Hare Krishna. www.voltaaosupremo.com.br. Texto de
A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada. A MORTE DA BRUXA PUTANA. Como uma espada em um
estojo enfeitado era Putana – linda por fora, mortal por dentro. Enquanto
voltava para casa, Nanda Maharaja ponderou sobre o aviso
de Vasudeva de que poderia haver alguma perturbação em Gokula.
Com certeza o aviso era de amigo e verdadeiro. Por essa razão, Nanda
pensou: “Há alguma verdade nisso”. Destarte, devido ao medo, ele abrigou-se na
Suprema Personalidade de Deus. É muito natural para um devoto em perigo pensar
em Krishna, porque ele não tem qualquer outra proteção. Quando uma criança
está em perigo, ela busca a proteção de seu pai ou de sua mãe. De modo
semelhante, um devoto está sempre sob a proteção da Suprema Personalidade de
Deus, mas, quando vê algum perigo específico, ele lembra-se rapidamente do
Senhor. Depois de consultar seus ministros demoníacos, Kamsa instruiu
uma bruxa chamada Putana a matar todas as crianças nas cidades, aldeias e
campos de pastagem. Putana conhecia a magia negra de matar criancinhas por
métodos horríveis e pecaminosos. Porém, essas bruxas só podem praticar sua
magia negra onde não se canta nem se ouve o santo nome de Krishna. É dito
que, onde quer que se cante o santo nome deKrishna, mesmo com negligência,
todos os maus elementos – bruxas, fantasmas e calamidades perigosas –
desaparecem imediatamente. Com certeza isso acontece onde se canta o santo nome
de Krishna com seriedade, especialmente em Vrindavana na
época em que o Senhor Supremo estava pessoalmente presente. Portanto, as
dúvidas de Nanda Maharaja baseavam-se em sua afeição
por Krishna, pois, de fato, não havia perigo nas atividades de Putana,
apesar de ela ser tão poderosa. Essas bruxas são chamadas khechari, que significa que elas podem voar no céu. Essa magia negra da
bruxaria ainda é praticada por algumas mulheres na região do extremo noroeste
da Índia. Elas podem transferir-se de um lugar para outro montadas no galho de
uma árvore arrancada. Putana conhecia essa bruxaria, daí ser chamada no Bhagavatam de khechari. Putana entrou sem permissão na área de Gokula, o local de
residência de Nanda Maharaja. Ela parecia muito bonita, com quadris
erguidos, seios bem volumosos, brincos, flores no cabelo. Vestida como uma bela
mulher, entrou na casa de mãe Yashoda. Ela parecia especialmente bela
devido à sua cintura fina. A todos lançava olhares muito atraentes e mostrava
um rosto sorridente, razões pelas quais todos os habitantes de Vrindavana ficaram
cativados. As inocentes vaqueirinhas pensaram que ela era a deusa da
fortuna que aparecera em Vrindavana com uma flor de lótus na mão.
Parecia-lhes que ela viera ver pessoalmente Krishna, que é seu esposo. Por
causa de sua extraordinária beleza, ninguém impediu seus movimentos, motivo
pelo qual ela entrou livremente na casa de Nanda Maharaja. Putana, a
assassina de muitas e muitas crianças, encontrou o
bebê Krishna deitado numa pequena cama e logo pôde perceber que o
menino escondia Seus incomparáveis poderes. Putana pensou: “Este bebê é tão
poderoso que pode destruir imediatamente todo o universo”. É bastante
significativo o que Putana pensou. A Suprema Personalidade de
Deus, Krishna, situa-Se no coração de todas as pessoas. Diz-se no Bhagavad-gita que Ele dá às pessoas a
inteligência necessária e também causa seu esquecimento. Putana de imediato
teve consciência de que a criança que ela observava na casa de
Nanda Maharaja era o próprio Deus, a Pessoa Suprema. Ele estava
deitado ali como um bebezinho, mas isso não queria dizer que Ele fosse menos
poderoso. A teoria materialista de que a adoração a Deus é antropomórfica
(semelhante ao homem) não é correta. Nenhum ser vivo pode tornar-se Deus por se
dedicar à meditação e à austeridade. Deus é sempre Deus. Krishna como
bebê é tão completo como Ele é quando jovem em pleno desenvolvimento. A
teoria mayavada sustenta
que a entidade viva antes era Deus, mas agora foi vencida pela influência
de maya.
