Cristianismo. www.vatican.va. EXORTAÇÃO
APOSTÓLICA PÓS-SINODAL. QUERIDA AMAZÔNIA. Do Santo Padre Francisco (1936 - ). Ao povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade. INTRODUÇÃO. 1. A Amazónia querida apresenta-se aos olhos do mundo
com todo o seu esplendor, o seu drama e o seu mistério. Deus concedeu-nos a
graça de a termos presente de modo especial no Sínodo que se realizou em Roma
de 6 a 27 de outubro de 2019, concluindo com o Documento Amazónia: Novos Caminhos para a Igreja e para uma Ecologia
Integral. O sentido desta
Exortação 2. Ouvi as intervenções ao longo do Sínodo e
li, com interesse, as contribuições dos Círculos Menores. Com esta Exortação,
quero expressar as ressonâncias que provocou em mim este percurso de diálogo e
discernimento. Aqui, não vou desenvolver todas as questões amplamente tratadas
no Documento conclusivo; não pretendo substitui-lo nem repeti-lo. Desejo apenas
oferecer um breve quadro de reflexão que encarne na realidade amazônica
uma síntese de algumas grandes preocupações já manifestadas
por mim em documentos anteriores, que ajude e oriente para uma reação
harmoniosa, criativa e frutuosa de todo o caminho sinodal. 3. Ao
mesmo tempo, quero apresentar de maneira oficial o citado Documento, que nos
oferece as conclusões do Sínodo e no qual colaboraram muitas pessoas que
conhecem melhor do que eu e do que a Cúria Romana a problemática da Amazônia,
porque vivem lá, por ela sofrem e a amam apaixonadamente. Nesta Exortação,
preferi não citar o Documento, convidando a lê-lo integralmente. 4. Deus
queira que toda a Igreja se deixe enriquecer e interpelar por este trabalho,
que os pastores, os consagrados, as consagradas e os fiéis-leigos da Amazónia
se empenhem na sua aplicação e que, de alguma forma, possa inspirar todas as
pessoas de boa vontade. Sonhos para a
Amazónia. 5. A Amazônia é um todo plurinacional
interligado, um grande bioma partilhado por nove países: Brasil, Bolívia,
Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa. Todavia
dirijo esta Exortação ao mundo inteiro. Faço-o, por um lado, para ajudar a
despertar a estima e solicitude por esta terra, que também é «nossa»,
convidando-o a admirá-la e reconhecê-la como um mistério sagrado; e, por outro,
porque a atenção da Igreja às problemáticas deste território obriga-nos a
retomar brevemente algumas questões que não devemos esquecer e que podem servir
de inspiração para outras regiões da terra enfrentarem os seus próprios
desafios. 6. Tudo o que a Igreja oferece deve
encarnar-se de maneira original em cada lugar do mundo, para que a Esposa de
Cristo adquira rostos multiformes que manifestem melhor a riqueza inesgotável
da graça. Deve encarnar-se a pregação, deve encarnar-se a espiritualidade,
devem encarnar-se as estruturas da Igreja. Por isso, nesta breve Exortação,
ouso humildemente formular quatro grandes sonhos que a Amazônia me inspira: 7. Sonho com uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais
pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e sua
dignidade promovida. Sonho com uma Amazônia que preserve a riqueza
cultural que a caracteriza e na qual brilha de maneira tão variada a beleza
humana. Sonho com uma Amazônia que guarde zelosamente a sedutora beleza
natural que a adorna, a vida transbordante que enche os seus rios e as suas
florestas. Sonho com comunidades cristãs capazes de se devotar e
encarnar de tal modo na Amazônia, que deem à Igreja rostos novos com traços
amazónicos. Cristianismo. www.vatican.va. EXORTAÇÃO
APOSTÓLICA PÓS-SINODAL. QUERIDA AMAZÔNIA. Do Santo Padre Francisco (1936 - ). Ao povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade. Capítulo I. UM
SONHO SOCIAL. 8. O nosso é o sonho duma Amazônia que integre e promova
todos os seus habitantes, para poderem consolidar o «bem viver». Mas impõe-se
um grito profético e um árduo empenho em prol dos mais pobres. Pois, apesar do
desastre ecológico que a Amazónia está a enfrentar, deve-se notar que «uma
verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve
integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o clamor
da terra como o clamor dos pobres»[1].
