Espiritualidade. Texto de Jiddu Krishnamurti. Nascido em 11 de maio de 1895 em Madnapele, ao sul da Índia, Jiddu Krishnamurti
foi um filósofo e místico indiano. Acompanhou seu pai Jiddu Naraniah a Adyar em
23 de janeiro de 1909, pois este conquistara um emprego de
secretário-assistente da Sociedade Teosófica, entidade que estuda todas as
religiões. Krishnamuti foi adotado pela Dra. Annie Besant (1847-1933),
presidente da Sociedade Teosófica. Foi proclamado pelos teosofistas como o
instrutor do mundo. Uma organização chamada Estrela do Oriente foi formada para
preparar o mundo para sua chegada e Krishnamurti se tornou seu líder. Entretanto,
em 1929, Krishnamurti renunciou ao papel que lhe fora destinado, dissolveu a
Ordem com seus inúmeros seguidores e devolveu todo o dinheiro e propriedades
doados para seu trabalho. Krishnamurti se tornou um instrutor espiritual. Por
aproximadamente 70 anos, ele viajou pelo mundo falando para grandes audiências
e indivíduos sobre a necessidade de uma mudança radical na humanidade.
Rejeitava o título de guia espiritual que alguns lhe atribuía, atraia grandes
multidões, mas não aceitava discípulos, falando sempre como se fosse de pessoa
a pessoa. O cerne do seu ensinamento consiste na afirmação de que é necessária
e urgente uma mudança fundamental na sociedade, através da transformação da
consciência individual. A necessidade do autoconhecimento e da compreensão das
influências restritivas e separativas das religiões organizadas, dos
nacionalismos e de outros condicionamentos, foram por ele constantemente
realçadas. Chamou sempre a atenção para a necessidade urgente de um
aprofundamento da consciência, para esse “vasto espaço que existe no cérebro
onde há inimaginável energia”. Essa energia parece ter sido a origem da sua
própria criatividade e também a chave para o seu impacto catalítico numa tão
grande e variada quantidade de pessoas. "Afirmo que a Verdade é uma terra
sem caminho. O homem não pode atingi-la por intermédio de nenhuma organização,
de nenhum credo. Tem de encontrá-la através do espelho do relacionamento,
através da compreensão dos conteúdos da sua própria mente, através da
observação". Considerado um dos maiores pensadores e instrutores
religiosos de todos os tempos, ele não era ligado a nenhuma filosofia ou
religião. Falava sobre problemas que preocupavam a todos em nossa vida diária,
como viver em uma sociedade moderna com violência e corrupção, da busca
individual por segurança e felicidade e da necessidade da humanidade de se
livrar do peso interior do medo, da dor e da tristeza. Explicou com grande
precisão, o funcionamento da mente humana e apontou a necessidade de trazer à
nossa vida diária, uma qualidade profundamente meditativa e espiritual.
Krishnamurti não pertencia a nenhuma organização religiosa, seita ou país, nem
estava associado a qualquer escola política de pensamento ideológico. Segundo
Krishnamurti, para saber o que é meditação deveríamos saber o que é pensar.
"Meditar sem conhecer o processo de pensar é criar uma fantasia, uma
ilusão sem realidade. Ele dizia que pensar é uma resposta da memória. Os
pensamentos se tornam escravos de palavras, de símbolos, de ideias, e a mente é
a palavra, e ela passa a depender de nomes como Deus, comunista, aldeão, cozinheiro
e etc. Vivemos e pensamos dentro de uma estrutura condicionada. Porém, haverá
pensamento sem palavra? Existe um pensar sem a palavra e, portanto, fora do
tempo? A palavra é tempo. Mas, se a mente for capaz de separar de si própria a
palavra e o símbolo, haverá, então, um perquirir (fazer uma investigação
minuciosa) sem objetivo e essa pesquisa será de ordem atemporal”. "A meditação é uma das coisas mais
importantes na vida; não como meditar, não a meditação conforme um sistema, não
a prática da meditação, mas principalmente o que a meditação é na verdade. Se
um indivíduo pode descobrir, muito profundamente, a significação, a necessidade
e a importância que tem a meditação para si mesmo, então descartará todos os
sistemas, métodos, gurus, junto com todas as coisas peculiares que se acham
envolvidas nesse tipo oriental de meditação”. "Para ver o que o indivíduo
realmente é, torna-se vital que haja liberdade, liberdade com relação a todo o
conteúdo da própria consciência, sendo o conteúdo da consciência todas as
coisas acumuladas pelo pensamento. Libertar-se do conteúdo da própria
consciência, das cóleras e brutalidades, das vaidades e da arrogância,
libertar-se de todas as coisas em que a pessoa se acha enredada, é meditação”.
