Amigos
do Mosaico.
Por
motivo de viagem (16 a 29/4) não poderei fazer as pesquisas para as postagens
no blog. Será meu (Hamadan, Yom Kipur, Kumbh Mela) descanso espiritual. Espero
voltar as atividades, se Deus assim o permitir, a partir de 30 de abril. Que a
Imaculada Conceição Maria, Nossa Senhora – Mãe Divina, Mestra e Rainha do
Universo continue abençoando os leitores, fazendo-os evoluir pela Senda
Espiritual. “Até que todos cheguemos a unidade da fé, e ao conhecimento do
Filho de Deus, a homem perfeito, a medida da estatura completa de Cristo”. Que possamos nos esforçar para imitar os homens perfeitos como: Krishna, Muhammad, Massiach, Buda, Shantideva, Shankara, Abravam, Moshe, Jesus,
Ishaqu, Yaqub, Dawud, São Francisco de Assis, Santa Tereza D’ávila, São João da
Cruz, Isa, Yusuf, Shu’aib, Ayyub e tantos outros mestres e santos que
alcançaram o samadhy (iluminação, despertar) divino.
Autobiografia
de Um Iogue – Paramahansa Yogananda (1893-1952). Capítulo 22. O CORAÇÃO DE UMA
IMAGEM DE PEDRA. COMO LEAL ESPOSA HINDU, não quero me queixar de meu marido.
Mas gostaria muito que ele mudasse suas opiniões materialistas. Ele tem prazer
em ridicularizar os retratos dos santos em minha sala de meditação. Querido
irmão, tenho muita fé em sua ajuda. Fará isso? Suplicante, minha irmã mais
velha, Roma, olhava para mim. Eu estava fazendo uma breve visita à sua casa em
Calcutá – Índia, situada na Girish Vidyaratna Lane. Seu apelo me comoveu
porque, na infância, Roma exercera profunda influência espiritual sobre mim e
amorosamente tentara preencher o vazio deixado no círculo familiar com a morte
de mamãe. Amada irmã, certamente farei tudo o que puder. Sorri, ansioso por
afastar a tristeza visível em sua face, em contraste com sua expressão
habitualmente tranquila e alegre. Roma e eu oramos silenciosamente por alguns
momentos, em busca de orientação. Fazia um ano que minha irmã havia pedido que
a iniciasse em KRYA YOGA, na qual estava fazendo progressos notáveis. Tive uma
inspiração. Amanhã – eu disse – vou ao templo de Kali em Dakshineswar. Por
favor, venha comigo e convença seu marido a nos acompanhar. Sinto que nas
vibrações daquele santo lugar a Divina Mãe lhe tocará o coração. Mas não revele
o motivo pelo qual queremos que ele vá conosco. Minha irmã concordou, cheia de
esperança. Muito cedo, na manhã seguinte, tive a satisfação de encontrar Roma e
seu marido prontos para a viagem. Enquanto nossa carruagem rangia ao longo da
Upper Circular Road para Dakshineswar, meu cunhado, Satish Chandra Bose,
divertia-se escarnecendo do valor dos gurus. Notei que Roma chorava
silenciosamente. Alegre-se, irmã! – murmurei. Não dê a seu marido a satisfação
de acreditar que levamos a sério suas zombarias. Mukunda, como pode admirar
impostores desprezíveis? Dizia Satish. A própria aparência de um sadhu é
repugnante: ou é magro como um esqueleto, ou tão profanamente gordo como um
elefante! Eu me sacudi de tanto rir, reação que aborreceu Satish. Ele se fechou
em silêncio, mal-humorado. Quando nossa carruagem entrou nos jardins do templo
de Dakshineswar, ele sorriu sarcasticamente. Esta excursão, suponho, seria um
plano para me converte? Como eu lhe desse as costas sem responder, ele segurou
meu braço. Jovem senhor Monge, disse – não se esqueça de tomar as devidas
providências com as autoridades do templo para que nos forneçam o almoço.
Satish desejava poupar-se de qualquer conversa com sacerdotes. Agora vou
meditar. Não se preocupe com o almoço – retruquei secamente. A Mãe Divina
cuidará dele. Não confio na Mãe Divina para me fazer nada. Mas o torno
responsável por minha comida. O tom de Satish era ameaçador. Caminhei sozinho
para o pórtico fronteiro ao grande templo de Kali (Deus sob o aspecto de Mãe
Natureza). Escolhendo um lugar na sombra junto a uma das colunas, sentei-me na
postura de lótus. Embora fossem apenas sete horas da manhã, o sol em breve
seria insuportável. O mundo foi-se distanciando à medida que eu me absorvia em
devoção. Minha mente concentrou-se na Deusa Kali. Sua estátua neste templo de
Dakshineswar fora objeto de especial adoração por parte do grande mestre Sri
Ramakrishna Paramahansa (1836-1886). Em resposta a seus ansiosos apelos, a
imagem de pedra frequentemente assumia forma viva e conversava com ele.
