Hare Krishna. Texto de
Chaitanya Charana Dasa. DEVEMOS ODIAR A MENTE? A MENTE pode ser treinada para
ser nossa amiga. Em nossa vida diária, frequentemente somos desorientados pela
MENTE. Sob o encanto dela, fazemos coisas das quais nos arrependemos adiante.
Quando os esquemas dela começam a nos causar problemas repetidamente, talvez
comecemos a odiá-la, como se ela fosse um inimigo incorrigível. Mas a verdade é
que temos que TRATAR A MENTE como um CAVALO A SER DOMADO, e não como um inimigo
odioso. NÃO
ESTRUTURAL E NÃO FUNCIONAL. Sem dúvidas, o problema de ODIAR A MENTE é
muito mais comum do que o problema de acreditar nela ingenuamente. Contudo,
assim como dualidades caracterizam quase tudo no mundo material – calor/frio,
prazer/dor, honra/desonra – o mesmo pode se dar na categorização de nossa
atitude em relação à nossa MENTE. Podemos oscilar do apego que se manifesta
como uma confiança insalubre na MENTE até o outro extremo da aversão que se
manifesta como um ódio insalubre da MENTE. Entretanto, esse ódio é não
escritural e não funcional. NÃO ESTRUTURAL: As
escrituras frequentemente chamam, sim, A MENTE DE INIMIGA. Contudo, também a
CHAMAM DE AMIGA, com ambas as referências, algumas vezes, ocorrendo no mesmo
verso, como em Bhagavad-gita (6.5). Reconhecendo que a MENTE
pode ser nossa AMIGA bem como nossa INIMIGA, o verso nos incita a nos
elevarmos, e não nos degradarmos, com ela. É evidente que esse verso não
condena a MENTE como inimiga, senão que pede que lidemos com ela zelosamente,
estando cientes de seu potencial binário de amabilidade e hostilidade. E esta
é, de fato, a atitude geral das escrituras em relação à MENTE: lide com
cautela. Na
Bhagavad-gita, KRISHNA diz a Arjuna que A MENTE pode ser a melhor AMIGA ou a
pior INIMIGA. NÃO
FUNCIONAL: Odiar a mente não é funcional porque precisamos
da mente. O que quer que façamos, fazemos com a mente e através da mente – a
mente é o elo central e indispensável entre nós almas e nossos corpos físicos.
Independente de quanto odiemos a MENTE, não podemos nos livrar dela. Suponha
que um lenhador odeie seu machado por algum motivo – talvez por ele não ser tão
afiado quanto ele gostaria. Contudo, se ele não tem nenhum outro machado e não
tem nenhuma chance de obter outro, seu ódio pelo machado não traz nada além de
perda de tempo e energia mental. Depois de todos os seus xingamentos, murros na
mesa e outras expressões de insatisfação, ele terá que pegar aquele mesmo
machado e usá-lo. Similarmente, independentemente de o quanto odiemos a MENTE,
nós, por fim, teremos que trabalhar com ela – jamais poderemos obter outra
mente. Como dito, odiarmos a mente apenas caracteriza um desperdício de tempo e
energia. Não odiar a MENTE não implica, de modo algum, que a abracemos
ingenuamente, visto que isso nos abriria a ilusões desastrosas; isso implica
apenas que não podemos adotar com a MENTE nenhuma das estratégias padrões que
adotamos em relação a um inimigo odiado: encarceramento, expulsão ou execução.
Temos que viver e trabalhar com a MENTE ao longo de toda a nossa vida. Então,
certamente precisamos estar em guarda enquanto lidamos com ela. VIGIAR, NÃO ODIAR.
A melhor atitude para lidar com a MENTE pode ser reduzida aos dizeres “vigiar,
não odiar”. Podemos ver essa atitude na DOMAÇÃO DE UM CAVALO. DOMAR se conecta
ao latim DOMUS,
que significa “casa”. Assim, domesticar significa TREINAR UM CAVALO para que
ele possa estar próximo de nós, “em casa”. Um cavalo não domado, seja por ser
um cavalo selvagem recém-capturado, seja por ser um animal jovem ainda não
habituado a seres humanos, dificilmente pode ser montado. Se alguém tentar
subir nele, muito provavelmente será atirado ao chão e até mesmo pisoteado. A
MENTE descontrolada é como um cavalo não domado. A Bhagavad-gita (6.34)
declara que a mente é inquieta (cancala), turbulenta (pramathi), poderosa (balavad) e
obstinada (datham) –
uma combinação realmente assustadora. A mente descontrolada não está de modo
algum modo pronta para nos auxiliar na execução dos nossos planos. Ao
contrário, ela resiste aos nossos propósitos, tal qual um cavalo que se recusa
a ser montado. Pior do que isso, ela, algumas vezes, nos impele a participarmos
de seus planos de prazeres imediatistas, sem nenhuma visão ampla ou de longo
prazo – planos que, muitas vezes, esmagam os valores que temos por sagrados. A MENTE é inquieta, turbulenta,
poderosa e obstinada – uma combinação assustadora.