"Os que desejam compreender o profundo significado da meditação, devem
partir de si próprios, porquanto o autoconhecimento é a base do verdadeiro
pensar. Deveis partir de vós mesmos, para chegardes longe. É difícil a
auto-observação. É difícil penetrarmos até o fundo de cada pensamento-sentimento,
mas essa percepção de cada pensamento-sentimento porá fim às divagações da
mente. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 119)" "A meditação só tem
significado quando a mente-coração está vigilante, descendo até o fundo de cada
pensamento e sentimento que surge, sem comparar nem identificar. Porque o
identificar e o comparar sustenta o conflito da dualidade. Na tentativa de
concentrar-nos, são os pensamentos-sentimentos antagônicos reprimidos, ou
afastados, ou superados, e não é possível a compreensão". "Que é
meditação? Não é ela a compreensão das atividades de nosso “ego”, não é ela
autoconhecimento? Sem autoconhecimento, sem a percepção do processo do “eu”, em
sua inteireza, carece de realidade a base sobre que formais o vosso caráter, o objetivo
pelo qual lutais”. (O Egoísmo e o Problema da Paz). "A meditação não é um
processo de vir a ser pessoal; uma vez que se inicia com o autoconhecimento,
traz-nos a tranquilidade e a suprema sabedoria, abrindo-nos a porta para o
Eterno. Tem a meditação por fim fazer-nos conhecer o “ego” no seu todo. O “ego”
é resultado do passado e não existe no isolamento. As muitas causas que lhe
deram existência precisam ser compreendidas e transcendidas”. (O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 160) "Destrua o pequeno estímulo egocêntrico, ele
não existe! A partir daí você pode se mover infinitamente. E isto é meditação.
Não simplesmente sentar-se de pernas cruzadas, ou em posição sobre a cabeça, ou
fazer o quer que seja, mas tendo o sentimento de completa totalidade e unidade
da vida. E isso só pode vir quando há amor e compaixão. (The Word of Peace,
pág. 96) "Meditação é estar cônscio de cada pensamento e de cada
sentimento, nunca dizer que ele é certo ou errado, porém simplesmente observar
e acompanhar seu movimento. Nessa vigilância, compreendeis o movimento total do
pensamento e do sentimento. E dessa vigilância vem o silêncio. O silêncio
criado pelo pensamento é estagnação, coisa morta, porém o silêncio que vem
quando o pensamento compreendeu a sua própria origem, natureza, esse silêncio é
meditação na qual o meditador está de todo ausente, porque a mente esvaziou-se
do passado”. (Liberte-se do Passado, pág. 103). "Ora, compreender a si
próprio é absolutamente necessário. Meditar é esvaziar a mente, e, nesse estado
de vazio, ocorre a “explosão” que nos lança no desconhecido. A mente que está
repleta, carregada de problemas, em conflito, que não explorou as profundezas
de si própria, não tem possibilidade de esvaziar-se. E a meditação é o esvaziar
da mente, não no final, porém imediatamente, fora do tempo”. (Uma Nova Maneira
de Agir, pág. 73-74) "Meditação é o apercebimento de cada pensamento, de
cada sentimento, de cada ato, e esse percebimento só é possível quando não há
condenação, nem julgamento, nem comparação. Vedes, simplesmente, cada coisa
como é, e isso significa que estais cônscio de vosso condicionamento – tanto do
consciente como do inconsciente – sem
desfigurá-lo ou alterá-lo”. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed.,
pág. 98). "Conhecer o processo integral da mente – todas as suas inclinações, motivos, propósitos,
seus talentos, suas exigências, seus temores, frustrações e êxitos felizes –