Silenciosa Mãe de pedra – rezei. Tu te encheste de vida pela súplica de teu
amado devoto Ramakrishna, por que não atendes também aos lamentos e súplicas
deste filho teu? Minha aspiração fervorosa foi aumentando ilimitadamente,
acompanhada de uma paz divina. Apesar disso, transcorridas cinco horas sem que
a Deusa que eu interiormente visualizava respondesse, senti-me um pouco
desanimado. Às vezes, a demora em atender as orações é uma prova a que Deus nos
submete. Ele, porém, mais cedo ou mais tarde se apresenta, assumindo a forma
adorada pelo devoto persistente. Um cristão devoto vê Jesus; um hindu vê
Krishna ou a Deusa Kali. Ou então uma Luz que se expande, se a adoração assumir
aspecto impessoal. Abri com relutância os olhos e vi que as portas do templo
estavam sendo fechadas por um sacerdote, de acordo com o costume, ao meio-dia.
Levantei-me de um isolado lugar no pórtico e fui para o pátio. A superfície de
pedra era um braseiro no sol a pino, meus pés descalços foram dolorosamente
queimados. Mãe Divina – protestei silenciosamente – Tu não vieste a mim em
visão e agora estás escondida no templo, por trás de portas fechadas. Eu queria
oferecer-te uma oração especial, hoje, em nome de meu cunhado. Minha petição
interna foi instantaneamente deferida. Primeiro, uma deliciosa onda refrescante
passou por minhas costas e foi até a sola dos pés, eliminando todo o
desconforto. Então, para minha surpresa, o templo ampliou-se prodigiosamente.
Sua grande porta abriu-se devagar, revelando a imagem de pedra da Deusa Kali.
Pouco a pouco a estátua transformou-se numa forma viva, acenando-me sorridente
em saudação, envolvendo-me, emocionado, em alegria indescritível. A respiração
foi retirada de meus pulmões, como se extraída por uma seringa mística; meu
corpo tornou-se muito quieto, embora não inerte. Em êxtase, minha consciência
se expandiu. Eu podia ver claramente vários quilômetros pra além do rio Ganges,
à minha esquerda, e distinguia por trás do templo os arredores completos de
Dakshineswar. As paredes de todos os edifícios bruxuleavam, transparentes;
através delas, em áreas distantes, observei pessoas indo e vindo. Embora não
respirasse e meu corpo se mantivesse em estado de estranha quietude, eu podia
mover mãos e pés livremente. Durante vários minutos experimentei fechar e abrir
os olhos; em qualquer caso, via distintamente o panorama inteiro de
Dakshineswar. A visão espiritual, como raios X, penetra toda a matéria; o olho
divino tem o centro em toda parte e a circunferência em parte nenhuma. De pé,
no pátio ensolarado, mais uma vez percebi que, ao cessar o homem de ser um
filho pródigo de Deus, de absorver-se num mundo físico de sonho, inconsistente
como bolha de sabão, ele herda novamente seu reino eterno. Se o escapismo é uma
necessidade do homem, apertado em sua estreita personalidade, pode qualquer
outra fuga comparar-se com esta para a onipresença? Em minha sagrada
experiência em Darkshineswar, os únicos objetos extraordinariamente aumentados eram
o templo e a forma de Deusa. Tudo o mais apareceu em suas dimensões normais,
embora cada objeto estivesse envolto num halo de tênue luz – branca, azul e
matizes pastel do arco-íris. Meu corpo parecia de substância etérea, pronto
para levitar. Tendo consciência perfeita do ambiente que me cercava, olhava à
minha volta e dava alguns passos sem perturbar a continuidade da beatífica
visão. Subitamente vislumbrei, atrás do templo, meu cunhado sentado sob os
galhos espinhosos de uma árvore sagrada bel. Sem nenhum esforço, podia
discernir o curso de seus pensamentos. Sua mente, um pouco elevada pela santa
influência de Dakshineswar, ainda se entregava a reflexões pouco amáveis sobre
mim. Voltei-me diretamente para a graciosa forma da Deusa. Mãe Divina – orei –
não podes modificar espiritualmente o esposo de minha irmã? A bela imagem, até
então silenciosa, finalmente falou: Teu desejo será concedido! Olhei, feliz,
para Satish. Apesar de instintivamente consciente de que algum poder espiritual
estaria em operação, ele se levantou, ressentido, de seu lugar no chão. Eu o vi
correr por trás do templo, aproximou-se de mim, sacudindo o punho. A visão que
tudo englobava desapareceu. Não pude mais ver a gloriosa Deusa; o templo perdeu
sua transparência e retomou às dimensões comuns. De novo meu corpo se derretia
sob os raios violentos do sol. Saltei para o abrigo do pórtico, onde Satish,
furioso, me perseguiu. Consultei meu relógio. Era uma hora da tarde; a visão
divina durara sessenta minutos (uma hora). Seu tonto – exclamou meu cunhado –
ficou aí sentado, de pernas cruzadas e de olhos vesgos, durante horas. Caminhei
de um lado para outro, observando-o. Onde está nossa comida? Agora o templo
está fechado; você não comunicou nossa presença às autoridades; é tarde demais
para providenciar nosso almoço! A exaltação espiritual que eu sentira com a
presença da Deusa continuava comigo. Exclamei: A Mãe Divina nos alimentará! De
uma vez por todas – gritou Satish – gostaria de ver sua Mãe Divina nos dar
comida aqui, sem combinação prévia! Assim que pronunciou essas palavras, um
sacerdote do templo atravessou o pátio e veio até nós. Filho, disse-me, estive
observando seu rosto serenamente iluminado durante horas de meditação. Vi a
chegada de seu grupo, pela manhã, e senti o desejo de guardar bastante comida
para seu almoço. É contra as regras do templo alimentar àqueles que não fizeram
um pedido antecipado, mas abri uma exceção para você. Agradeci e olhei
diretamente nos olho de Satish. Ele corou de emoção, abaixando o olhar em mudo
arrependimento. Quando nos serviram uma lauta refeição, que incluía mangas fora
da estação, reparei que o apetite de meu cunhado era escasso. Ele estava
confuso, profundamente mergulhado num oceano de pensamentos. Na viagem de volta
para Calcutá, Satish, com expressão mais suave, às vezes me dirigia um olhar de
súplica. Todavia, desde que o sacerdote aparecera e nos convidara para o
almoço, como em resposta a seu desafio, Satish não havia dito uma só palavra.
