúcio, a despeito do número de governantes aos quais ele se apresentou em
suas extensas viagens, “atingiu apenas o cargo de ssu k’ou de Lu”. [252] Isso,
na verdade, é uma afirmação velada de que durante toda a sua vida Confúcio
nunca atingiu uma posição mais alta que a de ssu k’ou de Lu. Há outro ponto que
é importante. Como o Lü shih ch’un ch’iu foi terminado em 240 a.C., isso mostra
que até mesmo naquela data não havia uma tradição unanimemente aceita de que
Confúcio alguma vez tenha sido primeiro-ministro ou mesmo ssu k’ung, e, assim,
devemos ser céticos quanto a tais ideias. Tendo feito de Confúcio
primeiro-ministro, o Shih chi continua e diz: Em seguida ele matou Shao Cheng
Mao, um ministro de Lu que causava desordem no governo. (p. 1.917) Apesar de
que essa entrada no Shih chi, provavelmente oriunda de fontes legalistas, é de
pouca significância em si, por causa da inerente improbabilidade do evento, é
necessário analisá-la em detalhe já que era, há alguns anos, usada em ataques
mal-informados a Confúcio por motivos políticos posteriores. O relato em Shih
chi é excessivamente breve, mas, felizmente, também são (...). www.https//rt.br. Abraço. Davi.
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