conhecer todas essas coisas significa
estar tranquilo e não permitir que elas atuem. Só então pode manifestar-se o
que se acha além da mente”. (As Ilusões da Mente, pág. 116) "E quando
livres do medo, da amargura, da ambição, da avidez, da inveja, do desejo de
êxito, da existência de poder, posição, prestígio, o cérebro se torna então
tranquilo. Mas só podeis compreender e livrar-vos de toda essa agitação, se
dela vos conscientizardes sem nenhum esforço. Está agora bem claro que,
para a mente poder achar-se no estado de meditação, é imprescindível a
eliminação do conflito. Enquanto não se compreender a estrutura e a anatomia
desse centro, haverá sempre conflito". (O Homem e seus Desejos em
Conflito, 2ª ed., pág. 166). "A meditação é a purificação da mente de
todas as suas acumulações; é expurgá-la da capacidade de adquirir, de
identificar-se, de vir a ser; expurgá-la da expansão do 'ego', do preenchimento
do “ego”. A meditação é o libertar a mente da memória, do tempo”. (O Egoísmo e
o Problema da Paz, pág.269). "No estado de meditação, a mente está vendo –
observando, escutando sem a palavra, sem comentário, sem opinião – atenta ao
movimento da vida em todas as suas relações, do começo ao fim do dia. Mas a
mente que está vigilante, escutando o movimento da vida – o externo e o interno
– o essa mente vem um silêncio não fabricado pelo pensamento”. (A Outra Margem
do Caminho, pág. 19). "Só quando ausente o “eu”, existe a possibilidade de
a mente estar quieta, e, portanto, apta a compreender, a receber aquilo que é
eterno. Mas formar uma representação da eternidade, conceber uma ideia a seu
respeito, é, verdadeiramente, auto projeção, ilusão. Mas, para que
o eterno seja, torna-se necessário, evidentemente, que as atividades, as
fabricações, as projeções do “eu” cessem inteiramente. E o cessar dessa
projeção é o começo da meditação". (Nós Somos o Problema, pág. 50).
"A meditação exige uma mente sobremodo vigilante; a meditação é a
compreensão da totalidade da vida, na qual não existe mais nenhuma espécie de
fragmentação. Meditação não é controle do pensamento (…); mas, quando se
compreende a estrutura e a origem do pensamento, (…) o pensamento então não
mais interfere. Essa compreensão da estrutura do pensar é sua própria
disciplina, que é meditação”. (Liberte-se do Passado, pág. 103). "A mente,
pois, percebe que, sem espaço, sem espaço infinito, não há liberdade, e que só há
espaço infinito quando não há nenhum criador de espaço. O espaço é infinito,
desde que não haja objeto; por conseguinte, a liberdade é infinita”. (Uma Nova
Maneira de Agir, pág. 141). "É, pois, esse o começo da meditação; isto é,
a mente, depois de desejar e procurar espaço no exterior, e de compreender esse
espaço exterior, volta-se para o seu próprio interior e observa. E, rejeitando
o falso alcança a mente um estado de verdadeira serenidade. Porque compreendeu
tudo aquilo, já nada busca, nada pede, nada exige." (Uma Nova Maneira de
Agir, pág. 144) "A meditação é a inocência do presente e, em consequência,
é sempre só. A mente totalmente só, ilesa do pensamento, cessa de acumular.
Portanto, o esvaziar da mente está sempre no presente. Para a mente que está
só, o futuro – que pertence ao passado – deixa de existir”. (A Outra Margem do
Caminho, pág. 85) "Porque o findar do pensamento é o começo da meditação
real; e só então há uma revolução, uma maneira fundamentalmente nova de
considerar a existência”. (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 71).