Não serve um conservacionismo «que se preocupa com o bioma, porém ignora os
povos amazónicos»[2]. Injustiça e crime. 9.
Os interesses colonizadores que, legal e ilegalmente, fizeram – e fazem –
aumentar o corte de madeira e a
indústria minerária e que foram expulsando e encurralando os povos indígenas,
ribeirinhos e afrodescendentes, provocam um clamor que brada ao céu:
«São muitas as árvores
onde morou a tortura
e vastas as florestas
compradas entre mil mortes»[3].
«Os madeireiros têm parlamentares
e nossa Amazônia não tem quem a defenda (…)
Mandam em exílio os papagaios e os macacos (…)
Já não será igual a colheita da castanha»[4].
onde morou a tortura
e vastas as florestas
compradas entre mil mortes»[3].
«Os madeireiros têm parlamentares
e nossa Amazônia não tem quem a defenda (…)
Mandam em exílio os papagaios e os macacos (…)
Já não será igual a colheita da castanha»[4].
10. Isto favoreceu os movimentos
migratórios mais recentes dos indígenas para as periferias das cidades. Aqui
não encontram uma real libertação dos seus dramas, mas as piores formas de
escravidão, sujeição e miséria. Nestas cidades caraterizadas por uma grande
desigualdade, onde hoje habita a maior parte da população da Amazônia, crescem
também a xenofobia, a exploração sexual e o tráfico de pessoas. Por isso o
clamor da Amazónia não brota apenas do coração das florestas, mas também do
interior das suas cidades. 11. Não é necessário repetir aqui as
análises tão abrangentes e completas que foram apresentadas antes e durante o
Sínodo. Mas lembremos ao menos uma das vozes ouvidas: «Estamos sendo afetados
pelos madeireiros, criadores de gado e outros terceiros. Ameaçados por agentes
económicos que implementam um modelo alheio em nossos territórios. As empresas
madeireiras entram no território para explorar a floresta, nós cuidamos da
floresta para nossos filhos, dispomos de carne, pesca, remédios vegetais,
árvores frutíferas (…). A construção de hidroelétricas e o projeto de hidrovias
têm impacto sobre o rio e sobre os territórios (…). Somos uma região de
territórios roubados»[5]. 12. Já o meu antecessor, Bento XVI, denunciava «a devastação ambiental da
Amazônia e as ameaças à dignidade humana das suas populações»[6].
Desejo acrescentar que muitos dramas tiveram a ver com uma falsa «mística
amazônica»: é sabido que, desde os últimos decênios do século passado, a
Amazónia tem sido apresentada como um enorme vazio que deve ser preenchido,
como uma riqueza em estado bruto que se deve aprimorar, como uma vastidão
selvagem que precisa de ser domada. E, tudo isto, numa perspectiva que não
reconhece os direitos dos povos nativos ou simplesmente os ignora como se não
existissem e como se as terras onde habitam não lhes pertencessem. Nos próprios
programas educacionais de crianças e jovens, os indígenas apareciam como
intrusos ou usurpadores. As suas vidas e preocupações, a sua maneira de lutar e
sobreviver não interessavam, considerando-os mais como um obstáculo de que nos
temos de livrar do que como seres humanos com a mesma dignidade que qualquer
outro e com direitos adquiridos. 13. Para aumentar esta
confusão, contribuíram alguns slogans, nomeadamente o de «não entregar»[7],
como se a citada sujeição fosse provocada apenas por países estrangeiros,
quando os próprios poderes locais, com a desculpa do progresso, fizeram parte
de alianças com o objetivo de devastar, de maneira impune e indiscriminada, a
floresta com as formas de vida que abriga. Os povos nativos viram muitas vezes,
impotentes, a destruição do ambiente natural que lhes permitia alimentar-se,
curar-se, sobreviver e conservar um estilo de vida e uma cultura que lhes dava
identidade e sentido. A disparidade de poder é enorme, os fracos não têm