Na tarde seguinte, fui fazer uma visita à minha irmã. Ela me saudou muito
afetuosamente. Querido irmão – exclamou – que milagre! Ontem à noite meu esposo
chorou abertamente diante de mim. Amada Devi (1), disse ele, sinto-me feliz,
mais do que é possível expressar, porque o plano reformador de seu irmão operou
uma transformação. Vou desfazer todo o mal que já fiz a você. A partir desta
noite usaremos nosso grande dormitório unicamente como lugar de adoração; sua
saleta de meditação será nosso quarto de dormir. Lamento sinceramente ter
ridicularizado o seu irmão. Pela vergonhosa maneira como eu vinha agindo, vou
me punir não falando com Mukund até haver progredido no caminho espiritual.
Daqui por diante buscarei profundamente a Mãe Divina; algum dia, sem dúvida,
hei de encontrá-la! Anos mais tarde em 1936, visitei Satish em Nova Delhi,
capital da Índia. Fiquei incrivelmente feliz ao perceber que ele estava muito
adiantado em auto realização e que fora abençoado e que fora abençoado com uma
visão da Mãe Divina. Durante minha estada em sua casa, notei que Satish passava
secretamente a maior parte das noites em meditação profunda, embora sofresse de
grave moléstia e trabalhasse durante o dia em seu escritório. Veio-me o
pensamento de que a vida de meu cunhado não seria longa. Roma deve ter lido meu
pensamento. Querido irmão, disse ela, estou com saúde e meu marido está doente.
Contudo, desejo que você saiba: como dedicada esposa hindu, serei a primeira a
morrer (2). Logo partirei. Surpreendido por suas palavras de mau presságio,
senti, entretanto, seu ferrão de verdade. Eu estava nos Estados Unidos quando
minha irmã faleceu, cerca de 18 meses depois de sua previsão. Meu irmão mais
jovem, Bishnu, deu-me posteriormente os detalhes. Roma e Satish estavam em
Calcutá no dia da morte de nossa irmã – contou-me Bishnu. Naquela manhã, ela
vestiu seus trajes nupciais. Por que esta roupa especial? Perguntou Satish.
Este meu último dia de serviço para você na Terra, respondeu Roma. Pouco
depois, teve um ataque cardíaco. Como seu filho corresse para buscar auxílio,
ela disse: Filho, não me deixe. É inútil, terei partido antes que o médico
chegue. Dez minutos mais tarde, segurando os pés de seu esposo, em reverência,
Roma abandonou conscientemente o corpo, feliz e sem sofrimento. Satish
isolou-se muito, depois da morte de sua esposa, continuou Bishnu. Um dia, ele e
eu olhávamos uma fotografia em que Roma sorria. Por que sorri? Satish exclamou
repentinamente, como se sua esposa estivesse presente. Pensa que foi esperta em
ir antes de mim. Provarei que não pode permanecer muito tempo longe de mim:
logo estarei com você. Naquela época, apesar de Satish ter se restabelecido
inteiramente de sua doença e gozar de excelente saúde, morreu sem causa
aparente pouco depois de seu estranho comentário diante da foto. Assim,
profeticamente, ambos se foram, minha amada irmã Roma e seu esposo Satish –
transformado, em Dakshineswar, de um homem mundano como tantos outros, num
santo silencioso. REFERÊNCIA: (1). Deusa: literalmente, “a que brilha”, da raiz
do verbo sânscrito div, brilhar. (2). Uma esposa indiana acredita ser sinal de
desenvolvimento espiritual morrer antes de seu marido, como prova dos leais
serviços a ele prestados, ou seja, “morrer servindo”. Livro Autobiografia de Um
Iogue – Paramahansa Yogananda. Abraço. Davi
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