"Meditação é estar cônscio das atividades da mente – da mente do
meditador, de como a mente se divide em meditador e meditação, em pensador e
pensamento, o pensador dominando, controlando, moldando o pensamento. Existe,
pois, em todos nós, o pensador separado do pensamento; o pensador se tornou o
“eu superior”, o “eu mais nobre”, mas isso é ainda a mente dividida em pensador
e pensamento”. (As Ilusões da Mente, pág. 76) "A meditação,
portanto, é o “processo de não condicionamento” da mente; significa estar
cônscio sem condenação, sem justificação ou resistência, de cada pensamento,
cada sentimento, cada fantasia que surge, conforme as nossas idiossincrasias e
tendências pessoais. É a memória do passado que condiciona a nossa reação, e
meditação é o processo de libertar a mente do passado." (A Arte da
Libertação, pág. 33)”. A meditação sem padrão estabelecido, sem causa ou
motivo, sem direção ou propósito é um fenômeno extraordinário. Não é somente
uma tremenda e purificadora explosão, mas é também a morte sem retorno.
Trata-se de uma ação devastadora que penetra por todos os cantos mais distantes
e secretos do pensamento. Sua pureza é extremamente vulnerável Como o
amor, ela é pura porque desconhece a resistência. Assim como a morte, é
inevitável; não existe, na meditação, o amanhã. Eis o que é meditação, e não
a atividade do cérebro em sua busca de segurança. A meditação destrói a
segurança. Nela existe grande beleza. Todas as coisas surgem e fluem do vazio
desse silêncio”. (Diário de Krishnamurti, pág. 70). "A meditação não
consiste em buscar uma finalidade. Da meditação surge um imenso silêncio; não
um silêncio cultivado, entre dois pensamentos, dois ruídos, senão um silêncio
que é inimaginável. O cérebro chega a estar extraordinariamente quieto quando
se acha nesse processo de investigação interior; quando há silêncio, existe
grande percepção. Nesse silêncio há vazio, um vazio que é a soma de toda
energia”. (La Totalidad de la Vida, pág. 193). "É extraordinariamente importante
conhecer e compreender a profundidade e a beleza da meditação. Existe algo
imutável, sagrado, absolutamente puro, não contaminado por nenhum pensamento,
por nenhuma experiência? Para descobrir isso, para dar com isso, é
imprescindível a meditação. Não a meditação repetitiva; isso carece por
completo de sentido. Quando a mente se acha livre de todo conflito, de qualquer
afã do pensamento, existe então uma energia criadora que é autenticamente
religiosa. Dar com essa energia que não tem princípio nem fim, é a verdadeira
profundidade e beleza da meditação. Isso requer libertação de todo
condicionamento”. (La Llama de la Atención, pág. 34-35). “De modo que existe
uma fonte, uma causa original da qual surgem todas as coisas, e essa causa
original não é a palavra. A palavra nunca é coisa. E a meditação consiste em
dar com essa causa que é a fonte original de todas as coisas e que está
totalmente livre do tempo. Esse é o caminho da meditação. E bem-aventurado é
quem o descobre”. (La Llama de la Atención, pág. 35). "Mas, se quem
pratica a meditação começa por compreender a si próprio, tem então grande
importância a sua meditação. Pela autovigilância e o autoconhecimento vem o
reto pensar; é somente então que o pensamento é capaz de transcender as camadas
condicionadas da consciência. A meditação é então o “ser”, o qual tem seu
próprio movimento eterno; é a própria criação, porquanto o meditador deixou de
existir”. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 184). Krishnamurti sempre
afirmava que antes de sermos hindus, muçulmanos, budistas ou cristãos, somos
seres humanos iguais ao resto da humanidade. Ele pediu que andemos suavemente
por esta terra sem nos destruirmos ou ao meio ambiente. Transmitiu aos seus
ouvintes um profundo senso de respeito pela natureza. Seus ensinamentos
transcendem os sistemas de crenças feitos pelo homem, o sentimento de
nacionalismo e de sectarismo. Ao mesmo tempo eles dão um novo sentido e direção
à busca da humanidade pela verdade. Seus ensinamentos, além de serem relevantes
à idade moderna, são atemporais e universais. Krishnamurti morreu em 1986,
deixando um rastro de luz para quem ousar buscar a liberdade e o
autoconhecimento. www.conscienciapura.com.br. Abraço. Davi.
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