Para domar um cavalo selvagem, treinadores peritos adotam uma rotina paciente e
persistente de recompensa e punição. Em termos simples, esse procedimento se
centra em dar ao cavalo comida e afeição quando ele age de maneira cooperativa,
e negar a ele tais coisas quando ele age da forma contrária. Quando submetido a
essa disciplina, é certo que o cavalo, pouco a pouco, será dominado e logo será
de bom auxílio para o homem. Para lidar com a MENTE, a Bhagavad-gita (6.35)
recomenda que adotemos um regime similar de prática e desapego. Prática se
centra em nutrir bons pensamentos na mente, e desapego se centra em nos
distanciarmos de seus pensamentos ruins. A prática para treino da mente pode
ser entendida como possuidora de dois aspectos: praticar fixá-la em coisas
positivas e praticar retraí-la quando quer que ela se perca em coisas
negativas. E o desapego também pode ser visto em dois aspectos: não nos
apegarmos aos esquemas da MENTE quando ela os propõe, e não nos apegarmos à
expectativa de uma mudança imediata na MENTE, mas estarmos dispostos a
trabalhar com as capacidades atuais dela enquanto nos esforçarmos por
aprimoramentos graduais. UM
PODER MAIOR DO QUE O PODER DA MENTE. Frequentemente, pessoas
interessadas na obtenção de um cavalo compram um animal já domado, ou pagam
para um domador perito treiná-lo em seu lugar. Infelizmente, não podemos nos
dar a esse luxo no que diz respeito à nossa MENTE. Ninguém diferente de nós
pode treiná-la. Sem dúvidas, precisamos da guia de um mestre espiritual perito,
sem o que teríamos pouca, ou mesmo nenhuma, esperança de sucesso em treinar a
MENTE. Contudo, mesmo com a orientação do mestre espiritual, o ônus de treinar
a MENTE continua sobre nós. Felizmente, porém, nós temos, pela misericórdia do
mestre espiritual, acesso a um poder muito superior ao poder da mente – o poder
supremo de Deus, KRISHNA. A Bhagavad-gita (6.47) declara que os yogis mais
elevados fixam sua MENTE em KRISHNA. Algumas maneiras fáceis de fixarmos nossa
mente nele é cantar Seus santos nomes, estudar sua mensagem, adorar Sua forma
no altar, oferecer-lhe orações e compartilhar Sua mensagem com outros.
Ocupando-nos sinceramente a Seu serviço de tais maneiras, atraímos sua
misericórdia, o que nos dará a inteligência e a força de vontade necessários
para treinarmos a MENTE e, deste modo, termos uma vida com princípios e
propósitos. Não é motivo de espanto, portanto, que a Bhagavad-gita repetidamente
(2.61, 7.14, 8.7, 9.34, 10.9, 18.58, 18.65) nos incite a fixarmos a MENTE em
KRISHNA. Um cavalo destreinado pode colocar em perigo quem o monta, mas o mesmo
cavalo, uma vez treinado, pode salvar seu dono de perigos. Sabe-se que, durante
guerras, cavalos bem treinados levavam seus cavaleiros feridos para locais
seguros. Similarmente, a mente destreinada é perigosa para nós, mas, quando
treinada, pode nos proteger. Se, por a treinarmos em bhakti-yoga,
pudermos fazer nossa mente se apegar a Krishna, como a Bhagavad-gita (7.1)
nos fomenta a fazer, então sempre que estivermos diante de perigosas tentações,
nossa MENTE nos fará sair dali e buscar refúgio e prazer em KRISHNA. Assim,
veremos na prática a declaração da Bhagavad-gita (6.6) de que a MENTE pode ser
NOSSA AMIGA. Mesmo agora, podemos ter um vislumbre do potencial da mente para a
amizade. Quando trabalhamos de acordo como as nossas habilidades materiais, é
comum que nossa mente nos forneça boas ideias para aprimorarmos essas
habilidades. E em relação a quaisquer aspectos do serviço devocional que
gostemos, a MENTE frequentemente nos motiva a fazermos essas atividades mais e
melhor. Por nutrirmos essas tendências construtivas da MENTE, podemos moldá-la de
maneira que ela seja NOSSA AMIGA. E colecionado essas ocasiões felizes, podemos
evitar a ideia de odiarmos a mente quando ela retorne para sua modalidade de
sabotagem da nossa pessoa, que é a modalidade padrão dela no momento atual.
Assim, caso estejamos cientes tanto da atual hostilidade da MENTE quanto de seu
potencial para a amizade, podemos treiná-la com a atitude equilibrada de vigiar
sem odiar. www.voltaaosupremo.com.br.
Abraço. Davi
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