Bhagavad Gita – A
Mensagem do Mestre. INTRODUÇÃO. O Bhagavad Gita (1), isto é, A Sublime Canção,
também designada como a Canção do Senhor ou a Mensagem do Mestre, é uma das
obras mais importantes que existem no mundo. Este livro é altamente prezado
pelos budistas e venerado como Escritura Sagrada pelos brâmanes, que,
frequentemente, o citam como autoridade no que se refere à religião hindu. A
filosofia nele exposta é um conjunto harmonioso das doutrinas de Patanjali,
Kapila e dos Vedas. O Bhavagad Gita é um episódio da grande e antiga epopeia
hindu, intitulada Mahabharata (2), que contém 250.000 versos, descrevendo a
grande guerra entre os Kurus e os Pandavas, que tinha por objetivo a posse de
Hastinapura, um dos centros mais importantes da civilização ariana. Em sua
forma literal, apresenta o Bhagavad Gita um interessante entre Krishna (3) e
Arjuna (4), tratando de um fato histórico. Mas os Mestres hindus dizem que este
livro maravilhoso tem sete sentidos, e aconselham ao leitor esforçar-se por
penetrar no seu mais profundo sentido interior ou espiritual. A leitura desta
sublime canção é útil para todos: cada um, porém, poderá assimilar e
compreender só aquilo que estiver em harmonia com o desenvolvimento de suas
faculdades psíquicas e espirituais. A nossa tradução, baseando-se na edição
inglesa do Yogi (5) Ramacháraca, comparada com a edição em sânscrito e latim,
publicada por Aug. Guilh, von Schlegel (1767-1845), e com a edição do doutor
Franz Hartmann (1838-1912), tem por fim auxiliar os leitores nesse
desenvolvimento, a que todo o ser pensante deve dedicar a sua vida. Não podemos
desvendar totalmente o sentido esotérico deste precioso livro, porque –
conforme as leis da natureza superior – cada um há de descobri-lo por si mesmo.
Acrescentamos, entretanto, notas e observações que serão úteis para aqueles que
aspiram à Iniciação. A cena da ação histórica do Bhagavad Gita transporta-nos à
planície da Índia, entre os rios Jumma e Jheed. Na capital do país, chamada
Hastinapura (6), reinava, em tempos remotos, o rei Vichitraviria (7). Casou-se
com duas irmãs, mas faleceu sem deixar filhos. Conforme o costume dos antigos
povos orientais, Vyasa (8), irmão do falecido, tomou essas viúvas por esposas e
teve delas dois filhos: Dhritarasshtra (9) e Pandu (10). Dhritarasshtra, o mais
velho, gerou cem filhos (simbólicos) dos quais o primogênito chamava-se
Duryodhana (11). O mais moço, Pandu, teve cinco filhos, todos grandes
guerreiros, conhecidos como os cinco principais Pandavas. Dhritarashtra perdeu
a vista, e continuou a ser rei só nominalmente, entregando o poder real a seu
filho Duryodhana. Este, com o consentimento do pai, baniu do país os cinco
filhos de Pandu, seus primos, os quais, porém, depois de muitas vicissitudes,
viagens e aventuras, voltaram à sua terra natal. Acompanhados de muitos amigos
e partidários, e formaram um poderoso exército aproveitando os guerreiros que
lhes forneceram os reis vizinhos. Com as suas forças, marcharam para o campo
dos Kurus, empreendendo uma campanha contra o ramo mais velho da família, os
partidários de Dhritarashtra, os quais se reuniram sob o comando de Duryodhana,
que substituía o seu pai cego. E, em nome da família dos Kurus , começou o ramo
mais velho a opor resistência à invasão e aos ataques dos Pandavas. O Bhagav
Gita apresenta-nos esses dois exércitos, preparados para o combate. O comando
ativo dos Kurus, cujo chefe é Duryodhana, está nas mãos do velho general
Bhishma (12), ao passo que o supremo comando dos Pandavas é o famoso guerreiro
Bhima (13). Arjuna, um dos cinco príncipes Pandavas e um dos principais
