quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

OS HINDUS ACREDITAM NO DIABO?

Editor do Mosaico. A partir deste texto, apresentarei um resumo das palestras do Curso de Introdução ao Pensamento Teosófico. Aos que desejarem acompanhar a visão esotérica das religiões, filosofias e espiritualidades orientais. Bem como o pensamento das tradições e culturas budistas, hinduístas, taoístas, confucionistas e outras. Serão reflexão pessoais, desprovidas de interesse quanto a "verdades" absoluta, descomprometidas com dogmas ou crenças. Começo este estudo respondendo uma pergunta feita por uma amiga. Os hindus acreditam no diabo? Bem, vou tentar fazer uma breve exposição dentro desta premissa que foi abordada. Até onde compreendo das leituras que tenho feito nesse assunto, os hinduístas tem (verdades) opiniões diferentes das nossas quanto a muitos conceitos espirituais. Os hindus têm aproximadamente 330 milhões (politeísmo) de divindades. Este é um ponto importante, pois essa tradição vê "deuses" em tudo e em todos. Um panteísmo (crença de que Deus e todo o Universo são uma única coisa, e que Deus não existe como um Espírito separado) onde uma força cósmica rege, controla e harmoniza o Universo. Uma ideia de que homens e "deuses" coexistem neste mundo, e em outros possíveis. Perceba que segundo este conceito não há um antropomorfismo (conceber atributos humanos a divindades) que tutela e assemelha em graus de afinidades homens e "deuses". Tanto que animais como vaca, macaco, elefante e algumas aves que voam são consideradas sagradas. Nossa tradição cristã para compreender a divindade (Trindade Divina - Pai, Filho e Espírito Santo) os assemelha as qualidades humanas. Os Católicos Ortodoxos imprimiram a figura da Virgem Maria – Imaculada Conceição a Mãe de Deus, a Santíssima Intercessora que "roga por nós na hora de nossa morte", como fazendo parte da divindade. Interessante esse arquétipo, corroborado pela maioria das religiões universais, que também têm suas divindades femininas. Isso insere a Santíssima Virgem no seio da família cristã com exemplo de pureza, santidade e amor. A mãe é um arquétipo essencial na harmonia e equilíbrio dos relacionamentos saudáveis. Como símbolo positivo que ama, nutre, cuida e aperfeiçoa os seus filhos. Os orientais não entendem a Divindade assumindo vícios e virtudes humanas; como se estivesse sob a influência do bem e do mal. A visão heteromorfa – o deus que se manifesta em tudo e em todos, é em sua cultural mais lógica, plausível e melhor compreendida por todos. Nesse ponto de vista a partícula divina estar em todo Ser e Ente para passar pelo processo contínuo e inexorável da evolução. Desde elementais, minerais, vegetais, animais e os humanos. Isso dá aos hindus uma volatilidade – imaterial e incorpóreo e flexibilidade em relação a assuntos como esse que estamos abordando. Desse modo, eles não têm o diabo como opositor de Deus; lutando em pé de igualdade com Ele. Até em alguns casos o vencendo, ideia que é passada na cultura cristã. Que por sinal é absurda e ridícula, sem nenhuma razão lógica que a justifique. A divindade suprema dos hindus, Brahma, que podemos chamar de outros nomes como: Consciência Cósmica, Logos Divino, Espírito Eterno é o ponto de equilíbrio do Universo. Com sua infinitude e completude sustenta e rege com poder e autoridade todas as forças negativas e positivas que atuam no microcosmo (homem) e no macro cosmo (Universo). Contudo, a divindade suprema do hinduísmo é composta de três deuses. Shiva é o deus da transformação. Uma força superior intangível que age no Universo. Não aquela figura medonha idealizada com chifres, rabo pontiagudo e tridente na mão. Shiva é considerado o criador da Yoga, por causa de seu enorme poder em transformar sentimentos