recursos para se defender, enquanto o vencedor continua a levar tudo, «os povos
pobres ficam sempre pobres e os ricos tornam-se cada vez mais ricos»[8]. 14. Às operações económicas, nacionais ou internacionais, que
danificam a Amazónia e não respeitam o direito dos povos nativos ao território
e sua demarcação, à autodeterminação e ao consentimento prévio, há que
rotulá-las com o nome devido: injustiça e crime. Quando algumas
empresas sedentas de lucro fácil se apropriam dos terrenos, chegando a
privatizar a própria água potável, ou quando as autoridades deixam mão livre a
madeireiros, a projetos minerários ou petrolíferos e outras atividades que
devastam as florestas e contaminam o ambiente, transformam-se indevidamente as
relações económicas e tornam-se um instrumento que mata. É usual lançar mão de
recursos desprovidos de qualquer ética, como penalizar os protestos e mesmo
tirar a vida aos indígenas que se oponham aos projetos, provocar
intencionalmente incêndios florestais, ou subornar políticos e os próprios
nativos. A acompanhar tudo isto, temos graves violações dos direitos humanos e
novas escravidões que atingem especialmente as mulheres, a praga do
narcotráfico que procura submeter os indígenas, ou o tráfico de pessoas que se
aproveita daqueles que foram expulsos de seu contexto cultural. Não podemos
permitir que a globalização se transforme num «novo tipo de colonialismo»[9].
Indignar-se e pedir perdão. 15. É preciso indignar-se[10],
como se indignou Moisés (cf. Ex 11, 8), como Se indignava
Jesus (cf. Mc 3, 5), como Se indigna Deus perante a injustiça
(cf. Am 2, 4-8; 5, 7-12; Sal 106/105, 40).
Não é salutar habituarmo-nos ao mal; faz-nos mal permitir que nos anestesiem a
consciência social, enquanto «um rasto de delapidação, inclusive de morte, por
toda a nossa região, (…) coloca em perigo a vida de milhões de pessoas, em
especial do habitat dos camponeses e indígenas»[11].
Os casos de injustiça e crueldade verificados na Amazónia, ainda durante o
século passado, deveriam gerar uma profunda repulsa e ao mesmo tempo tornar-nos
mais sensíveis para também reconhecer formas atuais de exploração humana,
violência e morte. Por exemplo, a propósito do passado vergonhoso, recolhamos
uma narração dos sofrimentos dos indígenas da época da borracha na Amazónia
venezuelana: «Os nativos não recebiam dinheiro, mas apenas mercadorias, e
caras, que nunca acabavam de pagar. (...) Pagava, mas diziam ao indígena:
“Ainda estás a dever tanto” e o indígena tinha que voltar a trabalhar (...).
Mais de vinte aldeias ye’kuana foram completamente arrasadas. As mulheres
ye’kuana foram violadas e seus seios cortados; as grávidas desventradas. Aos
homens, cortavam-lhes os dedos das mãos ou os pulsos, para não poderem navegar
(...), juntamente com outras cenas do sadismo mais absurdo»[12]. 16. Esta história de sofrimento e desprezo não se cura facilmente.
E a colonização não para; embora em muitos lugares se transforme, disfarce e
dissimule[13],
todavia não perde a sua prepotência contra a vida dos pobres e a fragilidade do
meio ambiente. Os bispos da Amazónia brasileira recordaram que «a história da
Amazónia revela que foi sempre uma minoria que lucrava à custa da pobreza da
maioria e da depredação sem escrúpulos das riquezas naturais da região, dádiva
divina para os povos que aqui vivem há milénios e os migrantes que chegaram ao
longo dos séculos passados»[14]. 17. Ao mesmo tempo que nos deixamos tomar por uma sã indignação,
lembremo-nos de que sempre é possível superar as diferentes mentalidades de
colonização para construir redes de solidariedade e desenvolvimento: «o desafio
é assegurar uma globalização na solidariedade, uma globalização sem
marginalização»[15].
Podem-se encontrar alternativas de pecuária e agricultura sustentáveis, de
energias que não poluem, de fontes dignas de trabalho que não impliquem a
destruição do meio ambiente e das culturas. Simultaneamente é preciso garantir,
para os indígenas e os mais pobres, uma educação adequada que desenvolva as suas
capacidades e empoderamento. É precisamente nestes objetivos que se mede a
verdadeira solércia e a genuína capacidade dos políticos. Não servirá para
devolver aos mortos a vida que lhes foi negada, nem para compensar os
sobreviventes daqueles massacres, mas ao menos para hoje sermos todos realmente
humanos. 18. Anima-nos recordar que, no meio dos graves excessos
da colonização da Amazónia, cheia de «contradições e lacerações»[16],
muitos missionários chegaram lá com o Evangelho, deixando os seus países e
aceitando uma vida austera e desafiadora junto dos mais desprotegidos. Sabemos
que nem todos foram exemplares, mas o trabalho de quantos se mantiveram fiéis
ao Evangelho também inspirou «uma legislação, como as Leis das Índias, que
protegiam a dignidade dos indígenas contra as violações de seus povos e
territórios»[17].
E dado que frequentemente eram os sacerdotes que protegiam os indígenas de
ladrões e abusadores, aqueles «pediam-nos insistentemente – contam os
missionários – que não os abandonássemos e faziam-nos prometer que voltaríamos
novamente»[18]. 19. E, nos dias de hoje, a Igreja não pode estar menos
comprometida, chamada como está a ouvir os clamores dos povos amazónicos, «para
poder exercer com transparência o seu papel profético».[19] Entretanto
como não podemos negar que o joio se misturou com o trigo, pois os missionários
nem sempre estiveram do lado dos oprimidos, deploro-o e mais uma vez «peço
humildemente perdão, não só pelas ofensas da própria Igreja, mas também pelos
crimes contra os povos nativos durante a chamada conquista da América»[20] e
pelos crimes atrozes que se seguiram ao longo de toda a história da Amazônia.
Aos membros dos povos nativos, agradeço e digo novamente que, «com a vossa
vida, sois um grito lançado à consciência (…). Vós sois memória viva da missão
que Deus nos confiou a todos: cuidar da Casa Comum».[21]. Sentido comunitário. 20.
A luta social implica capacidade de fraternidade, um espírito de comunhão
humana. Então, sem diminuir a importância da liberdade pessoal, ressalta-se que
os povos nativos da Amazónia possuem um forte sentido comunitário. Vivem assim
«o trabalho, o descanso, os relacionamentos humanos, os ritos e as celebrações.
Tudo é compartilhado, os espaços particulares – típicos da modernidade – são
mínimos. A vida é um caminho comunitário onde as tarefas e as responsabilidades
se dividem e compartilham em função do bem comum. Não há espaço para a ideia de
indivíduo separado da comunidade ou de seu território»[22].
Estas relações humanas estão impregnadas pela natureza circundante, porque a
sentem e percebem como uma realidade que integra a sua sociedade e cultura,
como um prolongamento do seu corpo pessoal, familiar e de grupo:
«Aquele luzeiro se aproxima
revolteiam os beija-flores
mais do que a cascata troa meu coração
com esses teus lábios regarei a terra
possa o vento jogar em nós»[23].
revolteiam os beija-flores
mais do que a cascata troa meu coração
com esses teus lábios regarei a terra
possa o vento jogar em nós»[23].
21. Isto multiplica o efeito
desintegrador do desenraizamento que vivem os indígenas forçados a emigrar para
a cidade, procurando sobreviver, por vezes de forma não digna, no meio dos
costumes urbanos mais individualistas e dum ambiente hostil. Como sanar um dano
tão grave? Como reconstruir estas vidas desenraizadas? À vista desta realidade,
é preciso valorizar e acompanhar todos os esforços que fazem muitos destes
grupos para preservar os seus valores e estilo de vida e integrar-se nos
contextos novos sem os perder, antes pelo contrário oferecendo-os como uma
própria contribuição para o bem comum. 22. Cristo redimiu o ser
humano inteiro e deseja recompor em cada um a sua capacidade de se relacionar
com os outros. O Evangelho propõe a caridade divina que brota do Coração de
Cristo e gera uma busca da justiça que é inseparavelmente um canto de
fraternidade e solidariedade, um estímulo à cultura do encontro. A sabedoria do
estilo de vida dos povos nativos – mesmo com todos os limites que possa ter –
estimula-nos a aprofundar tal anseio. Por esta razão, os bispos do Equador
solicitaram «um novo sistema social e cultural que privilegie as relações
fraternas, num quadro de reconhecimento e valorização das diferentes culturas e
dos ecossistemas, capaz de se opor a todas as formas de discriminação e domínio
entre os seres humanos»[24]. Instituições degradadas. 23. Na Encíclica Laudato si’, lembramos que, «se tudo está
relacionado, também o estado de saúde das instituições duma sociedade tem
consequências no ambiente e na qualidade de vida humana (…). Dentro de cada um
dos níveis sociais e entre eles, desenvolvem-se as instituições que regulam as
relações humanas. Tudo o que as danifica comporta efeitos nocivos, como a perda
da liberdade, a injustiça e a violência. Vários países são governados por um
sistema institucional precário, à custa do sofrimento do povo»[25]. 24. Como estão as instituições da sociedade civil na Amazónia?
O Instrumentum laboris do Sínodo, que
reúne muitas contribuições de pessoas e grupos da Amazónia, refere-se a «uma
cultura que envenena o Estado e suas instituições, permeando todos os estratos
sociais, inclusive as comunidades indígenas. Trata-se de um verdadeiro flagelo
moral; como resultado, perde-se a confiança nas instituições e em seus
representantes, o que desacredita totalmente a política e as organizações
sociais. Os povos amazónicos não são alheios à corrupção e tornam-se suas
principais vítimas»[26]. 25. Não podemos excluir que membros da Igreja tenham feito parte
das redes de corrupção, por vezes chegando ao ponto de aceitar manter silêncio
em troca de ajudas económicas para as obras eclesiais. Por isso mesmo, chegaram
ao Sínodo propostas que convidavam a «prestar uma atenção especial à
procedência de doações ou outro tipo de benefícios, assim como aos
investimentos realizados pelas instituições eclesiásticas ou pelos cristãos»[27]. Diálogo social. 26. A
Amazónia deveria ser também um local de diálogo social, especialmente entre os
diferentes povos nativos, para encontrar formas de comunhão e luta conjunta. Os
demais, somos chamados a participar como «convidados», procurando com o máximo
respeito encontrar vias de encontro que enriqueçam a Amazónia. Mas, se queremos
dialogar, devemos começar pelos últimos. Estes não são apenas um interlocutor
que é preciso convencer, nem mais um que está sentado a uma mesa de iguais. Mas
são os principais interlocutores, dos quais primeiro devemos aprender, a quem
temos de escutar por um dever de justiça e a quem devemos pedir autorização
para poder apresentar as nossas propostas. A sua palavra, as suas esperanças,
os seus receios deveriam ser a voz mais forte em qualquer mesa de diálogo sobre
a Amazônia. E a grande questão é: Como imaginam eles o «bem viver» para si e
seus descendentes? 27. O diálogo não se deve limitar a
privilegiar a opção preferencial pela defesa dos pobres, marginalizados e
excluídos, mas há de também respeitá-los como protagonistas. Trata-se de
reconhecer o outro e apreciá-lo «como outro», com a sua sensibilidade, as suas
opções mais íntimas, o seu modo de viver e trabalhar. Caso contrário, o
resultado será, como sempre, «um projeto de poucos para poucos»[28],
quando não «um consenso de escritório ou uma paz efémera para uma minoria
feliz»[29].
Se tal acontecer, «é necessária uma voz profética»[30] e,
como cristãos, somos chamados a fazê-la ouvir. Daqui nasce o sonho sucessivo
(...). www.vatican.va. Abraço. Davi
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