terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

RENÚNCIA DAS OBRAS


Bhagavad Gita. A Mensagem do Mestre. Capítulo V. RENÚNCIA DAS OBRAS. Neste capítulo se expõe como o homem exterior e terreno não pode, de própria vontade e própria força, fazer qualquer coisa boa ou santa, porque todo o bem procede de Deus. Para poder-se agir sabiamente, é necessário possuir sabedoria. E quem possui sabedoria, não age por si mesmo, mas serve apenas de instrumento à Vontade Divina.

Então falou Arjuna, o príncipe de Pandu, a Krishna, o Senhor Bem-aventurado, dizendo: Ó Senhor, ora luvas a renúncia das obras, ora a prática das obras. Dize-me, de ambas qual é a superior? Fala-me claramente, para que em mim não haja mais dúvida nem confusão. 2. O Verbo Divino: Ó Arjuna, tanto a renúncia como a prática das obras têm grande mérito; ambos conduzem ao alvo supremo. Entretanto, é preferível a prática das obras à sua renúncia. A reta ação é melhor do que a inação. 3. Para não caíres em confusão, discerne bem o uso destes termos. Só se abstêm verdadeiramente, aquele que não odeia a ação, nem por ela se apaixona. Assim é que ele pratica a renúncia, nada odiando e nada desejando. Quem está acima dos contrastes e conserva-se calmo e contente, sempre pronto a cumprir a sua tarefa e, contudo, sem apegar-se à obra, facilmente se liberta dos vínculos da ilusão. 4. Os inexperientes que principiam a estudar a Verdade, costumam designar o conhecimento e as obras, ou a abstenção da ação e a prática da reta ação como duas coisas diferentes. Mas os sábios as reconhecem como uma coisa só. Pois quem tem o conhecimento, há de ter também as obras, e quem tem as obras, terá igualmente o conhecimento. 5. Ambos estes caminhos conduzem ao mesmo fim, e os que seguem um deles chegam ao mesmo ponto que os que vão pelo outro. Quem tem a reta percepção vê que o conhecimento e a atividade, ou – por outras palavras – a renúncia e a prática são uma coisa só, em sua essência. 6. Abster-se e renunciar é muito difícil para quem não tem experiência das ações. Abençoado, porém, é aquele que sabe harmonizar os dois caminhos. O seu espírito dirige-se ao Eterno e une-se com Deus, entrando na Paz do Nirvana. 7. Quem é firme na prática da Reta Ação e, ao mesmo tempo, domina a si mesmo, subjugando à Vontade Divina os seus sentidos e desejos, sente-se uno com tudo o que existe e não é influenciado pelas obras que pratica. 8. Ele conhece a Vida Universal e o que dela procede, e sabe que não é ele, como espírito, quem age, mas é a sua natureza que vê, cheira, sente, come, caminha e respira. 9. Em verdade, pode ele dizer: os sentidos fazem a sua parte no mundo sensual. Deixemo-los agir, eu não sou vinculado nem iludido por eles, porque sei qual é o seu fim. 10. Quem encara suas ações como obra dos sentidos, e as executa sem apego, não é maculado pelo egoísmo. Tal qual a flor do lótus, que não é poluída pelas águas que a rodeiam. 11. O yogi, tendo-se libertado de todo o apego, executa as ações do corpo, da mente e do intelecto, e até dos sentidos, sempre com o fim de purificar a mente e sem qualquer motivo egoísta. 12. Vivendo em harmonia com a Natureza, tendo abandonado o desejo e a esperança de recompensa pelas ações, alcança a Paz. Ao contrário, o homem que não vive em tal harmonia e que nutre desejos de recompensa por suas ações, é turbado, inquieto e descontente. 13. A alma do sábio que no fundo de sua vontade, renuncio a toda ação e inação própria, e não procura recompensa, habita o corpo, que é o Templo do Espírito. Conserva-se quieta, em paz, sem desejo de agir e sem cessar ação, e, entretanto, está sempre pronta a executar a sua parte na ação, quando o dever a chama. Porque o sábio sabe que ainda que o seu corpo, essa cidade com as nove portas, se ocupe de ações, o Eu Real permanece imperturbado. 14. O Senhor do Mundo (o Eu Real) não engendra nem a atividade, nem as ações, nem as relações entre a causa e o efeito. Em tudo isto age apenas a natureza dos seres. 15. O Senhor do Mundo não interfere nem nos pecados nem nas boas ações de ninguém. A luz da sabedoria está obscurecida pela fumaça da ignorância, e o homem ilude-se com isso e pensa que a fumaça é a chama, não podendo enxergar está atrás daquela. Mas aqueles que são capazes de transpor a fumaça, percebem a clara luz do Espírito que brilha como uma infinidade de sóis, livre e sem o véu da fumaça que a esconde às vistas da maior parte dos homens. 17. Meditando sobre o Altíssimo, que é o Eu Real, unindo-se a Ele, conhecendo-o e amando-o. Passa o sábio aos estados superiores, aos planos mais altos, dos quais não volta mais para os degraus inferiores da existência. O conhecimento da Verdade consumiu todos os seus pecados e erros, e ele entra no reino da Bem-aventurança. 18. A sua vista, sendo livre da fumaça do erro e da ilusão, reconhece um Ser em tudo. Igual sentimento e respeito tem ele para os homens eruditos, reverendos, nobres, nobres e iluminados. Como para os pobres, ignorantes e desprezados e até para as vacas, os elefantes e os cães. Porque, tendo vencido as ilusões, vê que as personalidades de todas as ilusões, vê que as personalidades de todas as formas de vida são irreais. Comparadas com o Eu Real, de maneira que, contempladas do alto, desparecem até as maiores distinções mundanas. 19. Os que conservam a equanimidade, já neste mundo se unem com Brahma (Deus Criador), porque Ele é imutável e eternamente o mesmo. 20. Não te deixes arrebatar, quando te acontece algo desagradável, nem percas o ânimo, quando tens má sorte. Levanta o teu pensamento à claridade limpa da esfera divina, imerge-te em Deus e Nele vive. 21. Em delícias eternas vive a alma que em si mesma encontra a fonte da felicidade, sendo unida com Deus e desapegada dos objetos do mundo exterior. 22. Os prazeres nascidos do contato dos sentidos externos, e a que chamam satisfação, são fontes de sofrimentos, porque têm princípio e fim. O sábio não procura neles a sua felicidade. 23. Feliz é aquele que nesta Terra, ainda antes de deixar o corpo, pode resistir aos impulsos do desejo e da ira. 24. Quem em si mesmo encontra o céu, quem em si mesmo encontra a luz da iluminação, é um yogi, é um santo. A sua vida conflui com a vida de Brahma, e são-lhe abertas as portas do Nirvana. 25. Assim os Rishis, tendo-se libertado dos pecados, tendo vencido toda ideia de dualismo e separação, e vendo que toda a vida é uma. Que toda ela emana de Um, e sentindo que o bem-estar de todos é o bem-estar de cada um, unificaram-se com o Todo e entraram no Nirvana. 26. Assim todos os homens que seguem o seu exemplo, vivendo em humildade e na luz da fé, controlando as ações e dominando o eu inferior, aproximam-se da Paz Divina. 27. O verdadeiro yogi, deixando os objetos exteriores influenciar só o seu exterior e não a sua alma, abre as vistas interiores à Luz Eterna e une a sua respiração externa com a interna, em ritmo de harmonia. 28. Todos os seus sentidos obedecem à vontade Espiritual, todo o seu pensar tem as raízes em Deus. Nada para si deseja, nada receia. A ele não tem acesso nem ódio nem ira. A sua salvação está realizada. 29. Ele Me conhece como Sou, sabe que Me agrada o domínio de si mesmo, reconhece-Me como Senhor do Universo, e amante de todas as almas, e une-se comigo. Pois Eu sou o amparo de todos os que em Mim se refugiam. Livro Bhagavad Gita. A Mensagem do Mestre. Abraço. Davi.



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