e situações ruins em boas. Devido a sua forte energia que emana positividade e tranquilidade. As entidades, negativas, os seres que não são iluminados, ao entrar em contato com Shiva. Passam a receber sua luz, tornando-se divindades generosas, assim como ele. Shiva age em nosso quaternário inferior, representado pelo corpo físico, éterico, emocional e menta. Impedindo que nossa personalidade, que é apegada aos prazeres, desejos e vontades terrenas, alcance pela virtude e bem-aventurança. Praticando atos humanitários, o estágio da individualidade, que segundo a filosofia espiritual, evolui nosso ser produzindo emoção e sentimento de fraternidade humana. O problema de personalizar o diabo é que, atribuímos a ele o que ele não tem e não é. Um casuísmo que chegamos ao absurdo de confrontá-lo Logos Divino. Oportuno lembrar que estes povos, não tem conceito de inferno eterno, onde as pessoas más ou aquelas que não aceitaram Jesus serão lançadas para sempre no Lago de Fogo. Marcos 9, 47-48 " ... sereis lançados no fogo do inferno. Onde o seu bicho não morre e, o fogo nunca se apaga". Um versículo terrível e desumano. Não mais acredito num Deus cruel e impiedoso, sadomasoquista como este. Isso é ilógico e incompreensível quando pensamos em seu amor e na sua graça. Os dois últimos deuses – Vishnu e Brahma, cooperaram um com o outro. Vishnu vêm ao mundo de diversas formas chamadas de avatares; podendo ser humanas, animais ou a combinação dos dois. Todos esses aparecem ao mundo quando um grande mal ameaça a Terra. No total existem dez avatares de Vishnu, dos quais nove já se manifestaram no mundo. Sendo Rama e KRISHNA os mais conhecidos, e outro ainda está por aparecer. São eles: Matsya o Peixa; Kurma a Tartaruga; Varaha o Javali; Nahasimha o Homem-Leão; Vamana o Anão; Parashurama o Homem com o Machado; Rama o arqueiro; KRISHNA; Budha o Iluminado; Kalki o Espadachim montado a cavalo que ainda está por vir. Vishnu é o poder de manutenção do Universo. Sua natureza é lila, ou a representação. Assume diferentes formas a sua vontade. Ele está em pé sobre um lótus de mil pétalas, com uma concha, um disco, uma massa e um lótus na mão. Esses quatro instrumentos são essenciais para a diversão da vida. A concha é o instrumento que devolve a união de todos os sons da criação, representando o som puro OM. Que traz a liberação para os seres humanos. O disco ou chackra é o anel de luz que rodopia no dedo indicador de Vishnu. Ele é o símbolo do Dharma. O dever de fazer o que é certo e correto, também representa a roda do tempo. A massa ou clava é um instrumento para atacar os desejos, fonte de todo o sofrimento e insegurança. O lótus é mostrado para que não esqueçamos a nossa meta que é encontrar a nós mesmo. O lótus cresce no lodo e continua luminosos, radiante, inafetado pelo ambiente. Abre suas pétalas ao primeiro raio de sol, fechando com o último raio de sol.   KRISHNA tem semelhança mitológica com o Cristo. Basta dizer que ele foi gerado por Vishnu no ventre de sua mãe. Quando criança, já mostrava habilidade intelectual ao conversar com os sábios no templo. Tinha um extremo amor pelo próximo e por muitas vezes era cercado pelas crianças. Costumava ser visto com os animais, feras e aves do campo. Esteve acompanhado por um grupo de discípulos em seu ministério. Morreu injustamente pelos seus algozes ao lado de uma árvore, traspassado por flechas e uma cravou-lhe o coração. Brahma é a Consciência Universal, o Princípio de Tudo. A razão do eterno ser, e onde tudo e todos um dia convergirão para um nirvana – iluminação e despertar divinos. No budismo, última etapa da contemplação, esse aspecto é caracterizado pela ausência da dor e pela posse da verdade. Ela, que é tão almejada por todas as religiões. O nirvana é