caracteres desta história, estava presente, ao lado de seus irmãos e
acompanhado em seu carro de guerra por Krishna, reputado pelos hindus como
encarnação humana do Espírito Supemo. Krishna, amigo e companheiro de Arjuna, a
quem amava por causa de sua nobre alma e a resignação, com que esse suportava
as perseguições. A batalha começou, quando Bhishma, o comandante dos Kurus, deu
o sinal, tocando a sua corneta ou concha, sendo seu toque imitado pelos seus
partidários, e respondido pelos Pandavas. Arjuna pediu a Krishna, ao princípio
da batalha, que deixasse parar o carro no meio do espaço entre os dois
exércitos inimigos, para ver de perto as principais pessoas que tomavam parte
na luta. Vendo, então, seus parentes e amigos, tanto de um como do outro lado,
ficou horrorizado por constatar que se tratava de uma guerra fraticida, e
declarou à Krishna que antes queria morrer inerme e sem se defender, do que
matar seus parentes. Krishna respondeu-lhe com um notável discurso filosófico
que a maior parte do Bhagavad Gita, fazendo Arjuna reconhecer a necessidade
dessa luta, em que ele e os seus partidários, finalmente, alcançariam completa
vitória sobre os Kurus. O autor põe a narração de tudo isso na boca de Sanjaya
(14), fiel servidor do rei cego, Dhritarashtra. Como já dissemos, além do
sentido histórico, material ou literal, tem o Bhagavad Gita (como toda
Escritura Sagrada: a Bíblia, os Vedas, o Alcorão, etc). Ainda vários graus do
sentido espiritual ou esotérico. E para que os nossos leitores possam, com
facilidade, descobri-lo, lhes diremos que a luta aqui descrita é a que se trava
no interior de cada homem, entre o “Bem” e o “Mal”. Arjuna, o homem, acha-se
colocado no campo de suas ações, entre dois exércitos inimigos, dos quais os
Pandavas representam as forças superiores, e os Kurus, as forças inferiores da
alma. Ali está ARjuna, o filho de Kunti (isto é, da alma) contra os seus
parentes, os filhos de Dhritarashtra (vida material) ameaçado pelo egoísmo,
pelos seus prazeres e pelas suas paixões. Que formam um poderoso exército de
ilusões: a sua tarefa é vencê-las, para chegar ao conhecimento de sua
verdadeira essência divina. Mas, como muitas dessas ilusões se lhe tornaram
agradáveis, acha difícil combate-las. A seu lado, entretanto, tem valentes
guerreiros: a sua Consciência, o Amor do Bem e da Verdade, a Obediência à Lei
Suprema, a Fé, a Convicção, etc. Krishna, que lhe explica a verdadeira natureza
humana e a sua relação com Deus, é o Verbo de Deus, Logos ou Cristo em nós, o
nosso Superior, Imortal Ego Divino. Livro Bhagavad Gita – A Mensagem do Mestre.
Referência: 1.
Bhagavad, variação do bhagavant, em sânscrito significa sublime: Gita,
pronuncie-se guitá – canção. Nota-se que, nas palavras sânscritas, g tem sempre
o som gutural. H é aspirado, sh lê-se como o ch ou x chiante (em chá, xarope).
Â, i, û têm o som prolongado, y é um i brevíssimo, ch soa tch. 2. Moha –
grande; Bhârata – Índia. 3. Krishna (sh lê-se x) representa o Homem-Deus, o
nosso Ego (ou Eu) Superior. 4. Arjuna representa o homem no estado evolutivo.
5. Yoga significa união; yogi é aquele que realizou a sua união consciente com
a Alma Divina. 6. Cidade (pura) do Elefante (hastina). 7. Vichitra – multicor,
de muitas espécies; virya – poder. 8. Agrado, prazer. 9. Representante da vida
material; instinto. 10. Representante do elemento espiritual; intelecto. A
palavra pandu significa claro, pálido. 11. Dificilmente vencível; obstinação.
12. Terror; egoísmo. 13. Terrível; a vontade espiritual. 14. Sanjaya –
vitorioso. Livro Bhagavad Gita – A Mensagem do Mestre. Abraço. Davi
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