Dizem que agora ela não é Deus por causa disso, mas que, quando for retirada a
influência de maya,
ela voltará a ser Deus. Essa teoria não pode ser aplicada às minúsculas
entidades vivas. As entidades vivas são partes integrantes diminutas da Suprema
Personalidade de Deus; são partículas ou fagulhas diminutas do fogo supremo,
mas não são o fogo original, ou Krishna. Krishna é a Suprema
Personalidade de Deus, mesmo no momento de Seu nascimento na casa
de Vasudeva e Devaki. Krishna mostrou a natureza de um
bebezinho e fechou os olhos, como se quisesse evitar o rosto de Putana. Esse
fechar de olhos é interpretado e estudado de diferentes maneiras pelos devotos.
Alguns dizem que Krishna fechou os olhos porque não queria ver o
rosto de Putana, que matara tantas crianças e agora viera matá-lO. Outros
dizem que Putana hesitou porque uma coisa extraordinária estava sendo ditada
para ela interiormente, e, para lhe dar segurança, Krishna fechou os
olhos de modo que ela não se assustasse. Outros ainda interpretam desta
maneira: Krishna apareceu para matar os demônios e dar proteção aos
devotos, como diz o Bhagavad-gita, paritranaya sadhunam vinashaya cha duskritam. O
primeiro demônio a ser morto foi uma mulher. De acordo com as regras védicas, é
estritamente proibido matar mulheres, brahmanas,
vacas ou crianças. Krishna fora obrigado a matar ademônia Putana
e, porque matar uma mulher é proibido conforme o shastra védico, Ele não podia deixar de fechar os olhos. Outra
interpretação é que Krishna fechou os olhos porque achava que Putana
era Sua ama de leite. Putana aproximou-se de Krishna só para oferecer
seu seio para que o Senhor o sugasse. Krishna é tão misericordioso
que, embora soubesse que Putana estava ali para matá-lO, Ele a tomou por
Sua ama de leite, ou mãe. Há sete espécies de mães segundo o preceito védico: a
mãe verdadeira, a esposa de um professor ou do mestre espiritual, a esposa do
rei, a esposa de um brahmana, a
vaca, a ama e a mãe Terra. Pelo fato de Putana ter vindo
tomar Krishna no colo e oferecer-Lhe o leite de seu seio para mamar,
ela foi aceita por Krishna como uma de Suas mães. Considera-se esta
como outra razão para Krishna ter fechado os olhos: Ele tinha de
matar uma ama de leite ou mãe. Sua ação de matar Sua mãe ou ama, no entanto,
não era diferente de Seu amor por Sua mãe verdadeira ou por Sua mãe
adotiva, Yashoda. Através da informação védica, sabemos ainda que Putana
também foi tratada como mãe e recebeu a mesma facilidade que Yashoda.
Assim como Yashoda recebeu a libertação do mundo material, Putana
também foi liberta. Quando o bebê Krishna fechou os olhos, Putana
pegou-O no colo. Ela não sabia que estava segurando a morte personificada. Se
alguém confunde uma cobra com uma corda, ela morre. Igualmente, Putana matara
muitas crianças antes de encontrar Krishna, mas agora ela estava aceitando
a cobra que em breve a mataria. Quando Putana pegou Krishna no
colo, Yashoda e Rohini estavam presentes, mas não a
impediram porque Putana estava muito bem vestida e mostrava afeição materna
por Krishna. Elas não puderam entender que Putana era uma espada num
estojo enfeitado. Putana passara um veneno muito poderoso em seus seios e, logo
depois de pegar o bebê no colo, colocou o bico do peito na
boca dEle. Ela esperava que, tão logo Ele sugasse seu peito,
morreria. Entretanto, o bebê Krishna foi muito rápido e, pegando o bico
com raiva, sugou o leite-veneno juntamente com o ar vital da demônia. Em
outras palavras, Krishna sugou ao mesmo tempo o leite do peito dela e
matou-a sugando-lhe a vida. Krishna é tão misericordioso que, pelo
fato de a demônia Putana ter vindo oferecer-Lhe o leite de seu peito,
Ele satisfez o desejo dela e aceitou sua atividade como maternal. Porém, para
que ela não cometesse mais atividades perversas, Ele a matou imediatamente. Por
ter sido morta por Krishna, a demônia obteve a libertação.
Quando Krishna sugou seu ar vital, Putana caiu ao chão, estendeu os
braços e pernas e começou a gritar: “Ó criança, deixe-me, deixe-me!”. Ela
gritava muito alto, e suava tanto que todo o seu corpo ficou molhado. Ao morrer
gritando, houve uma tremenda vibração na terra e no céu, nos planetas
superiores e inferiores, e em todas as direções as pessoas pensaram que raios
estavam caindo. Assim acabou o pesadelo da bruxa Putana, que naquele momento
assumiu sua verdadeira aparência de grande demônio. Abrindo sua boca feroz
e estendendo seus braços e pernas por toda parte, Putana caiu exatamente
como Vritrasura quando atingido pelo raio de Indra. Seus longos
cabelos espalharam-se por todo o seu corpo, o qual, caído, estendia-se por
quase vinte quilômetros, tendo despedaçado todas as árvores. Todos se admiraram
ao ver aquele corpo gigantesco. Seus dentes pareciam caminhos arados, e suas
narinas, cavernas de montanha. Seus seios pareciam pequenas colinas, e seu
cabelo, um vasto matagal avermelhado. As órbitas de seus olhos eram como poços
profundos, e suas duas coxas eram como as margens de um rio. Suas mãos eram
como duas pontes de sólida construção, e seu abdome parecia um lago seco. Todos
os pastores e pastoras ficaram assustados e maravilhados ao verem aquilo, e o
som tumultuoso de sua queda vibrou fortemente em seus cérebros e ouvidos,
fazendo seus corações dispararem. Quando as pastoras viram o
pequeno Krishna brincando sem medo no colo da enorme Putana, elas
foram correndo e O pegaram. Mãe Yashoda, Rohini e outras gopis mais velhas executaram imediatamente os rituais
auspiciosos segurando o rabo de uma vaca e circungirando o
corpo dEle. A criança foi completamente lavada com urina de vaca, e a
poeira levantada pelos cascos das vacas foi jogada em todo o Seu corpo. Tudo
isso foi feito apenas para poupar o pequeno Krishna de futuros
acidentes inauspiciosos. Esse incidente dá uma clara indicação de o quanto
a vaca é importante para a família, a sociedade e os seres vivos em geral. O
corpo transcendental de Krishna não precisava de proteção, mas, para
nos instruir sobre a importância da vaca, o Senhor foi untado com excremento de
vaca, lavado com urina de vaca e borrifado com a poeira levantada pelo caminhar
das vacas. Depois desse processo purificatório, as gopis, chefiadas por mãe Yashoda e Rohini, cantaram
doze nomes de Vishnu para dar ao corpo de Krishna plena
proteção contra todas as más influências. Mãe Yashoda estava
firmemente convencida de que devia proteger seu filho de diferentes espécies de
maus espíritos e fantasmas, que fazem com que as pessoas esqueçam a própria
existência e perturbam o ar vital e os sentidos. Às vezes, eles aparecem em
sonhos e causam muita perturbação; outras vezes, aparecem como velhas e sugam o
sangue das criancinhas. Contudo, todos esses fantasmas e maus espíritos são
incapazes de permanecer onde se canta o santo nome de Deus.
Mãe Yashoda estava firmemente convencida do preceito védico sobre a
importância das vacas e do santo nome de Vishnu. Por isso, ela buscou toda
a proteção nas vacas e no nome de Vishnu simplesmente para proteger
seu filho Krishna. Ela recitou todos os santos nomes
de Vishnu para que Ele salvasse a criança. A cultura védica tirou
partido de cuidar das vacas e de cantar o santo nome de Vishnu desde
o início da história, e pessoas que ainda seguem os caminhos védicos,
especialmente os pais de família, mantêm algumas vacas e adoram a Deidade do
Senhor Vishnu que está instalada em sua casa. Aqueles que querem
avançar em consciência de Krishna devem aprender com este passatempo
a também se interessar por vacas e pelo santo nome de Vishnu. As gopis mais velhas de Vrindavana estavam tão absortas
em seu amor por Krishna que queriam salvá-lo, embora não houvesse
necessidade disso, pois Ele já Se protegera. Elas não podiam compreender
que Krishna era a Suprema Personalidade de Deus fazendo o papel de
uma criança. Depois de realizar as formalidades para proteger a criança,
mãe Yashoda pegou Krishna e deixou-O sugar seu seio. Visto
que o menino estava protegido pelo vishnu-mantra,
mãe Yashoda sentiu que Ele estava a salvo. Neste meio tempo, todos os
vaqueiros que tinham ido a Mathura pagar impostos voltaram para casa
e ficaram assombrados ao verem o gigantesco cadáver de Putana.
Nanda Maharaja lembrou-se da profecia de Vasudeva e
considerou-o um grande sábio e um yogimístico.
Se não os fosse, como poderia predizer um incidente que aconteceu durante sua
ausência de Vrindavana? Depois disso, todos os moradores
de Vraja cortaram em pedaços o corpo gigantesco de Putana e o
empilharam com madeira para queimar. Quando todos os membros do corpo de Putana
estavam queimando, a fumaça que emanava da fogueira criava o bom aroma do aguru. Esse aroma devia-se ao fato de ela ter sido morta
por Krishna. Isso significa que a demônia Putana fora purificada
de todas as suas atividades pecaminosas e obtivera um corpo celeste. Eis um
exemplo de como a Suprema Personalidade de Deus é por inteiro bondade: Putana
veio para matar Krishna, mas, porque Ele sugou seu leite, ela purificou-se
imediatamente, e seu cadáver adquiriu uma qualidade transcendental. Seu único
empenho era matar criancinhas; ela gostava muito de sangue. Contudo, apesar de
ter invejado Krishna, ela alcançou a salvação porque deu seu leite para
Ele beber. Então, o que se pode dizer de outras pessoas, que prestam serviço
a Krishna com grande amor e devoção e que têm afeição maternal por
Ele apesar de Ele ser a Suprema Personalidade de Deus e
a Superalma de todos os seres vivos? Desta forma, conclui-se que até
mesmo um pouco de energia gasta no serviço do Senhor confere à pessoa um imenso
lucro transcendental. Explica-se isto no Bhagavad-gita: svalpam apy asya dharmasya. O
serviço devocional em consciência de Krishna é tão sublime que mesmo
um pequeno serviço a Krishna, estando consciente do fato ou não, propicia
à pessoa o benefício mais elevado. O sistema de
adorar Krishna oferecendo flores de uma árvore também é benéfico para
a entidade viva confinada à existência corporal daquela árvore. Quando se
oferecem flores e frutas a Krishna, a árvore que as produziu também recebe
muito benefício indiretamente. O processo de archana, ou processo de adoração, é benéfico para todos. Krishna é
digno da adoração de grandes semideuses como Brahma ou o Senhor Shiva, e
Putana foi tão afortunada que Krishna brincou em seu colo como uma
criancinha. Os pés de lótus de Krishna, que são adorados por grandes sábios
e devotos, foram colocados sobre o corpo de Putana. As pessoas
adoram Krishna e oferecem-Lhe comida,
mas Krishna naturalmente sugou o leite do corpo de Putana. Os
devotos, portanto, oram que, se Putana recebeu tanto benefício pela simples
oferenda de algo como inimiga, quem pode calcular o benefício de
adorar Krishna com amor e afeição? Destarte, deve-se
adorar Krishna pela simples razão de que grandes benefícios aguardam
o adorador. Quando todos os habitantes de Vrindavana sentiram o bom
aroma da fumaça da queima de Putana, eles se perguntaram: “De onde é que vem
este aroma agradável?”. E, enquanto conversavam, compreenderam que era a fumaça
do fogo que queimava o corpo de Putana. Eles gostavam muito
de Krishna e, logo que ouviram que a demônia Putana fora
morta por Krishna, ofereceram bênçãos à criancinha devido à afeição que
Lhe tinham. Depois que Putana queimou, Nanda Maharaja foi para casa e
imediatamente pegou a criança no colo e começou a cheirar Sua cabeça. Dessa
maneira, ele ficou bastante satisfeito por seu filho ter sido salvo daquela
grande calamidade. Srila Shukadeva Gosvami abençoou que com
certeza alcançarão o favor de Govinda todas as pessoas que ouçam a
narração de como Putana foi morta por Krishna. www.voltaaosupremo.com.brAbraço. Davi
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