decorrência da integração do espírito universal no seio da divindade suprema. Brahma é o criador do Universo, a inteligência criadora, representando a mente cósmica. Os Purunas dizem que ele criou, Sarasvati - sua consorte - a deusa do conhecimento. Ela corria de um lado para o outro, e para cada lado que ela corria nascia uma cabeça. Assim Brahma é representado com quatro cabeças, significando os quatro Vedas e todas as direções do conhecimento. A base de Brahma é Sarasvati, o conhecimento. Assim Brahma está sentado num cisne. O cisne tem a capacidade de separar o leite da água, de igual modo, o conhecimento é a capacidade de separar o real do não real. Em suas quatro mãos Brahma sustenta um lótus, os vedas, um vaso contendo amrita e abaya mudrã. O lótus representa o símbolo da pureza. Os vedas são as escrituras sagradas contendo todo o conhecimento da criação e o meio para o mesmo. O amrita é o néctar da imortalidade e o abaya mudrã abençoa com destemor. A doutrina do inferno eterno é substituída pela lei da retribuição ou carma. O carma é a lei que afirma a sujeição humana à causalidade moral, de tal forma que toda ação – boa ou má – gera uma reação. Essa retorna com a mesma qualidade e intensidade a quem a realizou, nesta ou em encarnação futura. A transformação pode dar-se em direção ao aperfeiçoamento. Esse, é chamado mocsa em sânscrito – o fim do ciclo das reencarnações ou de forma regressiva o renascimento como animal, vegetal ou mineral. Essa lei é mais justa, pois somos cobrados pelos erros e pecados que praticamos na proporção das vidas que teremos. Os vários renascimentos são para pagar os deméritos e os vícios praticados, além de retribuir os atos virtuosos e meritórios. Não há uma punição eterna objetiva como afirma o cristianismo. O mérito e as virtudes pelas obras de amor e fraternidade executados, serão recompensados post mortem, num lugar chamado devachan, algo semelhante ao paraíso cristão. Ou exemplificando podemos comparar ao texto de Lucas 16, 22 "o mendigo morreu e, foi levado pelos anjos para o seio de Abraão". Segundo os livros sagrados do hinduísmo (Veda, Upanishad, Bhagavad Gita, Mahabharata, Purunas, Yoga Sutras e outros) o devachan provavelmente seria um tempo de 10 a 15 séculos de gozo e consolo na outra vida. No cristianismo temos a ideia de que somos redimidos pela morte de Cristo, que pagou o preço e quitou nossa dívida para com Deus. Ato realizado através de um sacrifício exterior – a morte vicária na cruz do Calvário. Essa é uma realidade inquestionável para você e eu, contudo, eles os hindus têm outra verdade. A redenção é um processo individual. Começando do interior do homem, passando pelo princípio da consciência universal Brahma, que está no homem. Ele é desenvolvido através de boas atitudes morais e éticas, que o indivíduo, vivendo um cooperativismo e companheirismo aperfeiçoa seu ser interior. Neste contexto da redenção de dentro para fora estar as iniciativas de meditação, contemplação e orações. Também os estudos dos livros sagrados e das tradições culturais. Esse assunto precisa ser mais detalhado para que alcance uma compreensão lógica e racional. Ainda não estamos acostumados aos conceitos da filosofia oriental. Assim os argumentos e suas premissas ficam obscurecidos pela pouca experiência com a espiritualidade hindu. Concluindo entendo que o confronto com outras verdades nos ajuda a entender o mundo e as pessoas. Acho interessante um olhar através de outras janelas. Isso mostra que O ETERNO, tem variadas formas de se mostrar aos homens. Precisamos aprender a respeitar os conceitos e as opiniões daqueles, que não tem o mesmo ponto de vista que os nossos, em questões de espiritualidades. Abraço. Davi.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário